A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994
Lutando pelo Socialismo
Nas consequências da eleição geral de 1992 o Militant preparou o terreno, junto com outros na Esquerda, para uma resistência efetiva aos Conservadores. Uma das linhas de batalha era no serviço civil. Militant gozava de considerável apoio, especialmente no CPSA. Sua conferência de 1992, realizada no final de maio, viu a Esquerda derrotar decisivamente a Direita em todas as questões centrais levantadas na conferência. A ala direita reteve o poder mas eles deixaram Brighton espancados, já que a conferência os derrotou em cada questão política. Numa votação, sobre a redução do tamanho do comitê permanente de petições, sua proposta ganhou o apoio de apenas 5 ou 6 delegados de 800. A ala direita, descrita como ‘moderada’, era de fato a voz dos Conservadores dentro do sindicato. O acordo salarial negociado pela direita foi esmagadoramente rejeitado pela conferência. As eleições foram um desapontamento para a Esquerda mas elas não deram um grande espaço de folga para a direita. Essa foi particularmente o caso em relação à derrota de John Macreadie na eleição para secretário geral. Sua votação (10.561 com 13.649 de Reamsbottom) e de outros candidatos da Esquerda Ampla esmagaram a direita. As cédulas de votação enviadas se pareciam com cupons de futebol, com mais de 90 nomes de candidatos.Além disso, a votação postal significou que papéis foram enviadas para as casas dos membros, longe das discussões dos escritórios. Mesmo assim a direita ganhou apenas 3.000 votos e a combinação dos votos da Esquerda Ampla e a Esquerda Ampla 84 (que dividiu a votação, alcançando 3.918) excedeu os votos da direita. Concluímos: “Não há mais uma maioria natural para a direita no CPSA.” (1)
Juventude contra o Racismo na Europa
Outra questão chave na qual o Militant concentrou suas energias foi a do racismo. Ataques racistas se espalhavam por muitos países na Europa. Em um ano houve mil apenas na Alemanha. Na França mais de 200 homens norte-africanos foram mortos pelos racistas na década anterior e na Grã-Bretanha havia ataques racistas todo dia, incluindo assassinatos. O sucesso da Frente Nacional na França e dos Republicanos na Alemanha enviou uma onda de horror a todo movimento trabalhista, acima de tudo entre os jovens. Em resposta a isso o Militant e seus correligionários na Europa iniciaram a Campanha da Juventude contra o Racismo na Europa (YRE). A YRE decidiu chamar uma manifestação de massas de toda a Europa contra o racismo em Bruxelas, recepcionada pela vitoriosa organização antifascista Blokbusters. Realçando a importância com que nos juntamos a esta campanha, nosso artigo de primeira página declarava:
Nós na Campanha dos Direitos dos Jovens queremos ver um fim do racismo de uma vez por todas. Para isso, precisamos acabar com o sistema que o alimenta – o capitalismo. (2)
Houve um chamado para o comparecimento massivo em 24 de outubro de todos os países da Europa, na qual a YRE tomou iniciativas vitoriosas.
24 de outubro de 1992 – Bruxelas
Depois de 4 meses de campanha uma maravilhosa manifestação de mais de 40.000 marcharam pelas ruas de Bruxelas. A YRE reuniu a maior manifestação anti-racista, anti-fascista, de toda Europa já vista. Às 14 hrs os manifestantes se moveram liderados pelos Blokbusters com organizadores, providos de bastões, correntes humanas e estendendo-se ao longo da frente da marcha. Nós reportamos:
Apesar da chuva, foi um momento que trouxe um nó na garganta… As faixas diziam de onde elas eram – Alemanha, Irlanda, Suécia, Tchecoslováquia, Bélgica, Grã-Bretanha, Polônia, Noruega, Áustria, Holanda e França… Centenas, talvez milhares de cartazes da Blokbuster enchiam a vista. O símbolo inconfundível do punho cerrado estava em todo lugar. À medida que o contingente alemão passou, o início da manifestação já estava fora de vista a uma milha de distância. Havia colantes, bandeiras e faixas em todo lugar que você olhava. (3)
A juventude da Europa mostrou que não toleraria a ascensão dos racistas e fascistas, e em sua luta havia unidade atrás da bandeira da YRE. A manifestação se tornou a notícia de 1ª página com fotos em 8 dos 11 jornais diários belgas. Fotos enormes, muitas delas coloridas, mostravam milhares de manifestantes atravessando as ruas de Bruxelas. Notícias do ato alcançavam os EUA graças a uma curta reportagem da TV ABC. A mídia não estava de acordo com os números. Uma estação de TV belga disse que havia 25.000 enquanto o diário alemão de esquerda TAZ estimava que 45.000 pessoas atenderam. Confrontados com uma bem-organizada e disciplinada manifestação, com organizadores vestidos com coletes da Federação Anti-Poll Tax da Grã-Bretanha, e portando bastões de precaução os fascistas belgas se queixaram ao governo sobre a exibição de uma força “paramilitar”!
A YRE irrompeu a cena nesta poderosa manifestação e estava para se tornar ainda mais conhecida nas batalhas que se desenvolveram em 1993.
