Corrupção, neoliberalismo e destruição da Amazônia

Além do mar de lama envolvendo a compra de deputados, o descaso do governo com os problemas do país fica explícito na devastação que vem ocorrendo na Amazônia e outras regiões do país. A operação curupira da Policia Federal descobriu um imenso esquema de corrupção envolvendo altos funcionários do IBAMA do Mato Grosso. Eles operavam há pelo menos 14 anos e eram especializados em emitir autorizações fraudulentas para extração de madeira.

Calcula-se que o desma-tamento ilegal causado por este grupo seja da ordem de 1,9 milhão de metros cúbicos de madeira e 43 mil hectares: o equivalente a 52 mil campos de futebol. Já foram feitos 127 pedidos de prisão, entre eles 42 são empresários e 47 são servidores do Ibama (39 de carreira e oito de cargos comissionados).

Historicamente, a região sempre foi alvo da ação predatória de aventureiros e governos que a viam apenas como fonte de lucro rápido.

Devastação e exploração capitalista

Esta devastação se acentuou com o avanço da pecuária e do agronegócio. Para abrir novas frentes de cultivo, os pecuaristas invadem áreas de proteção ambiental, derrubam a mata sozinhos ou com a ajuda de madeireiros, e transformam a floresta em pasto.

Alguns anos depois, a terra é vendida a grandes agricultores de soja ou algodão que desejam expandir seus negócios. Depois da venda, o pecuarista segue para a floresta intocada e recomeça o ciclo. De acordo com o IBAMA, o Brasil perdeu mais de 26 mil km quadrados de floresta em 2003 e 2004!

A esse quadro assustador, vem se juntar um outro crime: a utilização de trabalho escravo. O caso dos fiscais mortos ao apurarem estas ocorrências ainda são recentes. Muitas pessoas libertadas em ações do Ministério do Trabalho estavam abrindo trilhas na mata virgem e derrubando árvores.

O levantamento feito pelo Ministério mostra que os municípios com alto índice de desmatamento também são líderes em operações de libertação de trabalhadores. Não por acaso, o índice de assassinatos e violências contra trabalhadores também é grande.

Os desmatamentos são mais intensos no Mato Grosso e na fronteira entre Tocantins e Maranhão, onde houve o massacre de Eldorado de Carajás.

A farsa do agronegócio

Que o governo é impotente e até conivente com esta situação de caos fica evidente com estas ultimas prisões feitas no Ibama. Além disso, os madeireiros e latifundiários têm ramificações em todos os governos estaduais e até no Congresso Nacional, onde fazem pressão para que as terras griladas por eles sejam doadas definitivamente.

Ao lado disso há a campanha midiática do “agronegócio como o futuro do campo”, que “estão produzindo centenas de empregos”, e outras besteiras do tipo. Usando a velha tática das elites brasileiras de empunhar a bandeira da modernidade para desacreditar o MST e outros movimentos de trabalhadores, fazendo-os passar como “agentes do atraso”. Dessa forma preparam a arena para mais repressão ao movimento.

Privatização da floresta

O Ministério do Meio Ambiente preparou um anteprojeto de lei que prevê a possibilidade de empresários pagarem para utilizar trechos da Amazônia, por períodos de 5 a 60 anos. Trata-se de uma verdadeira privatização da Amazônia. Parte do dinheiro obtido dessa forma seria revertida para o Serviço Florestal Brasileiro.

Na teoria, ele prevê a fiscalização e obrigação dos empresários em promover o crescimento sustentável das comunidades destas regiões, mas não é difícil imaginar que as empresas madeireiras (quatro mil apenas nos estados do Mato Grosso e Pará), ao apoderar-se destas áreas legalmente, acabarão promovendo ainda mais destruição.

“A sondagem das espécies (de árvores) com valor econômico é feita por mateiros que abrem clareiras e derrubam árvores. Em seguida, um caminho é feito para levar as toras para a estrada. Começa aí a devastação em série, porque esses caminhos vão se distribuir em diversas direções. Os que fizeram o projeto não sabem que a área inteira vai ser tomada por caminhos”, diz o professor Azis Ab’Saber, da USP.

Sobre a participação das ONGs na fiscalização deste projeto, prevista para suprir a falta de pessoal, ele diz: “Algumas passaram a integrar o corpo administrativo e até mesmo técnico do Ministério do Meio Ambiente, sem ter capacidade para isso. Aquilo que era ‘não governamental’ passou a ser governamental…”

Uma alternativa de classe em defesa da floresta

Não será terceirizando a floresta para os mesmos que a destroem que se poderá conservar este patrimônio de toda a humanidade. Nem deixar para esta tarefa aos corruptos do governo e do congresso, que estão prontos a se vender a qualquer momento.

Os trabalhadores, comunidades indígenas e entidades classistas devem-se unir para barrar a ação do agronegócio predador, na defesa do meio de vida e do direito de trabalho; exigindo a desapropriação das fazendas que utilizam trabalho escravo ou que foram adquiridas de modo ilícito; e a prisão e punição de todos os mandantes e assassinos de trabalhadores rurais.

Você pode gostar...