A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994
A eleição geral de 1992
A principal questão enfrentada por nós no começo de 1992 era a eleição geral. Tommy Sheridan disputaria a eleição de sua cela pessoal. Numa carta da prisão ele declarou:
Estou me candidatando em Glasgow Pollok para oferecer uma alternativa radical e principista ao recuado candidato Trabalhista e a retórica vazia dos Nacionalistas. (1)
Dave Nellist também declarou sua candidatura por Coventry South East sobre um programa socialista combativo. Após 4 dias do começo da campanha, 1.000 cartazes cobriam as ruas do distrito de Dave. No bairro chave de Willenhall o candidato Trabalhista imposto tinha só 4 cartazes, comparado aos 400 de Nellist. Até mesmo o Coventry Evening Telegraph foi forçado a admitir, rangendo os dentes que “pelo menos ele acredita no que ele propõe”. (2) O candidato Trabalhista Oficial, Jim Cunningham, teve que depender de apoio de fora já que os membros locais do partido assim como centenas de outros de fora enchiam a campanha de Nellist.
A campanha de Terry Fields, de outro lado, combinou o tradicional porta-a-porta com a última palavra em tecnologia. Centenas de cópias de um vídeo de Terry e apoiadores locais explicando porque votavam nele era outra “novidade” para uma campanha política na Grã-Bretanha.
A maioria da cobertura do Militant se concentrou nas campanhas de Sheridan, Nellist e Fields. A campanha de Tommy Sheridan foi única. Longe das reuniões de massa dentro do distrito, havia conferências de imprensa dentro da prisão. Estas eram realizadas na prisão de Edinburgh Saughton onde o “prisioneiro de 2/92” realizava audiências com a imprensa escocesa e mundial. Ronnie Stevenson descreveu a cena:
Tommy foi guiado adentro, vestido no uniforme regular da prisão de calças azuis e uma camisa listrada. Apesar de um choro longínquo de uma sala na City Halls em Glasgow, foi bom para aqueles do lado de fora ver Tommy de novo e o saudamos em solidariedade. Foi um momento emocionante. Cuidamos para atrair mais do que o dobro de jornalistas que estiveram na conferência de imprensa do Conservador Secretário de Estado Escocês, Ian Lang, antes naquele dia… Tommy terminou com uma mensagem simples. Uma simples verdade que ressoava pelo salão da conferência da prisão de Saughton quando a deixamos: “Não somos pelo compromisso. Nosso manifesto é pelo socialismo sem receios. É um manifesto para mudar o modo como nossa classe vive. Os muros da prisão não alteram a realidade.” (3)
Um relato detalhado da incrível campanha pode ser encontrado no excelente livro de Tommy Sheridan, A Time to Rage.
Igualmente expressiva foi a campanha em Broadgreen. O apoio a Terry Fields era visível, especialmente quando o líder Liberal Paddy Ashdown decidiu fazer uma visita em apoio a sua candidata, Rosemary Cooper. Ele “deu uma passada” nos apartamentos de St Oswalds Garden em Old Swan, um dos mais críticos cortiços em Liverpool. Ele foi confrontado com uma propriedade inundada com cartazes “Vote Terry Fields”. O único representante local a se ocupar com as condições dos inquilinos, que eram abomináveis, era Terry. Mulheres da Associação de Inquilinos gritaram para Rosemary Cooper: “O que está fazendo aqui? Depois de nosso vote, é você, amor? ou você vai voltar a votar por mais aumento de aluguéis e demissões?” (4) Dave Nellist também evocava tremenda simpatia e lealdade dos trabalhadores em seu distrito, exemplificado pelo comentário de uma mulher que colocou £5 em sua mão enquanto ele fazia campanha:
Estou muito grata pelo que Dave tem feito por esta cidade. Se os MPs Trabalhistas vierem aqui, diga a eles para ficar longe ou ir para qualquer outro lugar onde o Trabalhismo precise de uma mão para surrar os Conservadores. (5)
Belfast
Um menos conhecido, mas não obstante, importante aspecto da eleição de 1992 para nós, foi a candidatura de Peter Hadden. Ele se candidatou pelo Trabalhismo e pelo Grupo Sindical em Belfast Sul. Ele concorreu com um programa de unidade de classe entre trabalhadores Católicos e Protestantes contra o inimigo capitalista comum. Um trabalhador protestante disse, “Trabalhismo? Sem problema. Você me convenceu. Perdi 4 amigos. Votarei pelo Trabalhismo desta vez”. (6) Por mais exaustiva que fosse a campanha na Grã-Bretanha, não se pode comparar à situação na Irlanda do Norte onde era extremamente perigoso não apenas se candidatar, mas também fazer campanha. Peter Hadden e sua família por pouco escaparam de serem feridos por uma bomba terrorista durante a campanha. No meio da noite Peter, sua companheira e seu filho de duas semanas tiveram dez minutos para escapar da casa quando uma bomba foi plantada numa estação de policia da RUC nos arredores.
