Debates dentro do feminismo hoje
Para milhões de pessoas, a questão não é tanto se o feminismo é necessário, mas sim o que é preciso para conseguir mudanças reais que beneficiem as mulheres? Os movimentos sociais são um campo de batalha para ideias, programa, estratégias e táticas necessárias para a vitória.
Feminismo socialista x feminismo liberal
De Hillary Clinton à NARAL (Associação Nacional pela Anulação de Leis Antiaborto dos EUA) e NOW (Organização Nacional de Mulheres dos EUA), a crítica principal ao machismo geralmente assume a forma do feminismo liberal. O que define feminismo liberal é a visão de que são as escolhas das mulheres que determinam sua posição na sociedade, por exemplo, se as mulheres se tornarem “empoderadas” elas poderão ser bem sucedidas no capitalismo. Essa perspectiva é combinada com a pressão por reformas legislativas limitadas e o apelo por uma mudança de atitude. O feminismo liberal também foca na ideia de que eleger mais mulheres para cargos públicos levará, por si só, a uma grande mudança.
Em 2017, as organizadoras das marchas de mulheres procuraram tornar essas ações mais inclusivas a imigrantes e mulheres não-brancas e apresentaram uma plataforma amplamente progressista. Entretanto, deve-se francamente reconhecer que as ideias do feminismo liberal seguiram como dominantes nas mobilizações de massa tanto em 2017 como em 2018. Parte disso se explica por não ter suficiente força bem organizada para galvanizar mulheres mais radicais, especialmente mulheres jovens. As grandes mobilizações são, por enquanto, de classe média e, embora este setor da sociedade esteja certamente sendo empurrado para a esquerda pelos eventos em curso, ainda há uma grande aceitação entre a ampla gama de referências feministas da política liberal como Hillary Clinton, Nancy Pelosi, Kirsten Gillibrand e Kamala Harris. O feminismo liberal, apesar de dificilmente não seja contestado, por enquanto está ganhando a batalha de ideias por não ter uma alternativa forte para a disputa. Ele também recebe uma ampla plataforma na grande mídia liberal.
Uma questão subjacente que divide as feministas é se todas as mulheres possuem interesses em comum. De certa forma, sim, dado que o machismo oprime as mulheres de diversas formas. As feministas liberais preferem não ir além disso. Mas executivas mulheres como a Sheryl Sandberg do Facebook, que ficou famosa por defender que as mulheres “façam acontecer” (“lean in”), e as políticas ricas do establishment dos Democratas como Clinton, Pelosi e Feinstein são parte da classe capitalista cujos interesses são contrários à maioria das mulheres que são parte da classe trabalhadora. É por isso que Hillary Clinton não apoiou o salário mínimo federal de 15 dólares por hora, e também por isso que a direção do Partido Democrata se opôs ao Medicare for All (saúde pública para todos), e por isso que as políticas mulheres dos Democratas votaram em Seattle para reverter o “Amazon Tax” – um imposto para taxar as grandes empresas que destinaria fundos para moradia acessível, que foi defendido pela vereadora socialista Kshama Sawant e o movimento por moradia.
Em todos esses temas – salário, assistência médica, e moradia – que são de suma importância para as mulheres da classe trabalhadora, a construção de um movimento requer se opor a liderança do Partido Democrata e a forma de feminismo liberal que ele está preparado para promover. Essa forma de feminismo pode incluir muita retórica radical contra o machismo e até mesmo o “patriarcado”. mas no fim das contas promete pouco e entrega menos ainda.
Um desafio muito maior
Como já foi dito, nós socialistas acreditamos que derrotar o machismo é uma tarefa muito maior e é fundamentalmente impossível se nossos objetivos forem limitados ao que é aceitável para a classe capitalista. O que define o feminismo socialista é uma análise classista de como a opressão das mulheres surgiu historicamente através do desenvolvimento da sociedade de classes e como ela ainda é perpetuada pelo sistema capitalista, que acreditamos que deve ser derrubado a fim de se alcançar verdadeiramente a igualdade.
