A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994

A greve dos mineiros: 1984-85

Enquanto isso, um conflito se aproximava da indústria mineira. O patrão Ian MacGregor anunciou o fechamento de 20 minas e acabar com 25 mil empregos. O fechamento de Cortonwood provocou um movimento dos mineiros de Yorkshire que começou a se espalhar por todas os campos de carvão britânicos. Tornou-se muito claro quase que desde o inicio que a classe dominante, e o governo Thatcher em particular, se prepararam meticulosamente para esta batalha. Eles saíram com o nariz sangrando e foram obrigados a se retirar em face do movimento mineiro de 1981. De inicio o Militant declarou:

A enorme operação policial em estilo militar ordenado pelo Secretário do Interior Leon Brittan contra os mineiros grevistas, é a maior operação deste tipo desde a greve geral de 1926. Isso dissipou qualquer ilusão que pudesse haver de que a polícia era uma força baseada na ‘comunidade’ não diretamente envolvida na implementação da polícia política. (1)

Ao custo de £500.000 por dia, 20.000 policiais foram empregados por todo o país para lidar com a greve.

O plano Ridley, divulgado em 1978, propôs a construção de estoques de carvão, o emprego da polícia e de outras forças do estado, a alteração da lei para restringir a ação grevista e o uso de todas as forças possíveis para esmagar os mineiros. Estes tradicionalmente eram o ‘Batalhão Pesado’ dos trabalhadores britânicos. Uma derrota, a mais humilhante possivel, era o objetivo consciente de Thatcher. O governo provocou a ação grevista de 1984. Thatcher partiu para criar uma ‘Falklands sindical’.

Os mineiros, Scargill, a esquerda e o Militant eram vistos como ‘inimigos internos’, agrupados junto com o ‘inimigo externo’, Galtieri, que foi humilhado em 1982. E qualquer análise séria e honesta da greve dos mineiros, que apenas pode ser tocada de leve aqui, demonstra conclusivamente que nesta luta épica a força de Thatcher residia não tanto nela mesmo ou nas forças agrupadas ao seu redor, mas nos covardes ‘generais’ do TUC do outro lado.

A imprensa revelou que três casernas do exército foram disponibilizadas para acomodar as camionetas da polícia antigreve. Toda a parafernália de controle de distúrbios, capacetes especiais, escudos, coletes a prova de balas e cães policiais, para não mencionar aviões e helicópteros, foram cuidadosamente reunidos. Desde a primeira semana da greve o Militant comentou que tinha

sempre argumentado que a polícia, o judiciário e a lei em geral não eram ‘neutros’, mas instrumentos da classe empregadora, e nada ilustra isso melhor do que o uso da polícia na semana passada. (2)

A polícia assumiu poderes legais acima de qualquer outro que ela tinha usado no passado, parando ônibus e carros e fazendo-os voltar a centenas de milhas de seu destino, intimidando as companhias de ônibus para que recusassem contratos com os mineiros e mesmo ameaçando os trabalhadores de Kent se eles se extraviassem de seu distrito. Um tabelião em Kent comentou ao Militant:

Não há tal ofensa como secundar piquetes exceto na lei civil e até a polícia está usando a lei criminal para impedir as pessoas de formar piquetes pacificamente. (3)

A polícia era apoiada pelo Procurador Geral da Justiça, o MP Conservador Michael Havers, que pontuou que a

policia tem poderes para fazer qualquer um voltar atrás… se eles acham que estão indo a piquetes onde possa haver perturbação da ordem pública. A recusa em obedecer pode fazer com que os trabalhadores sejam passiveis serem presos por obstrução. (4)

Batendo firme no caráter de classe do conflito, nós pontuamos que a explicação dos “Conservadores e a ação policial, portanto, meramente confirmavam que a lei é aplicada de um modo de classe”. Nós alertamos que “ainda não está descartado que medidas possam ser tomadas para tentar sequestrar parte dos bens do NUM, como foi o caso do NGA.” Essa previsão foi confirmada antes do fim do ano. Enfatizamos que:

não há caminho para os trabalhadores nas bases do presente sistema. O capitalismo por si mesmo está criando todas as condições de conflitos de classe e convulsão social. (5)

Uma vez que a greve começou, todo o conservadorismo que acabrunhava os trabalhadores em períodos ‘normais’ evaporou. Uma das características mais combativas da disputa foi o magnífico movimento das mulheres das comunidades mineiras, cuja organização de uma rede de apoio foi crucial para permitir que a greve fosse tão longe. Elas inspiraram dezenas de milhares em vários lugares a lutar. As mulheres Militant jogaram um grande papel ajudando a criar grupos de apoio, alimentando os mineiros e ajudando os piquetes de mulheres quando a disputa chegou. Muitas destas mulheres entraram no Partido Trabalhista e criaram Setoriais de Mulheres. Durante este período Margaret Creear, uma bem conhecida apoiadora do Militant, foi eleita pela primeira vez para o Comitê Nacional das Mulheres Trabalhistas.

