A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994
Militant Labour Lançado
Depois de muita deliberação e debate dentro das fileiras do Militant, e depois de pesar os efeitos do SML na Escócia, o Militant decidiu lançar o Militant Labour, como uma organização socialista combativa independente em escala de toda Grã-Bretanha. A nova organização fez sua 1ª aparição numa conferência de imprensa na inusitada proximidade do St Ermins Hotel, a distância de um grito da Câmara dos Comuns do Parlamento. Abrindo o lançamento da imprensa, o organizador de campanhas Frances Curran explicou a ironia do local: “Este foi o hotel que os líderes sindicais direitistas discutiram como expulsar o Militant do Partido Trabalhista.” Dave Nellist, Hannah Sell, Tommy Sheridan e eu mesmo como secretário geral representaram a nova organização. Nós declaramos:
O governo Conservador está cercado pela oposição de massas do povo da Grã-Bretanha mas a única esperança dada pelos líderes Trabalhistas aos trabalhadores é esperar por um governo Trabalhista.Pretendemos fornecer uma alternativa combativa em todas as áreas onde o povo trabalhador estiver envolvido na luta.
Éramos tolerados quando nosso apoio era pequeno. Mas quando nos tornamos uma força significativa no partido com o apoio de vereadores e MPs, a direção direitista se moveu contra nós. Não há lugar para dissidência no cinzento Partido Trabalhista de John Smith. Depois de muita discussão e um debate democrático em nossas fileiras decidimos que é necessário colocar o nosso programa e nossos slogans para a ação real ante os trabalhadores e apelar para se uniram ao Militant Labour. (1)
Os líderes do Partido Trabalhista reduziram-se à política do “Eu também”.Os Conservadores propunham uma política; eles respondiam: “Eu também”. Na época quando 100 mil empregos foram ameaçados no setor público no ano seguinte, os chefes Trabalhistas levantaram a bandeira branca. Larry Whitty, secretário geral do Partido Trabalhista, instruiu os grupos Trabalhistas das câmaras municipais a passar os cortes Conservadores, incluindo “demissões compulsórias”. Além disso, um memorando secreto do partido que foi vazado para o Observer admitiu que havia não mais do que 90.000 membros individuais do Partido Trabalhista comparado ao um milhão de 1952. Começando com a expulsão do Corpo Editorial do Militant em 1983, o objetivo da direita Trabalhista era eliminar todos os ganhos obtidos na democracia partidária e no comprometimento socialista durante o período de 1979-82.
Lançamos o Scottish Militant Labour (SML) apenas um ano atrás e conseguimos resultados espetaculares. Lançamos o SML por várias razões. A crise do capitalismo britânico é expressa de uma forma aguda na Escócia e acima de tudo nas maiores áreas urbanas… O Trabalhismo é identificado como parte do ‘establishment’ por um grande número de trabalhadores. Isso mesmo é reconhecido por Tom Clarke, secretário adjunto Trabalhista para a Escócia, recentemente comentou no Tribune: “Um dos problemas do Trabalhismo é que é visto como o establishment na maioria da Escócia.” Por fornecer um exemplo combativo para os trabalhadores em luta, sabemos que o SML se tornou uma poderosa força. Também estamos confiantes de que irá encorajar os melhores trabalhadores socialistas ainda no Partido Trabalhista a pressionar seus líderes para a ação. (2)
Realmente esta pressão permitiu ao SML ter um efeito maior no Partido Trabalhista na Escócia do que quando os apoiadores do Militant ainda operavam dentro dele. Reconhecendo o sucesso do SML, Michael Dyer, Professor de Política na Aberdeen University, comentou:
Indubitavelmente a característica mais dramática da política escocesa recente tem sido a ascensão do Militant Labour: o único partido com razão de ser impressionado com seus próprios esforços. Em tais lugares (Dundee) o SNP está perdendo apoio para o Militant entre a sub-cultura da juventude desempregada marginalizada de pais solteiros. Com o Militant emergindo como o partido dominante dos protestos de trabalhadores em Glasgow, o caráter da dissidência se tornou menos nacionalista e mais socialista. (3)
Aqui havia uma esmagadora refutação daqueles que depreciavam nossos esforços de cortar a influência dos nacionalistas, especialmente nas áreas urbanas do Oeste da Escócia. O SML se tornou a principal força organizadora na campanha para resistir à privatização da água escocesa e também na preparação para a campanha de não-pagamento em massa das contas de água se a legislação fosse levada adiante. Sob a pressão do SML, a direção Trabalhista escocesa foi obrigada a organizar uma manifestação contra a privatização da água – a primeira manifestação Trabalhista em 12 anos.