A falta de uma análise de classe é absolutamente fatal para a construção de um movimento de mulheres de massa eficaz. Reduz o movimento a organizações feministas liberais que lutam por políticas que são insuficientes em comparação com o ânimo e a consciência que levam as pessoas para as ruas. Limita-se a definir “atitudes dentro da sociedade” como o problema, leis individuais como o problema, ou mesmo homens como o problema. O que se segue, então, é a implicação de que a educação não sexista e reformas limitadas para criar condições iguais para competir são a solução. Isto sugere que as mulheres simplesmente têm que retirar o poder dos homens. Por extensão, aceita a ideia de que sempre haverá mulheres pobres, ou que exemplos – mais mulheres executivas (CEO) e políticas – são tudo o que as mulheres precisam para serem empoderadas.
Lutar por reformas, entretanto, não é o que diferencia o feminismo liberal do feminismo socialista. Socialistas lutam e apoiam toda e qualquer reforma positiva que beneficie a vida das mulheres e de todas as pessoas da classe trabalhadora. Obviamente, as reformas conquistadas pelo movimento de mulheres e outros movimentos sociais de massa nos anos 60 e 70 desempenharam um papel crítico na melhoria da vida das mulheres. Mas todos esses ganhos exigiram uma luta social séria, à qual a liderança liberal feminista se opõe, uma vez que desestabiliza o sistema social que elas defendem. E, como podemos ver claramente hoje sob Trump, enquanto o capitalismo existir, todos estes ganhos são passíveis de reversão.
Para nós socialistas, é uma questão de mudar a correlação de forças na sociedade – e é por isso que os movimentos de massa centrados no poder social das pessoas trabalhadoras são tão cruciais. Um movimento de mulheres trabalhadoras concentrado na classe trabalhadora que obtém vitórias aumentará a consciência e a confiança das mulheres e da classe trabalhadora em geral para lutar por mudanças fundamentais.
Opressão baseada na identidade
Apesar de o feminismo liberal em grande parte continuar dominando a discussão, há um debate feroz sobre por quem exatamente o feminismo luta. No passado, figuras feministas liberais e acadêmicas contavam frequentemente a história das lutas das mulheres como um empreendimento heroico de mulheres de classe branca, média e alta, de forma casual, mas decisiva, tirando da história dos movimentos feministas as mulheres da classe trabalhadora e não-branca. Algumas tendências proeminentes do feminismo no passado bastante recente rejeitaram explicitamente o papel das pessoas trans dentro dos movimentos de mulheres, tentando negar não apenas suas próprias identidades, mas seu papel na luta.
Por outro lado, a “terceira onda” e o feminismo interseccional destacaram que a luta feminista é prejudicada pelo racismo, homofobia e transfobia. Apesar desta posição positiva, a terceira onda apresentou limitações reais, pois não se orientou claramente para as mulheres da classe trabalhadora na luta pela sua libertação. Somente uma abordagem assim, baseada na luta de massas e num programa anticapitalista, tem a capacidade de começar a quebrar esses preconceitos na sociedade como um todo.
As mulheres negras, imigrantes, mulheres LGBTQIA+ e pessoas não-binárias têm lutado por um movimento de mulheres que explicitamente combata o racismo, a xenofobia, a homofobia e a transfobia. Para que o movimento conquiste ganhos reais e desafie todo o sistema, ele deve ter esse caráter. Apesar das fragilidades políticas do movimento feminista hegemônico no passado, construir lutas em torno dos direitos das mulheres e representar as experiências específicas e diversas dentro da classe trabalhadora não são mutuamente exclusivas.
Isto pode ser visto na abordagem dos direitos reprodutivos, que é uma questão central para as mulheres aqui e internacionalmente. Com muita frequência, as principais organizações de mulheres e a liderança do Partido Democrata limitam suas reivindicações à proteção do direito legal ao aborto quando na realidade, mesmo o aborto legalizado permanece inacessível para as mulheres de baixa renda, que são desproporcionalmente mulheres não-brancas. Além disso, as mulheres negras têm tido que lutar continuamente por seu direito de ter uma família. Setores da população que não são mulheres – sejam elas homens trans, não-binárias, intersexuais, etc. – também precisam de serviços de saúde reprodutiva acessíveis. Qualquer movimento de direitos reprodutivos seria mais forte se lutasse pelo direito de todas as pessoas terem anticoncepcionais e serviço de aborto seguros e acessíveis, juntamente com a escolha genuína de criar e sustentar uma criança.
