I Encontro do Movimento Mulheres em Luta: importante passo à retomada do feminismo classista!
Nos dias 4 a 6 de outubro aconteceu o I Encontro do Movimento Mulheres em Luta (MML). O MML é um movimento de mulheres trabalhadoras que surge em 2010 para filiar-se a nova central, que seria fundada no Conclat. Com o fracasso do Conclat o MML se filiou a CSP-Conlutas, e agora em 2013 organiza seu I Encontro Nacional, com o objetivo de se estruturar em todo o território nacional.
Numa conjuntura de retomada da luta de massas, este encontro mostrou o potencial existente, entre as mulheres trabalhadoras, para organizar a luta anticapitalista, contra o machismo e por uma sociedade socialista.
Os dados apontam o retrocesso e as lutas indicam o caminho…
Os dados do PNAD divulgado em setembro apontam que as mulheres recebem em média somente 72,9% da renda média dos homens, distância esta que tem aumentado nos últimos anos. Segundo a própria ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, a cada 12 segundos uma mulher sofre violência, em 5 anos os estupros aumentaram 168%. Vale lembrar, que tudo isso, sob a sombra da Lei Maria da Penha (de combate a violência sexista) e do Lulismo.
Nas jornadas de junho nós mulheres fomos 60% das manifestantes, somos a maioria dentre os educadores, nas ruas e na luta do Rio de Janeiro, e teremos que ser as protagonistas das lutas que virão, contra os megaeventos, por saúde e educação, pois sem dúvidas somos as mais atingidas pela política privatista e de retirada de direitos sociais.
Nesta conjuntura, devemos nos preparar para ampliar o movimento e fortalecer nossa luta. Criar núcleos, espaços de base, que realmente funcionem e dialoguem com as mulheres trabalhadoras, os demais movimentos e setores da esquerda feminista.
Encontro vitorioso!
De fato, este encontro foi uma grande vitória para o movimento de mulheres classista. A Marcha Mundial de Mulheres (MMM), ligada ao setor governista, realizou em setembro um encontro internacional que contou com 1300 mulheres na principal capital – São Paulo. O MML contou com a participação de 2300 mulheres trabalhadoras, numa cidade afastada dos grandes centros, sem estrutura e apoio, que contou o movimento governista.
A mesa de abertura contou com uma pluralidade importante dos movimentos a esquerda, como movimentos feministas de saúde, marcha das vadias, frentes pela legalização do aborto, movimentos populares, sindicais e setoriais de mulheres dos principais partidos de esquerda PSOL e PSTU.
Nós da LSR, estivemos presentes na abertura do encontro representando o PSOL, nas mesas de conjuntura, organização e nos grupos de trabalho. Foram dois dias de debates e discussão. Ao final do encontro, saímos com a tarefa de organizar uma campanha nacional de combate a violência contra a mulher, reorganizar o MML, intervir nas Frentes amplas e somar-se as iniciativas antigovernistas e de luta do próximo período.
Compomos a nova executiva nacional (15 nomes) onde: Jane Barros e Kátia Sales são titulares e Mariana Cristina e Maria Clara são suplentes.
Principais polêmicas e debates no MML
O encontro foi hegemonizado pelas companheiras do PSTU LIT, apesar da maioria não ser militantes orgânicas do partido. Para além de nós da CIT estavam presentes companheiras da LER-QI, Movimento revolução socialista-MRS, Espaço socialista (organizações regionais fruto de rachas do PSTU), e coletivos regionais de mulheres. Todas estas organizações juntas representam uma pequena minoria no encontro.
A caracterização correta de que este encontro foi vitorioso, fez com que as companheiras do PSTU o transformassem, centralmente, em um espaço de agitação e propaganda, secundarizando o debate político, através de uma avaliação de que as mulheres que lá estavam “não tinham ainda muito acúmulo”. Como consequência as camaradas passaram por cima da votação do regimento, exageram na mística, impossibilitando a abertura para as falas e contribuições depois dos painéis de conjuntura e organização.
No que se refere ao debate de conjuntura nacional houve um acordo geral na caracterização do governo Dilma, na importância das jornadas de junho e na perspectiva de que as lutas se ampliarão de modo mais acirrado em 2014, sobretudo nas capitais onde ocorrerão os jogos da Copa do Mundo. As principais polêmicas do Encontro se concentraram na questão de concepção de organização do movimento de mulheres, na discussão sobre as delegacias especiais para mulheres e no debate sobre a caracterização do processo sírio.
Apesar do acordo em pautas especificas do movimento e na caracterização do atual governo Dilma com as camaradas do PSTU, temos uma leitura diferenciada a respeito da concepção do movimento de mulheres. Para nós da LSR é tarefa do movimento feminista classista disputar o movimento de mulheres no conjunto da sociedade, em torno das pautas específicas e das nossas bandeiras de luta. Para tanto, sobretudo nesta conjuntura, devemos atuar nos espaços de Frentes Amplas, existentes no movimento feminista, com o objetivo de ganhar e aproximar setores da luta feminista e socialista.
