Carta da LSR ao Bloco de Esquerda: Nosso apoio a Luciana Genro e a urgência de uma definição sobre 2014
Companheiras e companheiros,
Estamos nas vésperas do 4º Congresso Nacional do PSOL em meio a uma situação política completamente nova no Brasil.
As jornadas de junho abriram uma nova etapa na luta de classes e as ruas se transformaram no fator político mais importante no país. Milhões se mobilizaram diariamente em junho. Greves, ocupações e manifestações de todo tipo aconteceram e ainda acontecem nos meses que se seguiram.
Pela primeira vez em muitos anos, a classe dominante brasileira e seus patrões imperialistas ficaram sinceramente com medo.
Tiveram que fazer concessões, como no caso da revogação dos aumentos das tarifas de transporte. Mas, agora a crise econômica internacional e doméstica e sua ânsia insaciável de lucros exige que tentem colocar ordem na casa.
A força das ruas e o espírito de junho ainda é o que predomina na correlação de forças atual. Daí o dilema: como impor novos ataques nesse novo contexto sem provocar mais fúria popular e acabar perdendo espaço nas eleições de 2014?
A repressão sobre as manifestações de rua, as invasões de casas de ativistas e a prisão e indiciamento de lutadores sociais por formação de quadrilha, são parte dessa tentativa de contraofensiva.
Mas, além da repressão, a principal aposta do lado de lá se dá na incapacidade da esquerda socialista em construir uma alternativa política firme, clara e consequente.
Até junho, o principal mérito do PSOL foi ter sobrevivido à uma verdadeira travessia do deserto em meio ao refluxo e as ilusões dos anos anteriores. Hoje, sobreviver já não é mais suficiente. O PSOL está chamado a cumprir um papel histórico muito superior.
Nas ruas, locais de trabalho e estudo, na cidade e no campo, o PSOL encontra muito mais espaço para se organizar como instrumento de luta dos trabalhadores, da juventude e do povo oprimido.
No campo eleitoral, o espaço também não pode ser subestimado. A total rendição de Marina Silva ao pragmatismo político em sua aliança espúria com Eduardo Campos serviu para mostrar sua verdadeira face.
O PSOL tem diante de si uma grande oportunidade para tornar-se a referencia política fundamental das ruas, das lutas sociais, da indignação de milhões. Mas, para isso, precisa se colocar de forma clara, dizer a que veio.
O Bloco de Esquerda e os desafios do PSOL em 2014
O 4º Congresso poderia representar a grande oportunidade para que se possa afinar o PSOL ao clamor das ruas. Mas, o que vemos até agora é que o risco de um retrocesso político no partido ainda está presente.
A atual maioria da direção nacional quer se manter como maioria a todo custo, incluindo o custo da lisura do processo de eleição dos delegados.
Essa maioria está a serviço de um projeto que atrela o PSOL à dinâmica do lulo-petismo e ao pragmatismo eleitoral e descaracteriza completamente o projeto original, socialista e oposicionista, do partido.
O Bloco de Esquerda organizado no interior do partido tem cumprido um papel fundamental na luta contra essa ameaça.
A corrente Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR) reconhece isso de forma clara. Mesmo com todas as diferenças políticas que nos separavam de outras correntes do Bloco, ajudamos como pudemos a construir essa frente de unidade contra as ameaças maiores que pairam sobre o partido.
Como parte do esforço para a construção do Bloco, a LSR defendeu em março desse ano um conjunto de posições que se expressaram em uma declaração pública de nossa corrente (leia aqui o documento).
Naquela ocasião, enfatizamos o debate sobre as estratégias para 2014, incluindo a questão da candidatura presidencial. Além de uma plataforma política baseada nas reivindicações das ruas progressivamente vinculadas a bandeiras anticapitalistas e socialistas, insistimos na necessidade de que o Bloco de Esquerda apresentasse um nome unitário comprometido com essa plataforma contra a alternativa apresentada pelo campo majoritário.
O nome da companheira Luciana Genro já estava colocado como proposta por algumas correntes do Bloco de Esquerda. Naquele momento inicial, a posição a LSR foi a de reconhecer os méritos dessa proposta e da própria companheira, mas ao mesmo tempo de priorizar a construção da unidade do Bloco em torno de um único nome, admitindo-se inclusive que esse nome pudesse ser outro. Não nos posicionamos portanto em torno de um nome específico.