Dia da eleição
Nenhum candidato, concorrendo como alternativa socialista independente do Trabalhismo ou sob a bandeira do Militant ganhou um assento nesta eleição geral. Não obstante, eles alcançaram mais trabalhadores com as genuínas idéias do socialismo e do marxismo do que seria possível sob o rótulo do Partido Trabalhista. Os esforços colossais para a reeleição de Terry Fields em Broadgreen foram o centro do programa de uma hora do Cutting Edge no Canal 4 após a eleição. Intitulado Camaradas, permitiu a apoiadores comuns, assim como ao próprio Terry Fields, explicar o que os motivaram e como eles se identificaram com as lutas para resolver os problemas do povo trabalhador comum. O programa teve um efeito considerável, atraindo novos apoiadores e reanimando antigos.
De acordo com a reportagem confiável de Butler e Kavanagh sobre a eleição geral de 1992, Tommy Sheridan obteve o maior resultado do que qualquer candidato independente, ou do que um MP independente, desde 1945.
Na manhã seguinte à eleição, Ken Livingstone atacou a “taxa do desastre” da direção Trabalhista. Qualquer um pode ser sábio depois do evento. Mas fora o Militant, a esquerda estava silenciosa durante a eleição. Acima de tudo, o Trabalhismo falhou maciçamente em mobilizar a juventude,que estava entre os mais despossuidos, raivosos e ressentidos. Neil Kinnock declarou durante a eleição que “nossas políticas são extremamente prudentes”. O resultado foi que 44% daqueles entre 18 e 35 anos não votaram na eleição geral de 1992. Muitos não estavam registrados por causa do poll tax, e outros conscientemente decidiram não votar.
Dave Nellist esteve tentadoramente perto da vitória em Coventry South East. O candidato Trabalhista imposto recebeu 11.902 votos, o Conservador 10.591 e Dave Nellist 10.551. Bem atrás estavam os Liberal Democratas com 3.318 e a Frente Nacional com 173. Dave Nellist e seus apoiadores sabiam que se a eleição fosse vista como apertada nacionalmente o povo estaria mais inclinado a votar no Trabalhista Cunningham. Havia um desespero em se livrar dos Conservadores. A vitória de Cunningham não foi um endosso às suas políticas. Ele dificilmente foi visto durante a eleição. Muitos que votaram em Cunningham ficaram depois amargamente desapontados por terem perdido um MP socialista e o Trabalhismo ainda estar na oposição. Um trabalhador telefonou para Dave Nellist e se desculpou: “Se ele tivesse noção de seu apoio, e que os Conservadores ganhariam nacionalmente, ele teria votado em Dave. Muitos Trabalhistas leais agora se sentiam assim.” (7)
De fato quando ficou claro que o Trabalhismo perdeu a eleição nacional, o desapontamento se tornou desgosto e raiva em Coventry Sudeste à medida que muitos percebiam que perderam um brilhante MP, enquanto ao lado os Conservadores ganharam em Coventry Sudoeste. Os membros locais do Partido Trabalhista ficaram furiosos pelo fato que muitos deles foram convocados ao Sudeste para combater Dave Nellist e não os Conservadores: “Três funcionários tiveram tempo de fotografar nossas urnas no dia da votação mas não tiveram para obter votos no Sudoeste. “Na noite da eleição a observação foi ouvida de membros do partido, mais de um: “Vou rasgar este cartão e pegar um do Militant.” (8)
Apesar do resultado, os apoiadores do Militant foram encorajados pelo que foi obtido na campanha eleitoral. Os adversários afirmavam que Dave Nellist não conseguiria mais de mil votos. Houve até mesmo uma campanha consciente de esconder o candidato Trabalhista da mídia e do debate. Cinicamente usando a lei eleitoral para negar a Dave Nellist uma voz eles não fizeram nenhum ataque local que pudesse lhe dar o direito de resposta. Ao invés, os técnicos Trabalhistas usaram uma série de chefões de fora para ataca-lo. Dave Nellist era alegadamente um “divisionista” e “um bandido”.