Havia um enorme entusiasmo pela greve que se desenvolvia rapidamente a partir de baixo. Nós declaramos que:

deve haver uma liderança nacional para garantir os mineiros em todas as áreas em que a ação é séria e teve um efeito. E deve haver uma clara demanda pelo não fechamento das minas exceto se provarem a exaustão dos recursos ou genuínas razões de segurança, e mesmo então apenas com a garantia de empregos alternativos para os mineiros afetados. Os sindicatos dos ferroviários e metalúrgicos precisam ser abordados para construir uma verdadeira Tríplice Aliança em nível nacional – e em cada área em apoio às indústrias básicas. (6)

Em março de 1984, o Militant alertou que “o NCB visa as áreas da Gales do Sul, Kent e nordeste da Inglaterra, para reduzir as minas de carvão a mera memória.” (7)

Nossas páginas refletiam a crescente militância não apenas nas terras tradicionais de Yorkshire e Gales do Sul mas em Nottingham também. Piqueteiros vindos de outras áreas para Bevercotes declararam:

Se escutássemos a mídia ontem, estaríamos com medo da resistência que eles retrataram. Chegamos aqui e encontramos isto totalmente diferente. A resposta tem sido maravilhosa. Apenas dizemos a todos que é um piquete do NUM e pedimos a eles para não passarem. Noventa por cento não atravessaram. (8)

Notts e a votação

Contudo, o fracasso da greve em se desenvolver totalmente em Nottingham sem dúvida complicou a batalha. Tanto na época e desde então uma discussão não pequena foi colocada sobre a questão se ela seria mais efetiva se os mineiros chamassem uma votação, mesmo enquanto ainda estivessem de greve, para confirmar a esmagadora maioria da ação grevista.

Direitistas como Hammond, o líder do Sindicato dos Eletricistas na época, declarou subsequentemente que ele estaria a favor de tirar os eletricistas na industria de energia se os eletricistas realizassem uma votação a favor da ação grevista. Havia uma folha de figo atrás da qual a ala direita tentava esconder sua nudez durante a mais importante luta sindical desde a greve geral de 1926. Apesar de tudo, foi melhor taticamente para os líderes do NUM sancionar a votação com poucas semanas de greve. Isso resultaria provavelmente numa maioria de 80% ou 90% a favor da ação grevista. Poderia uma votação vitoriosa ter garantido a vitória para os mineiros? Se o campo de Nottingham tivesse votado contra ela então não precisaria ter uma grande imaginação para ver como os líderes do Sindicato dos Mineiros Democráticos (UDM) teriam reagido. Eles viriam com o argumento de que Nottingham votou contra a ação grevista e, portanto, estava ‘optando por não fazer nada’. Mas a maioria a favor da ação a nível nacional conseguiu convencer a maioria dos mineiros de Nottingham pela greve.

Os líderes da UDM em Nottingham estavam secretamente, desde o começo da greve, em conversações com o representante de Thatcher, David Hart, que financiou e apoiou suas medidas fura-greves. Uma votação durante a ação grevista, quando a vasta maioria dos mineiros britânica sairia em greve de qualquer modo, poderia ter aumentar o poder da causa mineira.

Mineiros Militant

Militant pontuou que esse era o mais importante conflito de classe em décadas. Pontuando o exemplo de 1926, o jornal mostrou que:

Os líderes do TUC [durante 1926] se tornaram um freio ao movimento. Desde as primeiras horas da greve geral, os líderes do TUC estavam procurando por uma desculpa para terminá-la. (9)

Portanto, enquanto exigia uma ação do conselho geral em apoio aos mineiros o Militant também chamava os mineiros a possuir um curso paralelo de apelar às fileiras:

A maioria dos mineiros tem percebido que a maioria do atual conselho geral do TUC não é melhor do que os líderes de 1926. Sua política de ‘novo realismo’ significa um pouco mais do que uma rendição abjeta. (10)

Portanto, em cada estágio o Militant chamava os mineiros a adotar a estratégia de apelar às fileiras do movimento para pressionar seus líderes por uma ação de solidariedade. Ao mesmo tempo, o jornal sugeriu que os mineiros tomassem a dianteira em chamar os líderes de esquerda do conselho geral para perseguir uma estratégia independente dos sabotadores da direita.

The Guardian comentou uma reunião no campo de carvão de Nottingham, que indicou os sentimentos dos mineiros na época:

Foi um comício principalmente de homens jovens que passaram a maioria da semana nas linhas de piquete, que possuem um senso de grande injustiça, que querem uma revolução social. (11)

1984 foi um ano em que o Militant fez uma intervenção e contribuição decisivas à luta em Liverpool. Mas o jornal e seus apoiadores não foram menos ardentes em apoiar os mineiros. Conseqüentemente, nosso apoio aumentou significativamente entre os mineiros e os trabalhadores em geral. Em certo estágio durante a greve 500 mineiros foram recrutados como apoiadores comprometidos do Militant. Este apoio crescente foi necessário para o Corpo Editorial continuar a luta por mais recursos. Em abril nós comentamos:

Esta semana o Militant botou 4 páginas extras além de suas 16 normais. Uma razão é o enorme número de eventos a cobrir: Primeiro de Maio, eleições locais, conferência dos LPYS, reunião especial da Câmara de Liverpool, a greve dos mineiros, a executiva nacional Trabalhista sobre as expulsões de Blackburn, o Bureau de Assédio Libio, e a temporada de conferências sindicais.

