A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994
A ascensão do Militant
Na Inglaterra, a conferência do Partido Trabalhista em outubro de 1972, refletindo o enorme deslocamento à esquerda nos sindicatos e no partido, aprovou uma resolução do Militant. Por 3.5 milhões de votos a 2.5 milhões, a conferência votou por um programa que incluía a demanda por ‘um projeto de lei capaz de assegurar a posse pública dos maiores monopólios’. A conferência exigia da executiva “formular um plano socialista da produção baseado na posse pública, com um mínimo de compensação, dos setores-chave da economia”. “Isso é uma resposta para os que argumentam por uma lenta, gradual, quase imperceptível progressão rumo à nacionalização.” (1)
A conferência estava em discussão quando Pat Wall declarou: “Nenhum poder na terra pode parar o movimento trabalhista organizado!” Ele concluiu pelo apelo ao Trabalhismo para ganhar os trabalhadores para um programa de tomada do poder pela encampação dos 350 monopólios que controlavam 85% da economia.
Ray Apps secundou a resolução. Ele estava se tornando quase uma presença obrigatória nas conferências trabalhistas, tanto que quando ocorreu o expurgo do Militant nos anos 80, The Times alegremente concluiu que a conferência se tornou uma “zona livre de Apps”.
Ray pontuou as ‘reformas excelentes’ no programa trabalhista mas observou que “elas não podiam ser implementadas”. Nesta conferência, Patrick Craven, um bem conhecido membro do Militant, recebeu 51.000 votos na eleição para o NEC, que refletia o apoio de 45 a 50 regionais do partido.
Na semana anterior à conferência, o Militant recordou o crescimento significativo em seu apoio: “De um mensário de quatro páginas para um semanário de oito páginas em 13 meses.” Comentando o progresso que tinha sido feito, declarou:
O primeiro Militant de oito páginas saiu! Essa é a maior realização de nosso jornal em oito anos de vida. Em apenas 13 meses ele se transformou de um mensário com quatro páginas, com excelentes artigos, mas pobremente produzido e diagramado, para um magnífico semanário de oito páginas. Politicamente acreditamos que o Militant sempre teve as melhores reportagens e análises claras dos eventos no movimento trabalhista e mundial. (2)
The Times “olhou esperançosamente para 1972 como uma melhora sobre o ano anterior”. Eles comentaram que 1971 “não foi um bom ano para os conservadores”.
1972 foi pior. Os mineiros frustraram a proposta do governo de aumento de 8%, tendo um aumento de 22%. Nesta greve, 65,000 mineiros em 280,000 estiveram envolvidos em piquetes. Em resposta a isso, o Secretário do Interior conservador Carr prometeu enviar “esquadrões móveis” da polícia para conter as ações dos trabalhadores. O governo Heath não conseguiu fazer isso mas Thatcher, que o seguiu, aprendeu as lições da greve de 1972 e da de 1974 e preparou a polícia em um modelo paramilitar a fim de esmagar os mineiros na próxima vez em que estes entrassem em greve.
Indicando o poder do movimento trabalhista, mesmo Vic Feather, o secretário geral do TUC em 1972, afirmou: “Ninguém pode fazer nada aos sindicatos o que os sindicatos não queiram.”
O Militant apontou que
a relação de força entre a burguesia e os trabalhadores está esmagadoramente favorável a estes. Mas eles estão limitados e amordaçados por sua própria direção. (3)
Mesmo após aqueles tumultuosos eventos, o conselho geral do TUC ainda estava amordaçada em conversas com o governo!
Vindo do esgoto – A FN
O Militant alertou que o caminho não seria tão suave se o capitalismo permanecesse. Em dezembro de 1972, a Frente Nacional (FN), a última versão de uma organização fascista na Grã-Bretanha, alcançou 12 % dos votos na eleição de Uxbridge.
A Irlanda do Norte é uma evidência suficiente do fato de que toda a sociedade capitalista é um covil de psicopatas, sádicos e maníacos que podem constituir os batalhões de choque do fascismo sob as ‘condições certas’. (4)
O Militant não caiu na falácia inventada de que a Frente Nacional e seu líder, Webster, estavam às vésperas de tomar o poder. Apenas após uma série de derrotas da classe operária, e depois de criar uma base entre a arruinada classe média e entre trabalhadores desclassados, o fascismo pode se tornar uma grande ameaça. Mesmo então, ele pode não tomar a forma clássica de Hitler ou Mussolini no período pré-guerra. Na época moderna, o fascismo pode agir apenas como o auxiliar para uma ditadura militar-policial.
