Telemarketing: exploração antiga com tecnologia moderna

Unidades com milhares de funcionários, trabalho automático, robotizado, uniforme, sem criatividade e liberdade do trabalhador, estressante, cansativo e com altos riscos de prejuízo à saúde. Veio-lhe à cabeça a imagem dos “Tempos Modernos”, do Chaplin? Pois é, é disto que estou falando, mas não são as fábricas, as grandes metalúrgicas, que estão em questão aqui, mas sim, as empresas de telemarketing.

As transformações que o sistema capitalista obteve após o início da década de 70 provocaram grandes alterações no mundo do trabalho. O desenvolvimento científico-tecnológico, junto com os grandes movimentos sociais ocorridos à partir da década de 60, que denunciaram as precárias condições de trabalho, impulsionaram uma dispersão na concentração de trabalhadores em várias unidades.

Em busca do maior lucro

Agora, não são mais necessários tantos funcionários para desempenhar as mesmas tarefas que antes, e existe uma enorme mobilidade nas unidades das empresas, que podem se deslocar para onde obtiverem maior lucro.

Contudo isso nem precisamos falar no enorme desemprego e na situação de miséria que ficaram muitos trabalhadores. Muitas pessoas, em busca da sobrevivência, se submeteram aos trabalhos precários e outras adentraram ao trabalho informal, sem direitos trabalhistas e a menor seguridade do trabalhador. Junto com isso vieram as terceirizações, assim as funções das empresas que não exigiam trabalho intelectual foram terceirizadas, o que poupou aos patrões pagamentos de benefícios aos funcionários.

É neste cenário que estréiam nossos amigos, operadores de telemarketing, ou melhor, amigas, já que a categoria é hegemonizada por mulheres. A grande maioria são jovens, que não possuem alternativa de trabalho, por isso são obrigados a se submeterem as péssimas condições do telemarketing.

Trabalho terceirizado

O Call Center desenvolve o trabalho que antes ocorria dentro dos bancos e demais empresas, e vem potencializar os lucros das mesmas, ou cobrando clientes, ou vendendo produtos. Mas não são sós os bancos, empresas de telefonia (como a Telefônica) e outras empresas que lucram nesta brincadeira, as empresas de tele marketing também saem com os bolsos cheios. E quem perde nesta história?

Bem, enquanto o Bradesco lucra 6 bilhões, os operadores de telemarketing ganham o salário de miséria, 311-367 reais, abaixo do salário mínimo. Dos teleoperadores, 90% sofrem de dor de cabeça, já tiveram gastrites em algum momento, tendinite, depressão e estresse constante. Os casos de doença do trabalho em telemarketing não param de crescer, e muitos são camuflados por serem atendidos nos ambulatórios das próprias empresas que omitem os dados.

Para o lucro ser maior, os teleoperadores são “espremidos até a última gota”. A pressão que sofrem é cotidiana. Cotas, metas, cotas, metas, cotas. Aqueles que não batem as metas servem de exemplo para os demais, tem seus nomes colocados no mural como pior vendedor, são ofendidos e xingados na frente de todos. “Por quê você não vai vender pastel na feira?” Você acredita que uma funcionária teve que ouvir isto de sua supervisora?

Condições impossíveis

Mas, isto ainda não é nada, como bater as metas se o teleoperador não tem onde trabalhar, faltam heads (telefones fixos na cabeça), PA (cabine onde trabalham), as condições são super precárias, e o teleoperador fica seis horas ali, com 15 minutos de intervalo, se é que podemos chamar de intervalo, porque ou o operador vai ao banheiro ou come algumas coisa. Já que boa parte destes 15 minutos são gastos na fila do elevador.

Descontos no salário e retirado do bônus são freqüentes, respirou a mais, perdeu. Para não pagar os direitos trabalhistas, os funcionários só são mandados embora por justa causa. Então os supervisores inventam suspensões para justificarem as demissões. Até as faltas com atestado médico são descontadas.

“Senta, pega o head, aceita a ligação, deixe o cliente esperando, para que ele desista e desligue, aceita outra ligação. Ops ! Não pode tossir, o tempo passa, o cliente não para de falar, o supervisor a encara, precisa desligar. Ufa, desligou! Outra ligação, finge que não está escutando, o cliente desliga, próxima ligação. Click ! Essa ligação foi gravada e eu não falei a ordem das palavras corretas. Maria, Telefônica, bom dia, como posso ajudá-lo? Maria, Telefônica, bom dia, como posso ajudá-lo ? Maria …Telefônica…. bom dia… como…. posso… ajuda-lo… Mariaaaaaaaaa……….”

Se o Chaplin vivesse hoje, o cenário do seu filme seria outro. As empresas de telemarketing camuflam a precariedade do trabalho e a enorme exploração por ser um trabalho “limpo”, de escritório, sem grandes esforços físicos. Essa é a nova forma de manifestação do mercado do século XXI. Assim, o telemarketing representa o futuro das diferentes categorias.

Eu quero pedir uma licença, rápida, para você que não é trabalhador do telemarketing, você pode pular direto para o último parágrafo! E você, teleoperador, vamos ser francos: O que você vai fazer?
“Meu, fala sério, que você não se identificou com a menina da ligação acima, que você nunca sofreu assédio moral, foi humilhado, e além de tudo, no fim do mês não tem mais dinheiro para pagar as contas? A resposta é sim, eu sei disto, então você não vai fazer nada? Vai continuar só quebrando o seu head para dar trabalho para a empresa que terá que consertá-lo, ou vai continuar bloqueando sua senha todos os dias para adiar o início do trabalho?”

Então, como eu estava dizendo, a luta dos teleoperadores é a luta de toda a classe trabalhadora contra as diferentes formas de exploração, contra a constante retirada de direitos, contra os ataques neoliberais, ou seja, contra o sistema que é regido pelo enorme acúmulo de riquezas de poucos e pela transformação da maioria da população em verdadeiros “pesos de papel”. 

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