The Guardian reportou que “A grande verdade, penso, é que os estrategistas nacionais Trabalhistas não se preocupavam muito mesmo se [os Conservadores] ganhassem. Seria um preço pior a pagar.” (9)
E a moral no campo do Trabalhismo imposto caiu mais e mais durante a campanha. Seu time profissional para cartazes estava num café local um dia quando Dave Nellist entrou. Eles estavam tão surpresos com as saudações a ele e sua popularidade que eles comentaram sobre isso e tiraram fotos com ele. Os trabalhadores mudaram o hábito de uma vida ao não votarem no Trabalhismo. 10.551 votaram em Dave Nellist apesar do medo da eleição do candidato Conservador. O professor de política Anthony King disse após a vitória Conservadora:
O impacto de Thatcher sobre a visão dos eleitores sobre a maioria dos temas foi mínimo. Seu sucesso foi com a elite da nação. Mesmo o Trabalhismo agora abraça, se com alguma má vontade, o livre mercado e a empresa privada. Os britânicos talvez anseiem por algo chamado socialismo. Isso não está mais em oferta. (10)
Ele estava errado; estavam em oferta em Coventry Sudeste e Liverpool Broadgreen, assim como em Glasgow Pollok. Os 5.952 votos para Terry Fields em Broadgreen foi tão memorável quanto para Dave Nellist. Nenhum outro candidato foi tão sujeito a um ódio de classe e a um abuso tão vis como Terry Fields. Muitos mais do que os que votaram de fato em Terry Fields concordavam com ele sobre a necessidade do socialismo e também que ele era o melhor candidato. Mas o poderoso desejo de se livrar dos Conservadores, especialmente numa Liverpool bombardeada pela recessão econômica, era o sentimento mais proeminente nas mentes dos trabalhadores. Até os mais hesitantes antes relutantemente votaram pelo candidato Trabalhista oficial. Urnas registravam que muitas cédulas de votação mostravam uma cruz para Terry rabiscada e substituída por uma cruz para o candidato trabalhista oficial Jane Kennedy. Mas houve muito arrependimento quando os resultados foram revelados. Eles abandonaram “um dos seus”, um combativo MP socialista, e um governo trabalhista ainda não se materializou. Quando no sábado seguinte à eleição Terry Fields e Broadgreen Socialist Labour saíram às ruas para agradecer ao povo por seu apoio, “muitos não podiam olhar Terry no olho. Em três meses você provavelmente não encontraria ninguém exceto ex-Liberais que admitiriam ter votado por Kennedy. A política tudo ou nada da direita Trabalhista trouxe um desastre total.” (11)
Na tentativa de derrotar Terry Fields, a direita desviou cabos eleitorais para candidato marginal Liberal Democrata de Alton, em Mossley Hill. Alton manteve seu assento. Por toda Liverpool, o voto Trabalhista caiu em termos absolutos. Algo disso foi devido à queda no registro eleitoral mas as políticas da direita Trabalhista desencantaram camadas inteiras da classe trabalhadora. Tommy Sheridan estava exultante. De sua cela de prisão ele declarou:
É um resultado incrível – nós fizemos história. Estou super-contente apesar de ser um candidato que está 60 milhas longe do meu distrito. Os ‘experts’ políticos da Escócia disseram que não teríamos mais de 2.000 votos. Disseram que estávamos a margem do partido pelo Trabalhismo desde o inicio. Mas ganhamos o 2° lugar, batendo os Conservadores e Nacionalistas e conseguindo 6.200 votos para políticas socialistas radicais. O SNP foi derrotado em Pollok, marginalizado nos conjuntos habitacionais, embora Pollok fosse considerado o segundo assento alvo do SNP depois do vizinho Govan… Declaramos depois deste resultado que o SML nasceu. (12)
Nada desde o legendário veterano de Red Clydesiders Willie Gallacher se candidatando pelo Partido Comunista na fortaleza mineira de West Fife, mais de 30 anos atrás, com qualquer candidato contra o Trabalhismo sobre um programa de esquerda socialista recebeu mais de 6.000 votos numa eleição geral na Escócia. Além disso, este voto foi obtido apesar da exclusão do registro eleitoral em Pollok, como resultado do poll tax, de mais de 5,000 eleitores potenciais do SML. Houve alertas terríveis de alguns, ficando em cima do muro, que o SML poderia ser dispensado pelos eleitores como uma seita irrelevante completamente fora de sintonia com o sentimento popular. Mas o voto para Tommy Sheridan foi 60 vezes maior do que os 106 votos para o Partido Comunista da Grã-Bretanha em Glasgow Central e quase 90 vezes maior do que os 73 votos para o Partido Comunista Revolucionário em Glasgow Hillhead.