A urgência de uma definição por parte do Bloco
Passados alguns meses e um verdadeiro turbilhão político e social, entendemos que a demora por parte do Bloco de Esquerda em definir sua pré-candidatura presidencial só favorece a direita do partido, além de enfraquecer o partido de conjunto em um cenário potencialmente muito favorável.
As outras possibilidades levantadas no interior do Bloco não se mostraram consistentes. Nomes alternativos cogitados no Bloco, todos eles dignos da postulação e com muitos méritos, não se confirmaram nem se efetivaram como tal até agora.
A hipótese de apoio a Chico Alencar – um nome que merece todo o respeito no partido, mas que não se compromete com as posições defendidas pelo Bloco de Esquerda – parece descartada por postura do próprio companheiro Chico e seu grupo de militantes mais próximos.
Mas, mesmo aqueles no interior do Bloco que levantaram (ou ainda levantam) a hipótese de apoio a Chico Alencar deveriam levar em consideração que adotar uma atitude de espera diante de uma possível decisão de Chico nos coloca numa situação de paralisia política enquanto a direita do partido se articula e escolhe seus caminhos.
Uma definição unitária por parte do conjunto do Bloco de Esquerda poderia inclusive exercer pressão sobre os demais setores e destravaria o debate interno pressionando por definições mais claras do conjunto do partido.
A hipótese de não defendermos nome algum e adiarmos a decisão para uma Conferência eleitoral no próximo ano traria graves consequências para o PSOL. O preço da demora pode ser altíssimo.
Preparar 2014 deve ser nosso centro, tanto do ponto de vista das lutas radicalizadas no cenário da Copa do Mundo, como também na construção de uma referencia política de esquerda que dê expressão organizada e coerente à fúria das ruas.
Apoio a Luciana Genro
É por isso fundamentalmente que a LSR a partir de agora passa a defender o nome da companheira Luciana Genro como pré-candidata do Bloco de Esquerda à presidência da República pelo PSOL.
Demos um passo em relação à nossa posição no primeiro semestre. Continuamos priorizando a definição de um nome unitário por parte do Bloco, mas entendemos que o nome da companheira Luciana Genro mostrou-se como aquele que se coloca de forma mais consistente e oferece as melhores condições para que essa definição seja tomada sem mais demora.
Luciana Genro é capaz de se colocar como representante de uma elaboração coletiva da esquerda do partido e não apenas de sua própria corrente. Tem perfil e disposição de representar uma saída radical, vinculada às ruas e a um projeto socialista.
As diferenças políticas que tínhamos e até certo ponto continuamos a ter com sua corrente de origem, não representam um obstáculo intransponível nesse esforço de unidade pela esquerda. A postura de Luciana tem se mostrado à altura desse esforço unitário, incluindo uma atitude autocrítica e uma abertura para a elaboração e construção coletiva.
Como expressão de um processo coletivo, Luciana Genro tem plenas condições de ser a candidata afinada com as ruas e mostrar sem vacilações o que a esquerda socialista brasileira tem a oferecer diante da enorme insatisfação popular. O nome de Luciana deve também estar vinculado ao esforço pela construção de uma Frente de Esquerda e dos trabalhadores nas lutas e nas eleições.
Não podemos demorar mais. O Bloco de Esquerda precisa levantar bem alto uma plataforma socialista e democrática, classista e radical, para dentro e fora do partido, para sua base social e os milhões que tomaram as ruas e deverão retomá-las novamente.
Lutaremos para que a pré-candidatura de Luciana Genro seja reafirmada no interior do Bloco de Esquerda do PSOL em torno dos seguintes eixos:
- A reafirmação do papel de oposição de esquerda do PSOL em relação ao lulismo, à velha direita e às falsas alternativas do tipo Campos/Marina;
- A construção de uma Frente de Esquerda envolvendo o PSOL, PSTU e PCB, assim como os movimentos e organizações de luta que sejam independentes de governos e patrões;
- A construção de um programa que vincule as demandas das ruas com uma alternativa global anticapitalista e socialista para o Brasil;
- A afirmação de forma categórica da defesa da independência de classe em todas as esferas de atuação do PSOL – contra o financiamento da campanha por empresas; contra as alianças com partidos governistas ou patronais e pró-capitalistas;
- A garantia da democracia interna no PSOL, da organização pela base, do caráter militante e participativo do partido e do fim dos métodos “petistas” no funcionamento interno do PSOL e da campanha eleitoral.