Tommy Sheridan libertado
Na Grã-Bretanha o continuo cárcere de Tommy Sheridan, com centenas de outros manifestantes anti-poll tax, mostrou a face brutal do capitalismo britânico quando seu poder é desafiado. Depois de 5 meses na prisão ele foi solto para uma tumultuosa recepção em Glasgow em julho. Ele foi saudado por uma multidão de 700 na Estação Queen Street de Glasgow. A multidão esperando por ele era composta de carteiros em uniforme, petroleiros e professores. Bandeiras vermelhas, faixas de sindicatos e do SML misturavam-se juntas. Causando um enorme aplauso Tommy declarou: “Não houve nenhuma venda judicial em três anos e eu reafirmo agora que não haverá nenhuma venda judicial na Escócia.” (4)
Quando começou a tocar uma banda a multidão marchou pela George Square para que o vereador Sheridan pudesse tomar seu lugar na Câmara da Cidade. Uma recepção ainda maior ocorreu à tarde com mais de 500 pessoas se reunindo para saudar sua libertação. Logo depois este bem conhecido investigador jornalista de esquerda, John Pilger, escreveu:
Eu estava alegre pela libertação outro dia de Tommy Sheridan depois de 5 meses na prisão de Saughton em Edimburgo. Sheridan foi preso em janeiro por quebrar uma ordem do tribunal e forçar o cancelamento de uma venda judicial do poll tax. De sua cela, ele vitoriosamente concorreu a um assento da Câmara pelo distrito de Glasgow Ele concorreu de novo na eleição geral pelo Scottish Militant Labour em Glasgow Pollok e, por mais que alguns neguem, ele não foi tão mal… Sua maior vitória é claro foi como líder da Federação Anti-Poll Tax da Grã-Bretanha. Na Escócia mais da metade da população ainda não pagou o poll tax. Há algum tempo Tommy Sheridan poderia ter encarnado tudo o que inspirou o Partido Trabalhista. Ele é jovem e …vive entre e luta pela comunidade de trabalhadores onde ele cresceu… O termo “isso me deixa tão furioso”é estranho de ouvir vindo de alguém tão jovem e erudito como Sheridan.Não é difícil entender sua popularidade em Glasgow onde as pessoas falam de suas condições de vida com raiva. Compare suas falas para as pessoas com a atual lenga-lenga Trabalhista sobre a ‘imagem’ e ‘estratégias elegíveis’ e ‘socialismo empobrece o individuo’… Os legados da caça-às-bruxas Trabalhistas são o grande autoritarismo com o qual o Trabalhismo acusa o Militant e uma base generalizada para acreditar que o próprio socialismo é agora equivalente a ‘entrismo’ no partido. Tommy Sheridan tem o crédito de recrutar 100 novos membros à setorial do Trabalhismo em Pollok… Mas o Trabalhismo caçou cerca de 40 pessoas do lugar, incluindo Tommy e um rapaz que ele ajudou a tirar das drogas introduzindo-o nas políticas Trabalhistas… E em sua posição principista, ele envergonhou o partido que o expulsou-o como fez com Terry Fields e Dave Nellist. (5)
A defesa inquestionável de Pilger de Tommy Sheridan e do Militant nas páginas do New Statesman levou-o a ser acusado pelo “esquerdista” Tribune de “estar sendo enganado” e “exagerando extremamente seu louvor”.
Anteriormente, o Tribune elogiou Pilger por sua reportagem investigativa da guerra no Camboja, e o silêncio Ocidental sobre as atrocidades cometidas pelo Khmer Vermelho. Mas quando ele escrevia sobre as genuínas lutas dos trabalhadores na Grã-Bretanha, especialmente quando ele caracterizava os membros do Militant, era considerado suspeito pelos ex-esquerdistas em torno do Tribune.
Christine McVicar ganha Easterhouse
SML em particular se fortalecia cada vez mais.Em setembro Christine McVicar ganhou uma vitória esmagadora para o SML em Easterhouse/Garthamlock obtendo 2 vezes os votos do seu oponente Trabalhista com os Conservadores e o SNP bem atrás. A imprensa de Glasgow não podia ignorar sua vitória. O Glasgow Evening Times afirmou uma “esmagadora e humilhante derrota para o Trabalhismo”.(6) O Scotsman declarou o resultado “outra indicação de quanto a base de apoio do Trabalhismo nas áreas pobres está desertando para o Militant.” (7) O Glasgow Herald simplesmente chorou: “Trabalhismo derrotado.” (8)
Até mesmo os apoiadores do SML estavam estupefatos mas deliciados com a escala da vitória. Esta ultrapassou até mesmo as eleições municipais de maio. Antes da eleição a vaga parecia ser uma rocha sólida do Trabalhismo. Nas eleições regionais dois anos antes o Trabalhismo ganhou 71% dos votos. Agora o SML teve 54%, apesar do fato de que não tinha a mesma base de apoio como em outras áreas de Glasgow, especialmente em Pollok do lado oposto da cidade. Além disso, o Trabalhismo lutou duro para manter o assento. Empregou 7 MPs, incluindo 2 ministros do gabinete de sombras [gabinete que é planejado antes de se ganhar as eleições] e uma malta de vereadores na campanha. Easterhouse exemplificava décadas de pobreza e negligência. O Capitalismo e seus agentes Conservadores eram os principais responsáveis por estas condições. Mas o Trabalhismo, instalado na Câmara Municipal por décadas, falhou em levar uma luta para mudar estas condições horríveis. Pessoas nas pensões tinha 40% mais chances de morrer antes dos 60 anos do que em qualquer lugar na Escócia. Mais de 70% das crianças recebiam subvenções escolares para vestuário.
Após a vitória de Christine McVicar, Scotland on Sunday publicou a manchete: “Militant retornado da morte assusta o Trabalhismo.” Eles comentaram: “Militant mandou de casa a mensagem semana passada que é elegível sob suas próprias cores.” (9)
Christine McVicar resumiu o significado da eleição: “É o triunfo da bandeira vermelha sobre a bandeira rosa, do tradicional socialismo da classe trabalhadora sobre os designers yuppies que seqüestraram o Trabalhismo.” (10) Muitos descomprometidos concordaram com ela. Um jovem trabalhador entrevistado em Easterhouse pela TV escocesa no dia seguinte à eleição disse:
Militant é o único povo que fez algo por Glasgow.São Militants como Tam Sheridan e a moça McVicar que tem lutado pelo povo escocês. (11)
Outro, de um chamado telefônico na Radio Clyde, declarou:
Não sou membro ou apoiador do Militant. Mas depois de quinta, estou mais confiante de que a privatização da água será impedida. Se o Militant concorrer em Dunoon vou votar neles. (12)
Um pensionista também declarou: “É a 1ª vez em 40 anos que não vou votar no Trabalhismo. Mas nunca mais vou votar neles de novo. Eu sou um Militant agora.” (13)
O significado destes comentários não passou desapercebidos pelos representantes Trabalhistas. Ann McGuire, presidente do Partido Trabalhista na Escócia, comentou na rádio: “O problema era que o Trabalhismo na Escócia estava espremido no meio entre os Conservadores e o Militant Labour.” (14)
SML justificado
O resultado eleitoral para o SML confirmava completamente as razões para criar uma organização independente na Escócia. Uma certa estratificação, diferenciação, ocorreu dentro das fileiras da classe trabalhadora. Isso levou a uma perda da união entre a massa dos trabalhadores e o Trabalhismo, o “organização tradicional” dos trabalhadores Britânicos. O giro à direita dos líderes Trabalhistas enfraqueceu ainda mais estes laços.