Muitas áreas no resto da Grã-Bretanha tinham as mesmas condições que levou ao lançamento do SML. As condições sociais em Birmingham, Londres, Manchester, Cardiff Newcastle, e Swansea assim como em muitas áreas no Sul eram iguais aquelas da Escócia. As câmaras inglesas e galesas, dominadas pela direita Trabalhista eram uma parte do “establishment”, aos olhos daqueles que sofreriam em suas mãos como era o caso na Escócia. O Militant tinha um orgulhoso registro de luta e sacrifício em nome dos trabalhadores.
Luta, Solidariedade, Socialismo
Em nome do Comitê Executivo do Militant eu declarei:
Nós lançamos o Militant Labour como objetivos muito simples e claros. Eles são defender incondicionalmente os princípios básicos do movimento trabalhista: Luta, solidariedade e socialismo. O Militant Labour estará onde todos os trabalhadores estiverem preparados para a luta. Estaremos preparados para organizar e fornecer a direção necessária. Aonde os trabalhadores saírem em greve, faremos tudo o que pudermos para construir uma ampla ação de solidariedade. Forçosamente nós defenderemos a planificação socialista, pela nacionalização democrática dos 150 monopólios que controlam 80-85% da economia britânica com compensação nas bases da necessidade comprovada. Pretendemos levar a batalha a todos as partes da classe trabalhadora e do movimento trabalhista. A situação da classe trabalhadora é tão urgente, o sentimento de desespero entre muitos trabalhadores é tão pronunciado, que o Militant deve corajosamente intervir sob sua própria bandeira. Ao mesmo tempo apoiamos todos os esforços para combater a guinada à direita do Trabalhismo e dos líderes sindicais. Também apoiamos aqueles membros do Partido Trabalhista que se esforçam para transformar o partido numa organização combativa para a classe trabalhadora. (4)
Mas na época era certo oferecer uma alternativa socialista clara. Se a oportunidade se apresentasse o Militant também deveria oferecer uma alternativa eleitoral. O Militant Labour se empenhava nas eleições não pelas posições parlamentares ou municipais, mas para usar as campanhas eleitorais como uma plataforma para mobilizar a resistência dos trabalhadores comuns e para ampliar nosso apoio.
Jamie Bulger
O assassinato de Jamie Bulger em Bootle horrorizou a nação. Contudo, inescrupulosamente os Conservadores e sua imprensa usaram este terrível incidente como uma oportunidade para exigir punições mais duras e sentenças mais longas e captar sobre os sentimentos gerados para exigir “unidades seguras” para jovens transgressores. Estava muito claro que a imprensa Conservadora não tinha preocupação genuína alguma com as famílias das vitimas. Este incidente foi usado como um bastão para golpear os trabalhadores de Liverpool. Foi usado também como um meio de perseguir pais solteiros e cantar os louvores do modelo Conservador da família nuclear de um casal.O Militant revidou com relatos de trabalhadores comuns, furiosos com o último exemplo de preconceito flagrante contra o povo de Bootle e Merseyside como um todo. Acima de tudo, o Militant Labour realizou uma campanha, no final vitoriosa, de instalações infantis adequadas e uma creche no centro comercial onde Jamie Bulger foi seqüestrado.
