A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994
O governo conservador 1970-74
Enquanto os eventos de 1969 se desenvolviam na Irlanda, 10 mil portuários de Merseyside entraram em greve porque os patrões recusaram a registrar os portuários num programa (Dock Labour) que garantia um piso de salários e condições. Esse foi o início de uma massiva flexilibização que depois levou à redução da força de trabalho das docas. Depois da confusão inicial, todos os trabalhadores do setor portuário saíram apoiando aos que tomaram a iniciativa de boicotar os containeres nas unidades que empregaram trabalhadores não-registrados. Foi o começo de uma serie de batalhas industriais nos anos 70, as maiores do pós-guerra.
A determinação dos doqueiros permitiu que Jack Jones, que então era o secretário eleito do Sindicato dos Transportes, emergisse das negociações com um acordo muito melhor do que ele propôs originalmente. Militant tinha alertado:
Os trabalhadores de todos os setores estão enfrentando problemas de demissões em massa (redundância). O que aconteceu nas minas e ferrovias aponta o futuro em termos concretos. A implantação dos contêineres irá afetar as principais fontes de emprego na região de Merseyside… O Partido Trabalhista se comprometeu com a estatização das docas. Esta política deve ser cumprida como a única solução duradoura para o problema.(1)
Esse foi um fim adequado à tumultuosa década de 60, que começou com os eventos levando à formação do governo trabalhista e a criação do Militant e terminou contra os engasgos das insurreições sociais e socialistas e a crescente radicalização do movimento trabalhista britânico.
Olhando para a próxima década, o editorial do Militant em janeiro de 70 se intitulava: “Rumo aos anos 70 – uma década de revolução”. Esse foi uma previsão acurada do que viria nos próximos dez anos. Nosso editorial declarava:
Em marcante contraste com o inicio dos anos 60, a próxima década de 70 é vista com maus presságios por todos os matizes da opinião capitalista. No principio, a classe dominante saudava os 60 como uma ‘nova era’. O desemprego em massa, miséria e batalhas de classe dos anos 30 já eram; ‘harmonia social’ seria fortalecida com poucos problemas sociais remanescentes a serem postos em ordem e ‘a sociedade da abundância’ seria então consolidada. (2)
Conservadores dentro
Apenas alguns meses da nova década este prognóstico veio à tona. O governo trabalhista foi derrotado nas eleições gerais de junho de 1970 “entre cenas de júbilo selvagem no Mercado de Mercadorias, a alta dos preços do mercado por um recorde de £1,500 milhões (£30 para cada homem, mulher e criança do país).” Os conservadores retornaram ao poder com uma esmagadora maioria de 30 no 18 de junho.
Devido à desilusão instalada pelas pela política de contra-reformas do governo Wilson, o comparecimento às urnas foi o mais baixo de qualquer eleição desde 1935! No bastião tradicional do trabalhismo em Londres, a abstenção em massa dos trabalhadores (a maioria em alguns casos) indicava o profundo desconforto na campanha conduzida pelos líderes trabalhistas e seu desempenho no poder. (3)
No total, o voto trabalhista caiu por 888,000 com a porcentagem total caindo de 47.9 % em 1966 para 43%. Significativamente, as abstenções, comparadas com 1966 foram de quatro por cento, de 76% para 72%. Isso quase que somente totaliza os votos perdidos pelo Trabalhismo. Pontuando as lições do governo trabalhista, declaramos:
A ala marxista do movimento trabalhista alertou consistentemente de que os que pensam com o sistema, tentando gerenciar o capitalismo melhor que os próprios capitalistas, levariam à derrota do trabalhismo. (4)
Tentando tirar as lições da derrota trabalhista, Hugh Scanlon, presidente do AUEW, declarou: “No futuro, o movimento sindical terá que levantar as questões fundamentais da nacionalização e controle da indústria.”
Militant disse:
A vitória dos Conservadores irá resultar em titânicas batalhas de classe na Grã-Bretanha, como Jack Jones explicou, algo que não é visto desde os dias dos Cartistas, se eles atuarem para transformar suas promessas reacionárias em ação.(5)
Alojada na situação que se desenvolvia na Grã-Bretanha, havia a possibilidade de uma greve geral. Heath, o novo Premier Conservador, fez mais de um alerta velado sobre tal possibilidade. Em novembro de 1970 Militant alertou:
O governo Conservador, entrando em luta com todo o movimento trabalhista, está apostando tudo para ganhar o teste contra o conselho local dos trabalhadores manuais. Determinado a esmagar a revolta dos mal-pagos, está usando toda arma disponível contra eles: histeria da imprensa,’voluntários’ bem-pagos e gangues de vagabundos e fura-greves, e soldados de Sua Majestade. (6)
The Times foi mas longe quando, se ocupando com os perigos da inflação, incluiu num artigo uma preocupante referência a “algum tipo de regime autoritário” se a inflação ultrapassasse a marca dos 50%.