Mas outra razão especial é permitir espaço para produzir nosso apelo especial e explicar o estágio crucial que nosso jornal atingiu. Agora, mais algumas semanas, e nós teremos material suficiente para dobrar o nosso número de páginas. (12)

Um indicador do nosso sucesso foi nosso Fundo de Luta. Em 1978, £66.000 foram coletadas: em 1979 £80.000; em 1980 £93.000; em 1981 £105.000; em 1982 £148.000 – um total de aproximadamente £500.000 em cinco anos. Mas agora precisávamos de novas instalações. Portanto um apelo urgente por £35.000 foi lançado para adicionar à soma de £140.000 já levantada (£30.000 foi levantada em 2 semanas). Devido aos heróicos esforços de nossos apoiadores e leitores se tornou possivel comprar espaçosas instalações em Hackney Wick e juntar todas as operações da produção do Militant em um prédio. Anteriormente eles estavam espalhados por três prédios.

Orgreave

A vingança pela humilhação dos Conservadores nas mãos dos mineiros em Saltley Gate em 1972, e mais recentemente em 1981, ficou a cargo da polícia na linha de piquete em Orgreave (fora de Sheffield). Os métodos mais brutais já vistos nesta ou em disputas anteriores foram empregados sob os olhos da mídia mundial. O conflito deu à impressão de uma virtual guerra civil nas áreas mineiras da Grã-Bretanha. Nós apresentamos duas fotografias que resumiam o papel da polícia: uma, onde um piqueteiro apanhava de um policial antimotim totalmente vestido com roupa protetora enquanto um mineiro era imobilizado sobre um carro. (13) Outro incidente mais famoso (capturado em duas fotografias) mostrava uma mulher do Grupo de Apoio dos Mineiros de Sheffield pedindo por uma ambulância para um mineiro ferido enquanto um policial montado tentava golpeá-la. Nós reportamos:

O espancamento continuou e ela recuava. Depois o policial montado foi saudado por suas fileiras de infantaria, com escudos sendo brandidos em apreciação. (14)

Testemunhas de uma batalha anterior reportam:

O ataque de cassetetes retornou. Este brutal método policial de atacar os piquetes, sinônimo das batalhas sindicais dos anos 20, se tornou uma tática normal da polícia de hoje… A idéia é ferir as pessoas, intimidar as pessoas, aterrorizar as pessoas. (15)

Mesmo Arthur Scargill foi preso por uma acusação forjada de obstrução. Nós reportamos:

Há uma crença generalizada de que esta prisão foi deliberada, pré-planejada pela polícia, não apenas para impor uma multa, mas, assim como outros mineiros, tentar impor rigorosas condições de finanças para mantê-lo [Scargill] bem longe das linhas de piquete, e, portanto, impedi-lo de cumprir seus deveres como presidente do Sindicato Nacional dos Mineiros. Na ocasião, os magistrados rejeitaram a solicitação da polícia e lhe garantiram fiança incondicional. (16)

Relatos de testemunhas no Militant mostram que por volta de 9.30 da manhã do dia da primeira batalha de Orgreave havia por volta de 7 mil piqueteiros em assembléia. Foi então que

a verdadeira batalha começou. Foi a coisa mais terrível que já passei na vida… O pior para mim foi o que aconteceu na aldeia em que vivi a maior parte da minha vida… Eu vi um mineiro idoso de 60 anos ter sua cabeça rachada por um cassetete… A polícia de motins marchando direto para você, gritando ‘um dois, um dois’ e provocando os mineiros: “Vamos lá, tenta”… E um policial do esquadrão de captura se afastou tanto que foi capturado ele mesmo pelos piqueteiros! Tiveram que enviar cavalos policiais para resgata-lo – ele não estava numa condição muito boa quando emergiu do piquete. (17)

Policiais comuns eram muito inseguros para este trabalho sujo, como mostra uma reportagem com os comentários de um policial de Yorkshire, enquanto a batalha se desdobrava:

Alguns estão muitos amargos com o que está acontecendo. Um policial nos disse que seu pai era um mineiro e estava nos piquetes em algum lugar. Ele disse que eles não queriam de modo algum fazer aquilo – eles tinham que viver nas comunidades; o que aconteceu hoje nunca vai cicatrizar. Ele entrou para a polícia para combater o crime, não sua família. Ele disse que nunca tinha pensado muito sobre um sindicato para a polícia antes, mas isso mostrou a importância de direitos sindicais adequados para os policiais. Outro policial disse, apontando para as tropas de choque: “Aqueles bastardos foram trazidos de Londres. Eles estão aqui para prejudicar vocês. Eles não tem nada a fazer conosco.” (18)