Atualmente, muitas ativistas rejeitam definitivamente o feminismo liberal e são fortemente influenciadas por políticas identitárias radicais. É claro que políticas como Hillary Clinton têm sido perfeitamente dispostas a usar a versão de políticas identitárias que afirma promover mulheres mas não diz nada sobre as divisões de classe entre mulheres e de forma alguma desafia a elite corporativa que lucra através da opressão da mulher trabalhadora.
Políticas identitárias radicais se opõem às políticas identitárias corporativas e têm contribuído para a politização de uma grande camada de jovens. Mas como a teoria da interseccionalidade e teoria do privilégio que são frequentemente relacionados, políticas identitárias radicais estão focadas em expor as muitas formas que alguns grupos de pessoas são mais oprimidas do que outras. Como estratégia para mudança, políticas identitárias radicais são frequentemente focadas em lutas por identidade separadas.
Nós vivemos em um momento em que racismo, machismo, homofobia, transfobia, xenofobia estão aumentando de intensidade ainda que a maioria das pessoas rejeitem essas ideias. A maioria das pessoas da classe trabalhadora estão sujeitas a outra forma de opressão para além da opressão de classe. Na verdade, muitos setores da sociedade enfrentam um cotidiano de medo, assédio e abuso por suas identidades. Para muitas pessoas radicais, entrar para a luta que desafia as opressões sobrepostas que enfrentam é empoderador.
Enfrentar todas as formas de opressão criadas ou perpetuadas pelo capitalismo é uma parte central de marxismo; isso não é no que discordamos com políticas identitárias radicais. A história tem mostrado que lutas contra opressão racial, nacional e de gênero são decisivas para a luta geral contra a ordem social que oprime a todos nós. Mas nós discordamos com a perspectiva que a opressão pode ou poderá ser superada através das lutas identitárias tomadas separadamente.
Em especial, políticas identitárias radicais – como usado pela liderança de alguns grupos de mulheres, LGBTQIA+, e de justiça racial – podem, infelizmente, causar danos reais à potencial construção de uma luta unificada que poderá assumir e derrotar a ameaça da direita e conseguir reformas reais que aumentem a confiança das pessoas para lutarem por mais. Em vez de lutar fortemente para unificar todas as pessoas trabalhadoras para enfrentarem o poder da elite, ao mesmo tempo que coloca a frente e ao centro as necessidades de todos os grupos oprimidos, essa tendência argumenta que apenas aqueles que vivenciaram uma opressão particular têm interesse em acabar com ela. Tal como o feminismo liberal, isso drasticamente limita as possibilidades.
Quem se beneficia da opressão?
As políticas identitárias radicais enfatizam que grupos oprimidos podem apenas confiar no apoio daqueles com as mesmas identidades. Relacionado a isso há uma análise de que a manutenção da opressão se dá, sobretudo e principalmente, por outras pessoas comuns. Isto representa um dos aspectos mais definidores das políticas identitárias radicais dos quais as pessoas socialistas discordam.
No dia da confirmação de Brett Kavanaugh à Suprema Corte, o artigo de opinião de Alexis Grenell no New York Time debatido amplamente colocava a responsabilidade de Kavanaugh nas mulheres brancas. Como isso seria possível? A explicação está na ideia disseminada pela esquerda liberal de que a classe trabalhadora branca, e as mulheres brancas especialmente, são as culpadas por Trump ganhar a eleição em 2016. Para explicar o porquê mulheres brancas promoveram tanto Trump como Kavanaugh, Grenell alegou, “Isso porque mulheres brancas beneficiam do patriarcado negociando com sua branquitude para monopolizar recursos para ganho mútuo”.
Esse tipo de argumento está relacionado à teoria de interseccionalidade que desenvolveu a partir do pós-modernismo no final dos anos 80. Muitos pós-modernistas começaram como esquerdistas na década de 1960s mas concluíram, especialmente após o colapso do stalinismo depois de 1989, que os marxistas estavam equivocados em acreditar no papel decisivo da classe trabalhadora em mudar a sociedade. Eles estavam profundamente desmoralizados pelo aparente triunfo do capitalismo ocidental nesse período.