A primeira coisa a fazer, e o mais simples, é começar a vencer as greves. As autoridades locais devem ter total apoio em se recusarem a fazer qualquer oferta posterior, mesmo se a greve durar meses. O próximo passo é fazer uma regra nacional de que qualquer greve será seguida pela imediata retirada de todas as ofertas feitas antes dela. (7)
O governo Heath prestou atenção a este aviso.
Lei de Relações Trabalhistas
Antes do fim do ano, Heath anunciou o projeto de Relações Industriais com um ataque selvagem contra os direitos sindicais. Milhares de trabalhadores marcharam em protesto no dia 8 de dezembro e o Militant informou de uma “enorme venda de mais de mil cópias por todo o país”. (8)
No inicio do ano um imenso movimento de oposição à lei anti-sindical começou. Reportamos:
O novo ano viu uma onda de greve por todas as Midlands. Em 11 de janeiro, 20 mil trabalhadores de Wolverhampton marcharam pelas ruas durante o horário de trabalho… No dia seguinte, provavelmente 1.5 milhão de trabalhadores estiveram envolvidos de um modo ou de outro na ação contra a ‘carta dos patrões’… Grandes seções de sindicalistas exigiram uma ação industrial nacional do TUC. (9)
Militant explicou que uma coisa era introduzir uma legislação anti-sindical e outra muito diferente era aplicá-la na custosa situação que existia no inicio dos anos 70. O que foi escrito pela força e organização dos trabalhadores não pode ser apagado pelo golpe de uma caneta, mesmo a “poderosa caneta legislativa” do Westminster.
A luta dos estaleiros escoceses UCS
O governo Heath estava para aprender uma grande lição neste sentido nos meses e anos que se seguiram. Militant também informou do animo de oposição aos Conservadores pela tentativa de fechar o enorme estaleiro Upper Clyde Shipbuilders (UCS) de Glasgow. Em resposta a este ataque, os trabalhadores ocuparam os estaleiros’. Segundo o Militant:
Clydeside está começando a retomar sua antiga cor de vermelho. A ocupação dos estaleiros e a generalização da greve são as tarefas imediatas dos trabalhadores do UCS. O movimento trabalhista inteiro deve lutar pela estatização dos estaleiros e da indústria naval. Não devemos aceitar programas de demissões – deve-se manter os estaleiros abertos funcionado, o sistema capitalista é que deve ser terminado. (10)
A manchete do jornal de 3 de setembro foi a luta dos estaleiros UCS. Houve apoio massivo para a ocupação com passeatas enormes no dia 18 de agosto em Glasgow. Mas o governo e o oficial de liquidação não ficaram preocupados
em ver os operários trabalhando nos barcos nos estaleiros, e os salários pagos por coletas entre o movimento trabalhista em geral… É necessário perturbar os cálculos dos capitalistas, devemos ter uma política de mobilização já! Isolado em apenas uma seção da indústria de construção naval a simples ocupação, com os trabalhadores trabalhando, não pode se manter indefinidamente. (11)
Assim Militant colocou a estatização dos estaleiros como a única garantia contra as demissões massivas. Ao mesmo tempo, salientou a solidariedade com a ocupação. A ocupação foi uma experiência marcante, não apenas do ponto de vista da classe trabalhadora escocesa, mas de todo o movimento trabalhista. Tony Benn participava nas manifestações de massas e discursou aos delegados sindicais e trabalhadores. Ele sentiu o calor da crescente militância iniciada na luta do UCS. Ele foi ministro no governo trabalhista dos anos 60, e estava na sua direita, ou pelo menos na centro-esquerda . Agora, sob a influência dos eventos, ele começou a evoluir para a esquerda. Isso representava não apenas uma evolução pessoal mas refletia as grandes mudanças na consciência entre os trabalhadores mais avançados.
Havia uma ascensão quase contínua na consciência e combatividade no período de 1970-74. Houve uma certa pausa com o governo trabalhista de 1974-79. Mas em geral o movimento constantemente evoluiu para a esquerda, culminando nas lutas entre 1979 e 1981 com políticas de esquerda e com Benn se candidatando para a posição de vice-líder do Partido Trabalhista .