Um grupo de mineiros no Nordeste escreveu depois ao Militant sobre suas experiências na batalha de Orgreave e comentaram:

Não importa o quanto seja difícil vencer, este fato nos deixou ainda mais determinados a ganhar. Não queríamos ceder. Quando chegamos às 6 da manhã, a polícia já estava alinhada – na linha de frente os escudos, e atrás a polícia a cavalo. Abaixo da ladeira no campo, estavam policiais com cachorros… Seus cassetetes foram sacados desde o início, sem perder tempo. Quando começamos a empurrar, a polícia começou a quebrar a linha de frente, firme de verdade, imediatamente… A polícia definitivamente não era ‘uma força para manter a paz’. Eles nos tratavam como animais, nos perseguindo com cães e cavalos. Alguns piquetes fora da planta foram empurrados até este campo – ele foi completamente arrasado, poste de luz e muros derrubados. Rapazes foram embora chorando, cabeças sangrando, hematomas por todas as suas costas, alguns tendo que ser carregados… Um homem, sua mulher e criança apenas pararam no ponto de ônibus e foram espancados pela polícia. Houve algumas pedras estacas do chão arremessadas para parar os cavalos, mas o que mais se podia fazer? Você não podia ultrapassar um cavalo, e a polícia vinha com cassetetes, enchimentos, escudos, etc, contra piqueteiros em jeans e camisetas. (19)

Estas cenas brutais em Orgreave, junto com outras similares, foram vistas em numerosas vilas mineiras pelos campos de carvão, desnudando para os mineiros e a classe operária como um todo a natureza do estado capitalista. Um exército de ocupação desceu aos campos mineiros, especialmente no coração da greve, o campo de Yorkshire. Eu testemunhei uma das cenas mais brutais em Allerton Bywater. No começo de uma manhã de outono, milhares de policiais enfrentaram os mineiros e suas famílias num enorme conflito nesta vila. Tais ações mudaram para sempre a consciência dos trabalhadores, especialmente os mineiros. Devido a isso, as idéias do Militant encontraram um poderoso eco. Este compartilhou e assistiu a todas as lutas dos mineiros e ao mesmo tempo formulava uma estratégia que considerava ser capaz de assegurar a vitória. Após a primeira batalha de Orgreave, o Militant avisou que

a nível local, abordagens diretas devem ser feitas, apoiadas por argumentos e panfletagem massiva, aos metalúrgicos, caminhoneiros e trabalhadores da estação de energia. Os líderes do TGWU e ISTC devem apoiar esta campanha com uma direção interna nacional em apoio aos mineiros. Onde quer que seja possível, reuniões de massa devem ser organizadas e um apelo de solidariedade, dirigido a favor dos mineiros grevistas… Conferências de delegados sindicais devem ser organizadas, especificamente para preparar ações de solidariedade. Elas devem ser chamadas diretamente pelo NUM, sindicatos locais ou pelo Comitê Organizador da Esquerda Ampla. Essa greve agora também demanda uma ação nacional e uma direção coordenada nacional de solidariedade pelo TUC. Contudo seria ingênuo colocar muitas esperanças no TUC, dado o seu papel na recente disputa da ASLEF, na batalha sobre o Stockport 6, sobre o GCHQ e, mais recentemente, a tentativa de Murray (secretário geral do TUC) de sabotar o dia de greve organizado pelas filiais de Yorkshire e Humberside. Os sindicatos de esquerda devem portanto organizar a solidariedade juntos independentemente. (20)

Ao mesmo tempo o Militant acreditava que

o NUM deve organizar em detalhes antes de tal conferência tudo o que é necessário para a ação de solidariedade, para ganhar a greve. No topo da agenda da conferência deve estar o chamado por um dia de greve geral, que, se for organizada, deve envolver não apenas os membros dos sindicatos de esquerda, deve inspirar as fileiras de todos os sindicatos da Grã-Bretanha. Isso pode resultar em um magnífico show de força de todo o movimento trabalhista em torno dos mineiros e preparar o caminho para uma história mineira. (21)

Porque o Militant era capaz de em cada estágio colocar demandas que podiam levar o movimento adiante, ele capturou a atenção dos setores mais combativos dos mineiros. Fomos capazes de organizar em junho de 1984, em Sheffield uma reunião vitoriosa dos mineiros e apoiadores do Militant para discutir qual estágio da greve foi alcançado e o caminho a seguir. Mais de 150 mineiros compareceram para ouvir Brian Ingham, organizador sindical nacional do Militant, e eu mesmo. Mineiros de todos os campos de carvão da Grã-Bretanha estavam presentes.

