15 de março: dia global de luta pelo clima

O aquecimento global é um fenômeno conhecido há pelo menos um quarto de século. As Conferências do Clima – com sua série de medidas ineficazes que não são cumpridas, de qualquer forma – vem sendo tentativas superficiais de demonstrar preocupação com a questão. Do protocolo de Kyoto em 1997, que sai com o “revolucionário” acordo em torno dos “créditos de carbono”, que tem quase zero efetividade ou respaldo científico, chegamos à conferência de 2018, já sem a participação dos EUA, que foi talvez a pior de todas. 

Neste ano a Conferência aconteceu na Polônia, que tem uma matriz energética 80% baseada na queima de carvão, numa mina de carvão desativada. Na abertura oficial do evento, a fala do presidente polonês Andrzej Duda foi simbólica das ações ineficazes das elites capitalistas, hoje, na luta contra o aquecimento global: “O uso dos recursos naturais de um país, i.e. de carvão mineral como é o caso da Polônia, a dependência desses recursos para garantir nossa segurança energética, não é contraditório com a proteção do clima e com os progressos assim alcançados.”

Lucro e progresso até o abismo

Para os grandes líderes mundiais, a queima de combustíveis fósseis da terra e reinserção no ambiente de toneladas de carbono há muito retirados dos ciclos da natureza (como óleo, gás, ou pedra), serve para avançar o capitalismo e seus lucros. Nesse ponto, abrir mão de fontes energéticas causadoras da alteração radical dos ciclos do clima do planeta não parece, para eles, contraditório com o “progresso sustentável”. Assim como Donald Trump, cujas primeiras medidas incluíram a saída do Acordo de Paris, mais e mais representantes da extrema direita tendem a posturas completamente negacionistas. Isso porque é impossível tomar qualquer medida real contra o fenômeno, precisaria ser uma medida contra o modo de produção capitalista em escala global.

Na prática, o aquecimento global resultante é, hoje, uma das maiores ameaças à vida da classe trabalhadora. Não se trata somente da desregulação das temperaturas – apesar de ondas de calor serem responsáveis pela morte de centenas na Europa, e o recente vórtice polar que atingiu os EUA ter matado dezenas de frio, em sua maioria pessoas em situação de rua ou sem condições dignas de moradia. A crescente de desastres naturais – de furacões como o que arrasou Porto Rico, a incêndios florestais espontâneos como o que assolou o México e a costa oeste dos EUA com fumaça tóxica e matou dezenas em Portugal, às chuvas torrenciais que fizeram dezenas de vítimas no Rio de Janeiro já esse ano – é somente um sinal de alerta perto do que pode vir. O derretimento das calotas polares e a consequente elevação do nível dos mares pode soterrar boa parte do planeta; o aumento da temperatura média mundial em 2ºC ou mais pode gerar um planeta permanentemente inabitável para a espécie humana.

Uma das fala mais impactantes da conferência do clima, depois de dias de discussões inócuas entre os responsáveis pela destruição ambiental global, foi da adolescente sueca Greta Thunberg, que reflete a insatisfação anti-sistêmica de uma juventude que vê sua existência futura ameaçada. Junto com outros jovens na conferência, ela levantou cartazes que afirmavam “faltam 12 anos”, referenciando o último relatório do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática, que afirma que, nesse ritmo, as metas globais do clima serão inalcançáveis em apenas 12 anos. Em sua fala, Greta afirmou: “vocês não tem maturidade para assumir a verdade. […] Até esse fardo deixam para nós, para as crianças.”  

Protestos ao redor do mundo

Greta ficou conhecida por fazer sozinha, no início, uma dia de greve pelo clima em frente do parlamento sueco, buscando chamar atenção para a crise climática. Isso tem inspirado outras ações estudantis, de greves e paralisações, e “walkouts” (marchas a partir das escolas em horário letivo) em vários países. O dia 15 de março vem sendo construído por um novo movimento global de juventude pela justiça climática, pelo seu futuro e pelo futuro do planeta, surge sob a consigna de “Youth Strike 4 Climate” (Greve da Juventude pelo Clima), com expoentes na Europa, como na Suécia, Bélgica, Alemanha e no Reino Unido, em mais de 30 estados dos EUA, além de diversos outros países, como por exemplo na China.

No Brasil, as movimentações agendadas para o dia 15 ainda são poucas e tímidas. Em tempos de crise hídrica, de fortalecimento da bancada ruralista e ataques aos territórios indígenas, de crimes ambientais como Brumadinho e Mariana, como um dos países que mais desmata e que mais utiliza agrotóxicos, sob a liderança de Bolsonaro, que afirma que “licenças ambientais atrapalham obras”, há urgência de engajamento na luta ambiental e pelo clima. Deve ser tarefa prioritária da esquerda a construção de um pólo de lutas consequente e socialista pelo meio ambiente. É pela nossas vidas!