Na luta da UCS, Militant chamou claramente pela estatização não só UCS mas do setor todo: ” Swan Hunter perdeu £10 milhões no último ano, Cammell Laird’s, Harland e Wolf, o setor todo é inviável no marco de capitalista.”
Quão verdadeira estas palavras soam hoje com o fechamento da Cammel Laird’s e a sentença de morte pendendo sob a Swan Hunter e a mínima força de trabalho na Harland e Wolf. Militant demandou que a indústria
precisava ser estatizada sob controle dos trabalhadores. A ocupação dos estaleiros para reivindicar a imediata estatização e um projeto de lei neste sentido seria capaz de sacudir o governo conservador até suas fundações. Os Conservadores precipitam-se quando da lei para estatizar a falida Rolls Royce. O movimento trabalhista precisa pressionar para se fazer a mesma coisa na construção naval. (12)
Os patrões fizeram da construção naval uma indústria falida – são eles que devem ficar no desemprego, sem receber nada, por que foram eles que saquearam os estaleiros. Os trabalhadores devem ficar no seu lugar atual, ou ter novos empregos sem nenhuma redução de salário.
[Acima de tudo]: se os Conservadores e seu sistema não podem garantir as necessidades mínimas do trabalhador, o direito ao emprego, então eles e seu sistema devem ser abolidos e um governo trabalhista, baseado na tomada dos 350 maiores monopólios, deve ser levado ao poder. (13)
Mas a UCS não foi a única luta que convulsionou a indústria em 1971. Houve uma mobilização do tipo “operação-tartaruga” ou “operação-padrão” das elétricas em janeiro e um dos trabalhadores escreveu ao Militant: “Antes não éramos um setor combativo do movimento sindical, mas o ataque dos conservadores nos endureceu”. O Evening Standard os qualificou como ‘animais’. Militant também informou que “John Davis, o Ministro da Indústria, chamou indivíduos para ‘importunar’ os trabalhadores das elétricas e suas famílias por fazer greve.” (14)
Os trabalhadores do Rolls Royce também foram ameaçados com o completo fechamento das fábricas em março de 1971 e a diretoria tentou usar a ameaça de falência para minar a resistência à política de congelamento de salários.
A demanda por uma greve geral
Acima de tudo, estas lutas estavam tendo lugar contra o pano de fundo da oposição de massas à Lei de Relações Trabalhistas. Isso culminou em fevereiro de 1971 numa enorme demonstração da TUC de 300 mil pessoas, marchando do Hyde Park à Trafalgar Square, onde o apelo à greve geral foi levantado, entre outros, pelo enorme contingente dos mineiros. Até Heath mencionou numa transmissão da TV seus preparativos para “enfrentar” a greve geral.
A greve geral se tornou uma questão acaloradamente debatida no movimento operário neste estágio. Alguns ‘teóricos’ saíram a favor de uma greve geral ilimitada. Militant, do contrário, ecoando o alerta de Trotsky para examinar a questão da greve geral de um modo ‘meticuloso’, argumentou que uma greve de 24 horas de todo o movimento sindical organizado era o modo mais efetivo de combater o governo neste estágio.
Numa série de artigos, pontuamos que toda greve geral “coloca a questão do poder”. É uma situação onde a classe trabalhadora pode ir totalmente até o confisco do poder ou pode enfrentar a derrota, ou mesmo uma esmagadora derrota. Essa foi a lição de 1926, e, numa diferente situação histórica, a recente greve geral na França em 1968.
Era necessário elaborar um programa para preparar a classe trabalhadora para tal luta. Além disso, uma greve geral de 24 horas na Grã-Bretanha poderia ter conseqüências muito maiores que na Itália, onde se tornou quase comum. Uma vez que todo o poder da classe trabalhadora fosse demonstrado na paralisação de um dia, uma situação totalmente sem precedentes se abriria. Num certo estágio, mesmo os marxistas podem lançar o slogan de uma greve geral ilimitada, mas apenas depois da preparação devida e com a classe trabalhadora totalmente armada politicamente e compreendendo o que está envolvido.
Nossa organização cresce
O Militant, ainda menor que organizações rivais que se diziam marxistas ou trotsquistas, lutava para deixar para trás suas roupas de iniciação para se tornar uma significativa força dentro do movimento trabalhista. Na diferente situação política e social da Grã-Bretanha, confiantemente olhando para a expansão, declaramos em outubro de 1970:
fora o aumento da circulação, nós temos produzido folhetos em todas as maiores questões políticas e industriais. Apoiadores em várias áreas agora produzem edições locais regulares e suplementos. Nos sindicatos tem sido necessário produzir panfletos especiais tratando mais fundo dos problemas específicos que essas industrias enfrentam.
