Vamos mudar o sistema antes que eles mudem o clima

Passado um mês desde a realização da Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas em Copenhague, a COP15, os noticiários dão conta da forte nevasca que afeta o hemisfério norte, tornando o inverno europeu, asiático e norte americano um dos mais severos da história. Enquanto isso, aqui no Brasil, são as chuvas de verão, com as consequentes enchentes e deslizamentos de terra, que têm ocupado as manchetes dos jornais. O que há em comum entre as temperaturas abaixo de zero no hemisfério norte e as chuvas que ocorrem aqui, abaixo da linha do equador?

Além dos prejuízos e mortes causadas por estes fenômenos, é possível notar que os mais atingidos pelas catástrofes naturais são os pobres, a população trabalhadora. Se não me falha a memória, nunca vi em um telejornal um milionário lamentando ter perdido sua mansão numa enchente, ou que algum banqueiro tenha sido vítima fatal do frio congelante de um inverno implacável. Mas o que isso tudo tem a ver com a COP15?

A COP15 não foi feita pensando em ajudar os mais pobres. Com ou sem acordo sobre o clima, a população pobre, mais vulnerável, nunca é levada em consideração na hora de se discutir e implementar políticas que anulem ou diminuam os efeitos dos eventos climáticos sobre suas vidas. Diante disso, cabe dizer aqui que as conferências da ONU não têm e nunca terão compromisso com os flagelados do clima.


O grande fiasco

Tornou-se notório o verdadeiro fiasco que foi a conferência de Copenhague, ocorrida entre os dias 7 e 18 de dezembro de 2009. Isso ocorreu porque o que estava em jogo não era uma preocupação séria em relação às mudanças climáticas e as medidas que são necessárias para proteger a população pobre, mas o que se pretendia era tão somente ganhar tempo para que nenhum governo tenha que colocar as mãos no bolso e enfrentar os problemas decorrentes do aquecimento global. Reduzir as emissões de gases estufa custa caro e ninguém está disposto a arcar com isso.

Preparada para receber chefes de estado do mundo todo, a capital da Dinamarca transformou-se numa fortaleza e passou duas semanas atraindo a atenção do planeta inteiro, que esperava um acordo no qual os países reduzissem as emissões de gases estufa na atmosfera, prevenindo, assim, a intensificação do aquecimento global.

As atividades começaram cambaleando, pois desde o início não havia acordo entre as lideranças mundiais sobre quem deveria cortar mais ou menos emissões e qual o prazo para isso. Nem mesmo o superpresidente Barack Obama, que chegou a Copenhague aos 45 minutos do segundo tempo, conseguiu colocar as coisas no trilho. Antes pelo contrário, ele foi um dos principais responsáveis pela falta de uma resolução da conferência. Ao final de tudo, o encaminhamento que saiu da capital dinamarquesa foi uma inócua declaração de intenções, sem metas e sem qualquer tipo de compromisso por parte dos governos. A montanha pariu um rato!

O presidente venezuelano Hugo Chávez tem mil vezes razão quando disse que “se o clima do planeta fosse um banco, já teria sido salvo”.

Todas as conferências sobre clima realizadas pela ONU, desde a COP1, em 1995, até a COP15, em 2009, levam em conta apenas os interesses econômicos do sistema capitalista. Isso tanto é verdade que a única medida implementada para supostamente combater o aquecimento global veio com o famoso Protocolo de Kyoto, que não foi nada mais do que criar créditos de carbono no mercado financeiro para que algumas empresas e especuladores ganhem muito dinheiro com isso. Até mesmo parte dos especialistas burgueses admite que o Protocolo de Kyoto tornou-se totalmente inútil para combater o aquecimento global e as mudanças climáticas.

Lula e a posição do Brasil na COP15

A delegação brasileira foi a Copenhague com o claro propósito de fazer pirotecnia, um show para inglês ver, tendo à frente a figura de Lula, posando para a imprensa internacional como o paladino do clima.

Restando menos de um ano para as eleições presidenciais, a representação do Brasil apresentou inéditas metas de redução de emissões, mas que não seriam implementadas com força de lei, isto é, seriam metas de adesão voluntária, sem nenhum compromisso. Mas o que causou mais “frisson” foi a fala do presidente brasileiro, que até puxou a orelha dos países ricos para que arcassem com suas responsabilidades históricas de emissão de gases. No discurso proferido da tribuna, Lula disse que até o Brasil estaria disposto a contribuir financeiramente para que se chegasse a um acordo em Copenhague! Dito desta forma, parece até que o Brasil é uma potência econômica. Teria razão Barack Obama quando disse que Lula “é o cara”? Se há uma coisa que Lula não é, é ingênuo. No discurso cabe tudo, e nosso presidente é um orador calejado. Lula sabia perfeitamente que na altura em que se encontrava o campeonato ele poderia dizer o que bem entendesse, afinal de contas, a conferência do clima já havia naufragado e nada seria implementado.

Não podemos esquecer que sob as barbas do governo Lula o cerrado brasileiro está sendo desmatado a uma taxa equivalente ao dobro do desmatamento da Amazônia. Vale lembrar que no Brasil o desmatamento é uma das principais fontes geradoras de gases estufa.

Merece destaque também o entusiasmo com que Lula comemorou a descoberta do Pré-Sal, dando claras indicações de que o governo está disposto a explorar as reservas de petróleo até a última gota, lançando toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.

Como é possível notar, o discurso de Lula em Copenhague não condiz com a prática adotada pelo governo federal, uma prática anti-ambiental e descompromissada em relação à redução do aquecimento global.

Há esperança?

As expectativas sobre Copenhague eram grandes e com isso cunhou-se até o termo Hopenhague (“Hope”, em inglês, significa esperança) numa tentativa ingênua de acreditar que alguma coisa boa pudesse sair de lá. Como não poderia deixar de ser, quando a conferência chegou ao fim os mais realistas trataram logo de criar outro apelido, batizando-a de Flopenhague (“Flop”, em inglês, significa fiasco).

Mas mesmo representantes do capitalismo que tentam seriamente enfrentar o problema tem que reconhecer que o mercado capitalista e a busca do lucro não oferecem uma saída. O ex-economista chefe do Banco Mundial, Nicholas Stern, constatou no “Relatório Stern” que o aquecimento global era “o maior fracasso do mercado já visto no mundo”.

A próxima conferência do clima acontecerá na Cidade do México em 2010, porém sem data definida. Ainda que consigam costurar algum acordo até lá, é possível afirmar com a mais absoluta segurança que a ONU e os líderes mundiais são incapazes de dar uma solução definitiva aos problemas climáticos, pelo menos não uma solução que atenda à maioria da população mundial, os mais pobres.

Com acordo ou sem acordo, o fato é que os mais pobres são os que cotidianamente pagam com suas vidas pelo descaso das autoridades mundiais, que nada fazem para anular os trágicos efeitos daqueles fenômenos sobre os trabalhadores. Mas isso pode mudar? Há esperança? Onde ela está?

Sim. A esperança não estava dentro das confortáveis instalações do Bella Center, mas com os cem mil que se juntaram nas ruas de Copenhague para denunciar a farsa da COP15 e lutar por uma sociedade mais justa. Se em Copenhague fomos cem mil, teremos que ser um milhão na Cidade do México! E é com esses lutadores que levantamos a bandeira do socialismo e dizemos: vamos mudar o sistema antes que eles mudem o clima. 

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