“Rio como vitrine para o mundo”
O povo já não acredita mais nesta farsa! A luta continua, amanhã será maior!
Depois das enormes mobilizações que tomaram todo o Brasil no mês de junho, as lutas não cessaram. Além das ocupações de terra no campo e na cidade, das mobilizações estudantis e da juventude na luta pelo passe-livre nos transportes, as Centrais sindicais convocaram em julho e agosto, duas ações nacionais unificadas de 24 horas incluindo paralisações, greves e bloqueio de rodovias.
Diversas categorias de trabalhadores também realizaram greves por tempo indeterminado exigindo salário e condições de trabalho. As principais greves foram as dos trabalhadores dos correios, dos bancários em nível nacional, dos profissionais da educação em vários estados e várias outras categorias.
Nesse exato momento, os petroleiros em luta contra a privatização do campo petrolífero do pré-sal de Libras, realizam a maior greve nacional da categoria desde que o governo Fernando Henrique Cardoso mandou o exército reprimir as refinarias ocupadas pelos trabalhadores na grande greve de 1995.
Em meio a todas essas lutas, um dos focos principais da mobilização dos trabalhadores no Brasil é o estado do Rio de Janeiro onde os profissionais da educação estão há mais de dois meses em greve e se enfrentam diretamente contra o governador do estado e o prefeito da cidade do Rio em manifestações massiva e com grande apoio popular. É a maior greve da educação dos últimos 20 anos e conta com mais de 80% da categoria paralisada.
Na rede estadual de ensino a reivindicação é o direito de professores trabalharem em apenas uma escola, a redução do número de alunos em sala, reajuste salarial de 19% para compensar as perdas salariais, a garantia de um terço da carga horária para atividades extracurriculares, eleição para diretores, fim da meritocracia, entre outras propostas.
No caso do município do Rio, o sindicato dos trabalhadores da educação, SEPE, reivindica a reabertura das negociações com o governo municipal e a revogação do Plano de Carreira aprovado pela Câmara de Vereadores. As questões pedagógicas também não foram atendidas como a apresentação por parte da prefeitura de um cronograma que garanta a implementação do 1/3 da carga horária para planejamento, a redução do número de alunos por sala e a garantia da autonomia pedagógica das escolas.
Nessa luta, os trabalhadores da educação da LSR impulsionam o coletivo sindical “Luta Educadora”, que conseguiu maioria nas Assembleias contra a proposta de fim da greve defendida pela diretoria do sindicato em várias oportunidades.
Apesar de hoje este sindicato ser dirigido pela esquerda (setores do PSOL e PSTU), há uma forte burocratização na entidade. São as mesmas pessoas e grupos políticos que dirigem a entidade há 20 anos e atualmente estão muito desvinculadas da base.
A Câmara dos vereadores da cidade do Rio aprovou um plano de carreiras que não correspondia aos interesses dos profissionais da educação, apesar de milhares de pessoas protestarem do lado de fora. A polícia na tentativa de dispersar os manifestantes e garantir que a sessão da Câmara não fosse interrompida, usou muitas bombas de gás lacrimogêneo constantemente. Mas, minutos após o efeito do gás diminuir os profissionais da educação retornavam e resistiram por todo o dia na frente da câmara, até o fim da sessão.
A luta dos professores tomou proporções não esperadas pela classe dominante. Desde o início da greve a adesão e o apoio da população em geral aumentou muito. Recente pesquisa apontava que 86% da população concorda com a greve da educação. Os atos foram se tornando mais constantes e massivos, juntando mais de 20 mil toda semana até chegar aos 50 mil no dia 07/10. A reação repressiva da polícia, que visava criminalizar os manifestantes e dispersar a luta só fez intensificar a solidariedade e força do movimento.
No dia 15/10, oficialmente dia dos professores, mais de cem mil pessoas, jovens, trabalhadores, diferentes categorias se uniram em prol da educação, tomando a avenida Rio Branco de ponta a ponta.
A pressão da greve e da solidariedade popular fez com que o poder judiciário tomasse posição contra o corte dos salários dos professores grevistas. O judiciário também revogou a cassação da licença sindical do SEPE tentada pelo governo.
Criminalização dos movimentos sociais
No ato do dia 15/10 a repressão policial mais uma vez tomou conta das ruas do centro do Rio de Janeiro. A polícia desmontou o acampamento que há semanas permanecia na frente da Câmara de Vereadores. Foram presas em torno de 200 pessoas, escolhidas aleatoriamente para servirem de exemplo. De forma ilegal foram levadas para bairros distantes do centro e presas em delegacias distintas, para dificultar a ação dos advogados. Todos foram enquadrados em uma recém-criada lei de combate ao crime organizado. A nova lei, votada em setembro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro endurece a punição sobre manifestantes e prevê penas bem maiores para os “crimes” nela tipificados, como o uso de máscaras nos protestos.
Um militante do Coletivo “Estudante em Construção”, construído por militantes da juventude da LSR, Bruno Liberato, foi preso neste dia e libertado somente no dia seguinte.
Vários mandados de busca e apreensão foram emitidos contra ativistas. A casa de vários militantes foi vasculhada e computadores apreendidos. Esta política de criminalização dos movimentos sociais e criminalização da pobreza é uma velha política do governador Sergio Cabral. Como vimos no caso do ajudante de pedreiro, Amarildo, que foi torturado e assassinado por 13 policiais em uma chamada “Unidade de Polícia Pacificadora” na favela da Rocinha.
Fora Cabral!
Cabral foi um dos mais bem votados governadores do país na última eleição (reeleito com 66% dos votos), mas atualmente é o governador que possui o menor índice de aprovação, com 12%. Ele foi desmascarado, pelo favorecimento de empresas e empresários como Eike Batista; os abusos de poder como o uso do helicóptero público para transportar sua família; os desmandos violentos e autoritários através da criminalização da pobreza; e o sucateamento dos serviços públicos de educação e saúde.
Todos esses ataques à população feitos pelo governo Cabral também serviram de estopim para as lutas de junho, estenderam-se para julho, agosto e até agora, colocando-o contra a parede e o obrigando a rever algumas de suas políticas anteriores.
A câmara dos vereadores da cidade do Rio foi ocupada por semanas por manifestantes como forma de exigir o funcionamento real de uma Comissão parlamentar de Inquérito sobre o transporte coletivo. Manifestações exigindo o Fora Cabral eram diárias, incluindo o “Ocupa Cabral”, um acampamento na porta de sua casa.
A crise política do governo Cabral e da polícia militar se agravou principalmente após o aumento da repressão aos manifestantes. A resposta do governador às lutas foi de reprimir para intimidar, e impedir a organização da juventude. Armamentos cada vez mais pesados da polícia, centenas de jovens sendo indiciados por formação de quadrilha, perseguição às lideranças e sequestros relâmpagos. Uma postura clara de criminalização dos movimentos sociais.
A luta continua!
As lutas que aconteceram durante a Copa das Confederações de 2013, as jornadas de luta iniciadas em junho, são uma prévia para o que irá ocorrer durante a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Os Megaeventos acentuaram as contradições entre a ilusão “do Brasil grande e próspero” e a realidade da qualidade de vida precária dos trabalhadores.
Essa contradição potencializa as lutas e por isso a repressão às manifestações durante a Copa do Mundo deverá ser ainda maior. O que vemos hoje no Rio de Janeiro deverá se estender para o todo o país no próximo período.