A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994

Militant em transição

Com os ataques aos LPYS pela direita e seu subseqüente declínio, os apoiadores do Militant tinham um trabalho suplementar nos YS com a construção da Campanha pelos Direitos Sindicais da Juventude (YTURC). Enquanto lançava mais ataques aos Labour Party Young Socialists o comitê executivo nacional direitista admitiu confidencialmente, “O YTURC está ganhando o terreno com êxito.” O Sunday Times comentou: “Trabalhismo está perdendo a batalha musical pela alma da juventude partidária e o Militant está ganhando.” (1)

A conclusão da direita foi atacar a YTURC e minar ainda mais os direitos dos LPYS! A conferência nacional do YTURC em abril de 1988 atraiu mil jovens trabalhadores, estudantes e estagiários, a maior reunião da juventude trabalhadora na Grã-Bretanha nesta época. Uma vez mais a reunião do Militant lotou, apesar de todas as tentativas da direita de minar o apoio a nós.

Benn desafia Kinnock

Tão intransigente estava a direita em seus ataques à esquerda, e tão aberto era o abandono das idéias socialistas do movimento, que Tony Benn decidiu desafiar Kinnock para a liderança do Partido Trabalhista e Eric Heffer permaneceu na liderança dos deputados. A imprensa capitalista estava diretamente atrás de Kinnock em sua tentativa de criar um Partido Trabalhista sanitarizado e domesticado. O serviço feito e então ela seria igualmente cruel em denegrir o próprio Kinnock.

John Prescott, que também entrou na guerra eleitoral disse: “Não tenho tempo para corações fracos que procuram recusar a ligação sindical do Partido e vêem isso como uma responsabilidade.” (2) Nós aconselhamos Benn e Heffer a “realizar massivas atividades de campanha e reuniões em cada conferência sindical, enormes comícios em cada cidade.” (3)

O problema era que suas tropas estavam ralas no terreno A “tendência de esquerda” tinha desertado em direção à direita. Outros trabalhadores, desanimados pela virada à direita da liderança Trabalhista, estavam abandonando o Partido ou, em muitos casos, passavam longe de nós. O desafio para a direção em 1988 de Benn e Heffer foi na verdade o último espasmo de uma esquerda organizada dentro do Partido Trabalhista. Nos próximos 5 anos e depois a esquerda não seria mais do que um eco fraco da poderosa força que foi no começo dos anos 80, à medida que os trabalhadores olhavam para fora do Partido Trabalhista e cada vez mais para organizações como o Militant para as respostas a seus problemas. O congresso do partido deixou claro para todos que a liderança Trabalhista concluiu que o sucesso eleitoral residia em baixar a cabeça ante “o mercado”.

Que conclusões tirar?

O Militant foi lento em tirar todas as conclusões necessárias destes acontecimentos. Ainda defendia, e por muitos anos ainda, a perspectiva de um movimento de massas se introduzindo no Partido Trabalhista e transformando-o. Contudo, a experiência de lutas de massas fora do Partido Trabalhista, acima de tudo o poll tax, iriam convencer a maioria dos apoiadores e líderes do Militant de que a velha tática de concentrar a maioria de suas forças no Partido foi ultrapassada pelos eventos.

Pollok

Em Pollok uma campanha verdadeiramente de massas a favor da não-pagamento foi levada pelas uniões anti-poll tax com os apoiadores do Militant como Tommy Sheridan na vanguarda. Seus esforços foram recompensados com ataques violentos pelo MP local. Ainda que eles tenham sido instrumentais em recrutar 128 novos membros para o Partido Trabalhista em uma semana. Ao invés de parabenizar os apoiadores do Militant o MP de Pollok, James Dunnochie, atacou publicamente Tommy Sheridan e chamou o Comitê Executivo Nacional do partido a investigar as atividades do Militant em seu diretório.

Os membros do Partido Trabalhista responderam com uma reunião em 7 de agosto no distrito de Pollok com mais de 100 pessoas comparecendo. A reunião prometeu que eles iriam lutar até o fim para “manter a bandeira socialista flutuando na área.” Também passou uma resolução criticando o chamado de inquérito e censurando o MP local. A reunião então decidiu apoiar Tommy Sheridan em desafio ao MP situacionista durante o próximo processo de re-eleição. O partido distrital também soltou 5 mil panfletos respondendo aos ataques do MP e apresentando extratos de sua carta secreta ao NEC Trabalhista para todos verem. O núcleo duro da direita na câmara regional de Strathclyde deixou então claro que estava agindo a favor das expulsões em massa dos apoiadores do Militant e ativistas anti-poll tax em Glasgow. Eles elaboraram uma lista de 20 em Pollok e dez em Cathcart, escolhendo o dirigente anti-poll tax Tommy Sheridan para ação disciplinar.

