A catástrofe climática do capitalismo
Ondas de calor, secas, chuvas torrenciais e incêndios florestais, têm afetado centenas de milhões de pessoas esse ano
Nos últimos meses temos visto cada vez mais exemplos das consequências catastróficas ao redor do mundo das mudanças climáticas. Ondas de calor, secas, chuvas torrenciais e incêndios florestais, têm afetado centenas de milhões de pessoas. Cenários que cientistas previram para 2050 e 2080 estão acontecendo já agora, enquanto os governos pouco ou nada fazem, incapazes de ir além dos limites do seu próprio sistema e a busca insaciável por lucros das grandes empresas. Mas do que nunca se faz necessário um movimento ambiental anticapitalista e socialista, que se une às lutas contra a exploração e opressões do sistema que coloca o lucro acima da vida.
Esse cenário agrava ainda mais os efeitos da guerra na Ucrânia, que tem acelerado o aumento do preço dos alimentos no mundo, afetando fortemente os mais pobres que dependem de importação de grãos da Ucrânia e da Rússia, especialmente na África e Oriente Médio.
Os fenômenos extremos têm se concentrado no momento no hemisfério norte, onde no momento é verão, e também é onde a maioria da população mundial se concentra.
A Europa passa pela pior seca em 500 anos, segundo a Comissão Europeia, atingindo a metade do continente. Na península ibérica (Espanha e Portugal), o clima é o mais seco comparado com os últimos 1200 anos! Os grandes rios do continente estão secando, afetando os transportes fluviais e ameaçando lavouras.
Vários países passaram por várias ondas de calor. Na Grã Bretanha, os termômetros passaram dos 40 graus pela primeira vez na história. Em julho, uma onda de calor na Espanha e Portugal levou a 1,7 mil mortes, segundo a OMS. Vários países sofreram com incêndios florestais.
Na Califórnia, EUA, o estado mais populoso do país e um importante produtor agrícola, a seca perdura faz anos e no momento 98% do estado está em situação de seca. O rio Colorado, do qual 40 milhões de pessoas de sete estados nos EUA e no México dependem para sua água, está secando e um racionamento está sendo implementado.
A situação é também grave na Ásia. Há mais de dois meses, grande parte da China pela pior onda de calor desde o início das medições 60 anos atrás, acompanhada por uma grave seca. O Yangtzé, o terceiro maior rio do mundo, está no nível mais baixo desde 1865, quando começaram as medições. Isso tem levado a cortes no fornecimento de energia e fechamento de fábricas, além de afetar o transporte fluvial. Em várias regiões a colheita também está ameaçada.
A província Sichuan, que normalmente exporta energia para outras regiões, perdeu 50% da sua capacidade de produção de energia hidroelétrica em agosto. Usinas termelétricas que queimam carvão estão sendo acionadas para superar a falta de energia, aumentando as emissões de gases de efeito estufa.
Na Índia e no Paquistão, a onda de calor chegou extremamente cedo. Março foi o mais quente da história e a ministra de mudanças climáticas do Paquistão, Sherry Rehman, disse que esse tem sido um “ano sem primavera”, passando do inverno direto para o verão. Na cidade de Nawabshah, no Paquistão, a temperatura chegou a 49,5 graus. Em Gujarat, na Índia, pássaros caíram do céu por causa do calor, um cenário apocalíptico.
O solo seco pelo calor e seca prolongada, especialmente com a perda de vegetação, é menos capaz de absorver a água da chuva. Ao mesmo tempo, as altas temperaturas levam a chuvas mais intensas. Essa combinação tem levado a graves enchentes e deslizamentos ao redor do mundo.
No Paquistão, as chuvas da monção desde junho têm sido extremamente intensas esse ano, chegando a chover quatro vezes mais do que a média. Isso causou enchentes e deslizamentos, levando à morte de mais de mil pessoas até agora, danificando ou destruindo um milhão de casas e forçando 33 milhões de pessoas a fugirem. Um terço do país está debaixo d’água, segundo Sherry Rehman.
Na África, o “Chifre da África” (Somália, Etiópia, Eritreia e Quênia) passa pela pior seca em 40 anos. 18 milhões passam fome extrema e 7 milhões de crianças com menos de 5 anos sofrem de desnutrição aguda. Mais de 6 milhões de cabeças de gado morreram.
Tudo isso é um alerta para o Brasil. Os efeitos das mudanças climáticas já podem ser vistos, com secas e chuvas extremas se revezando com maior frequência. Mas o cenário pode ficar pior bem mais rápido do que esperado, como mostram os exemplos.
Segundo a Coleção 7 do Mapbiomas, um terço de toda a perda de vegetação nativa da história do Brasil aconteceu nos últimos 37 anos, principalmente pelo avanço da agropecuária. Nos últimos 30 anos (1991-2021) o país também perdeu 17,1% da superfície de água. O Pantanal é a região mais afetada, com uma perda de 80% da superfície de água, influenciado pela crise climática e perda de umidade vinda da Amazônia devido ao desmatamento. Isso torna o Pantanal mais vulnerável para queimadas. Também é um alerta para o que pode acontecer com a Amazônia. Cientistas alertam para o risco de grande parte da selva se transformar em uma savana, com a perda da capacidade da floresta gerar chuva suficiente para se manter. Isso teria um efeito devastador em grande parte do país, já que a floresta amazônica é o motor que traz umidade para o Sudeste, e também afetando as fontes dos rios que levam água para o Nordeste.
Nos últimos meses ficou também mais evidente como mesmo as poucas e insuficientes promessas feitas durante a cúpula do clima em novembro na Escócia, a COP 26, não serão cumpridas. A crise energética na Europa como consequência da guerra na Ucrânia tem levado a mais investimentos em combustíveis fósseis, como também a perda de capacidade das usinas hidroelétricas com a seca dos grandes rios ao redor do mundo. O tão badalado, mas insuficiente, novo pacote de leis sobre o clima de Biden, foi em partes escrito pelo senador democrata Joe Manchin, com interesses na mineração de carvão, e contém incentivos à indústria fóssil.
Enquanto isso, o establishment faz tudo para manter o foco no comportamento e consumo individual das pessoas. Obviamente, os ricos têm um “rastro climático” muito superior às pessoas pobres do mundo e as desigualdades precisam ser combatidas. Mas para fazer uma mudança real, é necessário romper o poder das grandes empresas no mundo. Nos últimos 30 anos, somente 100 grandes empresas foram responsáveis por 70% das emissões de gases de efeito estufa no mundo.
Para começar a consertar o estrago feito por esse sistema econômico na natureza e na vida das pessoas, é necessário que a posse e controle das grandes empresas e recursos naturais sejam colocados nas mãos do povo trabalhador do mundo. Através de um planejamento democrático da economia, seria possível fazer as mudanças necessárias para reverter as mudanças climáticas, baseando no que é necessário para a grande maioria da população e da natureza, e não para satisfazer os interesses de uma pequena elite.