A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994

Winston, Westland & Wapping

Fora o drama de Liverpool os mais importantes eventos nos meses finais de 1985 foram as “explosões urbanas”. Uma mulher negra, Cherry Groce, foi baleada nas costas na presença de sua criança pela polícia em Brixton. Os protestos levaram a enfrentamentos entre a polícia e a juventude da área. Nós comentamos:

Para a maioria dos jovens envolvidos foi uma expressão espontânea de raiva e frustração. Ao mesmo tempo, como em toda situação semelhante, uma minoria usou os ataques violentos a todos os símbolos locais de autoridade como uma cobertura para assaltos ao povo local, roubos de casa, e mesmo estupros. (1)

Uma semana depois Cynthia Jarrett, de Tottenham, norte de Londres, morreu durante uma batida policial. Isso levou a motins em Tottenham no qual um policial, PC Blakelock, foi morto. Nós comentamos:

Ninguém, pelo menos os socialistas, pode condenar os motins. Mas em um estado onde mais da metade das pessoas entre 16 e 18 anos estão desempregados, onde a polícia automaticamente trata os negros como ‘suspeitos’, é compreensível que o uso brutal da força policial pode facilmente detonar um motim onde qualquer arma possivel seja usada. (2)

Winston Silcott foi preso por este assassinato, mas depois de uma grande campanha de anos, a condenação foi anulada. Winston, contudo, permaneceu na prisão como resultado de uma condenação anterior, que também foi desafiada. A campanha, liderada por seu irmão George, continuou a perseguir a libertação de Winston. George falou em muitas de nossas reuniões, incluindo o comício que lançou o Militant Labour, e nosso primeiro congresso.

Westlands

No inicio de 1986, justo na época quando Thatcher parecia firmemente instalada no poder, graça à derrota de Galtieri e dos mineiros, a crise de Westland detonou. Nós comentamos:

O conflito público dentro do Partido Conservador sobre a questão das Westland deu aos trabalhadores um vislumbre revelador da cobiça, fraude e hipocrisia da classe dominante. Atrás da fachada de respeitabilidade e estadismo, a realidade é que os homens de negócios, políticos e altos servidores civis são motivados por seus próprios interesses. Apenas seu interesse maior em proteger sua riqueza e poder dos trabalhadores os força a ostentar juntos uma face pública de unidade e propósitos comuns. (3)

Heseltine, que na época da questão de Westland denunciava as práticas de apoio à fura-greves em grande parte porque isso foi implementado por Thatcher, estava ele mesmo se preparando para usar precisamente estes métodos quando se adaptavam a ele. Foi Heseltine que insistiu na acusação de Sarah Tisdall e Ponting, sob o Ato dos Oficiais Secretos por se atrever a revelar o que estava acontecendo dentro do seu departamento com os mísseis cruzeiros.

O destino dos trabalhadores de Westland era secundário nesta cínica batalha por dinheiro, poder e prestigio de um punhado de magnatas e seus amigos políticos. Dave Nellist no Parlamento chamou pela nacionalização de Westland e sua incorporação a uma re-nacionalizada British Aerospace. Expondo a completa hipocrisia do governo Conservador e a divisão nas fileiras dos capitalistas, ele disse:

Em fevereiro de 1971 o Primeiro Ministro Heath tomou uma noite do tempo parlamentar para tomar a Rolls Royce para o controle público. Um ano atrás Lawson, através do Banco da Inglaterra, comprou e efetivamente nacionalizou o Johnson Matthey Bank por uma nominal £1. (4)

Ele exigiu a nacionalização, sob controle e gerenciamento dos trabalhadores, de Westland e da indústria aérea da Grã-Bretanha.

Thatcher sobreviveu à crise de Westland. Mas subsequentemente ela é seu séqüito admitiram que estavam se preparando para sua renúncia. Ela não calculou a inépcia de Neil Kinnock. Ele depois também admitiu que sua lamentável performance parlamentar trouxe uma sobrevida à Thatcher.

Não apenas o destino de Thatcher mas de todo o gabinete conservador estava em jogo. Dois ministros foram forçados a renunciar, Heseltine e Brittan, e outro, o Solicitador-Geral Mayhew, quase os seguiu. Thatcher esperou pela incompetência de Kinnock.

Wapping

Foi o povo trabalhador que teve que pagar duramente pelo abandono dos mais elementares deveres da liderança Trabalhista. Eles procuravam pela absolvição do capitalismo rapaz de Thatcher com a eleição de um governo Trabalhista. E ninguém mais do que os gráficos da Fleet Street. Rupert Murdoch declarou guerra a eles, demitindo todos os trabalhadores de Fleet Street e estavam imprimindo seus jornais em uma nova planta em Wapping. Ele lançou

um desafio a todo o movimento sindical. Se ele ganhar, um dos mais bem organizados batalhões da classe trabalhadora será conquistado. (5)

Murdoch explorou cada oportunidade oferecida por seus amigos no governo Conservador para usar as leis que eles introduziram contra os sindicatos. Os gráficos tinham um recorde orgulhoso de organização sindical que tinha aumentado salários, onde todos os trabalhadores se beneficiaram. O governo estava em completa desorganização com o escândalo de Westland e eles ainda não se atreviam em proceder nas demissões dos trabalhadores do GCHQ por medo da enorme ação sindical que provocaria. Estava claro que Thatcher e os patrões seriam forçados a uma retirada se houvesse uma sólida ação unida.