Os mineiros começaram a receber mais e mais apoio da classe trabalhadora organizada. Nós declaramos em julho:

Uma vitória dos mineiros é exigida. O magnífico show de solidariedade dos estivadores pode agora dar um enorme ímpeto à luta para salvar empregos e a indústria. A vitória da Câmara de Liverpool, forçando os Conservadores a uma retirada, é um farol para os mineiros e todo o movimento trabalhista. Mesmo antes dos estivadores entrarem em greve contra o uso do trabalho de fura-greves em Humberside, o apoio entre os mineiros, por parte dos sindicalistas, tem crescido. Há um apoio esmagador para a nossa luta entre os ferroviários… depois de 18 semanas de uma enorme greve, os mineiros não irão se acalmar com outra coisa que não seja a absoluta garantia sobre seus futuros empregos, condições de vida e comunidade.(22)

É importante não esquecer que durante a greve dos mineiros, muitos trabalhadores que entraram em greve em solidariedade com eles perderam seus empregos, alguns de modo permanente. A ação dos doqueiros foi provocada pelo uso de fura-greves em Immingham. Mas um deles na linha de piquete disse ao nosso repórter: “Essa é uma solidariedade com os mineiros – deveríamos ter saído desde a primeira semana da disputa”. (23)

À luz da ação de solidariedade dos estivadores, e das indicações de que outros, como os marítimos, dariam apoio, nós mais uma vez demandamos que os mineiros dessem mais um passo adiante. Pontuamos que

uma greve geral de 24 horas precisa ser organizada para parar os ataques Conservadores. Se o governo usar tropas (um rumor na época) para acabar com a greve dos mineiros ou dos doqueiros, uma greve total precisa ser organizada… Todas as lutas dos mineiros, doqueiros e marinheiros precisam se unir. Thatcher diz que é uma luta de ‘apenas 200 mil’ trabalhadores contra todo o resto, mas os sindicatos precisam demonstrar agora que os mineiros, doqueiros e marinheiros não estão sozinhos.(24)

Militant não deixou isso em chamados vazios mas desceu às especificidades. Dissemos que

o TUC direitista mostrou que é incapaz de organizar uma luta séria. Se eles são uma liderança digna deste nome, devem organizar uma greve geral de 24 horas o quanto antes. Além disso, o Sindicato Nacional dos Mineiros deve usar sua autoridade para chamar uma campanha nacional. A executiva do NUM deve nomear o dia, em uma semana ou duas, para o dia nacional de ação na qual ela deve convidar outros sindicatos de esquerda para tomar parte de uma greve geral de 24 horas. (25)

Os sindicatos de esquerda eram pressionados, mais uma vez, a tomar a iniciativa de preparar uma greve geral de 24 horas. Os mineiros mudaram “toda a paisagem da sociedade britânica.”

Num balanço da greve no fim de julho o Militant pontuou os passos preparatórios que Thatcher e o gabinete Conservador tomaram antes da greve. Mas tal tinha sido a resistência dos mineiros e da classe trabalhadora em geral que, apesar de todos os planos formulados pelo braço direito de Thatcher, MacGregor, a greve poderia ter sido facilmente vencida. Uma indicação da mudança de pontos de vista foi a declaração de um jovem mineiro em uma das nossas reuniões públicas durante a greve: “O socialismo literalmente bateu em seu crânio.” (26)

O poderoso efeito da greve no resto do movimento sindical foi detalhado. Os líderes sindicais direitistas enfrentaram um monte de críticas. 300 moções de censura apareceram na agenda da Conferência da Associação dos Servidores Públicos e Civis (CPSA) contra Alistair Graham, seu secretário geral, e a velha executiva direitista. Um mês antes, em junho, ele foi removido do conselho geral do TUC. Na conferência do USDAW a executiva foi derrotada nada menos do que 11 vezes e o novo secretário geral do NALGO enfrentou severas críticas por não apoiar o NGA durante sua disputa.

Sentimentos quase insurrecionais apareceram nas áreas de Yorkshire. O Militant deu um relato detalhado dos ‘distúrbios’ em Maltby onde a polícia saqueou a vila, e em Fitzwilliam onde tínhamos uma importante base entre os mineiros. Não foi o menor dos efeitos da greve a impressão duradoura nas mulheres, especialmente nas esposas e filhas dos mineiros. The Times, órgão dos grandes negócios, descreveu a emergência dos grupos de apoio das esposas dos mineiros como “o ponto de inflexão da greve”. Uma mulher comentou ao Militant:

Não costumávamos tomar qualquer notícia da política ou do governo, mas agora temos que ter. Nós paramos de comprar jornais. O The Star não é mais entregue depois que ele disse algo como ‘A Grã-Bretanha não deve sua subsistência aos mineiros’. Eles são tão ruins que não podemos nem mesmo acreditar mais nas histórias cotidianas. Não poderemos voltar à velha rotina depois da greve. (27)

Em agosto houve uma tentativa de sequestrar os recursos do NUM de Gales do Sul. Cerca de 400 membros dos LPYS, no campo de Gloucestershire, viajaram de ônibus até o bloqueio em Pontypridd. Brian Ingham, em nome do Militant, saudou a demonstração da plataforma do NUM. Ian Isaac, membro da executiva do NUM de Gales do Sul e apoiador do Militant, também saudou a demonstração. Ele jogou um papel central na greve em Gales do Sul e nacionalmente.