Indicando as grandes chances que se apresentava, o último número de 1972 continha uma tabela das greves de 1963 a 1972. Em 1963, 1,755,000 de dias foram perdidos em ações grevistas, o que aumentou para quase 11 milhões em 1970. Mas no ano de 1972 isso quase dobrou para 22 milhões de dias perdidos em ações grevistas. Isso é apenas uma indicação de um sentimento convulsivo. Não é uma coincidência que foi precisamente nesse período quando a classe trabalhadora estava se movendo para a ação que o Militant fez decisivos progressos tanto na expansão do jornal quanto no número de apoiadores que entravam em nossas fileiras. Mas 1973 iria exceder em importância mesmo os eventos do ano anterior.
Então, como agora, com o aumento do desemprego e piora das condições de vida, os fascistas e neo-fascistas também começam a ganhar algum apoio. Nós reportamos:
Na eleição de 1970, a ‘Campanha de ‘Yorkshire Contra a Imigração’, ganhou mais de 20% em vários distritos. Significativamente, no tempo de grande militância, os votos caíram abruptamente em 1971.
Yorkshire era uma das áreas onde o racismo estava em ascensão. O Militant, lidando com as condições de Bradford, declarou:
É óbvio que nestas circunstâncias piedosos apelos para a irmandade e harmonia racial para o bem-estar de todos são mais do que inúteis… Não é um manual de relações sociais que se necessita, mas positivas ações do movimento trabalhista. (5)
Clamando aos trabalhadores para que se mobilizem contra o perigo do racismo na área, Militant declarou:
Muitos líderes trabalhistas pensam que se eles ignoram o problema, ele irá embora. Outros líderes locais exploram pensamentos raciais preconceituosos pensando que irão prevenir que ‘extremistas raciais’ ganhem apoio. Maior ou fatal erro não poderia ser feito. O movimento precisa ser mobilizado agora, local e nacionalmente. E precisa ser organizado em uma campanha anti-Tory e anticapitalista. (6)
Como resultado da pressão dos apoiadores do Militant dentro do movimento trabalhista, e particularmente no Labour Party Young Socialists, a executiva nacional do Partido Trabalhista sancionou uma manifestação nacional em Bradford, que ocorreu em maio de 1974. Essa foi a primeira mobilização nacional de qualquer seção do trabalhismo oficial contra o racismo.
Crescimento do LPYS
O Labour Party Young Socialists, como resultado da radicalização geral dos trabalhadores jovens e do consistente trabalho dos marxistas, cresceu aos saltos durante o período de 1972-73. Isso foi mostrado na conferência de 1973 do LPYS em Skegness onde mil delegados e visitantes compareceram.
Militant reportou:
A democracia desta conferência é um brilhante exemplo para o movimento trabalhista. A minoria do Comitê Nacional [não-marxistas e anti-Militants em geral] submeteu seus próprios documentos à conferência para a discussão. Diferenças foram tratadas por modos de camaradagem pela maioria dos delegados. Os Young Socialists precisam lutar por direitos similares de direitos para as minorias nos sindicatos e conferências do Partido Trabalhista. (7)
Na conferência de Skegness, havia um tremendo entusiasmo para as idéias do marxismo, sublinhado pela maior reunião pública do Militant organizada em uma conferência do LPYS até então. Todas as reuniões foram bem-atendidas, assim como a longa semana de comícios que seguiu a conferência. O Militant, contudo, ainda tinha apenas 397 apoiadores organizados em março de 1973 apesar de sua crescente influência. Em julho do mesmo ano cresceu para 464 anos.
Não era apenas nas conferências de sua própria organização que o peso do LPYS era sentido. O representante do LPYS no NEC do Partido Trabalhista, Peter Doyle, era um importante membro da esquerda que persuadiu o NEC a adotar um programa de controle público das 25 maiores companhias britânicas.Um dia após o NEC, Harold Wilson ameaçou vetar esta inclusão no próximo manifesto eleitoral.
O Militant comentou:
É a conferência nacional a suprema instância política do Partido Trabalhista, ou é apenas um comício para aclamar os políticos da cúpula? A NEC deve ser inundada com resoluções de apoio ao fortalecimento para defender a democracia partidária.