Mesmo a mídia foi forçada a reconhecer a escala dos resultados do SML como o “maior choque na Escócia”. O ITN no dia seguinte à eleição reportou:
Estonteantes 6.287… jogando os Conservadores em 3º lugar… não é um mau resultado para um candidato que conduziu sua campanha da cela H.(13)
A eleição geral de 1992, a 4º vitória Conservadora consecutiva, foi vista como uma severa derrota para a classe trabalhadora e o movimento Trabalhista. Jovens camaradas, apoiadores do Militant, assim como centenas e milhares de Trabalhistas por todo o país, estavam em lágrimas por saberem que os Conservadores foram espremidos. Nos perguntavam como era possível, nas barbas da pior recessão econômica em 60 anos, que eles ainda se arrastassem? A direita Trabalhista, como sempre, desviou a responsabilidade deles mesmos para os ombros dos trabalhadores comuns. Os argumentos dos ideólogos capitalistas, de que houve uma virada fundamental rumo à direita na Grã-Bretanha, se tornou seu tema preferido. Martin Jacques, ex-editor do Marxism Today, refletiu isso
Entramos agora num mundo onde o Partido Conservador se tornou o permanente partido do governo, como os Liberal-Democratas no Japão e os Democratas Cristãos na Itália. (14)
Dentro de um ano os Liberal-Democratas no Japão e os Democratas Cristãos na Itália se cindiram e virtualmente quebraram sob uma montanha de escândalos de corrupção. Os Democratas Cristãos desapareceram. O Partido Conservador seguiria suas pegadas, dividido da cúpula à base e enfrentando uma aniquilação eleitoral. Virtualmente sozinho, mesmo na esquerda, Militant manteve esta análise, explicando que a eleição, por mais importante que fosse, refletia meramente um estágio na consciência da sociedade e da classe trabalhadora, que sob o impacto dos eventos pode mudar rapidamente.
Os Conservadores tiveram uma maioria de 21 assentos, mas não foi uma vitória esmagadora. Tiveram menos de 42% dos votos e se apenas 2.477 eleitores, espalhados eqüitativamente por seus 11 assentos mais marginais, tivessem votado contra eles, John Major teria falhado em conseguir uma maioria absoluta. O voto Trabalhista saiu de 28% em 1983 e 31% em 1987 para 34% em 1992. Cada parte da Inglaterra e Gales viu uma virada para o Trabalhismo, de 2.5% no Sudeste para 6% no Norte e Yorkshire/Humberside. Mas se tornou claro nos últimos dias da campanha eleitoral que os Conservadores vacilantes que estavam pensando em votar pelos Liberal Democratas ou se abster, voltaram atrás. Os Trabalhistas tiveram sucesso em atiçar o medo de que a menos que estas pessoas votassem neles, o Trabalhismo voltaria. O comparecimento subiu para 77.7% (de 73.2% em 1987) e a parte Liberal dos votos caiu de 22.5% para 19%. Isso foi suficiente para dar aos Conservadores votos extras que asseguraram sua vitória.
