Capitalismo em crise – uma explicação marxista
Introdução
“Aqueles de nós, eu inclusive, que esperávamos que o interesse próprio das instituições de empréstimo protegesse os acionistas estão em estado de descrença e choque”, disse Alan Greenspan (presidente do banco central dos EUA, o “Fed”, 1987 a 2006), no dia 23 de outubro de 2008. Durante anos Alan Greenspan foi talvez o principal representante do sistema capitalista, e visto como um semi-deus, um oráculo do capitalismo. Agora ele tem que admitir que estava errado.
Vivemos sob um sistema extremamente parasitário. Enquanto a cada dia morrem 25 mil pessoas, ou 9 milhões por ano, crianças em sua grande maioria, de fome ou doenças relacionadas à fome, os governos usam centenas de bilhões e até trilhões de dólares para salvar os bancos. Uma fração disso seria suficiente para dar comida, educação, saneamento básico, atendimento médico e moradia digna para todos no planeta.
A atual crise financeira do capitalismo é a pior desde 1929. Ainda estamos no meio do processo de aprofundamento da crise e não podemos saber ainda até que ponto ela vai. Mas está claro que é mais do que uma crise financeira, onde trilhões de dólares fictícios se evaporam. A crise já tem efeito na vida de pessoas no planeta inteiro, milhões vão perder seus empregos e suas casas. Milhões vão cair sob a linha de pobreza.
Segundo pesquisa de CNN/Opinion Research Corp. (06/10), 60% dos estadunidenses acham que uma nova depressão é provável em algum momento. A pesquisa definiu as características de uma depressão como “25% desempregados, quebras bancárias, milhões de americanos sem teto e sem poder alimentar suas famílias”.
A batalha que vai ser colocada agora é sobre quem vai pagar a conta. Os especuladores, os capitalistas e seus governos vão fazer tudo para dividir a conta com os trabalhadores, sob o princípio “eu comi, agora você paga”. Nós temos que mostrar que essa crise não é nossa. Quando se fala da “mão invisível do mercado”, temos que lembrar que esse mercado é dirigido por uma pequena elite. Em 2006, 1% da população do mundo controlava 40% das riquezas. Na Islândia, que está em crise profunda, se fala que a crise bancária é produto de decisões de 20-30 pessoas. É essa pequena elite que tem que pagar pela crise, não os trabalhadores.
Para que o movimento dos trabalhadores se arme para enfrentar essa crise, precisamos entender as causas da crise, e de como funciona o sistema capitalista. Mas como socialistas precisamos também armar o movimento com um programa que possa mostrar uma alternativa ao sistema.
Os principais defensores da linha neoliberal, como Bush, se negaram por muito tempo a reconhecer a importância da crise. Já em pânico, foram forçados a implementar medidas que comentaristas burgueses xingam de “socialistas”. Aqui no Brasil, Lula e Mantega negaram até o último segundo que a crise iria afetar o Brasil, pregando uma teoria de “descolamento” que ia contra toda a lógica da globalização, já que o mundo hoje é interligado de uma maneira muito mais profunda que em qualquer época anterior.
Esses exemplos servem para mostrar que não é possível separar a economia dos interesses e da política. É isso que explica o por que os economistas burgueses não conseguem enxergar os defeitos do seu próprio sistema. Trotsky, que liderou a Revolução Russa junto com Lênin em 1917, comentou como os interesses da burguesia cegam seus próprios olhos: “A luta dos trabalhadores contra os capitalistas forçaram os teóricos da burguesia a voltar suas costas para a análise científica do sistema de trabalhadores e se ocupar com uma mera descrição de fatos econômicos, um estudo do passado e, que é imensamente pior, uma falsificação das coisas, já que eles têm como objetivo justificar o regime capitalista”.
As teorias elaboradas por Marx ainda são as que melhor explicam o funcionamento da economia capitalista. Com esse material espero poder contribuir com um pouco dos fundamentos da visão de Marx sobre a economia.
Além disso, entrarei um pouco no processo histórico do capitalismo desde a Grande Depressão de 1929-33, passando pelo “boom” do período pós-guerra, a crise mundial de 1974-75, os anos 80 e os anos 90 até hoje. No caminho vou tentar explicar o papel do crédito, as bolhas especulativas, os derivativos, a globalização etc, para facilitar o entendimento de como a economia mundial funciona.
Mais e mais pessoas vão com essa crise tirar a conclusão que esse sistema não só é profundamente injusto, mas também que ele não é um sistema que “rouba, mas faz”. Os socialistas têm a tarefa de tentar organizar essa ira crescente que vai surgir contra o sistema. Por isso o material também levanta uma discussão sobre um programa socialista contra a crise.
Sobre as fontes
Eu tentei não sobrecarregar esse material com inúmeras fontes. Grande parte dos dados eu busquei de artigos, seja da mídia impressa como na Internet. Além de jornais brasileiros (principalmente a Folha de São Paulo), usei bastante artigos do Financial Times (britânico) e Dagens Industri (sueco). Um site imprescindível para achar dados é o Wikipedia, ressaltando que existe um grau de insegurança já que é aberto a mudanças, por isso é bom verificar as fontes (melhor ainda se você pode conferir os artigos em línguas diferentes…) Os relatórios e site das grandes instituições, como o Banco Mundial, o FMI, a ONU, etc., fornecem também bastante dados. Infelizmente a maioria dessas fontes estão em inglês.
Uma outra fonte muito importante tem sido o site do CIT, www.socialistworld.net, com artigos das seções do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores, de qual a Liberdade, Socialismo e Revolução é a seção brasileira. Lá é possível achar artigos escritos por socialistas do mundo inteiro. Recomendo o site chinês do CIT, chinaworker.info, com informações interessantíssimas sobre a China.