Eles eram incapazes de explicar como as sociedades “socialistas” dominadas por stalinistas colapsaram, exceto por concluírem que o projeto inteiro tinha sido errado desde o começo. Eles rejeitaram todas as “grandes narrativas” que procuravam explicar o desenvolvimento da sociedade e ao invés disso consideraram que todas as narrativas tinham igual validade. Essa é uma visão de mundo pessimista que não enxerga possibilidade de uma sociedade verdadeiramente igualitária, apenas uma interminável luta para redefinir narrativas dentro do capitalismo. Na realidade, essa perspectiva transforma a luta em uma entre pessoas comuns, não uma luta unificada contra toda a opressão.
Essa perspectiva teórica, junto com a teoria do privilégio, esconde a realidade de que a classe capitalista é a fundamental beneficiada pela opressão, e na verdade depende de sua existência para manutenção das divisões na sociedade. Ela postula que virtualmente todo indivíduo é privilegiado por beneficiar da opressão de qualquer um mais oprimido do que ele próprio. É importante para nós aprofundarmos sobre essa noção e avaliar quem realmente se beneficia da opressão: pessoas comuns da classe trabalhadora ou a classe capitalista.
Trabalhadores nascidos nos EUA, por exemplo, são aconselhados a aceitar salários baixos para prevenir que seus empregos sejam “roubados” por imigrantes sem documentos ou enviados para outros países. Não há dúvidas de que a xenofobia tem sido usada como arma em setores da sociedade, especialmente sob governo Trump. Mas o único beneficiário dessa abordagem “dividir e conquistar” é as grandes corporações. É verdade que trabalhadores nascidos nos EUA não sofrem as mesmas formas de injustiça que muitos imigrantes enfrentam, mas eles não criaram a xenofobia e eles não obtêm um salto de qualidade de vida por causa disso. Na verdade, apoiar os direitos de cidadania para trabalhadores imigrantes e unir com eles em uma luta por melhores salários, moradia a preços acessíveis, e saúde pública para todos (Medicare for All) é de interesse próprio dos trabalhadores nascidos nos EUA.
Um outro exemplo é dos trabalhadores brancos no Sul dos EUA durante o período das leis racistas de Jim Crow. Obviamente a vida para a maioria das pessoas brancas era significativamente melhor do que a das pessoas negras dada a natureza altamente repressiva e abertamente supremacista branca desse regime. Entretanto, é também verdade que o sistema de Jim Crow foi designado para manter pobres negros e pobres brancos separados, e foi bem-sucedido em grande medida manter os sindicatos fora. Como resultado, os salários de trabalhadores brancos no Sul eram significativamente abaixo daqueles seus semelhantes no Norte. Então, embora pudesse atribuir “benefícios” para as pessoas brancas sob o Jim Crow, esses certamente não eram econômicos.
Há também a questão se homens se beneficiam do machismo. Ao listar todos os obstáculos que o machismo cria para as mulheres e as formas que ele estraga suas vidas parece levar a um claro “sim” como resposta. O capitalismo se beneficia da vasta quantidade de trabalhos não-pagos realizados por mulheres, bem como muitos homens. É de comum conhecimento que os homens ganham mais do que as mulheres para executar o mesmo trabalho. Além disso, muito dos abusos e violências sofridas pelas mulheres é pelas mãos de parceiros íntimos da mesma classe. Ao mesmo tempo, é também verdade que os homens vivem impactados negativamente de várias formas pela existência de padrões de gêneros. Por exemplo, o machismo é um aspecto integral de uma cultura que continua presente de jovens meninos sofrendo violência e bullying por não serem “masculinos o suficiente”. Não há dúvidas de que os homens poderiam se beneficiar exponencialmente como seres humanos vivendo em vivendo em uma sociedade igualitária em que o machismo deixe de existir como uma ferramenta para dividir uma pessoa contra outra.