Ao mesmo tempo devemos perguntar porque a NEC não insistiu na implementação total da resolução de Shipley? Porquê 25 companhias, e porque apenas elas? È intenção nacionalizar seus fundamentos, ou como proposto inicialmente, uma companhia estatal para comprar 51% delas… Se o controle público é o melhor sistema, então deve ser aplicada a toda economia. Não queremos encampar cada barbeiro, ou peixeiro, mas os monopólios gigantes que dominam a economia, em número de 250-300. (8)
Curiosamente, o Militant colocou no mesmo artigo os comentários de Denis Healey:
Estamos todos de acordo com a necessidade de uma massiva extensão do controle público… estabelecendo um controle de planejamento compreensivo sobre centenas das maiores companhias da Grã-Bretanha… e estendendo a posse pública das indústrias de manufaturas produtivas. (9)
Roy Hattersley, o líder da ala direita, também “argumentou em favor de nacionalizar o gás e petróleo do mar do norte, terras urbanas e propriedades alugadas.”
Essa decisão de propor a nacionalização de 25 companhias foi tomada com o voto decisivo de Peter Doyle, o representante dos LPYS no NEC. Isto indicava o papel crucial que os LPYS, e através deles os marxistas, jogaram na definição da política e direção do movimento trabalhista neste estágio (e depois, como apoiadores do Militant, Nick Bradley, Tony Saunois, Laurence Coates, Steve Morgan, Frances Curran, Linda Douglas e Hannah Sell o fizeram nos 15 anos seguintes).
1973 parecia demonstrar uma quase impáravel tendência para a esquerda dentro do movimento trabalhista.
Em junho deste ano, Militant outra vez reportou os progressos da luta de Clay Cross. John Dunn, um membro dos LPYS de Clay Cross e futuro vereador pela região, reportou:
Tendo outras autoridades construído casas ao mesmo preço de Clay Cross, nós temos a cifra de um milhão e meio de novas casas sendo construídas todo ano. A municipalização completa de toda propriedade alugada tem sido vista como o fim de todos os proprietários que capitalizam com propriedades de segunda mão… Nenhuma criança em Clay Cross perdeu seu leite escolar desde que ‘Thatcher ladra-de-leite’ tentou tirá-lo. (10)
Enquanto isso, os vereadores de Clay Cross estavam sendo levados aos tribunais por se recusaram a implementar o Ato de Financiamento Habitacional. O líder efetivo desta luta, o vereador David Skinner, compareceu à alta corte na segunda 9 de julho, quando reservado para duas semanas. Escrevendo no Militant, ele declarou:
Nossa oposição se baseia em sermos honestos conosco e com o povo que nos elegeu e porque, mesmo num governo local, é possível ajudar a mudar a sociedade. Ao escutar a maioria dos vereadores falar se pode imaginar que eles são incapazes de organizar a resistência às imposições do governo central. Se todos as câmaras trabalhistas seguissem o exemplo de Clay Cross, seria possível derrotar o Ato de Financiamento Habitacional.
Ele disse que:
Pela não implementação do Ato nós salvamos £70,000 de impostos prediais dos trabalhadores. Nós não nos preocupamos apenas com os inquilinos mais também com os trabalhadores municipais. Os sindicatos exigiram um aumento dos salários de um terço, que nós garantimos. (11)
Depois eles foram sobretaxados e expulsos do gabinete.
Participação dos trabalhadores ou controle?
Ao mesmo tempo, Militant devotou considerável espaço para dialogar com questões políticas e teóricas chaves que eram levantados nas fileiras das organizações operárias. Por causa da tendência dos sit-ins, grandes greves e da questão da posse da indústria sendo levantados no curso deste movimento, a questão de controle dos trabalhadores e gerenciamento dos trabalhadores apresentou-se na agenda do movimento trabalhista. Misturado a isso estava a idéia da participação dos trabalhadores, puxada pelos representantes dos patrões e por setores da liderança sindical.
Sobre a ‘participação’ dos trabalhadores, o Militant pontuou:
Se os sindicalistas forem se sentar com os capitalistas em comitês conjuntos, bebendo seu whiskey, etc, então eles vão estar mais disposto a tomar atitudes ‘responsáveis’ sobre o desemprego, aumento dos preços enquanto o salário abaixa, e todos os outros crimes do capitalismo. Esta é a armadilha de Heath e de seu bando. Quando despido de toda figura de linguagem, essa é a essência real da ‘participação’, como imaginado pelos capitalistas e seus lacaios.