Antes, naquele ano, um membro do corpo de imprensa em Londres foi informado “fora do registro” por um alto funcionário do partido em Walworth Road que, “Sim, está para acontecer uma massiva caça-às-bruxas em Glasgow.” (4)

Mas nada poderia parar o movimento que estava se construindo atrás da luta anti-poll tax.O TUC escocês (STUC) foi obrigado a chamar uma demonstração em 10 de setembro mas nenhum chamado foi feito por uma ação efetiva. Campbell Christie, secretário geral do STUC, contudo, declarou: “O Povo na Escócia está conosco e diz não.” (5)

Mas quando foi feita a pergunta sobre o que aconteceria quando os recibos chegassem em abril próximo sua resposta foi: “Vamos esperar por abril e então decidir o que fazer.” A estratégia “ampla” do STUC – envolvendo todas as classes e todos os partidos – falhou completamente. Além disso a possibilidade de qualquer campanha efetiva pelo Trabalhismo ou o STUC foi morta na conferência escocesa em abril de 1989. O debate foi tumultuoso e apaixonado. Oradores foram ovacionados e vaiados e os delegados distritais mostraram que estavam esmagadoramente a favor do não-pagamento massivo do imposto. Dewar, o porta-voz do partido, enquanto ostensivamente atacava o Partido Nacional Escocês de fato atacava o Militant por este advogar o não-pagamento. Não obstante isso, e com o apoio dos votos em bloco dos líderes sindicais, a oposição ao não-pagamento foi aprovada.

Onde agora?

A decisão desta conferência sem dúvida teve um efeito desmoralizante em muitos trabalhadores e inicialmente em muitos daqueles que estavam na linha de frente da campanha. Como era possivel conduzir uma campanha vitoriosa contra o governo com a resistência aberta do Partido Trabalhista na Escócia e com a mera condescendência do STUC? Durante a luta de Liverpool tal era a pressão vinda de baixo que a direção Trabalhista, incluindo a direita, foi obrigada a dar um apoio verbal ou permanecer em silêncio no auge do movimento.

Reuniões especiais dos apoiadores do Militant eram então necessárias para explicar que havia forças mais poderosas trabalhando na luta do poll tax do que Thatcher, ou líderes sindicais brandindo votos em bloco. O poll tax representava um assalto tão grande nas condições de vida da classe trabalhadora que a resistência era inevitável. Mesmo sem nosso envolvimento e das uniões anti-poll tax haveria muitas pessoas, especialmente os pobres, que não poderiam e não iriam pagar. A questão era se a resistência ao poll tax seria dispersa ou se teria uma expressão organizada.

Desde o inicio, estávamos confiantes que na Escócia mais de um milhão poderiam ser persuadidos e organizados para resistir e recusar a pagar o poll tax. Isso era pelos oponentes como utópica e uma indicação de que estávamos “fora de órbita”. Pelo contrário, era a cúpula do movimento trabalhista assim como o governo Thatcher que eram incapazes de prever as forças que poderiam ser conjugadas pelo poll tax e a campanha de resistência de massas que ajudamos a organizar.

À medida que o ano terminava a segunda conferência da Federação Anti-Poll Tax de Strathclyde foi organizada. Foi concordado de se organizar uma grande demonstração “de não pagamento ao poll tax” no sábado, 18 de março e chamar os trabalhadores e jovens de toda a Escócia e do resto da Grã-Bretanha a vir a Glasgow neste dia numa mostra massiva de desafio.

Mahmoud Masarwa

Internacionalmente, Mahmoud Masarwa, um socialista palestino e ativista sindical, e também um proeminente correligionário do Militant no Oriente Médio foi preso pelas brutais Forças de Defesa de Israel em julho de 1988. Sem acusações formais, a ele foi negado acesso a um advogado ou visitas de sua família. O Ministro da Defesa Yitzhak Rabin interviu pessoalmente para negar a Mahmoud o direito de ser representado por seu advogado. Mahmoud foi enquadrado e depois de um espancamento foi forçado a “confessar” seus alegados “crimes”. Nos meses e anos que se seguiram o Militant conduziu uma campanha internacional por sua libertação. Dave Nellist e Paddy Hill (dos Seis de Birmingham) atenderam a seus processos e apelos. Esta perseguição a Mahmoud era em si um testemunho do crescimento do apoio ao Militant e suas idéias numa escala mundial.

1 Citado no Militant 897 20.5.88

2 Citado no Militant 891 8.4.88

3 ibid

4 Militant 910 26.8.88

5 Militant 912 16.9.88