Quando a compaixão assume um posicionamento de classe: A Naturalização do Genocídio
Na ultima semana, em São Paulo, em um dos atos de rua, comuns na cidade a partir de junho, um grupo de ativistas com máscaras baterem no comandante da policia militar. Este ato gerou, na grande mídia, uma comoção social, compaixão e solidariedade ao policial. Sem defender estes atos como sendo o método dos trabalhadores, é no mínimo curioso analisar como esta compaixão não se estendeu ao jovem, Douglas Martins, pobre, negro, da periferia de São Paulo, assassinado na mesma semana por um policial.
Entender porque isso acontece é condição para desmascarar parte desta sociedade, que se utiliza da hipocrisia, que criminaliza os pobres, e que define, por exclusão, os cidadãos que participam do Estado de Direito.
Os números não estão ai por acaso. De 2002 a 2010, o país registrou 418.414 mortes, são como cinco guerras do Iraque! Destas 65,1% (272.422 pessoas) eram negras. Os dados são apresentados pelo “Mapa da Violência 2012 – A Cor dos Homicídios”, o primeiro levantamento nacional sobre esse tipo de morte com recorte étnico. Além do alto número de mortos, há uma tendência crescente da vitimização dos negros no Brasil.
Em 2002, morriam proporcionalmente 65,4% mais negros que brancos, enquanto em 2010 essa taxa saltou para 132,3%. Entre os brasileiros com idade de 15 a 29 anos, a situação piora. Em 2002, o total de jovens negros mortos foi 71,7% maior que o de brancos. Em 2010, a discrepância subiu para 153,9%. Naquele ano, 19.840 jovens afrodescendentes foram mortos ante 6.503 brancos. Trata-se ou não de um genocídio? Quem é violento? Estas mortes que saem na TV e nos jornais as dúzias, são naturalizadas pela sociedade burguesa, e pela pequena burguesia que temem pela segurança dos seus filhos brancos, ignorando o fato de que são crianças e adolescentes que estão morrendo, as sombras.
O discurso que criminaliza o pobre negro é tão entranhado que frases como “Agora que morre, todo mundo é trabalhador”, “Se estava na rua esta hora só pode ser pilantra”, “Nestes espaços ninguém é santo”, são propagadas sem muita crise. Interessante perceber que a cor da pele, e o território definem os que são marginais e cidadãos. O estado de direito, o julgamento, a defesa, são privilégios de poucos, dos escolhidos. A morte do Douglas, que não é um caso isolado, segundo o policial foi “acidental”, alguém ainda acredita nisso? Nem a burguesia mais acredita, a diferença é que ela defende a morte dos pretos e pobres, como solução para os problemas.
Agora, o que aconteceu em São Paulo na semana passada, foi um grito, uma forma de dizer para o mundo, que não matarão mais pobres as dúzias, não ao menos em silêncio. Vale dizer que, segundo dados da UNICEF e Secretaria especial de Diretos Humanos, SP e RJ concentram 80% dos assassinatos cometidos por policiais no Brasil. As cenas chocantes de caminhões e ônibus pegando fogo mobilizaram a opinião pública de modo a jogar a sociedade contra os chamados “vândalos”. Afinal, quem são os vândalos nesta história, quem queimos ônibus ou quem matou a sangue frio? Uma coisa e certo, a barbárie esta instaurada, e a fatura cai na conta da burguesia brasileira.
As jornadas de junho colocaram o povo nas ruas, e estes não estão mais dispostos a abandoná-la. Canalizar esta revolta em torno de uma luta contra o sistema é tarefa dos socialistas. Desconstruir este discurso burguês da compaixão de uns e da naturalização do genocídio de outros é importantíssimo para mostrar quem é a vítima e o algoz desta história.
A presidenta Dilma, em nota, disse que se solidariza a família de Douglas, pois este é mais uma vitima da pobreza e da desigualdade social. Ao mesmo tempo em que, reforça o aparato repressor, constrói a lei de segurança nacional, joga o exercito contra os manifestantes e criminaliza as manifestações sociais. Isso nos mostra que não é possível negar a realidade, não tem mais espaço nesta conjuntura para mentiras e maquiagens, e não por acaso a burguesia se utilizar das suas armas clássicas, os jornais a televisão, a força policial, para desarmar uma juventude e trabalhadores (as) que percebeu que as ruas são o caminho da vitória!
Por isso defendemos:
- A desmilitarização da Policia!
- A denúncia do genocídio da população pobre, e aos negros da periferia. Todo apoio as famílias vitimas do genocídio!
- A descriminalização da pobreza e a não criminalização das manifestações e lutas populares
- A auto-organização da juventude em bairros e escolas
- Um Encontro Nacional dos movimentos de junho, onde todas estas pautas de direito a cidade sejam unificadas!