Entre os trabalhadores que se moviam para a esquerda, contudo, havia um vivo interesse sobre o controle dos trabalhadores. Havia confusão sobre as demandas de controle ou gerenciamento dos trabalhadores, reforçado por elementos da esquerda. O Militant explicou:
Ambas as demandas se aplicam a diferentes estágios da luta de classe. Controle operário só é possível em larga escala no período que imediatamente precede ou logo depois da revolução socialista… Controle operário significa os trabalhadores exercendo controle sobre os capitalistas, checando entradas e saídas, tendo acesso aos livros e contabilidades dos capitalistas… Gerenciamento operário, por outro lado, vem de cima e é exercido pelo estado operário, isto é, os sovietes centralizados representando os trabalhadores como um todo. (12)
Alguns líderes trabalhistas direitistas na época lançaram ao descrédito as idéias de controle e gerenciamento operário, denunciando-as como ‘sindicalismo’. Militant argumentou:
As idéias dos sindicalistas, que depois da revolução socialista cada indústria será dirigida e controlada pelos trabalhadores daquela indústria, é completamente utópica. Isso levaria ao completo fracasso da economia e da indústria, com cada indústria competindo contra outra. Seria impossível implementar um plano nacional, sem o qual a indústria, ciência e técnica não podem se desenvolver. (13)
As lições do Chile
Os eventos chilenos dominaram o movimento trabalhista na Grã-Bretanha e internacional a partir de setembro. Foi o maior item de discussão na conferência do Partido Trabalhista em outubro de 1973. Jack Jones relembrou numa reunião, com Tony Benn sentando ao seu lado, que ele pode notar uma situação onde um governo trabalhista, liderado por Benn, poderia chegar ao poder e enfrentar o mesmo tipo de conspiração que Allende no Chile.
Contudo, o tema dominante da conferência foi a discussão em torno do programa radical adotado pela executiva do Partido Trabalhista.
O giro pronunciado à esquerda estava refletido nos documentos do NEC trabalhista. Em 1972 e 73 uma intensa discussão tomou lugar com o que deveria ser o delineamento de um programa para os próximos dez anos durante os quais, e isso era assumido pela liderança trabalhista, eles estariam no poder. O documento final, o Programa Trabalhista de 1973, foi um dos mais radicais e à esquerda já adotados pelo Partido Trabalhista.
Ele delineava reformas abrangentes a serem introduzidas por um futuro governo trabalhista. Fazia referências à nacionalização parcial das 25 maiores companhias manufatureiras. Isso representava um grande passo adiante no pensamento do movimento trabalhista. O Militant, enquanto saudava esta proposta, ainda argumentava que ela era inadequada, dada a crise que enfrentava o capitalismo britânico.
O programa resumia, no essencial, as visões predominantes do reformismo de esquerda que dominavam o Partido Trabalhista e os sindicatos. O Militant pontuou que nacionalizar 25 indústrias lucrativas representava uma ataque fundamental às bases do capitalismo. A elite britânica não daria voltas em torno da morte como um gato brincalhão.
Porém, a conferência debatia estas idéias precisamente um mês depois da derrubada do governo Allende que tentava implementar um programa similar. Ele nacionalizou, sob pressão das massas, que foi intensificada depois do golpe fracassado de junho de 1973, 40% da industria. Mas porque ele não seguiu todo o caminho e encampou ‘as cabeças líderes da economia’, Allende não cumpriu as demandas das massas, mas acima de tudo irritou a burguesia.Com seu poder ameaçado, mas ainda largamente intacto, eles tiveram tempo de preparar seu sangrento acerto de contas com a classe trabalhadora. O Militant chamou pela tomada dos 250 monopólios, bancos e companhias de seguros, com compensação em base das necessidades mínimas.
Uma discussão algumas vezes apaixonada tomou lugar na conferência de 1973 em torno destas idéias. Ela refletiu uma dramática virada à esquerda do setor politicamente consciente da classe trabalhadora.
