Inflação, juros, cortes e repressão – Bem longe do país das maravilhas

 No país da fantasia de Lula, tudo vai bem. As manchetes dos jornalões ajudam. A crise lá fora não nos afeta, a economia continua crescendo, o etanol dos “heróis” usineiros é a redenção da humanidade e, ainda por cima, descobrimos novas bacias de petróleo toda hora.

A única coisa que parece atrapalhar esse cenário idílico é o fraco desempenho da seleção de Dunga nas eliminatórias para a Copa de 2010!


Enquanto isso, no mundo real…

Colocando os pés no chão, porém, a situação fica um pouco diferente. A crise nos EUA está longe de arrefecer. A combinação explosiva de inflação com desaquecimento econômico global ainda é o cenário mais provável. Não há como o Brasil não ser afetado com isso.

O aumento nos preços dos alimentos já é um grande fardo sobre os trabalhadores e a população mais pobre. A base desse processo é o aumento da demanda, a expansão dos agro-combustíveis e a pura especulação dos investidores que, apostando nas chamadas commodities, querem recuperar os prejuízos do último período. Ou seja, tem um punhado de magnatas ganhando muito dinheiro com a fome alheia.

Mas, o governo insiste que a desigualdade está diminuindo. Recente pesquisa do IPEA, mais governista que nunca, aponta nessa direção. Porém, como bem explicou o economista Claudio Dedecca, a pesquisa do IPEA não leva em consideração a renda com ganho de capital das chamadas classes A e B, exatamente a fatia mais gorda dos super-lucros auferidos no país. O IPEA só calcula a diferença de renda entre o trabalhador de carteira assinada e o cidadão pobre que recebe o bolsa-família.

Somente desde março, quando o governo anunciou com pompa o aumento do salário mínimo de 380 para 415 reais, o DIEESE calcula que um salário mínimo para atender a uma família de quatro pessoas com o mínimo de dignidade deveria ter aumentado de 1881 para 1987 reais.

O aumento da renda média do trabalhador no 1° trimestre desse ano foi de 8,74%. Enquanto isso o custo da cesta básica no mesmo período aumentou em 22,85%.

Lutas no segundo semestre

O segundo semestre estará marcado por importantes lutas por reposição de perdas salariais e aumento real. Os batalhões pesados da classe trabalhadora, como metalúrgicos, químicos, petroleiros e bancários, devem entrar em cena.

Com a economia crescendo não deveria haver desculpa para os patrões não atenderem às demandas. Mas, a ladainha do perigo do descontrole inflacionário já começa a virar justificativa para arrocho, aumento da taxa de juros e aperto na economia. Mais uma vez, são os trabalhadores que pagam o preço da crise do sistema dos patrões.

Lula e sua equipe econômica já anunciaram o aumento do superávit primário de 3,8 para 4,3% do PIB, ou seja, mais cortes para pagar pontualmente a dívida aos banqueiros e especuladores. Outros ataques se seguirão na mesma linha das políticas neoliberais de Lula desde o primeiro mandato.

É essa política que permite que grandes corporações multinacionais como a GM partam para a ofensiva querendo impor o ‘banco de horas’ em sua fábrica de São José dos Campos, como condição para a abertura de uma nova linha de produção de automóveis e a geração de 600 novos empregos.

Mesmo recuando da imposição do banco de horas, a GM conseguiu a garantia de horas-extras e a redução do piso salarial dos novos contratados dos atuais 1700 para 1200 reais.

Unir as lutas

Isso só demonstra que para enfrentar a patronal e seus ataques é preciso construir uma sólida unidade dos trabalhadores em torno de um plano de ação comum e de um projeto político alternativo à lógica do grande capital.

Essa é a grande tarefa do movimento dos trabalhadores. É por isso que a ameaça de uma fragmentação maior nos setores mais independentes e combativos do movimento sindical, indicada pela ruptura do MTL e outros da Conlutas, representa um grave risco para todos os trabalhadores.

O Congresso da Conlutas deve representar um marco no processo de reorganização sindical e popular e fomentar uma unidade mais ampla com todos os setores que lutam contra o governo e os patrões rumo a uma nova Central sindical e  popular no país. Para isso, a Conlutas deve garantir sua democracia interna, sua organização de base e sua capacidade de mobilização unitária.

A tentativa de criminalização dos movimentos sociais, indicada pela postura do Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul querendo colocar o MST na ilegalidade com base num discurso anti-comunista primitivo, merece uma resposta à altura: a defesa unitária de todos os que ousam lutar, a unificação das lutas e a construção de uma ampla resistência operária e popular.

Candidaturas socialistas conseqüentes

As eleições municipais também devem ser utilizadas pela esquerda como um espaço de defesa dos interesses dos trabalhadores e da população oprimida e explorada. Essa deve ser a tarefa central das campanhas do PSOL e da Frente de Esquerda onde ela de fato foi constituída.

Os militantes socialistas e classistas do PSOL devem manter a luta para construir uma alternativa clara à política da direção majoritária que autorizou alianças com partidos de fora do nosso campo de classe e rebaixou o programa.

Candidaturas de esquerda socialista e conseqüente devem ser apresentadas para mostrar que existe um PSOL fiel ao seu projeto original e manter não interrompido o fio do processo de recomposição da esquerda.

O PSOL deve resgatar seu projeto original de partido classista, de luta, democrático e socialista. Sem isso, não cumprirá o papel que dele esperam milhões de trabalhadores.