Trabalhismo desperdiça a vantagem do poll tax
Não obstante, isso não explica suficientemente como o Trabalhismo falhou em derrotar um governo que se tornou tão impopular e que 18 meses antes estava 25% atrás do Trabalhismo nas pequenas de opinião. Isso, é claro, era no meio da histórica batalha contra o poll tax. No auge 18 milhões de pessoas não estavam pagando a taxa. Mais 7 milhões que se recusaram a pagar a taxa de fato votaram no Trabalhismo na eleição. 5 anos antes o Trabalhismo também conseguiu uma vantagem similar no meio da greve dos mineiros. A cada vez esta vantagem evaporava. Se a direção Trabalhista apoiasse estas lutas ao invés de se embaraçar por elas, e além disso expulsando os que lideravam esta batalha, então a atitude dos não-pagadores poderia ser diferente. Ela de fato disse que poderia perder votos ao desafiar o governo. Eles portanto capitularam aos Conservadores – e ainda perderam! Consistentemente alertamos que as pesquisas de opinião, até no próprio dia da eleição, refletiam mais um sentimento anti-Conservador do que uma virada positiva rumo ao Trabalhismo.Na tentativa de garantir uma vitória, o Trabalhismo não tinha alternativa a oferecer, e incrivelmente a direção cometeu o mesmo erro de 1987, dando a impressão de que provavelmente aumentariam impostos sobre setores da classe média e camadas superiores de trabalhadores especializados. De fato, 48% dos trabalhadores qualificados e jovens eleitores entrevistados calculavam que ficariam piores com o Trabalhismo. Um metalúrgico de Birmingham, comentando no Militant no dia seguinte à eleição, pontuou que:
era muito difícil convencer as pessoas a votar no Trabalhismo, especialmente onde eu trabalho, na Leyland Daf. Eles eram metalúrgicos bem pagos e impostos mexiam com eles. Eles pensavam: “Se votarmos em Kinnock nossos impostos diretos irão aumentar, irão tirar dos nossos bolsos”. A coisa é, os planos de impostos do Trabalhismo não os teriam afetado porque eles não ouviram o suficiente, mas ainda aparecia como uma questão que poderia, e fez perder votos. (15)
Os líderes Trabalhistas se apresentavam como um corpo de diretores alternativo capaz de dirigir o Capitalismo Britânico SA. Os eleitores, contudo, se viraram para o verdadeiro partido do capitalismo. Robert Harris do Sunday Times registrou: “Quando o ponto de decisão for alcançado eles [os eleitores] decidirão que uma economia capitalista é melhor dirigida por um partido capitalista.” (16)
A “carta do racismo” também jogou uma parte. Isso foi delineado pelo “pesadelo na Rua Kinnock” do Sun que afirmou que “A postura morna do Trabalhismo sobre a imigração enfraquecerá a resistência Européia à ameaça da imigração massiva.” (17)
O voto do BNP na Eleição Geral
O voto para o BNP em Tower Hamlets foi um alerta ao perigo do crescimento do racismo. Edmonds, o candidato do BNP em Bethnal Green e Stepney, recebeu 1.310 votos. Tyndall, o líder do BNP, recebeu 1.100 em Bow e Poplar. Os Conservadores e Liberais foram os culpados pela mostra de força do BNP. O candidato Liberal em Bethnal Green pegou a oportunidade de uma viagem a Bangladesh para dizer que não havia lugar em Tower Hamlets para seus habitantes. O candidato Conservador lançou um panfleto na eleição chamando pelo registro compulsório dos muçulmanos. Ambos fomentaram o racismo de que o BNP se alimentava. Esta votação e as ações subseqüentes do BNP, junto com o crescimento do racismo e fascismo na Europa, levaria a enormes confrontos no ano seguinte. O Militant iria jogar um papel proeminente no combate a eles.