O programa de 1973 foi aceito. Militant o descreveu como “o mais impressivo programa desde 1945”. Era verdade, se comparada à resolução de Shipley adotada em 1972, o programa trabalhista não era tão radical. Além disso, uma resolução similar a de Shipley, movida nesta época pelos distritos de Brighton, Kemptown e Walton (composição 34) ganhou apenas 291 mil votos, com 5,6 milhões contra.
Nesta conferência, a clara mensagem socialista do Militant encontrou uma pronta resposta dos delegados. Mas na conferência de 1973, enorme pressão foi exercida pela liderança dos delegados, com apelos à unidade em vista das eleições. Os grandes sindicatos em particular foram mobilizados para lançar seus votos em bloco contra as decisões democráticas de suas próprias conferências.
Na mesma época, toda a liderança, inclusive aqueles que iriam para a direita, como Peter Shore e Denis Healey, apoiaram a posição de esquerda do NEC. Apesar de todas as pressões, 250 distritos partidários votaram por um claro programa marxista.
Nacionalizar 25 ou 200?
Crucial na derrota da resolução composta 34 foi a intervenção dos porta-vozes da liderança de esquerda. Jack Jones do Sindicato dos Transportes disse do nosso programa: “Não podemos pensar que os objetivos traçados aqui podem ser conseguidos no próximo governo trabalhista.” Mais significativamente, Tony Benn, enquanto concordava que estava “firmemente baseado nas idéias da Cláusula IV”, disse que “confundem estratégia com táticas” e que o partido “não está pronto para a composição 34”.
Benn era o mais hábil e sincero porta-voz da esquerda. Mas seus argumentos também revelavam os limites de suas perspectivas, programa e também incompreensão da situação que enfrentava o movimento trabalhista. Ele era primeiro pelo tomada das 25 companhias e então, ‘passo a passo’ se mover em direção à tomada pelo menos da maioria das companhias. Seus argumentos fugiam tanto das experiências dos trabalhadores chilenos quanto da história do movimento trabalhista britânico. Nós argumentamos que
nenhuma reforma pode ser conseguida pelo próximo governo trabalhista a menos que comece pela tomada dos ‘comandantes da economia’ – os bancos, a terra e os 250 monopólios gigantes – em suas mãos, e isso só pode ser feito mobilizando o movimento em apoio à legislação de emergência. (14)
Benn recebeu enormes aplausos na conferência por sua declaração: “Se não controlarmos e os possuirmos, eles (os monopólios) irão nos controlar e possuir.” Esse foi um reflexo direto da pressão dos marxistas, reunidos em torno do Militant, em direção à esquerda dentro do movimento trabalhista. Ainda Benn e outros esquerdistas não tiraram todas as conclusões de seus próprios pronunciamentos. Acima de tudo, uma indicação do sentimento da conferência foi mostrada na retórica de esquerda daqueles à direita de Benn, a esquerda Tribunista.
Tribune
A atual liderança do Tribune sem dúvida iria se encolher embaraçada se confrontada com suas declarações de 1973. Tribune acolheu a conferência com a manchete exultante: “Mantivemos a bandeira vermelha flutuando ali.” Michael Foot caracterizou o programa de 1973 como “o melhor programa socialista que já vi em minha vida.” Ele iria tocar uma nota diferente nos anos 80.
Significativos foram os votos para o Militant Ray Apps e seu aliado David Skinner, que receberam 81,000 e 144,000 votos respectivamente nas eleições para o setor distrital do NEC. 150 pessoas atenderam à reunião do Militant na conferência e mais de mil cópias do Militant foram vendidas. The Times resumiu a conferência assim:
As doutrinas do conflito de classe e posse estatal são doutrinas marxistas, e tanto foram pregadas nesta conferência, que o Partido Trabalhista não pode se queixar de descrevê-la como sob a influência das idéias marxistas. (15)
Sem dúvida, este foi um relato sincero do que estava transpirando na conferência e também do que tomava lugar nos distritos partidários e ramos sindicais.
Um mês depois da conferência, contudo, o Trabalhismo sofreu uma derrota na pré-eleição de Glasgow Govan e também alcançou poucos votos em um número de outras cadeiras. A classe dominante exultou em culpar o programa trabalhista por estes retrocessos. Na verdade, o caso foi o oposto. O programa adotado na conferência nunca foi usado para organizar uma corajosa campanha que claramente separasse o Trabalhismo dos outros partidos. Isso ficou evidente em Govan onde até mesmo o Scottish National Party, como o Militant reportou, “compreendeu que havia base para uma campanha sonoramente radical.” O SNP demandava a criação de um Parlamento Escocês com controle sobre a indústria. Seu slogan “Britânicos pobres ou escoceses ricos”, claramente revelou o descobrimento e a receita potencial do petróleo do Mar do Norte.