Como primeiro passo o TUC não tem outra alternativa senão expulsar o EETPU por suas atividades de fura-greve em Wapping. No tempo de uma guerra sindical, não há lugar dentro das fileiras do trabalhismo organizado para um corpo que não apenas não faz nada para apoiar a luta para defender o sindicalismo mas ativamente guarnece as barricadas para o inimigo. (6)

A liderança do EETPU colaborava com Murdoch fornecendo fura-greves para tomar os empregos dos trabalhadores de Fleet Street em Wapping. Desde o inicio, demandamos uma ação grevista total pela Fleet Street e a indústria de jornais em geral. O jornal foi mais além e disse que nenhuma ação seria efetiva até que os gráficos saíssem em uma “ação sindical total”. Eles deveriam absorver as lições de Warrington e da greve dos mineiros. Deveria ser exercida uma pressão ao conselho geral do TUC para uma ação efetiva, uma greve geral de todos os trabalhadores em apoio aos gráficos. Mas:

ativistas de todos os níveis devem tomar a responsabilidade por convocar reuniões de massa dos membros nos locais de trabalho e dos setoriais sindicais, para explicar as questões em jogo e gerar uma ação de baixo para conseguir uma mobilização nacional. (7)

À medida que disputa se identificava também os métodos repressivos dos protetores de Murdoch, a polícia. Em meados de fevereiro reportamos os comentários de uma garota de 17 anos que estava entre os 5 mil manifestantes no piquete regular na noite de sábado que foi atacado pela polícia:

Os esquadrões policiais atacaram depois que um setor de nós foi forçado a ir para a barricada da rua. Eu fui empurrada no rosto e agarrada pelo cabelo… outra garota e eu mesmo fomos pegas de surpresa e jogadas no chão. Minha cabeça bateu no asfalto… A polícia lutou como se houvesse uma guerra de classes total. (8)

E a resposta à guerra de classes total de Murdoch?:

O único curso de ação possivel é aprofundar e estender a disputa… O Express já quer um corte de 50% em sua força de trabalho. The Guardian também quer um corte massivo. O destino de cada gráfico depende do resultado da luta. Os patrões saíram para esmagar as closed shop, o fundamento de nossa força. (9)

Acordo Anglo-Irlandês

Enquanto a guerra de classes estourava nas ruas da Grã-Bretanha, uma vez mais na Irlanda do Norte uma dramática escalada do sectarismo religioso teve lugar. Foi provocado pelo acordo Anglo-Irlandês entre os governos britânico e irlandês do sul. Massivas demonstrações de protesto Lealistas ocorreram com a ameaça de uma iminente paralisação Lealista e uma série de incidentes sectários ocorrendo.

O Militant pontuou que:

O acordo não mudou nada para a classe trabalhadora. A pobreza permanece, 22% da força de trabalho está desempregada. Um quarto do total de rendimentos vem de benefícios de seguridade social, contra 14% da Grã-Bretanha. A solução real dos Conservadores são cortes e mais cortes. Um drástico corte no orçamento da Executiva de Financiamento irá significar no ano financeiro de 1986-87 um total de 15 novas casas ‘Executivas’ serão construídas na parte ocidental da província. (10)

Ao mesmo tempo, a repressão continuava intacta, como mostrado pelo ataque a balas a um jovem católico de 20 anos, Francis Bradley. Ele foi morto por unidades secretas do exército em Derry do Sul. A política de “atirar para matar” estava claramente em operação.

O Militant concluiu:

Para os trabalhadores, tanto católicos quanto protestantes, o acordo, longe de levar a uma solução, irá piorar as coisas. Significa a continuação da pobreza, junto com a repressão, e um enorme aumento do sectarismo… Apenas o Trabalhismo e o Grupo Sindical estão alertas para os perigos. Eles têm exigido uma conferência especial das fileiras do movimento sindical para discutir como impedir uma maior divisão da classe trabalhadora, e também para apresentar uma alternativa socialista ao Acordo Anglo-Irlandês. (11)

A mais trágica gafe de Thatcher ao lidar com este acordo foi a escalação dos assassinatos sectários. Os apoiadores do Militant na Irlanda do Norte também padeceram em julho de 1986. Colm McCallan, um proeminente e corajoso membro do Militant Irish Monthly e do Trabalhismo e do Grupo Sindical, foi baleado por assassinos lealistas fora de sua casa em Belfast do Norte nas primeiras horas da manhã.

Colm tinha apenas 25 anos, era um ex-trabalhador de produção e um membro do Amalgamated Transport and General Workers´ Union, e se tornou um apoiador do Militant em 1981. Ele era extremamente orgulhoso de suas idéias socialistas, dizendo uma vez que ter se unido ao Militant foi a decisão mais importante de sua vida.

Nos reportamos:

Seus assassinos são quase certamente a mesma gangue UVF que assassinou o trabalhador da construção civil Brian Lennard, na estrada Shankill em Belfast poucos dias antes. Como ele, Colm foi morto porque assumiu que era católico. (12)

Ele foi um dos vários mártires que deram sua vida pelo socialismo, pela unidade dos trabalhadores, e pelas idéias do Militant e do Militant Irish Monthly.

1 Militant 768 4.10.85

2 Militant 769 11.10.85

3 Militant 782 24.1.86

4 Militant 783 31.1.86

5 ibid

6 ibid

7 ibid

8 Militant 786 21.2.86

9 ibid

10 Militant 787 28.2.86

11 ibid

12 Militant 807 18.7.86