Nós temos estabelecido, sob o ímpeto da crescente militância dos trabalhadores de colarinho branco e de nossos apoiadores professores a produção regular do Militant Teacher, que cobre todo o espectro da educação… A Militant International Review (nossa revista) é agora produzida a cada três meses.
Maiores doações e outros comprometimentos de nossos apoiadores foram pedidos para:
Publicar tudo o que for necessário, é essencial que temos que ter o Militant com mais páginas e, como primeira prioridade, numa base mais freqüente. Tudo isso está ligado à aquisição de nossa própria imprensa, e se mover para novas premissas… O Corpo Editorial deve ter como objetivo um Militant quinzenal até o fim do ano. (15)
Em fevereiro de 1971, nós podemos reportar:
Este mês tem visto um grande passo adiante para os apoiadores do Militant. Nos mudamos para novas instalações na 375 Cambridge Heath Road, Londres. Isso apenas foi possível pela devoção e esforços extenuantes em realizar melhoras e reparos no prédio. (16)
Estas instalações foram compradas do Independent Labour Party (ILP), e estavam num estado de abandono. De fato, o Militant comprou por £3,500 o casco do prédio. Para torná-lo habitável foi completamente renovado do topo à base: canos foram postos, traves colocadas, o piso totalmente refeito, paredes rebocadas.
O título do editorial de outubro de 1970 se lia “Construído o Militant!” Isso adquiriu um significado prático particular aos pioneiros que trabalharam para construir a primeira sede realmente independente do Militant.
Atrás do galpão se colocou a preciosa primeira prensa do Militant, adquirida através da diligência do nosso primeiro impressor, Alan Hardman. Também foi trazida para lá uma máquina de dobrar papel muito arcaica. As chapas para a impressão eram feitas em qualquer lugar. Nunca será esquecido pelos envolvidos naquela época a “varityper” extremamente antiquada onde todos os artigos da primeira edição do Militant quinzenal eram feitos. Patrick Craven em particular realizou milagres nesta máquina para as primeiras edições. O primeiro Militant quinzenal foi produzido e vendido com não mais do que 217 apoiadores comprometidos por todo o país.
Grandes sacrifícios financeiros foram feitos: “No último mês excepcional, entre muitas doações havia £60 de dois apoiadores de Bristol.” Este passo não poderia ter sido dado num momento mais oportuno. “Em 12 de janeiro, nas demonstrações contra a lei anti-sindicato do governo conservador, nossos vendedores rapidamente esgotaram suas reservas do jornal.”(17)
Agora quinzenal
Alguns apoiadores mencionaram que “Tão logo os trabalhadores viam a manchete “Abaixo o governo dos homens de negócios” eles procuravam por dinheiro!” Apenas meses depois, em setembro de 1971, o primeiro Militant quinzenal era lançado:
Com o despertar da classe trabalhadora para a vida política, ela se move em direção aos sindicatos e de lá para os diretórios do Partido Trabalhista… Mas a política dos líderes trabalhistas está apenas preparando uma grande derrota… A única política que irá salvar o movimento trabalhista do desastre é a marxista, como argumenta o Militant… Nosso jornal pode se tornar uma arma real para os trabalhadores se vocês, os leitores, escreverem para ele, criticar e, acima de tudo, enviar doações para assegurar e manter o jornal quinzenal, rumo ao Militant semanal no inicio do próximo ano. (18)
Com 1971 indo para o término, os editores predisseram que o próximo ano poderia ver
a tempestade. Os trabalhadores britânicos em 1971 ainda não derrubaram os Conservadores e seu odiado sistema. Mas eles conseguiram mais do que em qualquer ano desde a guerra: três greves de massa e uma gigantesca marcha de 300 mil contra o Ato de Relações Industriais; duas greves de 150 mil operários escoceses em apoio à ação de massas dos trabalhadores da UCS; a ocupação de Plessey; heróicas lutas de muitos setores, notadamente os carteiros e operários da Ford; mais greves de massas em torno do lobby do TUC lobby sobre o desemprego; e a derrota esmagadora dos Conservadores nas eleições municipais. (19)
Semanal
Logo éramos capazes de dar outro grande passo adiante. O Militant semanal saiu em 28 de janeiro de 1972. Foi um dia de festa para todos os apoiadores do jornal e para o marxismo na Grã-Bretanha. “Esse é o primeiro número do Militant semanal. No curto espaço de três meses, nós mudamos de quinzenal a semanal”. O número de apoiadores comprometidos aumentou consideravelmente. Entre o lançamento do número quinzenal e do semanal 137 novos apoiadores foram recrutados. Contudo, o número total de apoiadores era ainda de apenas 354. O semanário não poderia ter sido lançado numa época melhor, vindo como foi no meio da greve dos mineiros. Nós anunciamos:
As fileiras dos mineiros são firmes. Eles estão determinados a ganhar todas as suas demandas… O governo está preparado a ver os mineiros arruinados e a maquinaria destruída, custando mais do que todas as demandas mineiras, do que fazer concessões… O TUC está vacilante; os Conservadores estão representando astuciosamente sua implacabilidade de classe, por baixo do pano, pressionando o Coal Board [Diretoria Estatal do Carvão] a resistir ao apelo dos mineiros, como um golpe para todos os trabalhadores.