Uma camada dos trabalhadores, uma maioria dos mais avançados e combativos, começou a olhar para o Militant Labour como a única organização que poderia efetivamente levar uma luta contra os ataques Conservadores. Militant e o Scottish Militant Labour não tinham ilusões de que o SML pudesse automaticamente substituir o Trabalhismo, ou que o progresso seria em linha reta. O SML tirou seu apoio eleitoral de 2 fontes. Houve um elemento de voto de “protesto” dos apoiadores tradicionais do Trabalhismo contra sua direita. Outros votos vieram de um setor dos trabalhadores que rejeitavam o Trabalhismo e procuravam por uma alternativa socialista. O Militant reconheceu que o sentimento dos trabalhadores, que poderia assumir um anseio desesperado por ver a volta dos Conservadores, poderia levar a uma aglomeração atrás do Trabalhismo, e conseqüentemente enfraquecer o apoio ao SML. Mas um núcleo dos trabalhadores, refletido primeiro na Escócia, tomou a decisão consciente de apoiar-nos. Seu apoio significou que o SML poderia fazer importantes avanços na frente eleitoral, na mais difícil arena para o marxismo. Além disso, seu sucesso contrastou favoravelmente com a performance dos partidos de Esquerda na Europa. Em muitos países europeus uma votação dos partidos de Esquerda entre 8 e 20% foi vista como respeitável. Mesmo o Refundação Comunista (RC) na Itália, que se dividiu do Partido do Socialismo Democrático (PDS), o antigo Partido Comunista da Itália, foi capaz apenas de obter 6.6% dos votos na eleição nacional. Portanto, a performance eleitoral do SML foi significativo e reconhecido como tal por vários comentaristas. Isso aconteceu precisamente porque não era primariamente uma organização eleitoral. As eleições foram uma extensão de importantes batalhas de classe tais como o movimento anti-poll tax, a luta contra a privatização da água, e depois da Lei de Justiça Criminal.
O apoio eleitoral, inevitavelmente, poderia declinar e voltar a subir. Pode haver ocasiões quando o apoio eleitoral declina. Os trabalhadores britânicos irão testar e retestar uma organização antes de considerarem abraçá-la totalmente. Contudo, a afirmação dogmática feita por alguns oponentes do Militant de que o caráter “único” do movimento trabalhista britânico de que os trabalhadores iriam se agarrar, pela fartura e pobreza, a suas “organizações tradicionais” ignora as profundas mudanças que ocorreram na última década e meia.
Esta “singularidade” evaporou à medida que o caráter do movimento trabalhista britânico parecia-se cada vez mais com o de seus parentes europeus. A marcha para a direita dos líderes Trabalhistas e Socialistas é um fenômeno internacional, como a alienação de grandes camadas, especialmente da juventude. A “burguesificação” dos partidos social democratas deixou um espaço para a emergência de novas formações de esquerda, revolucionárias e radicai. Na Grã-Bretanha o abandono da Cláusula IV, o distanciamento e possível ruptura completa com os sindicatos, a imitação sem precedentes dos Conservadores pela direção de Blair, levou de fato à ruptura de uma camada significativa do Partido Trabalhista. Blair está conduzindo o Partido Trabalhista rumo a uma versão do Partido Democrata dos EUA. Sob Kinnock, seguido por Smith, e agora Blair, o giro à direita foi ainda mais longe que no passado. Uma ruptura completa com os sindicatos e o abandono da Cláusula IV pode alterar significativamente o caráter do Partido Trabalhista Britânico. O processo pode ir muito mais adiante. Pelo menos, isso deixará um espaço significativo a ser ocupado por um partido que relacione as idéias do socialismo aos problemas do dia-a-dia do povo trabalhador comum. O Scottish Militant Labour e o Militant Labour no curso de 1992-94 demonstraram o potencial para tal organização, que pode se desenvolver por saltos e pulos, uma vez que um governo Trabalhista de direita chegue ao poder.
No Congresso do Partido Trabalhista em outubro,Smith permitiu que a palavra “socialismo” passasse por seus lábios apenas uma vez numa fala do congresso de 50 minutos. Dennis Skinner foi tirado na executiva nacional (NEC). Mesmo Bryan Gould, adversário de Smith para líder e não realmente na esquerda do partido, foi derrotado nas eleições ao NEC. Tony Benn permaneceu como o único de esquerda naquele corpo. Este congresso também revelou que o Partido Trabalhista gastou £700,000 ao expulsar 40 pessoas do partido. O Militant organizou uma reunião pública dirigida por mim e Tommy Sheridan, com 60 pessoas participando. O sentimento da conferência era plano, com nenhum debate real na maioria das questões.
Pantera Britânico
Em contraste, e na mesma semana do congresso, em Brixton um audiência de 2.000, a maioria jovens negros, se reuniram num comício público para escutar Bobby Seale, co-fundador dos Panteras Negras dos EUA nos anos 60. Essa foi a maior reunião fechada pública deste tipo já realizada na Grã-Bretanha. Foi organizada pelos Panteras Britânicos, uma organização na qual os apoiadores do Militant participaram na fundação. Durante sua fala Bobby Seale se referiu aos Panteras Britânicos como “este grupo de jovens negros revolucionários”. (15) Os Panteras Britânicos era uma organização negra independente, cujo lançamento foi inteiramente apoiado por nós. Membros negros do Militant Labour, trabalhando em conjunto com outros, puderam relacionar esta organização a um setor significativo de jovens negros que foram alienados do sistema, e que procuravam por uma resistência organizada. Isso naturalmente provocou a oposição da “indústria das relações raciais” profissional, que pensava que todas as questões relacionadas às minorias étnicas estavam dentro do seu âmbito. Coitado de quem tentasse invadir seu “eleitorado”, especialmente se eles abordassem a raça de um ponto de vista de classe.
Kiranjit Ahluwalia libertada
As vítimas ou sobreviventes da violência doméstica estavam muito agradecidas do que as organizadoras do CADV foram capazes de fazer. O CADV conduziu uma longa campanha pela liberdade de Kiranjit Ahluwalia. Kiranjit, que foi solta no começo de outubro de 1992, pouco antes de um ato nacional de 2.000, organizada pelo CADV no centro de Londres, sofreu um terrível suplício nas mãos de um marido brutal. Foi presa por matá-lo. Kiranjit descreveu as indignidades indescritíveis que sofreu por mais de uma década:
Em 10 anos a polícia nunca me ajudou enquanto eu sofria mas quando meu marido foi morto eles não puderam esperar para por as mãos em mim para fazer boa impressão no público.