Greve dos mineiros de 1974
O governo Heath, sofrendo com o nariz sangrando que levou dos mineiros em 1972, uma vez mais decidiu desafia-los. Era uma decisão consciente de derrotar os trabalhadores britânicos quebrando suas ‘brigadas de guardas’. A paralisação dos mineiros, combinada com a recusa dos trabalhadores de energia elétrica em trabalhar pelo banco de horas, introduziu um ‘estado de emergência’. Racionamento de petróleo, cortes de energia e uma taxa de juros de 13% foram introduzidos. Através de Heath, o capitalismo britânico acreditava claramente que esta luta chegaria ao fim.
Ecoando os sentimentos do governo, The Times declarou: “Não podemos conceder o custo da rendição.” Este porta-voz dos grandes negócios levantou o espectro de uma ‘solução autoritária’ para a crise britânica. Dava a entender que conceder as demandas dos mineiros resultaria numa inflação descontrolada e nesta situação
você não terá então apenas abalos, mas sórdidos homens com o bigode de Hitler, advogando uma solução autoritária. A pessoa mais calma e respeitável pode vir a acreditar que a única solução restante seria impor uma política de uma moeda sadia à ponta de baionetas. (16)
O Militant declarou:
Uma vitória dos mineiros será um golpe fulminante nos conservadores e um triunfo para toda classe trabalhadora. Mas para ganhar esta luta amarga, todo o movimento precisa ser mobilizado numa campanha que se estenda a um plano político para a derrota do governo conservador. (17)
O governo de fato declarou um locaute por dois dias toda semana contra a classe trabalhadora britânica. Quando 1974 começou, o Militant comentou:
Muitos patrões têm atacado rápido, demitindo 554,000 trabalhadores no último final de semana. Um de um total de dois milhões de desempregados é previsto para breve, assim como os patrões usam a emergência como uma desculpa para saques; 100 mil estão previstos para serem demitidos somente na indústria de aço. 15 milhões de trabalhadores serão afetados com os cortes drásticos no salário que isso implica. (18)
Militant demandou: (1) Chamar uma conferência do TUC; (2) Trabalho ou pagamento integral; e (3) um dia de greve geral. Os métodos intimidatórios do governo não tiveram o efeito desejado de colocar o resto da classe trabalhadora contra os mineiros. O Evening Standard reportou a visão de trabalhadores demitidos numa fila de Central de Empregos em Londres: “Para um homem – e uma mulher – eles estão atrás dos mineiros.” (19)
Apesar de tudo, o governo Heath persistiu com suas medidas de força, recorrendo mesmo a divulgar abertamente o treino do exército e polícia em técnicas de controle de multidão. O exército exibiu sua destreza no aeroporto Heathrow. Tanques e outras máquinas militares, alegadamente para uso em situações ‘antiterroristas’ e ‘anti-subversivas’, foram empregadas. Isso levou o líder mineiro escocês Mick McGahey a dizer que se soldados fossem empregados em acabar com a greve dos mineiros, então
Eu apelaria para eles assistirem e ajudarem os mineiros. As tropas não são anti-classe trabalhadora… Muitos deles são filhos de mineiros – filhos da classe trabalhadora. (20)
Isso provocou a fúria da classe dominante. O londrino Evening Standard publicou os comentários de um oficial comandante de um batalhão de infantaria britânico:
Dê-me a chance de ir e prender o sr. Michael McGahey e se isso vir a ser minha última tarefa no exército eu morreria feliz. O tipo de comentários que ele fez sobre apelar às tropas representa uma tendência muito sinistra – não por causa do ele fez então, mas porque há muitos fracos de espírito na sociedade hoje em dia para aplaudir seu honesto incitamento ao motim.
Contudo, o Evening Standard, muito mais cauteloso, resumiu o pensamento de um setor da classe dominante:
O quanto o governo pode confiar no exército para fazer qualquer pedido no caso de uma emergência industrial maior? Se McGahey e seus apoiadores apelarem aos soldados britânicos como camaradas trabalhadores, pode haver alguma chance de que eles causem uma quebra nas fileiras?
