Capitalismo em crise – uma explicação marxista

Boom do pós-guerra

A situação após a 2ª Guerra Mundial preparou o caminho para um período prolongado de crescimento do capitalismo.

Depois da guerra, os EUA desempenhavam um papel totalmente dominante no mundo ocidental. A metade da produção industrial e três quartos das reservas de ouro fora do bloco stalinista estavam nos EUA. O país não sofreu com a devastação da guerra e saiu com uma capacidade de produção intacta que poderia ser fornecida para a reconstrução da Europa. Os EUA usaram sua dominância total para impor a sua política ao resto do mundo. Ao invés do protecionismo do período inter-guerra, os EUA começaram a derrubar os muros tarifários para abrir os mercados às suas empresas, o que impulsionou um rápido crescimento do comércio mundial.

A devastação da guerra destruiu todo o excesso de capital e fábricas antiquadas, abrindo para a implementação de métodos de produção que já tinham sido desenvolvidos antes da guerra, mas não implementados de uma maneira geral.

O poder imperialista foi institucionalizado com a fundação do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) que em 1995 foi transformado na Organização Mundial do Comércio, OMC, além da “face humana” do imperialismo na forma da Organização das Nações Unidas (ONU). O dólar se estabeleceu como moeda mundial.

A Guerra Fria resultou em um enorme armamento que estimulou a indústria bélica. Os EUA não podiam intervir na União Soviética e na China (onde o capitalismo foi abolido na Revolução Chinesa de 1949), mas tentaram construir zonas de amortecimento apoiando a reconstrução na Europa e Japão. Para conter a revolução chinesa foram dadas condições especiais para Coréia do Sul, Taiwan, Hong-kong e Singapura, países que foram construídos como pontos de apoio ao capitalismo na região, sem nenhuma exigência de “democracia”.

A era dourada do reformismo

O “boom” do pós-guerra levou a um fortalecimento do reformismo e da idéias keynesianistas no Ocidente. O crescimento econômico deu espaço para reformas (pagas por um aumento dos impostos, também para os ricos), e nos locais de trabalho os capitalistas compravam paz para não perturbar a produção. Enquanto os lucros cresciam, os capitalistas podiam aumentar o salário real e o poder aquisitivo. Esse aumento, por sua vez, ajudou a estimular a economia. O resultado foi uma certa redistribuição de renda a favor dos trabalhadores.

Em muitos países o movimento sindical se fortaleceu e aumentou a pressão para implementar reformas. A construção do Estado de bem-estar social deu um vislumbre do que seria possível no socialismo. O setor público se expandiu, refletindo a pressão da classe trabalhadora, mas também dos próprios capitalistas. Este foi um importante e confiável consumidor para setores como construção, telecomunicações, indústria farmacêutica e etc. A necessidade de mão-de-obra levou à entrada em ampla escala das mulheres no mercado de trabalho. Para isso era necessário o acesso às creches, o cuidado de idosos, etc. A necessidade de uma mão-de-obra qualificada levou à ampliação do acesso ao ensino.

Um fator decisivo para tudo isto foi a existência de um bloco alternativo, o bloco stalinista. Os países imperialistas foram forçados a fazer concessões para não abrir espaço ao “comunismo”.

Porém, essa política de concessões funcionava somente durante o período de crescimento. Todas essas reformas foram ameaçadas e atacadas quando as crises retornavam impedindo um aumento constante do lucro. Além disso, mesmo que essas reformas fossem verdadeiros avanços, as injustiças do sistema nunca desapareceram e muitos permaneceram excluídos, mesmo nos países mais ricos.

O rápido crescimento no Ocidente deu uma certa estabilidade ao sistema, mas foi ao custo de um enorme aumento da diferença entre os países pobres e ricos, devido ao aumento da exploração. No entanto, essa estabilidade não poderia se manter para sempre. Os períodos de crescimento sempre chegam a um fim, quando as contradições e crises do capitalismo começam a se manifestar. O crescimento econômico e o baixo desemprego também fortaleceram a classe trabalhadora, e, em algum momento, um confronto seria inevitável.