Campanha do Guy
Este foi o caso, por exemplo, na campanha para manter o Guy’s Hospital Londrino aberto. O infame Relatório Tomlinson disse que Londres tinha muitos leitos hospitalares mas 300 mil londrinos estavam esperando por operações. Conforme um paciente recebia alta outro ocupava a cama. Nós declaramos:
Se os Conservadores pensam que os londrinos irão sentar e esperar estão enganados. O povo de Bermondsey agüentou o fechamento do St. Olave porque sabiam que tinham o Guy em nosso município. Não há jeito de permitirmos que nosso único hospital feche. Lutaremos pelo Guy e também pelo St Thomas. Se o Tommy fechar significará 2 vezes mais pessoas tentando usar o Guy.Os 2 hospitais devem ficar. (5)
A demonstration in Bermondsey was called on 27 February along Long Lane, the site of the battle against the fascists in 1937, when thousands of workers built barricades to stop Mosley’s Blackshirts marching. Women flung their eggs and oranges at the fascist scum. As Julie Donovan commented: “That Bermondsey spirit lives on today. The Tories are not on. Guys will stay.” (6)
Nova etapa na Timex
A batalha da Timex também chegou a uma marcha acelerada e na segunda, 11 de abril o maior piquete de massas nos portões foi seguido por uma manifestação de 6mil trabalhadores em apoio à força de trabalho demitida. Desde manhã cedo mais de mil apinhavam os portões, vindos de toda a Escócia, e indo tão longe quanto Londres, Sheffield e Newcastle. Foi também a maior mobilização da polícia e os conflitos na linha de piquete viram os membros do Scottish Militant Labour (SML) rompendo as linhas policiais numa tentativa de tentar e impedir a trajetória dos ônibus. Mas eles foram contidos pela polícia. Dois membros do SML, entre outros, foram presos. A maioria da Escócia, exceto Dundee, estava em feriado e os líderes do STUC fizeram poucos esforços na construção do ato mais o comparecimento ainda foi massivo. Significativamente milhares de trabalhadores de Dundee tomaram parte, de fato realizando uma ação sindical para marchar para a Timex. Alguns tiveram pausas no trabalho para evitar que marchassem juntos até o ato. Efetivamente, um dia de greve geral parcial de um dia ocorreu, sem que tal chamado tivesse sido feito pela direção do STUC. Nós comentamos:
Por quase 4 meses um grande drama nacional se desenvolveu na Timex. Se alguma disputa mostrou a mudança da situação política e industrial na Grã-Bretanha, é esta…A polícia, incluindo a agência especial e os à paisana, está sendo mobilizada por toda Escócia para quebrar a linha de piquete e ajudar fura-greves… É tudo parte da disputa de Timex. (7)
Infelizmente, mas não surpreendentemente, os diretores sindicais, com uma exceção, tentaram esfriar a luta ameaçando expulsar os piqueteiros do sindicato e amordaçar o maior líder porta-voz das bases sindicais, John Kydd. Enquanto a atenção dos trabalhadores de Dundee estava na disputa de Timex uma importante pré-eleição foi chamada na cidade.
Pré-eleição de Whitfield
O SML conseguiu excelentes 307 votos (21%) na pré-eleição de Whitfield em 29 de abril. Uma vez mais os Conservadores foram reduzidos ao 4° lugar, atrás do vitorioso candidato do SNP do Trabalhismo e do SML. 69 pessoas votaram pelos Conservadores no distrito de Whitfield. Mas nesta eleição eles anunciaram Whitfield como um triunfo de política governamental e regeneração. Imaginaram ser um bom território para eles porque apenas 35% viviam em conjuntos habitacionais. O candidato do SML Harvey Duke explicou que baixos salários,pobreza e a ameaça de privatização da água poderiam significar que uma combativa alternativa socialista poderia ganhar uma excelente resposta em Whitfield. A votação foi ainda mais significativa dos que os esforços anteriores porque nem um só membro do SML vivia em Whitfield. Como resultado da campanha um novo ramo de 15 membros foi criado. Mais de 12 reuniões de rua ocorreram e o caso do socialismo foi levado a trabalhadores que nunca tinham escutado isso antes. O SML expôs os acordos sombrios do Scottish National Party (SNP) com os Conservadores. Como resultado os votos no SNP caíram de 55% nas eleições distritais de maio anterior para 35%. O candidato do SNP declarou: “Se o SML não tivesse se candidatado poderíamos ter tido uma vitória esmagadora.” (8)
O pano de fundo desta eleição foi a batalha da Timex que entrou num estágio decisivo em maio. Na segunda, 17 de maio o aviso prévio estatutário de demissão de 90 dias iria expirar e os trabalhadores demitidos poderiam então ter seus empregos oferecidos de volta. Estava claro que a gerência da companhia tentava quebrar a unidade dos grevistas oferecendo para alguns seu emprego de volta mas excluindo permanentemente outros. Contudo, os trabalhadores da Timex deixaram claro que não iriam voltar atrás até que todos os demitidos tivessem seus empregos de volta, junto com os mesmos salários e condições e os fura-greves estivessem fora da fábrica. O Militant Labour chamou para a paralisação de um dia em Dundee para 17 de maio. Sem dúvida existia o potencial para fechar as fábricas e locais de trabalho e para um comparecimento de massas na linha de piquete.Os trabalhadores indicaram que estavam preparados para isso e Arthur Scargill disse que ele atenderia ao piquete de massas de 17 de maio. Os líderes do sindicato de engenharia (AEEU) e do STUC temiam perder o controle da disputa. A gerência da Timex de fato declarou publicamente que preferia lidar com os líderes sindicais nacionais dos que com os líderes grevistas locais.