Kinnock condena o NUM

Contudo, justo no ponto crucial da batalha veio a fala de Neil Kinnock no TUC em setembro, quando ele condenou a ‘violência dos piquetes’. Sua fala implicitamente denunciava os piquetes mineiros. Meia dúzia de frases foi usada como cobertura:

Nós devemos levar o caso sem violência… violência distrai a atenção da questão central da disputa… a violência tem dado ao governo seu osso para roer… violência desgosta a opinião e divide as ações sindicais… enche de oportunidades os nosso inimigos. (28)

Foi o próprio Kinnock que forneceu a principal “oportunidade ao inimigo” por sua fala. Não houve nenhuma denúncia da violência policial ou da restrição das liberdades civis, ou sobre a perseguição e intimidação dos grevistas. Não foi surpresa que a imprensa capitalista teve um dia de festa. Nós comentamos:

Por este tipo de fala, Neil Kinnock não apenas falhou em dar apoio aos mineiros lutando por seus empregos e comunidades, ele deu total crédito à desmoralização da imprensa contra os mineiros. Ele involuntariamente veio em auxílio a todos os jornais e Conservadores chamando por uma vingança judicial na forma de pesadas sentenças de prisão e multas aos muitos mineiros injustamente presos nos últimos seis meses. (29)

Mesmo antes da greve a posição de Kinnock foi sublinhada por sua declaração em 1983 sobre o fato de que Arthur Scargill sozinho estava destruindo a indústria carvoeira. Uma biografia, A formação de Neil Kinnock por Robert Harris, foi publicada nesta época. Ele deu um relato detalhado de sua evolução, da esquerda incendiária à fiel defensor da ala direita dentro do Partido Trabalhista e sindicatos.

A imprensa especulou que Kinnock estava para castigar os mineiros e puxou o ‘uma pessoa, um voto’ para a re-eleição parlamentar. Mas elas calcularam mal, subestimando a enorme força do sentimento em todos os níveis do partido e dos sindicatos pelos mineiros. O apoio colossal a eles botou seu selo nos procedimentos do congresso do Partido Trabalhista. Comentando o debate dos mineiros, nós reportamos que tinha

criado uma atmosfera elétrica que pôs sua marca no debate político seguinte no qual a plataforma foi derrotada duas vezes. O mesmo foi verdade para a re-eleição, que mostrou a determinação de ferro das fileiras partidárias de não voltar atrás nos ganhos obtidos no passado. (30)

Kinnock recebeu a obrigatória ovação pela tradicional fala do líder mas esta sessão do congresso foi “muito mais um negócio educado sem o aplauso espontâneo e o entusiasmo de multidão de futebol com que eles receberam Arthur Scargill 24 horas antes.” (31) Kinnock não repetiu sua gafe do congresso do TUC, sendo cuidadoso agora para culpar o governo pela violência da greve e mesmo fazendo uma crítica passageira à polícia. Isso não satisfez muitos delegados que procuravam por um apoio muito mais corajoso aos mineiros.

Naquele congresso mais de 500 atenderam à Reunião dos Leitores do Militant para escutar Ted Grant, Tony Mulhearn, eu mesmo e o MP Terry Fields. Uma impressionante coleta de £1,500 foi feita, servindo para mostrar que apesar de todas as tentativas de mutilar o Militant pelas expulsões, nós continuávamos a nos fortalecer.

NUM multado

Nem bem terminou o Congresso do Partido Trabalhista e uma enorme multa de £200,000 foi imposta ao NUM e a Arthur Scargill pelos tribunais Conservadores. Jogando sal nas feridas, os Lordes Conservadores exigiram que o NUM pagasse os custos judiciais de dois fura-greves de Yorkshire que produziram a ação original. Nós comentamos:

Há a probabilidade de que o Tribunal irá impor uma multa ainda maior – de talvez £500,000 – se o NUM se recusar a “expurgar seu menosprezo.” Os Lordes Conservadores têm sido encorajados “pelas ambigüidades dos líderes sindicais e trabalhistas nas semanas recentes; pela incapacidade dos líderes sindicais de levantar a questão de modo apropriado no Congresso do Partido, e pela incompetência da liderança do GMBATU em responder à prisão de 37 trabalhadores da Cammel Laird. (32)

Um chamado foi feito por um delegado especial do NUM ao congresso para reafirmar a greve como oficial. Ao mesmo tempo foi sugerido um apelo especial dirigido ao NACODS, o sindicato dos representantes das minas, para permanecer ombro a ombro com o NUM, já que seus empregos também estavam em jogo. Quando o ano terminava, pontuamos que

a classe trabalhadora agora enfrenta o mais sério desafio desde 1926. Se, como temos reportado, os líderes do TUC recusarem o apoio pedido pelo NUM, então os líderes sindicais de esquerda – e especialmente os líderes dos próprios mineiros – precisam fazer um chamado independente para a ação sindical. (33)

A questão agora não era apenas o destino dos mineiros e seus empregos mas o direito dos sindicatos de tomar ações efetivas. Nós declaramos:

A hesitação pode ter consequências desastrosas. A classe dominante está levando uma clara guerra de classe. Os trabalhadores organizados precisam responder fogo com fogo… A força dos Conservadores é ilusória, baseada apenas na passividade dos líderes sindicais. (34)

Resumindo os efeitos da greve dos mineiros, o Militant declarou:

Esta luta se tornou um farol para a classe trabalhadora mesmo num plano internacional… Os mineiros grevistas… tomaram parte em tours internacionais, coletando milhares de libras. Os trabalhadores internacionalmente têm estado olhando para a Grã-Bretanha e prendendo sua respiração – esperando por uma vitória mineira sobre o detestado governo Thatcher.