Se os mineiros são derrotados, toda a classe trabalhadora será derrotada. Que o TUC mostre a mesma resolução que nossos inimigos de classe! Mobilizar todo o movimento organizado em solidariedade com os mineiros, como um alerta ao governo contra o desemprego e aumento de preços. O TUC precisa organizar um dia de greve geral. (20)
Combatendo o aumento dos aluguéis
Ao mesmo tempo, os Conservadores lançaram um agudo ataque aos inquilinos com a Lei de Financiamento Habitacional. O propósito era empurrar as Câmaras Municipais, em particular as trabalhistas, a aumentar os aluguéis. A oposição massiva à Lei, no entanto, era solapada pelo NEC do Partido Trabalhista com a proposta de uma campanha de “neutralização e diminuição” dos aumentos e “retardar” os seus efeitos. O NEC e seus advogados avisaram ao movimento para não enfrentar a Lei de frente, mas se prender com tecnicalidades legais. Militant citou a declaração do NEC:
Depois de muita autocontemplação, a Executiva Nacional decidiu não recomenda às Câmaras trabalhistas recusar categoricamente o aumento. Isso porque o governo então apontou um comissário de habitação com plenos poderes do que apenas aumentar os aluguéis. (21)
Isso antecipou o papel da ala direita nas lutas maiores que iriam confrontar o movimento trabalhista no próximo período. A mesma atitude da liderança foi mostrada na batalha de Liverpool nos anos 80. Militant contrapôs a isso um ativo programa de resistência:
O único meio de quebrar a lei proposta é quebrá-la. O NEC precisa: (1) chamar todas as câmaras trabalhistas e trabalhadores municipais a não implementar os aumentos de aluguéis impostos pela lei. (2) Mobilizar todos os inquilinos e toda a classe trabalhadora a apoiar as câmaras e trabalhadores municipais, com demonstrações contra câmaras conservadoras e comissários residenciais que impuserem aumentos; com total apoio, incluindo ação industrial, para inquilinos que se recusem a pagar estes aumentos e câmaras que se recusem a impô-las, especialmente na eventualidade de ações legais tomadas contra inquilinos e vereadores.
Uma indicação do sentimento nas fileiras trabalhistas foi o fato de que Diretório Regional de Londres do partido chamou por
um imediato congelamento de todas as rendas municipais privadas; tomada de toda propriedade vazia, incluindo os conjuntos de escritórios, para usá-las como acomodações temporárias; cancelamento de todos os débitos municipais; instituição de empréstimos sem juros para as autoridades locais; criação de tribunais de aluguel com comitês de representantes eleitos das associações de inquilinos, sindicatos e movimento trabalhista; uma meta imediata de um milhão de novas casas por ano, a nacionalização, sob controle democrático dos trabalhadores, da indústria de construção e da terra, junto com os bancos, sociedades de construção, companhias de seguros e casas financeiras com a mínima compensação em base da necessidade. (22)
Isso realça o quão longe o Partido Trabalhista ‘moderno’ se moveu para um caminho direitista. Tal resolução principista, movida pelos apoiadores do Militant, foi aceita pelo Partido de Londres. Outras regionais do Partido Trabalhista o seguiram. No South West, por exemplo, o mesmo tipo de demandas por resistência foram feitas.
Havia uma grande oposição à lei de habitação dos Conservadores por parte de todas as seções do movimento trabalhista. Mas apenas os heróicos vereadores de Clay Cross estavam preparados a ir até o fim no desafio ao governo. Como os vereadores de Liverpool nos anos 80, eles foram sobrecarregados e banidos dos escritórios. Sua luta foi totalmente apoiada e reportada nas páginas do Militant (e alguns membros do partido de Clay Cross se tornaram apoiadores do Militant). Em 8 de dezembro, por exemplo, reportamos:
Último domingo, uma demonstração de mais de 2 mil inquilinos e membros do Partido Trabalhista de Clay Cross em Derbyshire, em apoio da firme recusa da câmara trabalhista em implantar o Ato de Financiamento Habitacional conservador… O sólido apoio dos inquilinos locais foi indicado pelo fato de que a marcha aumentou em cinco vezes conforme passava pelo município e o povo vinha para engrossar as fileiras.