Kinnock renuncia
Na onda da debandada eleitoral Kinnock foi obrigado a renunciar. O sentimento de muitos foram resumidos pelo apoiador do Militant Andrew Price:
Socialistas devem sempre olhar mais para frente do que para trás.Mas quando sentei e vi a fala de renúncia de Neil Kinnock eu rememorava meus 25 anos de atividade política em Gales do Sul e o que tinha visto de Kinnock. De volta aos anos 60 e ao jovem sério, desesperadamente tentando fazer um nome por si mesmo como MP aspirante. De volta a sua eleição ao Parlamento em 1970 e sua eloqüente fala de denúncia do capitalismo, advogando o verdadeiro socialismo condenando a timidez da direção Trabalhista…O convidamos para falar em reuniões organizadas pelo Militant e ele disse o quão encantado estava de dividir uma plataforma com pessoas que faziam tal contribuição positiva ao movimento trabalhista. De volta aos anos 80 quando dividimos uma plataforma no Clube Trabalhista da Universidade Cardiff. Um sindicalista nos perguntou como um governo Trabalhista poderia enfrentar o estado capitalista…Respondi argumentando pela abolição da monarquia e da Câmara dos Lordes. A resposta de Kinnock foi levantar e dizer uma piada suja sobre o Duque de York… quando o ouvia falar sobre a denúncia de 13 de abril, dos ataques da imprensa Conservadora lembrava 1985, ano em que tantos de nós (incluindo eu mesmo) foram expulsos do Partido Trabalhista e como aqueles mesmos tablóides aplaudiam Kinnock então. Não, não me uni a Peter Mandelson em derramar uma lágrima pela renúncia de Kinnock. Mais outro carreirista entrou nos anais da história do Partido Trabalhista… Kinnock pode ter tido sucesso em temporariamente nos separar do Partido Trabalhista. Mas encontraremos um meio de levar a mensagem do verdadeiro socialismo às pessoas que realmente importa na Grã-Bretanha. (18)
Escócia
A Escócia estava para ser um terreno de teste para o giro independente do Militant. A formação do Scottish Militant Labour foi uma tentativa de oferecer uma alternativa socialista às políticas de livre mercado das direções do Trabalhismo e do SNP. Na eleição geral o SNP fez um avanço significativo, com um aumento de 50% na votação comparado a 1987, embora não tenha sido um sucesso como seus líderes esperavam. O desejo de se livrar dos Conservadores significou uma migração final dos votos para o Trabalhismo. Apesar de tudo, o SNP obteve ganhos entre a classe trabalhadora e especialmente entre jovens de 18 a 24 anos, 35%dos quais votaram neles, assim como 33% dos desempregados. Em Glasgow o voto SNP aumentou em 38.000 enquanto o do Trabalhismo caiu em 50.000 – uma queda de 20% comparada a 1987. Enquanto escrevia em sua bandeira as demandas nacionais legítimas do povo escocês, o Scottish Militant Labour procurava imunizar a classe trabalhadora, especialmente no coração do Oeste Escocês, contra o vírus do nacionalismo capitalista que procurava dividir um trabalhador contra outro. Ele marcou seu sinal sobre a juventude e a classe trabalhadora. Previmos que este novo governo Conservador:
não será um governo de estabilidade ou tranqüilidade… Um período de intensa luta começará a se abrir. O Militant estará na dianteira em todas estas lutas, nos sindicatos e nas organizações comunitárias. (19)
Poucas semanas após a eleição geral, vieram as eleições locais. O resultado desta eleição, especialmente na Escócia, mostrou que todos os obituários políticos para o Militant foram mais uma vez prematuros. Por toda Grã-Bretanha, os assentos parlamentares Trabalhistas caíram em 7 de maio. A vitória dos Conservadores na eleição geral e o péssimo registro das câmaras Trabalhistas de direita resultaram em milhares de eleitores tradicionais do Trabalhismo ficando em casa. Contudo, em Glasgow o quadro foi diferente. Houve, como reportamos: “A chama vermelha do socialismo queimava brilhantemente à medida que os votos eram anunciados.” (20)
O principal assunto em cada jornal escocês no dia seguinte foi o estonteante sucesso dos candidatos do Scottish Militant Labour. O Glasgow Herald reportou: “Houve um profundo senso de ofensa e revolta entre os vereadores Trabalhistas em Glasgow à medida que o impacto total do sucesso do Militant era absorvido.” (21)
O Daily Record estampou na sua 1º página com “Choque em Jailhouse! – Trabalhismo é atropelado – rebelde do poll tax Sheridan dentro.” (22) O Scotsman disse: “Sheridan leva Pollok numa vitória dramática”, descrevendo isso como “a noite que o Scottish Militant mostrou que não mais poderia ser ignorado em Glasgow.” (23)
Até mesmo a edição escocesa do Sunday Times proclamou: “Porque o Trabalhismo perdeu no país de Sheridan.” Dizia: “A campanha de Sheridan foi sobre pobreza… Ele tem dado esperança pela primeira vez… O povo deste estado encontrou um campeão e um líder em Sheridan.” (24)
Tommy Sheridan e o SML fizeram história com um vereador sendo eleito de sua cela de prisão pela primeira vez na cela escocesa. O resultado foi que o SML agora tinha um grupo de 4 vereadores na cidade, apenas um a menos que os Conservadores e um a mais do que o SNP e os Liberals juntos. Além disso, apenas uma remota derrota de 46 votos em um distrito impediu que o SML disputasse num sorteio com os Conservadores para se tornar a oposição oficial. O sentimento de desespero depois da eleição geral foi agora visivelmente transformado em confiança e mesmo de exultação, especialmente em Pollok. Uma mulher disse ao Sunday Times: “Tommy entende sobre casas úmidas e dinheiro do seguro. Ele vive em condições similares a nós e vai fazer algo sobre isso.” (25)
O SML esmagou a visão dos céticos, alguns deles recém saídos de nossas fileiras, que afirmavam que o lançamento de uma organização socialista independente na Escócia iria “falhar em causar um murmúrio em Clyde”. Realçando o sucesso memorável do SML foi o fato de que mesmo o Partido Comunista, outrora uma força considerável em Glasgow, nunca teve sucesso em ganhar assentos na câmara da cidade.