Comentando seu tempo na prisão ela disse:
Por 3 anos e meio minha família sofreu mais do que eu. Toda tarde a mulher na cela ao lado costumava chorar por sua criança. Mulheres como ela não deveriam estar na prisão… Eu caminhava para o jardim de exercícios com meu Walkman. Algumas mulheres vieram até mim. Elas escutaram meu caso. Disseram não se preocupe, que eu não fiz nada errado. Então uma delas abaixou seu suéter para me mostrar as cicatrizes brancas que tinha pelo pescoço, peito e braços. Seu marido tinha jogado ácido nela… As mulheres precisam de dinheiro governamental para nos ajudar e a nossos filhos. Algumas pessoas dizem: “Porque as mulheres não fojem? Porque não dizem ao homem para deixar a casa?”Bem, aonde a mulher pode ir com seus filhos? A mulher tem o problema da escola das crianças, o problema de mudar de emprego. (16)
Crise do fechamento das minas
Ao mesmo tempo, a mais séria crise desde a reeleição do governo Major surgiu em outubro com o anúncio de Heseltine do fechamento em massa das minas.Estimados 30.000 mineiros, se Heseltine seguisse seu caminho, encheriam as filas de desempregados e 70.000 postos nas indústrias relacionadas seriam perdidos. Ataques à classe trabalhadora se tornaram tão comuns sob o governo Conservador que a reação inicial, entre os mineiros e mesmo entre muitos apoiadores do Militant nas minas, foi uma mudez inicial. Contudo, quando a escala do ataque ficou clara se iniciou uma massiva reação violenta pública contra o governo. A Quarta-Feira Negra em setembro foi um dia negro para a classe dominante na Grã-Bretanha. A “Terça-Feira Negra”, o dia quando Heseltine fez seu anúncio, poderia significar sofrimento para os mineiros e suas famílias se o governo tivesse permissão para ir adiante. O Militant fez o chamado para a imediata ocupação das minas.Até mesmo o chefe do British Coal Neil Clarke disse que a proposta de Heseltine era “a economia do hospício”. Ela era um brutal exemplo do ressentimento de classe que motivava o governo. Os Conservadores nunca perdoaram o NUM por derrubar seu governo 18 anos antes. Essa era uma oportunidade de finalmente humilhar os mineiros e suas famílias, e no caminho desmoralizar ainda mais a classe trabalhadora. Nós chamamos por
uma greve imediata… Minas na lista devem ser ocupadas assim que os mineiros possam implementar a manutenção necessária para mantê-los vivos. Trabalhadores ferroviários e dos transportes devem se empenhar para que nenhuma tonelada se mova. O líder dos trabalhadores de transporte Bill Morris está prometendo apoio. O que deve significar boicotar o carvão. Ele chamou por uma reunião de emergência do conselho geral do TUC, a qual precisa organizar uma ação solidária. Palavras não são suficientes. Este governo não quer ouvir argumentos, quer o sangue das famílias mineiras e de nossa classe. A única linguagem que os Conservadores entendem é a ação. Uma aliança dos trabalhadores do setor público, ferroviários e energético precisa ser forjada e eles devem se preparar para a ação sindical. O TUC precisa chamar um dia de greve geral em apoio aos mineiros. (17)
Se o movimento trabalhista fizer frente à Major agora ele pode forçar o governo a acabar com o massacre das minas e mesmo forçar todo gabinete Conservador a se retirar por meio de uma eleição geral.
Ao fazer este chamado, pontuamos as lições da história. A luta de 1984-85 não foi perdida porque aos mineiros faltasse determinação mas por causa do papel covarde dos líderes sindicais e Trabalhistas. Neil Kinnock viu a greve como uma distração, um ano perdido para o Trabalhismo eleitoralmente. Mas este estava em seu auge nas pesquisas de opinião ao fim da greve. Dois anos depois ele perdeu outra eleição geral. Os líderes do TUC se recusaram a chamar uma ação solidária, mesmo quando os fundos do NUM foram tomados por lutar para salvar os empregos de seus membros.
O sentimento era tão grande que os mineiros chamaram junto com o TUC,uma manifestação de massas no domingo 25 de outubro. A brilhante mudança no sentimento resultante destes eventos gerou um interesse intensificado em política, refletido na atividade do Militant, e seus apoiadores. Nas manifestações em todo país os jornais eram literalmente arrancados das mãos dos vendedores com os trabalhadores ansiosamente procurando informação sobre a alternativa para os mineiros e o movimento trabalhista como um todo. Para o ato de 25 de outubro nossa 1ª página chamou por uma greve geral de 24 horas: “Ação de massas para os mineiros!” (18)
Mais de 100.000 trabalhadores marcharam numa enorme mostra do poder da classe trabalhadora. Era evidente que a causa dos mineiros gerou apoio entre a classe média e muitos que normalmente viam com desdém as manifestações dos trabalhadores pelas ruas de Londres. No comício no Hyde Park o chamado de Arthur Scargill para o TUC organizar um dia de ação evocou aplausos massivos. Contudo, os líderes do TUC, era evidente, queriam mais um vez limitar a campanha a apelos à “melhor natureza” dos Conservadores. A necessidade de ação era urgente já que o governo estava propondo o fechamento das 10 minas mais ameaçadas em menos de 90 dias. Se o TUC não estava preparado para chamar por ação o Militant dizia que “o NUM deveria”. Acima de tudo apelava para que:
Arthur Scargill deve fixar a data para o dia de ação e da base outros ativistas sindicais devem transformá-lo numa vitoriosa parada de um dia. Os mineiros devem ir à outros trabalhadores e apelar para que se unam a eles. (19)
Também apelamos para que grupos individuais de mineiros tomassem tal iniciativa da base.
Embora o ato de 25 de outubro fosse menor que a marcha de massas de 1990 contra o poll tax, a presença de faixas sindicais e faixas da minas que enchiam as ruas do West End de Londres significou a emergência da classe trabalhadora organizada pela 1ª vez,em tal escala, desde a greve dos mineiros de 1984-85. A presença de muitas pessoas da classe média na manifestação expressou o fato de que muitos donos de pequenos negócios e lojistas foram arrastados pelo movimento trabalhista. Isso ocorre invariavelmente quando a massa dos trabalhadores se movem em luta. Mas com que desgosto muitos escutaram no Hyde Park um representante da Confederação da Indústria Britânica (CBI) e o líder Liberal Democrata Paddy Ashdown. O que muitos trabalhadores do setor público que marcharam em apoio ao mineiros pensaram de líderes sindicais ao lado dos patrões do CBI que acreditavam que seu pagamento deveria ser congelado? Estes representantes do capitalismo receberam uma saudação muito rude dos trabalhadores.