Um soldado de Glasgow declarou:
Eu não vou carregar carvão. Não é o meu trabalho; se os mineiros querem entrar em greve por mais dinheiro, boa sorte para eles. (21)
Todo o furor em torno desta questão indicava a alta tensão de classe que existia na Grã-Bretanha neste estágio. Militant pontuou que:
Tais campeões da democracia, como os Conservadores se pintam, hoje não pensam duas vezes em abandonar sua veia democrática se sentirem isso necessário. Será um erro fatal submeter-se ao exército. (22)
Outro exemplo de intimidação foi a prisão, processo e posterior encarceramento de dois trabalhadores de construção, os Dois de Shrewsbury; Ricky Tomlinson (que depois se tornou famoso aparecendo em Brookside, e outros programas de TV e filmes) e Des Warren, (Des foi sentenciado a três anos e solto após 30 meses; Ricky recebeu dois anos e foi solto depois de 18 meses).
Eleição Geral
Face ao enorme descontentamento, contudo o governo Heath estava apavorado ao chamar eleições gerais com o tema ‘Quem governa – Nós ou os mineiros?’ A eleição geral de fevereiro de 1974 desenrolou-se como a mais importante e uma das mais sujas desde 1945. A ação dos mineiros não polarizou apenas a sociedade mas também o movimento trabalhista.
Na eleição geral, todo o movimento foi mobilizado atrás dos mineiros e em apoio ao Trabalhismo. Foi a primeira eleição em que os apoiadores do Militant estavam prontos a jogar um papel crucial em várias cadeiras chave, particularmente através da intervenção nos Labour Party Young Socialists. No distrito sudeste de Bristol, mantido por Tony Benn, Conservadores e Liberais faziam esforços determinados para derrotar o Trabalhismo.
Uma derrota de Benn representaria um golpe contra toda a esquerda. Este era o raciocínio dos estrategistas do capitalismo. The Times admitiu isso: “uma derrota de Tony Benn… poderia conter todo o movimento da ala esquerda do Partido Trabalhista num momento particularmente importante.” (23) Em resposta a isso nós dissemos:
mais de 400 Labour Party Young Socialists foram a Bristol no último fim de semana para ajudar o distrito partidário do sudeste a lutar por esta cadeira crucial. Eles chegaram de todas as partes do país, de ônibus, carros e mini-ônibus: de Gales do Sul, Londres, Gloucester, Devon, Birmingham, Coventry, Manchester, Medway towns, Harlow, Nottingham e outros lugares. (24)
Essa intervenção foi decisiva em assegurar a cadeira para o Trabalhismo. Os apoiadores do Militant jogaram um papel crucial em assegurar a vitória trabalhista. Os jornais oponentes também sugeriram que isso foi decisivo em várias outras cadeiras. Em vista das acusações tardias de “sectarismo” contra nós, é importante notar que apesar do fato de que não havia nenhum candidato parlamentar claramente apoiador do Militant ou do marxismo, jogamos todas as nossas forças para assegurar a vitória trabalhista.
Mas ainda, Militant, e particularmente os Labour Party Young Socialists, não ganharam nada além de elogios, não apenas dos esquerdistas como Tony Benn que reconheceu publicamente nosso papel, mas também de figuras da ala direita, como Paul Rose, deputado por Blackley em Manchester.
Naquela época, o Militant claramente alertou que um novo governo trabalhista que se mantivesse dentro da estrutura do capitalismo seria frustrado pela séria crise do capitalismo britânico.
1 Militant 125 6.10.72
2 Militant 124 29.9.72 3 Militant 136 29.12.72 4 ibid 5 Militant 138 12.1.73 6 ibid 7 Militant 154 4.5.73 8 Militant 159 8.6.73 9 ibid 10 ibid 11 Militant 168 10.8.73 12 Militant 163 6.7.73
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13 ibid
14 Militant 176 12.10.73 15 ibid 16 Militant 183 30.11.73 17 ibid 18 Militant 187 4.1.74 19 Evening Standard 31.12.73 20 Morning Star 28.1.74 21 Evening Standard 1.2.74 22 Militant 195 2.3.74 23 The Times 19.2.74 24 Militant 194 22.2.74
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