Graham Skinner, da famosa família ‘Skinner’ (o irmão Dennis, deputado trabalhista por Bolsover, é o mais conhecido), e um dos 11 vereadores trabalhistas de Clay Cross, falou ao Militant comentando:
Os outros vereadores trabalhista cederam porque temiam as implicações de não implementar o Ato. Não posso dizer que simpatizo com eles porque acho que se cada vereador trabalhista tomassem a mesma posição que nós, o Ato de Financiamento Habitacional jamais sairia do papel.
Um monte de vereadores são basicamente vereadores para seu próprio ego, na minha opinião. Eles se elegem com promessas e então esquecem porque foram colocados lá. Nós em Clay Cross não esquecemos. Nós cumprimos cada política pontuada no nosso manifesto eleitoral. (23)
Greve mineira de 1972 – Saltley Gates
Militant, embora fosse ainda uma força pequena, jogou um importante papel em algumas das batalhas chaves de 1972. A épica greve dos mineiros daquele ano, a primeira desde 1926, foi totalmente reportada em nossa páginas. Os apoiadores do Militant em Birmingham tiveram um importante papel em avisar os piquetes do NUM locais que Saltley Gate estava sendo usada como um armazém de coleta de “fura-greves carvoeiros”. Motoristas de caminhão de todo o país estavam chegando a Saltley Gate.
Em 18 de fevereiro, um observador reportou como o que ficou conhecido como ‘Batalha de Saltley Gate’ começou: “Primeiro havia apenas dez de nós, depois 20, 50, 500 e finalmente 10 mil.” Isso foi feito em resposta à dica de membros locais dos Labour Party Young Socialists de que o NUM se movesse para Birmingham. Caminhoneiros ‘Cowboys’ de toda Grã-Bretanha
dirigindo por enormes propinas de seus patrões estavam chegando a Saltley Gate para coletar ‘escória virtual’ para vender por preços inflacionados. Mas no domingo 6 de fevereiro os piquetes cresceram para mais de 500 e a luta real começou.
Inicialmente estes piquetes tentavam atrasar um número de caminhões mas eventualmente a polícia chegou em quantidade.
Tornou-se claro de que apenas um massivo influxo dos mineiros ou o esforço combinado dos sindicatos locais poderia fechar os depósitos e derrotar a tática da polícia. (24)
Uma virtual guerra de guerrilha teve lugar entre os mineiros e os piquetes, de um lado, e a polícia de outro, levando à confrontação final.
Os esquadrões (policiais) escolhiam não-mineiros deliberadamente, especialmente estudantes, para poder dizer que os mineiros estavam sendo incitados por outros. O presidente do LPYS local e membros do Partido Trabalhista foram presos por acusações forjadas. Como a polícia procurava por jovens de cabelos longos, eles prenderam, para sua enorme surpresa, vários mineiros jovens de South Wales!Eles obviamente não estavam a par na mudança de moda entre a classe trabalhadora. Eles tentaram me prender na quarta-feira, mas os mineiros seguiram-me, me rodearam e não pude ser arrastado pela polícia. Muitos mineiros deram evidencia de apoio aos estudantes e outros presos injustamente. A polícia não pode quebrar a solidariedade nas linhas piqueteiras com suas táticas.
Nem a imprensa pode. O Birmingham Mail publicou um artigo dizendo que a perturbação no depósito foi causado por “anarquistas e maoístas”!
Arthur Scargill, que era de Birmingham na época, agiu de um modo tipicamente arrojado quando delegados sindicais chegaram com coletas de dinheiro para a sede dos mineiros. Em vez de expressar gratidão, Scargill recusou aceitar esta ajuda financeira, demandando que os delegados chamem seus membros em solidariedade aos mineiros. Nós reportamos:
A resposta da classe trabalhadora de Birmingham foi magnífica. Representantes da SU Carburettors, da construção local, foram os primeiros lá. Mulheres do SU marcharam para o piquete para uma reação tremendamente calorosa, e mulheres do Sindicato dos Transportes prepararam sanduíches de graça e sopa todos os dias.