Análise confirmada
Militant, virtualmente sozinho, disse no dia seguinte após o triunfo de Major em 9 de abril que não seria um governo forte mas um tão fraco quanto a economia britânica que tentava se manter. Os líderes sindicais e Trabalhistas de direita estavam fechando as comportas por um longo período. Ao contrário, a edição pós-eleição do Militant International Review disse:
Não obstante a oposição domesticada servida pela1ª linha de deputados trabalhistas, os terremotos sociais que se aproximam podem estilhaçar o governo. (20)
Apenas seis meses depois este governo estava de joelhos. Um grande empurrão e ele poderia ser arrasado – tirado do cargo, junto com suas políticas de destruição de empregos.
Mas a vitória apenas poderia ser obtida por uma estratégia calculada e claras demandas de ação. Enquanto ajudava os mineiros de todo modo possivel o Militant também apelava para uma greve geral de 24 horas. Duas poderosas manifestações, em 21 e 25 de outubro, de fato trouxe a questão da greve geral de volta à agenda.
Uma ação ousada era necessária para o governo ser forçado a se retirar. A idéia de uma greve geral total era muito avançada para o movimento. Esta idéia foi mais de uma vez posta por alguns. Uma destas organizações era o Socialist Workers’ Party, cujo líder Cliff afirmava que se o SWP tivesse o dobro de seus alegados 6.000 membros teria peso para transformar as manifestações dos mineiros em uma marcha a Downing Street que teria resultado na derrubada do governo!
O jogo irresponsável com a idéia de uma greve geral total não tinha nada em comum com o verdadeiro marxismo. Numa greve geral a classe trabalhadora desenvolve seus próprios organismos locais para organizar a greve,para decidir que produtos essenciais – como comida e medicamentos – devem continuar a produzir e a distribuir e que trabalhadores essenciais devem continuar a trabalhar. Na greve geral de 1926 estas organizações se desenvolveram em torno dos conselhos sindicais – os conselhos de ação. Estes cresceram em poder e força e a greve estava ganhando uma velocidade ainda maior quando os líderes sindicais de direita chamaram o fim da greve. Numa greve geral dois centros alternativos de poder enfrentam um ao outro. As autoridades governamentais oficiais, cujas instruções são ignoradas pela massa da população, e o novo poder operário, que está tomando as decisões sobre o que é produzido e o que se move. Nesta situação tudo o que é necessário é os comitês operários se ligarem a nível nacional e um novo poder de governo em potencial – um estado operário democrático – pode existir para desafiar o domínio do capital. Uma indefinida greve geral e uma situação “sim/não”. Não pode durar para sempre; em alguma etapa o cansaço da classe trabalhadora toma conta a menos que esta tome firmemente o poder. Ou isso acontece e a classe trabalhadora reorganiza a sociedade em linhas socialistas, ou o capitalismo está livre para impor-se.
Uma oportunidade única existia em outubro de 1992 para chamar uma ação sindical de 24 horas decisiva que poderia encerrar o capitalismo britânico e demonstrar o poder da classe trabalhadora. Tempo é essencial em política. Uma oportunidade favorável deve ser agarrada por uma direção de vistas longas. Arthur Scargill ganhou um prestígio enorme porque seu alerta sobre o massacre de fechamento das minas foi justificada pelo anúncio de Heseltine. Ele também chamou por um dia nacional de ação se os Conservadores não encerrassem seu programa de fechamento das minas. Mesmo em novembro quando a questão de 10 minas sob a sentença imediata de fechamento depois do fim dos 90 dias de moratória o impulso para a ação era evidente. O que levou à questão de que tipo de ação.
Nosso chamado para uma greve geral de 24 horas recebeu apoio generalizado. Ao mesmo tempo também chamamos o NUM para “marcar o dia” se o TUC continuasse a prevaricar. A questão de ocupação das minas também entrou a agenda como um meio de aproveitar o apoio massivo reunido em torno dos mineiros. O Militant chamava: “Organizar a ação! Preparar para ocupar as minas! NUM – marque o dia para uma greve geral de um dia!” (21)
À medida que o ano terminava as questões geradas por estes slogans foram debatidas vivamente entre os mineiros e trabalhadores em geral. Contudo, outubro de 1992 deve ser vista como uma grande oportunidade que foi infelizmente perdida devido à falta de clareza e ação decisiva. Os mineiros poderiam esmagar completamente o governo Conservador, levando possivelmente à sua queda. Mas a classe dominante britânica, através de suas instituições e partidos, aprendeu como se inclinar com o vento. O governo ganhou tempo, criou comissões e mandou a questão para uma comissão parlamentar especial; prevaricaram até o sentimento gerado pelo fechamento evaporou e então puderam fechar as minas em segurança.