Em 17 de maio um magnífico piquete de massas, provavelmente um dos maiores se não o maior que a Escócia já testemunhou, teve lugar. Havia 5 mil pessoas de cada canto da Grã-Bretanha que se reuniram para exigir a reinstalação dos343grevistas demitidos pelos patrões da Timex. Apesar da maior operação policial já vista em Dundee, a produção da fábrica foi interrompida por uma virtual parada pelo piquete de massas. A gerência da Timex, em colaboração com a polícia de Tayside organizou os ônibus de fura-greves para chegar às 6.30 da manhã – uma hora e meia mais cedo. Então 2 mil manifestantes se reuniram nos portões, com centenas mais chegando a cada minuto. À medida que a polícia tentou canalizar os ônibus para a fábrica,um feroz conflito estourou com os manifestantes às vezes conseguindo bloquear a via. Uma batalha de 20 minutos ocorreu em um estágio com a polícia lutando ferozmente para limpar o caminho para os ônibus de fura-greves. No momento em que os ônibus conseguiram atravessar milhares de manifestantes a mais tinham chegado. Perturbada com o tamanho do ato e temerosa de mais erupções de raiva, a polícia foi forçada a afastar dezenas de veículos de entrega e carros privados trazendo o pessoal de colarinho branco para a fábrica.O Daily Record da Escócia caracterizou o piquete como “ato de terror de quadrilha”. (9) Mas a maioria das prisões ocorreu quando os grevistas da Timex e o piquete de massas se moveram em frente dos portões da fábrica numa tentativa de bloquear os ônibus de fura-greves para a fábrica. Foi a polícia que lutou freneticamente para limpar a via para os ônibus.Os membros do SML estavam entre os presos durante o confronto.Nós perguntamos:
Quanto dinheiro público foi gasto nesta enorme operação policial? Quando serviços vitais em Tayside estão sendo reduzidos por falta de verbas, o chefe dos agentes policiais de Tayside Jack Bowman pode gastar centenas de milhares de libras num só dia para proteger os lucros da Timex…Porque 2 manifestantes foram inicialmente acusados com tentativa de assassinato por alegadamente bloquear um dos portões de trás com um mini-ônibus? Porque estão informação foi liberada para setores da mídia selecionados, com os advogados de defesa mantidos na escuridão absoluta sobre as acusações? (10)
Porque depois de aparecerem manchetes sensacionalistas em cada jornal na Escócia e nas notícias de TV nacionais, os acusados foram soltos sem explicação? Apesar do piquete de massas estava claro que apenas uma ação decisiva pela classe trabalhadora como um todo poderia deixar a gerência da Timex de joelhos. Arthur Scargill num comício em um parque próximo declarou em 17 de maio, em meio a aplausos entusiásticos, que era preciso chamar uma greve geral de 24 horas para salvar as minas, reinstalar os trabalhadores da Timex e parar a privatização da ferrovia britânica. Após o sucesso do 17 de maio, o Militant chamou para a escalação da disputa por uma conferência de delegados sindicais de Dundee que pudesse preparar o caminho para a greve geral de 24 horas na cidade. Um patrão de Dundee disse a um delegado sobre o 17 de maio: “Eu não posso deixar você ir para o ato da Timex pois não sei se posso garantir que um monte [de trabalhadores] não seguiria você.” (11)
Se uma paralisação de um dia não era suficiente, o Militant argumentou, isso deveria preparar o caminho para os trabalhadores de toda Escócia para pressionar o STUC para chamar um dia de greve geral em toda Escócia.
1 Militant 1128 2.4.93
2 ibid
3 The Herald, 2.2.93
4 Militant 1128 2.4.93
5 Militant 1123 26.2.93
6 ibid
7 Militant 1130 16.4.93
8 Militant 1133 7.5.93
9 Daily Record 18.5.93
10 Militant 1135 21.5.93
11 ibid