Eleições no CPERS (educação-RS) – Grande vitória da esquerda sindical

A eleição para a Direção central e os Núcleos do CPERS (Sindicato dos trabalhadores em educação do Rio Grande do Sul), realizada no dia 25 de junho, representou uma grande vitória para a esquerda sindical. O CPERS é o maior sindicato do Rio Grande do Sul e um dos maiores do país representando cerca de 120 mil trabalhadores na base, entre professores, funcionários e especialistas, com mais de 85 mil associados.

A Chapa 1 – Novo Rumo, composta por militantes da Conlutas, Intersindical e CSD (CUT socialista e democrática, ligada à DS), obteve 45% dos votos e derrotou a Chapa 2, da CUT e do PT (37% dos votos), a Chapa 3, da direita organizada no movimento ‘Pó de giz’ (10%) e a Chapa 4, da CTB/PCdoB (6%).

André Ferrari entrevistou NEIDA OLIVEIRA, 1ª vice-presidente eleita do CPERS e dirigente da Alternativa Socialista (AS) e da Conlutas. A AS é uma das correntes que apresentou, junto com o SR, o CLS e a ARS, a Tese “Reafirmar a Conlutas como central sindical e popular” para o Congresso da Conlutas. Juntas essas correntes também conformam um Bloco político de esquerda no PSOL.

O que representou essa vitória da chapa ‘Novo Rumo’ nas eleições do CPERS? O que vai mudar no sindicato a partir de agora e no papel que o CPERS pode jogar no processo de reorganização sindical e popular no país?

O processo eleitoral abriu uma expectativa de grande mudança no cenário.Vamos ter no CPERS uma gestão combativa e independente dos governos, algo que não tem acontecido no sindicato. A opção da CSD de fazer uma composição conosco contrariando a posição de sua direção nacional dá mostras de uma compreensão da necessidade de resgatar a combatividade do sindicato.

A mídia fez questão de caracterizar nossa chapa como sendo a dos ‘radicais’ tentando nos desgastar e dizer que esse setor da CUT estava se unindo com esses ‘radicais’, sempre me caracterizando como tal. Mas, o fato é que, a partir de agora, o CPERS ganha um novo perfil, não vai haver mais nenhuma negociação sem mobilização da categoria.

Embora a chapa tenha sido formada a partir de uma composição envolvendo três organizações sindicais, a Conlutas, a Intersindical e um setor da CUT, o peso da Conlutas na chapa era muito grande e essa vitória sem dúvida fortalece a Conlutas.

Nessa eleição mostramos que é possível unificar os que querem lutar. Tudo isso sem abrir mão das diferenças, mas buscando aquilo que é melhor para a classe trabalhadora. Essa é a principal lição desse processo.

Fale um pouco sobre como foi a campanha, as dificuldades, o enfrentamento com os grandes aparatos sindicais ligados ao governo, mas também a resposta na base da categoria.

A campanha foi muito difícil em virtude das condições em que a categoria se encontrava. Há um cenário de muito ataques contra os trabalhadores em educação, mas a categoria estava desmobilizada em razão da política da atual direção majoritária.

Uma coisa que surpreendeu foi a disposição e mobilização de uma vanguarda da categoria que conseguiu garantir que a campanha de nossa chapa chegasse a todas as escolas. As urnas chegaram à grande maioria das escolas graças a essa vanguarda que se envolveu no processo. Mesmo com a desmobilização da categoria houve uma participação de mais de 50% no processo eleitoral.

Essa campanha fortaleceu nosso trabalho de base, em especial dos companheiros e companheiras da Alternativa Socialista (AS) nos Núcleos do sindicato. A CUT e o PT militaram de forma ostensiva para derrotar nossa chapa. Até campanha por telefone, telemarketing, do tipo que fazem nas disputas eleitorais, usando toda a estrutura desses grandes aparatos, eles fizeram.

Qual será o papel do CPERS diante dos escândalos envolvendo o governo Yeda Crusius?

Com a categoria desmobilizada, as questões mais imediatas e, muitas vezes, corporativas é que mais se destacavam no debate eleitoral. A crise do governo Yeda Crusius no meio desse processo serviu para politizar a campanha. Nós pudemos dar um novo conteúdo ao debate e politizar o processo eleitoral do sindicato.

A categoria entendeu e acreditou que com uma direção combativa seria possível enfrentar esse governo atolado na corrupção e que hoje não tem base de sustentação social e se enfraquece cada vez mais.

Como o CPERS estava em plena campanha eleitoral, sua participação nas mobilizações contra o governo estadual ficou afetada. Os movimentos que surgiram ainda não tiveram força suficiente para derrubar o governo.

A posse da nova diretoria será em setembro e acreditamos que é possível retomar as mobilizações com o CPERS como carro-chefe dessa luta exigindo a derrubada do governo. O movimento pelo “Fora Yeda” vai continuar e ganhar muito mais força. 

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