Sob pressão das massas
O AUEW decidiu por um dia de greve para a quinta (10 de fevereiro). Sessões do TGWU, incluindo caminhoneiros, prestaram apoio. A polícia e os chefes do Gas Board disseram que eles iriam manter os portões abertos, seguro de que os líderes dos piquetes estavam blefando. Mas quando viram coluna após coluna de trabalhadores com faixas marchando no depósito, eles ficaram atônitos… Homens de Dunlops, British Leyland, Rover, Drop Forge, GEC, etc estavam lá. A indústria de Birmingham estava paralisada e 10 mil pessoas ocupavam a praça fora do depósito, impedindo todo o tráfico. A policia fechou os portões por aquele dia. Vitória para nós. Eu não posso descrever para vocês o sentimento de alegria, alivio e solidariedade que desceu sobre todos que estavam lá. Os panfletos que eu levei foram tirados de minha mão em maços por estranhos que distribuíram eles para mim – como deve ter sido em Petrogrado de 1917!
No dia seguinte um acordo foi assinado com o Gas Board, de que apenas os apetrechos essenciais poderiam ser transportados, sob a supervisão do NUM e dirigidos apenas por membro do TGWU… A luta foi ganha pelos trabalhadores em ação, unidos pela liderança organizada no movimento sindical de Birmingham É também uma prova concreta de nossa demanda de que o TUC tome uma ação geral para mobilizar os sindicatos nacionalmente em apoio aos mineiros. (25)
Esse incidente teve um efeito decisivo em definir a perspectiva de trabalhadores e patrões. Enfureceu os Conservadores, que se prepararam para a vingança mais tarde.
O ritmo do movimento se acelera
O ano de 1972, particularmente os primeiros seis ou sete meses, foi um dos mais tumultuosos na história do movimento trabalhista desde 1945. Militant ainda tinha pequenas forças. Mas relendo as páginas do jornal, mesmo para os que viveram os eventos, se pode sentir a enorme pulsação do movimento dos trabalhadores no período.
Uma sessão da classe trabalhadora após outra entrou em greve ou considerou a ação grevista. Em abril a manchete do jornal anunciou: “Conservadores incitam violência contra ferroviários.”Ações grevistas esporádicas do setor. De acordo com o Daily Express “enfureceram passageiros do 5.24 de Waterloo a Dorking” que então decidiram “seqüestrar o trem quando os condutores planejavam deixá-lo.” Militant apontou que “como resultado da propaganda viciosa, centenas de ferroviários têm sido empurrados, golpeados e cuspidos por grupos das ‘Brigadas de Chapéu de Feltro’.” (26) Também reportamos uma greve de ocupação de metalúrgicos de Oxford na planta da fábrica da BLMC (British Leyland).
Portuários presos
Em 1972, o que levou a Grã-Bretanha à beira da greve geral pela primeira vez desde 1926 foi a batalha dos portuários contra a implantação dos contêineres. O verdadeiro propósito do Ato de Relações Industriais de Heath foi mostrado nesta disputa.
Sir John Donaldson, Juiz do Tribunal Superior e chefe do novo Tribunal de Relações Industriais, declarou que os líderes sindicais precisavam disciplinar e mesmo expulsar seus membros, delegados sindicais, se a decisão do tribunal foi isso. Se os lideres não obedecerem, podiam ser acusado de desacato e os sindicatos multados. O sindicato dos transportista recusou e foram aplicadas multas nos valores de £5,000 e £50,000.
Os argumentos do Militant sobre a natureza do Ato e sua análise das relações de classe foram comprovados em maio, junho e julho de 1972. Através da mediação do governo, os capitalistas tentavam atar os sindicatos ao estado e converter sua liderança no que o socialista americano Daniel De Leon (1852-1914) chamou ‘tenentes trabalhistas do capital’.
Alguns líderes sindicais no Technical Administrative and Supervisory Staffs (TASS), declararam sua intenção de lutar por uma política de “não-submissão” ao Ato. Mas o proeminente líder sindical de esquerda Jack Jones anunciou que o TGWU não empreenderia nenhuma “ação ilegal”. Sob pressão de Jones, o comitê executivo do sindicato concordou – mas apenas pelo voto de Minerva do presidente – pagar as multas. Militant pontuou que se todo o movimento sindical desafiasse a corte, não haveria prisões suficientes para conter todos os que quisessem derrotar o ato.