3.570 votos para o SML
Em meio a estes desenvolvimentos o Scottish Militant Labour mais uma vez assombrou os adversários por fazer mais progressos na pré-eleição regional de Strathclyde. Nas pré- eleições de Govan e Barlanark feitas no mesmo dia em novembro, ganhamos 3.570 votos – 38% do total. O Trabalhismo ficou em 2º lugar com 3.217 votos – 34%, seguido pelo SNP com apenas 2.415 (26%). Em Barlanark e Queenslie, Willie Griffin em nome do SML ganhou magníficos 1.799 votos dos 1.279 do Trabalhismo para levar a cadeira. SML ficou em respeitável 3º na área mais difícil para ele em Govan e Drumoyne. O SNP ganhou com 2.076 votos, O Trabalhismo em 2º, com 1.939. Nosso candidato Alan McCombes teve 1.771 votos, o Partido Comunista apenas 50 votos! As eleições significaram que 2 terços do distrito de Glasgow Provan, um dos assentos mais seguros para o Trabalhismo na Grã-Bretanha era agora representado pelos vereadores do SML. Antes da eleição nossos adversários diziam que nosso apoio era restrito aos conjuntos habitacionais periféricos. Mas o resultado de Govan/Drumoyne, embora Alan McCombes não ganhou, destruiu este mito com quase 2.000votos trabalhadores para o SML. O Daily Record de novo registrou
Noite da miséria do Trabalhismo nas eleições. O Trabalhismo foi deixado em estado de choque noite passada depois de derrota esmagadora em 2 das suas fortalezas em Glasgow. Um jubilante Militant deu o primeiro golpe sangrento quando teve um enorme êxito na vitória em Queenslie/Barlanark… A moda do SML passou com uma vitória impressionante. (22)
O editorial do Evening Times comentou:
O povo perdeu a fé no Trabalhismo como campeões dos pobres. A perda de dois distritos de Glasgow… pode não ser particularmente séria mas o que deve preocupar o Trabalhismo é que isso é a continuação de uma tendência. Se ele encontrar defecções para o Militant se espalhando para as regiões de Lanarkshire e Ayrshire o partido pode ter um grande problema em suas mãos. (23)
O Herald foi além:
Cada vez mais, o partido localmente adquiriu a reputação inviável de plataforma de lançamento para políticos de carreira mais do que um instrumento para melhorar o conjunto da classe trabalhadora. Muitos vereadores Trabalhistas caem muito facilmente nos jogos do poder político perdendo o sinal de faces raivosas e desesperadas que os colocaram lá. (24)
O SNP, contudo, não teve muito conforto de conseguir uma vitória por margem tão estreita em Govan. O líder do SNP Alex Salmond admitiu ao Sunday Times, “O Militant é uma ameaça para o SNP assim como para o Trabalhismo.” (25)
Entrevista de Ken Loach
Ken Loach é provavelmente considerado o mais destacado diretor de filmes dos últimos 30 anos capaz de capturar muitos aspectos da vida da classe trabalhadora. Famoso por Cathy Come Home em 1966 e Kes em 1969 assim como Hidden Agenda, ele dirigiu um filme no inicio de 1993, Raining Stones. Riff-Raff, era a história de um sitio de construção o qual, fora Business As Usual, continha provavelmente a única referência favorável à câmara de Liverpool durante o período de 1983-87 que já apareceu num filme. Explicando numa entrevista ao Militant porque ele tomou uma clara posição política, disse:
é inevitável que eu me pergunte. No fim você apenas pode fazer filmes sobre coisas que lhe emociona e eu suponho que o que eu encontrei me emociona.
Explicando porque muitos outros evitavam qualquer comentário político Loach declarou:
filme e uma mercadoria, especialmente de cinema. No cinema cada filme tem que mostrar um retorno e toda a tradição da cultura do cinema é construida sobre um bom fim de noite, sobre escapismo, não há uma cultura de cinema de engajamento político. Na TV é um tanto diferente porque há uma extensão maior de produção televisiva. Ai há claramente um lugar para filmes engajados e documentários que lidam com questões políticas.
Perguntado sobre o Militant, Ken Loach declarou,
Não estou em posição de dar uma análise detalhada porque não tenho lido o jornal recentemente. Mas absolutamente defendo o direito do Militant e de qualquer outro jornal da esquerda, como partes que contribuem ao movimento trabalhista. A esquerda apenas floresce numa discussão aberta onde uma análise é posta contra outra. É como uma ideologia radical é formada, tem que ser argumentada e todos temos que fazer contribuições a partir de uma posição marxista básica. Penso que o lado negativo disto é o sectarismo. Nenhum de nós admite ser sectário mas não obstante o sectarismo existe, o que é uma grande lástima. (26)
John Pilger
John Pilger também deu uma entrevista. Perguntado porque ele saiu contra as expulsões, disse: “Vi o modo como Terry Fields e Dave Nellist foram tratados.Tentei pintar um quadro nacional representativo de como o expurgo era conduzido. E estava claro em muitas áreas que pessoas que não tinham absolutamente nada a ver com o Militant estavam sendo expulsas”. Nosso repórter perguntou se isso significava que estava OK livrarem-se de nós, mas não de outros da esquerda:
Não, nem um pouco, eu não quero sugerir isso. Acredito que as pessoas que apóiam o Militant seguem a tradição de dissidência dentro de uma organização e têm tanto direito às suas visões quanto qualquer um.
Ele comparou a estratégia dos líderes Trabalhistas àquela da tentativa do Daily Mirror de combater o Sun copiando-o – destruindo sua própria identidade enquanto apenas criava uma imitação ruim. Ele também reconheceu as realizações impressivas do Scottish Militant Labour, que ele via como tendo se movido em um “cerco político – meramente defendendo apenas a si próprio do ataque de outras pessoas – e à sua comunidade.” (27)
Tire as mãos da nossa água
Recusando-se a descansar sobre seus louros,o SML também tomou a iniciativa da campanha para impedir a privatização da água escocesa. Nenhuma questão, nem mesmo o poll tax, levantou tal ultraje por toda a Escócia quanto esta ameaça Conservadora. As pesquisas de opinião mostraram que 90% da população escocesa estava horrorizada com os planos de vender para interesses privados uma mercadoria que a Escócia tinha em abundância. Contudo, a TV escocesa apresentou a notícia, “Tommy diz não paguem.” (28) O Scottish Militant Labour tomou a iniciativa de criar a “Tire as Mãos da Água” (HOW) e uma conferência de fundação foi realizada com 160 delegados de toda Escócia. Representantes de muitos outros partidos atenderam mas apenas Christine McVicar pelo Scottish Militant Labour apresentou uma campanha clara envolvendo desobediência civil organizada, ligada às comunidades da classe trabalhadora e o movimento sindical. Ela prometeu que o SML não voltaria atrás quando o processo se agravou e pontuou o sucesso eleitoral do SML como prova da popularidade de toda campanha.
Dundee
A batalha eleitoral foi extendida além de Glasgow e o Oeste da Escócia, a principal base do SML, com a decisão de se candidatar na pré-eleição no distrito de Blackshade em Dundee. Na campanha de 3 semanas o SML conseguiu em torno de 300 votos, 35% dos votos nos conjuntos habitacionais de Ardler. O Trabalhismo mobilizou MPs, MEPs, vereadores e diretores profissionalizados, já que eram incapazes de encontrar um candidato, sem falar de um só ativista de Ardler que pudesse fazer campanha por eles. Em 4 semanas 500 cópias do Militant foram vendidas num distrito com um eleitorado registrado de apenas 2.000. Numa reunião pública com 50 presentes a candidato do SML, Liz McBain, falou junto com Tommy Sheridan. Dezessete novos membros foram recrutados para o SML. A parte Trabalhista dos votos caiu de 60 para 45%, o mais baixo que eles já receberam em Ardler.