No 7 de maio 2 candidatos comunistas – ambos figuras locais bem conhecidas – receberam apenas 81 e 99 votos. Em contraste os 7 candidatos do SML atingiram uma média de quase 900 votos. Sua votação total foi maior do que o total de votos para os 77 candidatos escoceses do Partido Verde! Mais ainda, o SNP ficou lambendo suas feridas em Glasgow como resultado da intervenção do SML. Na Escócia como um todo o SNP teve 24% dos votos, puxando os Conservadores para o 3º lugar. Nas últimas eleições locais em 1988 o voto do SNP ficou atrás do Trabalhismo em 21%. Em 7 de maio, contudo, a vantagem Trabalhista sobre o SNP foi de 10%, mas em cada vaga onde o SML concorreu houve uma significativa queda no voto do SNP.
Em 6 de 7 assentos, o SNP foi derrotado pelos candidatos do Militant. O SML na Escócia e o Militant no resto da Grã-Bretanha pretendiam ser uma alavanca para tal movimento.
Liverpool
Em Liverpool, pela 1º vez em anos, as eleições locais seguiram a tendência nacional. Cinco anos antes, o Partido Trabalhista concorrendo pelas tradições dos 49 vereadores multados, produziu um comparecimento recorde, assim como nos votos Trabalhistas. Ainda em 1990 o Trabalhismo teve 91.801 votos, mas em 1992 apenas 36.677 votaram no Trabalhismo oficial. Foi a conseqüência de expulsar o Militant e abandonar as políticas socialistas. Os Liberais tiveram uma vitória, readquirindo 10 assentos como resultado da política desastrosa da direita. Em 1992 a Esquerda Ampla e o Independent Labour Party (ILP) concorreu em 12 e 8 assentos respectivamente. Nestas eles ganharam 17.7 % de todos os votos, embora apenas um candidato ganhasse, em Everton, onde o vereador da Esquerda Ampla George Knibb retornou. Nos 20 assentos ela ganhou, a Esquerda teve 30% do total de votos Trabalhistas. No distrito de Valley, a candidata da Esquerda Ampla Sylvia Sharpey-Schaefer bateu o Trabalhismo oficial mas foi batida pelos Liberais. Em Netherley, Lesley Mahmood, com 29% dos votos, ficou em 2º, atrás do Trabalhismo. Uma câmara agora existia com o Trabalhismo tendo 40 assentos, os Liberais 38, e a Esquerda 18. Os Conservadores tinham apenas 2 lugares. O expurgo foi tão longe que o Partido Trabalhista de Liverpool se apoiou apenas em um punhado de ativistas, em alguns casos fazendo campanha por telefone.
1 Militant 1080 20.3.92 2 Quoted ibid. 3 Militant 1081 27.3.92 4 ibid 5 ibid 6 Militant 1082 3.4.92 7 Militant 1084 17.4.92 8 ibid 9 Quoted ibid 10 ibid 11 ibid 12 Militant 1083 10.4.92 13 Quoted In Militant 1084 17.4 .92 |
14 Quoted ibid 15 Militant 1084 17.4.92 16 Quoted ibid 17 Quoted ibid 18 Militant 1085 24.4.92 19 Militant 1083 10.4.92 20 Militant 1088 15.5.92 21 Glasgow Herald 9.5.92 22 Daily Record 8.5.92 23 Scotsman 8.5.92 24 Sunday Times 10.5.92 25 ibid |