Na realidade, muitos dos argumentos sobre o grau em que pessoas comuns se beneficiam de várias relações de poder não apenas ignora o papel da classe dominante mas também assume o argumento da escassez material: não há muito o que fazer. Então, se um setor da classe trabalhadora está historicamente em condições melhores do que outra, a única forma de alcançar justiça é pegar algo que esse primeiro grupo tem. Nós, no entanto, acreditamos veementemente que as forças produtivas modernas podem, sob uma economia planificada socialista, garantir bons empregos e benefícios como uma aposentadoria decente – cada vez mais distante hoje para todos os setores da classe trabalhadora – para todos. Não se trata de puxar para baixo um setor da classe trabalhadora para puxar outro para cima; é sobre levar todos para cima que irá beneficiar de forma desproporcional os mais oprimidos.
É indiscutível que diferentes setores da classe trabalhadora vivem diferentes experiências. É também indiscutível que existe uma minoria da classe trabalhadora que abraçou ideias reacionárias. Os marxistas estão completamente comprometidos em minar o apelo da direita e nós acreditamos que é possível fazer isso e isolar os reacionários mais endurecidos. Mas a tarefa chave não é tanto convencer homens heterossexuais e brancos da classe trabalhadora que eles são “privilegiados” em comparação à mulheres, pessoas não-brancas e LGBTQIA+, ou imigrantes, quando a sua própria experiência mostra que o padrão de vida dele e de seus familiares têm piorado em décadas de neoliberalismo.
Ao invés disso, é necessário convencer eles de que eles têm interesse em comum com todos os oprimidos e que é de interesse deles juntar forças numa luta comum. A classe dominante tem historicamente promovido de forma ativa racismo, machismo, e nacionalismo para esconder isso. Colocando de outra forma, a classe dominante procura convencer os setores da população que eles de fato são “privilegiados”, “melhores” ou “superiores” do que outros como uma forma fundamental de minar uma luta unificada contra a dominação da classe hegemônica e amarrá-los em uma ideologia pró-capitalista. Ao mesmo tempo que confrontamos diretamente e destemidamente todas as formas de ideologia reacionária, não podemos abrir espaço para essa falsa narrativa. A campanha de Bernie Sanders em 2016 apontou o que era possível com base em um programa da pró-classe-trabalhadora, um programa anti-corporação. Ele venceu Hillary Clinton em muitos estados que Trump depois ganhou nas eleições gerais. Há uma clara evidência que indica que muitos brancos da classe trabalhadora que votaram em Trump votariam em Bernie se ele tivesse na cédula em novembro de 2016.
Como nós construímos solidariedade
Uma questão chave que lutadores contra a injustiça enfrentam é como mudar a consciência. Nós acreditamos que o elemento chave é a luta comum. Isso tem sido visto na história. Quando divisões entre trabalhadores são mesmo que parcialmente superadas – como o Congresso de Organizações Industriais (CIO) fez ao construir sindicatos multirraciais nas décadas de 1930 e 1940 – nós estamos em uma posição bem mais forte para travar batalhas bem mais poderosas e obter vitórias reais. É por isso que construir organizações combativas da classe trabalhadora com base em diversos locais de trabalho é tão crucial. Há também uma solidariedade humana instintiva que se expressa em muitas situações especialmente quando comunidades enfrentam desastres. Isso pode ser fundamental para avançar na forma como as pessoas vêem outros grupos que foram ensinados a manter distância.
É claro que isso não significa que apelos morais mais amplos ou campanhas educativas não sejam importantes quando bem feitas. Mas o apelo moral por si só nunca será suficiente para mobilizar pessoas para uma luta duradoura. Isso requer um comprometimento profundo das pessoas comuns com formas de organização que fale por seus interesses sociais. Nós vimos movimentos como Black Lives Matter (BLM) terem um grande impacto na consciência através de um apelo moral e demanda básica. Mas o BLM lutou para encontrar uma forma de transformar mobilizações esporádicas em um movimento contínuo com raiz na classe trabalhadora negra, mesmo se tenha dado passos nessa direção. Isso mostra como é desafiadora a abordagem que estamos defendendo. Nós não podemos fingir que é fácil ou linear ou mesmo que há um plano exato de como fazer isso. As tradições das lutas coletivas das quais existe uma vasta história nos EUA precisam ser recuperadas e reconstruídas, urgentemente.
Extraído e traduzido de https://www.socialistalternative.org/socialist-feminism-and-the-new-womens-movement/section-4-the-new-womens-movement-and-the-metoo-moment/chapter-18-debates-within-feminism-today/