Jimmy Symes, presidente do comitê de delegados sindicais das docas, disse ao Militant, “Sindicatos não são construídos com fundos; são construídos com o sangue e suor de seus membros. A força de qualquer sindicato depende do chão da fábrica.” (27)
O governo estava usando os portuários como um teste de força com os trabalhadores organizados. Em junho, 35 mil estivadores, apoiados por milhares de outros trabalhadores, “em um dia de ação acabou com o Ato de Relações Indústrias dos conservadores, e humilharam o governo, que queria usar a lei para colocar o movimento sindical numa camisa de força.” (28)
Contudo, a disputa da containerização, centrado no Chobham Farm no leste de Londres, ameaçou em um momento se tornar uma disputa fratricida entre diferentes seções do mesmo sindicato, o dos transportes (Transport and General Workers’ Union).
Militant sugeriu uma conferência de estivadores e trabalhadores envolvidos em Chobham Farm e na questão da containerização como o meio de trabalhar uma política comum em oposição aos patrões. Estes acreditavam que podiam explorar as divisões entre os trabalhadores de Chobham Farm e em qualquer lugar. Usando Donaldson e a Corte de Relações Industriais, cinco líderes estivadores foram presos em julho. Logo que isso aconteceu, qualquer conflito ‘setorial’ evaporou e o movimento de massas se desenvolveu a partir de baixo. Isso assumiu mais e mais as proporções de uma greve geral.
Movimento de massas vindo de baixo
E isso não se desenvolveu em apenas um dia. Nas áreas mais militantes, trabalhadores falavam sobre como ir mais adiante. Esse movimento tinha todas as características de um potencial ‘1968’. Mesmo o conselho geral do TUC estava a favor de uma greve geral de 24 horas, mas apenas depois que ficou claro que os estivadores seriam soltos. Logo que o governo e os capitalistas viram a reação da classe trabalhadora como um todo, logo improvisaram uma ‘fada madrinha’, na forma de um Oficial Tabelião, que interviu e assegurou a libertação dos estivadores. Isso preveniu que uma greve geral acontecesse.
Esse movimento justificou a análise do Militant. O jornal argumentou, que alojada na explosiva situação na Grã-Bretanha, estava a possibilidade de uma greve geral.
Não eram apenas os batalhões pesados que entraram em ação. Setores antes inertes da sociedade fora infectados com o sentimento de descontentamento geral que percorria toda a indústria e a sociedade no ano de 1972. Em maio Militant reportou:
A última terça (9 de maio) viu a marcha de mais de 3 mil estudantes do norte de Londres para protestar contra as condições das escolas. Duas alunas declararam: “Nove entre dez de nós não tem a chance de conseguir um emprego adequado quando deixamos a escola. Estamos todos fartos; é o nosso futuro que está em jogo e planejamos fazer algo a respeito.” (29)
Essa foi uma época em que o desemprego apenas tocou na casa do milhão. Esse movimento, que jovens apoiadores do Militant participaram, prenunciou um maior ainda que se desenvolveu nos anos 80. O fato de que o Militant pôde intervir em tais movimentos, com forças jovens e frescas, era em si um reflexo do crescimento do apoio do Labour Party Young Socialists e dentro dele um enorme aumento do apoio ao Militant.
Labour Party Young Socialists
Militant ganhou a maioria do Comitê Nacional dos Labour Party Young Socialists em 1972. Estes se tornou uma poderosa arma para a intervenção nas lutas dos trabalhadores e no movimento trabalhista em geral. O jornal reportou em 23 de junho de 1972: “Mais de 100 delegados de associações de inquilinos, sindicatos e filiais do Partido Trabalhista atenderam a conferência de inquilinos da LPYS em Londres.” (30) O LPYS se salientou na intervenção em todas as grandes disputas em 1972 e atraiu para sua bandeira os melhores e mais combativos elementos da juventude.
1 Militant 52 Augusto 1969
2 Militant 60 Janeiro 1970 Existe um erro de numeração em algumas das edições em 1970.
3 Militant 65 Julho 1970
4 ibid
5 ibid
6 Militant 69 Novembro 1970
7 The Times 20.10.70
8 Militant 71 Janeiro 1971
9 Militant 72 Fevereiro 1971
10 Militant 77 Julho 1971
11 Militant 79 3.9.71 Essa foi a primeira edição quinzenal do the Militant.
12 ibid
13 ibid
14 Militant 71 Janeiro 1971
15 Militant 68 Outubro 1970
16 Militant 72 Fevereiro 1971
17 ibid
18 Militant 79 3.9.71
19 Militant 87 31.12.71
20 Militant 89 28.1.72 Essa foi a primeira edição semanal do the Militant.
21 Militant 97 23.3.72
22 ibid
23 Militant 134 8.12.72
24 Militant 92 18.2.72
25 ibid
26 Militant 101 21.4.72
27 Militant 102 28.4.72
28 Militant 110 23.6.72
29 Militant 105 19.5.72
30 Militant 110 23.6.72