Localizamo-nos de modo favorável a auto-organização das mulheres, aliás, fomos nós que pautamos este debate. Para nós, seção brasileira do CIT, só garantiremos a emancipação plena das mulheres através da superação do capitalismo, numa luta conjunta da classe trabalhadora, pois quando uma mulher avança, nenhum home retrocede. No entanto para que isso corra, é necessário que as mulheres tomem consciência da sua condição, fortalecendo as pautas e a si mesmo no processo de construção da luta anticapitalista. Afinal é um consenso que há machismo na esquerda, que por vezes impede e afasta mulheres trabalhadoras da construção dos instrumentos de luta.
Defendemos a existência e ampliação da delegacia especial de mulheres, hoje estas são quase inexistentes, apesar de legalmente aprovadas, por conta da falta de verba e recursos públicos que foram retirados, no ato da aprovação da lei.
No debate da Síria fomos acusadas nominalmente, pela camarada da Síria, como descoladas da luta de classes e da realidade revolucionaria na Síria hoje, leram Lênin, para nos localizar como esquerdistas. Colocamo-nos contrárias a caracterização de que há uma revolução em curso hoje na síria e que, e que por isso deveríamos mandar armas para lá.
Respondemos em plenária estas acusações retomando o debate sobre os riscos de uma caracterização equivocada para os desfechos revolucionários. A configuração da leitura de uma guerra civil e das contradições no seio do movimento oposicionista, apontando e a necessidade de auto-organização dos trabalhadores, fez com que parte do plenário se abstivesse da votação, evidenciando que este é um tema ainda com muitas lacunas e que não poderia se aprovado sem discussão e debate com o conjunto das companheiras. Afinal discutir o método revolucionário é condição para os movimentos anticapitalistas.
Este encontro foi um dos mais bem organizado e mais bem representado, nacionalmente, que as camaradas da LSR participaram. A nossa intervenção contou com uma bancada bem organizada. Participamos de todo o processo de construção do Encontro. Todas as companheiras pegaram tarefa, garantiram assiduidade nos horários, fizemos reuniões no inicio e fim das atividades diárias.
As falas de conjuntura e organização do movimento, assim como as intervenções nos grupos foram importantes para apresentar o nosso perfil e para nos diferenciar das demais posições. No que se refere a visibilidade, o fato de nos apresentarmos em todas as mesas como PSOL e LSR, ajudou a consolidar um perfil e a aproximar vários contatos ao longo do encontro.
Foi importante, já desde a abertura, termos deixado claro que as Mulheres do PSOL eram contrárias ao projeto do Jean Willys( de regulamentação da prostituição), o que nos credenciou no debate. Fizemos um balanço positivo de termos chamado a reunião de sábado a noite, em nome das Mulheres do PSOL. Travamos novos contatos, e nos aproximamos de trabalho de mulheres em sindicato em diversas capitais e cidades importantes.
Para além destes contatos diretos, entregamos certa de 1700 panfletos, e várias pessoas nos paravam para comentar nossas falas e discutir sobre os métodos e a política para o movimento de mulheres. Novos contatos ainda poderão aparecer. Com a venda da banquinha conseguimos 2560 reais, o que paga as nossas inscrições e auxiliam no fundo de luta.
Como bem apontou Alexandra Kolontai, o avanço das mulheres é condição para a emancipação do conjunto da classe trabalhadora, não sendo possível pensá-la no interior da sociedade capitalista. Neste sentido, a luta pelo socialismo é condição. Todavia esta luta precisa contar como as mulheres trabalhadoras na sua condução e direção, e para isso, é necessário a nossa auto-organização como forma de garantir que as pautas específicas, e não secundárias, sejam incorporadas na pauta de luta do conjunto da classe, como sendo de responsabilidade de todos e todas garanti-las.
Este primeiro Encontro do MML é extremamente significativo, ao indicar que as mulheres trabalhadoras estão dispostas a construir a luta e a disputar o seu rumo. O MML foi capaz de provar que há sim espaço para o feminismo classista, não divisionista, combativo, que vem nos últimos tempos tirando conclusão em relação aos movimentos de mulheres governistas, pelegos e que nada nos representam.
A tarefa agora é retornar as bases e consolidar o MML, nos Estado e regiões, dialogar coma s mulheres trabalhadoras e reforçar os laços para a luta de classes. Saímos do encontro com dezenas de contatos em todo o país, dar continuidade ao dialogo e estreitar relações é a possibilidade de avançar no trabalho de base, no movimento operário feminista, Colocar nas ruas a Campanha de combate a violência, aprovada no encontro, é o primeiro passo!