Os Conservadores proclamaram que os mineiros não tinham apoio na Grã-Bretanha, ainda que as coletas de £1 milhão contradigam isso… O envolvimento político dos mineiros e de suas famílias levou até mesmo os bispos do Nordeste a comentar o interesse agora manifestado em ‘idéias revolucionárias’… A classe dominante tem criado um abismo entre as classes. A sociedade britânica nunca mais será a mesma. Os editoriais da imprensa capitalista têm falado sobre a ‘guerra civil sem balas’, do ‘inimigo interno’ – tudo indicando o quão séria é sua visão da guerra de classes… 1984 foi um ano em que os céticos se confundiram e a visão dos marxistas se confirmou – que quando ele tem certeza de que está certo, o povo trabalhador moverá céus e terra para lutar por seu futuro. Que continuará lutando em 1985, e depois, até o socialismo se tornar realidade. (35)

Mineiros Militant em viagem

A luta dos mineiros continuou em 1985 mas sem a vitória que esperavam, por causa do papel pernicioso dos líderes sindicais direitistas.

Nos primeiros meses de 1985 o Militant continuou a campanha pelos mineiros em nível tanto nacional quanto internacional. Muitos mineiros, alguns deles apoiadores do Militant, viajaram pelos quatro cantos do mundo onde havia um clamor do movimento trabalhista em ouvir em primeira mão relatos de sua luta. Roy Jones, um mineiro grevista e apoiador do Militant de North Staffordshire, passou um mês na África do Sul pelo convite do Sindicato Nacional dos Mineiros Sul-Africanos e foi aceito como seu primeiro membro branco. Sua viagem “foi vitoriosa em levantar fundos de £220 imediatamente, com a promessa de mais, vindo de um sindicato muito pobre.”

Roy foi afetado pela combatividade dos mineiros sul-africanos assim como eles foram inspirados pelas lutas dos trabalhadores britânicos. Ele explicou que foi

convencido da necessidade de ligações diretas com o NUM sul-africano. É um sindicato que cresce muito rápido, de nada para cinco anos atrás para 100 mil neste outono, com o objetivo de 200 mil para o congresso de janeiro. (36)

Outras visitas, envolvendo apoiadores do Militant, foram feitas à Grécia, Espanha, EUA, Alemanha e muitos outros países. Mas em fevereiro, conforme a greve se aproximava de seu 11° mês a resolução de alguns mineiros começou a fraquejar. Uma nova onda de choques entre os piquetes e a polícia estourou quando a polícia tentou proteger alguns mineiros que tentavam voltar ao trabalho. O Militant recordou um típico confronto em Easington, County Durham:

“Eu nunca estive tão assustado em minha vida. Eu costumava respeitar a polícia, mas nunca mais” disse um mineiro aposentado, Joss Smith. (37)

Ele foi preso no confronto que resultou da tentativa da polícia de escoltar um grupo de fura-greves que retornavam ao trabalho. Contudo, em março, depois de mais de um ano de greve, para alguns mineiros, a decisão desoladora era por retornar ao trabalho. Os mineiros o fizeram com bandeiras flutuando e bandas tocando gerando uma mistura de emoções entre o povo trabalhador. Lágrimas vieram aos olhos com a memória do sacrifício que os mineiros fizeram, não apenas por eles mesmos mas por toda a classe operária britânica. A isso se misturava a raiva dirigida a todos os que desertaram dos mineiros, que os apunhalaram pelas costas, e assistiram ao inimigo capitalista Conservador derrotar a greve. Nós comentamos:

A história foi feita pelos que retornaram ao trabalho esta semana. A greve mineira de 1984-85 jamais será esquecida, certamente não pelos que dela fizeram parte, nem pelas futuras gerações… A sociedade jamais será a mesma novamente. Os mineiros trouxeram a política de classes à agenda do dia. Eles serão o parâmetro na qual todas as lutas serão medidas… Eles não foram humilhados. Mas lições vitais têm que ser aprendidas. Acima de tudo, esta greve demonstrou a necessidade dos trabalhadores se unirem se qualquer setor, mesmo que forte, atrair o poder combinado da diretoria, governo, imprensa e polícia, como foi desencadeado contra os mineiros. (38)

Numa extensa revisão da greve o Militant lidou com os argumentos daqueles que acreditavam que a ‘estratégia’ de Thatcher foi vitoriosa.