Nos candidatamos em Lambeth
Procurando imitar as realizações de seus correligionários escoceses, os apoiadores do Militant em Londres decidiram lançar um candidato na pré-eleição do distrito de Bishop’s no munícipio londrino de Lambeth. O candidato era Steve Nally, que conseguiu uma proeminência nacional como secretário da Federação Anti-Poll Tax da Grã-Bretanha. Lambeth era um dos mais necessitados municípios de Londres, senão de toda Grã-Bretanha. Uma em 4 pessoas estavam desempregadas, 50% eram dependentes de alguma forma de benefício e 75% viviam abaixo do linha de pobreza européia. A câmara, um dos fárois na luta contra o governo Conservador durante os anos 80, estava, sob a direita Trabalhista nos anos 90, passando os cortes Conservadores ao povo local. Em 1993 os vereadores Trabalhistas já tinham cortado £9 milhões do orçamento e estavam propondo outro corte de £15 milhões. Isso significaria pelo menos mil pessoas sendo demitidas de uma força de trabalho de 7.000, o preço dos meals-on-wheels [programa de almoços para idosos entregues em casa, subsidiado pelo governo] subindo 15%, lanches escolares crescendo 10 pence por dia, aluguéis aumentados em £6-£8 por semana e 6 ou 8 centros de lazer fechados. Além disso os 2 vereadores Trabalhistas do distrito disseram que iriam votar pelos cortes. Steve Nally estava entre os vários membros do Militant na área, incluindo a vereadora Trabalhista Anne Hollifield, que foi expulsa do partido por se posicionar pelos trabalhadores. Muitos debates e ponderações ocorreram entre os apoiadores do Militant em Londres antes de tomar a decisão de se candidatar. Havia uma hesitação natural em mergulhar numa luta eleitoral numa área onde o Militant não tinha as mesmas raízes, como por exemplo, em Liverpool ou Glasgow. Além disso, Lambeth, como Liverpool, tinha sido o alvo de violentas denúncias da chamada “esquerda lunática” pelos Conservadores e seus mercenários na imprensa. Apesar de tudo, se decidiu pelo mergulho e o resultado foi uma vitoriosa campanha que estabeleceu o Militant Labour como uma poderosa força na área.
Como na Escócia, uma das características da campanha no distrito de Bishop foi o envolvimento de trabalhadores que antes permaneciam impermeáveis à mensagem dos “políticos”. Um destes era Jacquie Lloyd que vivia apenas em frente à Câmara dos Comuns mas sentia como se vivesse um milhão de milhas longe dos MPs que supostamente a representavam: “Eu apenas votei uma vez desde que vivo aqui porque estou muito decepcionada com eles.” (29)
Sua experiência com políticos, locais e nacionais, era de cortes e insultos. Típico de muitos moradores das áreas internas de Londres ela era capaz de recitar de cor um catálogo de problemas, grave escassez de professores nas escolas, aumento de aluguéis e demandas do poll tax. O aumento de £7 nos aluguéis imposto pela câmara foi um verdadeiro choque e isso a levou a considerar votar no candidato Militant. Naturalmente, as pessoas poderiam perguntar qual diferença poderia um vereador fazer na câmara local. Anne Hollifield, vereadora Trabalhista desde 1990, respondeu:
Bem, sou capaz de fazer um pouco. As pessoas de Lambeth não vão para a cadeia por não pagar seu poll tax – Consegui que a câmara votasse favoravelmente sobre isto. Lutei por 18 meses e consegui um comitê de trabalho para ver todos os casos do poll tax. Ajudei a parar o fechamento dos serviços para a educação da juventude. (30)
A campanha eleitoral do Militant Labour foi única. Houve a usual cobertura de porta em porta ao lado de ações com o povo local para mudar suas condições. Durante a campanha 205 mulheres trabalhadoras municipais pressionaram a câmara de Lambeth contra a ameaça de fechamento de creches e centros de lazer e a demissão das trabalhadoras. Julie Donovan reportou:
Tinha organizado uma reunião para criar uma Campanha de Defesa da Maternidade mas alguém percorreu cada creche e centro de lazer em Lambeth fingindo que a reunião tinha sido cancelada. Mas a sabotagem não parou a organização. (31)
Pressão do Militant e outros forçaram a câmara a retirar a ameaça de demitir 6 acompanhantes de idosos.
O Militant não esperava ganhar na 1º vez. Contudo, Steve Nally numa curta campanha de 3 semanas saiu de lugar nenhum para deixar os Conservadores em 4º lugar. Ele recebeu 336 votos, 12% dos que votaram. Isso era apenas 5 votos a menos do que os Liberais tiveram em 1990 e agora eles ganharam o assento do Trabalhismo.Foi um resultado infeliz do ponto de vista do Trabalhismo. Perder um assento como esse para os Liberais foi uma condenação das políticas de direita da câmara de Lambeth: aumento de aluguéis de £6 – £10 por semana, no valor de £12 milhões de cortes e a demissão dos trabalhadores. O Militant em seu 1º teste eleitoral em Londres bateu os Conservadores, o representante do partido e da classe governantes da Grã-Bretanha.
Os votos para Steve Nally não dão o quadro todo. 600 pessoas compraram nosso jornal. Nossa banca, posta em todos os dias durante a campanha, assim como nossos métodos eleitorais de muito impacto, levantou enorme interesse na campanha. 41.6% do distrito votou, muito mais do que os 28% que votaram numa pré-eleição contígua apenas 3 semanas antes. 12 pessoas concordaram em se unir ao Militant e mais 20 preencheram cartões expressando interesse em nossas idéias. Para um Partido Trabalhista cada vez mais esvaziado do socialismo pela ala direita, nossos métodos eleitorais eram de outro planeta. Ele confiava crescentemente num punhado de ativistas, e na campanha por telefone e mídia. A única vez que o partido saiu às ruas de Lambeth para dizer aos ativistas do Militant: “O povo comum não está interessado em política” ou para gritar “F… -se” para 2 mulheres que cometeram o ‘erro’ de perguntar ao vereador Trabalhista local quais eram suas políticas. (32)
Batalha de Timex
Na Escócia, enquanto isso, a batalha de Timex começou. Ela se desenvolveu em uma das épicas lutas sindicais dos anos 90. O anúncio da demissão de metade da força de trabalho levou à ação grevista em defesa dos empregos e condições. Isso levou a um lockout e demissões em massa.Uma mulher, que trabalhou na Timex por 15 anos, comentou para nós:
Tivemos um dia de greve pelas creches. Durante a greve dos mineiros, coletamos e fizemos pacotes de comida para as vilas mineiras. A mulher tricotou roupas para os filhos dos mineiros. (33)
Seu apoio para outros trabalhadores em greve no passado foi recompensado com o enorme apoio da classe trabalhadora escocesa e do movimento trabalhista.Dentro de um mês chegou apoio de toda Grã-Bretanha. A greve levou para longe a idéia que a militância sindical “não mais se aplica”. Os trabalhadores da Timex estavam lutando por muitos outros enfrentando a des-sindicalização e piora das condições. Nos meses que se seguiram, as cenas fora dos portões de Timex eram de oposição de massas, piquetes de massas de trabalhadores de Dundee, da Escócia e de toda Grã-Bretanha. O Militant apelou para a Central Sindical Escocesa para chamar uma imediata greve de protesto de um dia na Escócia. O STUC pelo menos tomou a iniciativa de chamar uma manifestação de toda Escócia em Dundee no 20 de março.
Derek Hatton absolvido
Em março o resultado de 2 anos e meio de inquérito, a Operação Cheetah, foi anunciada. Derek Hatton e 4 outros acusados foram absolvidos de conspiração para fraudar a câmara municipal de Liverpool sobre 2 sítios de estacionamentos que jaziam abandonados desde que Hitler os bombardeou em 1942. A polícia admitiu: “Não houve nenhuma razão especial para iniciar a Cheetah, apenas rumores.” Nós comentamos:
Este processo não tinha nada a fazer com a venda de terrenos. Foi politicamente inspirado, projetada para atacar Derek Hatton e destruir a reputação dos 47 vereadores Trabalhista de Liverpool multados e do Militant. (34)
Os Conservadores nunca esqueceram ou perdoaram, como com os mineiros, a derrota humilhante que sofreram nas mãos da ‘câmara Militant’. Sua imprensa, seu estado e seu judiciário perseguiram uma vendetta contra o Militant e a esquerda e foram auxiliados nisto pela direita Trabalhista. Mesmo o Independent pontuou que:
Muitos advogados, incluindo oponentes implacáveis do sr. Hatton, descreveram a Operação Cheetah como um desastre antes do processo ser aberto… A evidência era tão ambígua que o processo era mal justificada. (35)
Ao perseguir Derek Hatton eles não queriam apenas desacreditá-lo totalmente mas também as idéias que ele representou em 1983-1987. Derek Hatton se separou do Militant em 1988 e explicou na época que seus interesses de negócios significavam que ele não mais poderia ser visto como um porta-voz do Militant. Mas, se ele fosse condenado haveria quilômetros de cobertura sobre Derek Hatton e o Militant:
Antes do veredicto ser anunciado um pesquisador de TV chegou a dizer à Militant de Liverpool Lesley Mahmood que eles usariam todos os seus arquivos de Derek se ele fosse condenado e se não eles apenas cobririam a história. (36)
Os MPs Trabalhistas de direita Peter Kilfoyle e Jane Kennedy atreveram-se a pronunciar declarações condenando o Crown Prosecution Service e exigindo saber porque o processo não foi adiante! As ações da ala direita, especialmente Neil Kinnock e Roy Hattersley, que denunciaram os vereadores como “corruptos”, pavimentaram o caminho para os inquéritos policiais. Comentando sobre os resultados do inquérito, nós dissemos:
A polícia teve agora de encerrar a Operação Cheetah. Mesmo eles perceberam que os £20 milhões foram um monte gasto por nada. Esse montante foi o equivalente àquele ganho pelos 47 vereadores do governo Conservador, que ajudou a construir casas e criar empregos. Tivessem os £20 milhões sido dados à câmara em 1992, mil demissões compulsórias não teriam sido necessárias e as famílias daqueles trabalhadores não estariam ‘existindo’ no seguro-desemprego. (37)
O resultado da Operação Cheetah foi não apenas um repúdio da polícia mas também daqueles violentos órgãos capitalistas como o Sunday Times de Rupert Murdoch, que orquestrou a campanha contra Derek Hatton e o Militant. Eles ligaram alegados acordos de terreno com dinheiro que supostamente iria para o Militant. Eles publicaram manchetes como: “Fraude enche os cofres do Militant – diz polícia.” (38) O Detetive Superintendente Bill Coady, chefe do inquérito Cheetah, alimentou esta atmosfera de suspeita declarando: “Há agora uma forte sugestão que fundos de acordos de terreno pode ter ajudado a financiar o Militant.” (39)
Militant refutou cada uma destas alegações feitas pelo Sunday Times e seus repórteres. A imprensa, é claro, nunca publicaram nada disto. Depois do colapso da Operação Cheetah, nenhuma palavra retratando-se das mentiras anteriores apareceu no Sunday Times ou em qualquer imprensa de Murdoch.
1 Militant 1091 5.6.92 2 Militant 1093 19.6.92 3 Militant 1109 30.10.92 4 Militant 1095 3.7.92 5 Militant 1100 21.8.92 6 Glasgow Evening Times 4.9.92 7 The Scotsman 4.9.92 8 Glasgow Herald 4.9.92 9 Scotland On Sunday 6.9.92 10 Militant 1102 11.9.92 11 Scottish Television 4.9.92, citado no Militant ibid 12 Radio Clyde 4.9.92, citado ibid 13 Militant 1102 11.9.92 14 Radio Clyde 4.9.92, citado ibid 15 Militant 1106 9.10.92 16 ibid 17 Militant 1107 16.10.92 18 Militant 1108a 24.10.92 Uma edição especial do número 1108 foi produzida para o ato de domingo. 19 Militant 1109 30.10.92 20 Militant International Review 48 Summer 1992 |
21 Militant 1111 13.11.92 22 Daily Record 30.10.92 23 Glasgow Evening Times 30.10.92 24 The Herald 26.10.92 25 Sunday Times 1.11.92 26 Militant 1116 8.1.93 27 Militant 1121 12.2.93 28 Militant 1119 29.1.93 29 Militant 1126 19.3.93 30 ibid 31 ibid 32 Militant 1128 2.4.93 33 Militant 1125 12.3.93 34 Militant 1126 19.3.93 35 The Independent 13.3.93 36 Militant 1126 19.3.93 37 ibid 38 Sunday Times, citado no Militant, ibid 39 Sunday Times, ibid |