Nada pode estar mais longe da verdade. Ele queria uma Falklands sindical, uma curta e incisiva vitória. Ela lidou com uma greve que durou um ano, custando £7.000 milhões e que teve um efeito duradouro no relacionamento entre as classes. (39)

O papel dos líderes sindicais foi analisado:

Ned Smith, o agora ex-diretor de relações trabalhistas do NCB comentou que a falência do TUC em dar ‘total apoio’ aos mineiros foi o ponto de inflexão na atitude governamental. E os líderes de esquerda dos sindicatos? Sem a pressão das fileiras, os líderes direitistas do TUC teriam tentado organizar uma rendição aos Conservadores meses atrás. À esquerda genuína que queria ajudar a causa dos mineiros, faltava a mais elementar estratégia, táticas e métodos para tanto, e a necessária confiança em suas próprias fileiras. Esta greve demonstrou de forma aguda a importância da teoria e de um entendimento e perspectivas para aqueles com posições de liderança no movimento trabalhista. A infecção do ‘novo realismo’ se espalhou mesmo entre a maioria dos líderes de esquerda. Apesar do exemplo dos mineiros e de suas famílias, e todo o magnífico apoio, eles simplesmente não acreditavam que seus próprios membros responderiam se os chamassem para a luta. (40)

Lidando com os sentimentos da classe trabalhadora durante a greve nós escrevemos:

Marinheiros confiscaram todo o carvão. Ferroviários do NUR e ASLEF permaneceram firmes apesar da vitimização de seus próprios membros. Mesmo nestas duas indústrias, contudo, pouco foi feito pelos líderes para ligar sua ação com a dos mineiros. Os marinheiros enfrentaram uma cadeia de problemas agudos. No curso desta greve, a privatização da Sealink foi adiante. Uma campanha da liderança por uma greve total junto com os mineiros teria salvado não apenas a Sealink, mas poderia aumentar massivamente a luta dos mineiros. (41)

O quanto Thatcher estava preparada para ir para isolar os mineiros foi descrita:

Thatcher interviu pessoalmente nas negociações salariais das ferrovias para assegurar que a oferta da diretoria seria suficiente para atrair os líderes sindicais e evitar uma greve dos ferroviários junto com os mineiros… O sindicato dos transportes, o maior sindicato de esquerda, tem a capacidade de aleijar a vida econômica do capitalismo britânico. Infelizmente, a poderosa máquina deste sindicato nunca foi virada decisivamente a favor da greve dos mineiros. Os estivadores se recusaram a transportar carvão. Como resultado, duas disputas estalaram. Os Conservadores tropeçaram na primeira. A segunda foi cinicamente e cuidadosamente provocada. Quando os estivadores entraram em ação, os piores medos da classe capitalista se realizaram; outro forte setor dos trabalhadores estava lutando lado a lado com os mineiros. Freneticamente falaram sobre a deflagração de um ‘Estado de Emergência’. Os Conservadores estavam cambaleando. Mas ao invés de lutar abertamente e corajosamente para unir a greve dos mineiros à dos estivadores, os líderes do TGWU apresentaram a greve dos estivadores como uma coisa totalmente separada. Eles negavam que as greves fossem políticas quando estava claro que elas, assim como a greve dos mineiros, foram cinicamente provocadas pelo governo Conservador. (42)

Pontuando os estágios decisivos da greve, o Militant comentou:

Um momento se destaca de todo o resto. Em novembro, após a greve da BL (British Leyland), o TGWU foi multado em £200.000 sob a legislação anti-sindical. A reação da executiva do TGWU foi de oposição, mas com armas abaixadas… A liderança se recusou a pagar o dinheiro, se recusou a ir ao tribunal então eles simplesmente sentaram passivamente enquanto seqüestravam os fundos do TGWU. A lição é: líderes de esquerda são geralmente mais próximos e mais sujeitos à pressão das fileiras. Mas na luta para eleger líderes de esquerda em todos os sindicatos, os ativistas devem se assegurar de que estes líderes sejam selecionados por sua história passada e num claro programa socialista que vai de encontro às necessidades das fileiras. A esquerda precisa demonstrar uma clara disposição em mobilizar as fileiras dos sindicatos para lutar por tais questões decisivas. (43)

Apesar do heroísmo e da tenacidade da liderança do NUM, faltava uma estratégia clara nos momentos decisivos.

Na corrida para o TUC, Militant argumentou para o NUM nomear uma data duas ou três semanas antes do TUC. Tal chamado por uma greve geral poderia botar em funcionamento um processo impáravel. Os ativistas por toda a indústria poderiam começar imediatamente a organizar apoio. A pressão vindo debaixo poderia forçar os líderes sindicais de esquerda a se alinharem com o NUM. O próprio TUC se veria forçado a botar sua autoridade nesta ação. Ao invés, NUM continuou com a idéia de mais chamados gerais por apoio. A resolução dos sindicatos de móveis por um dia de ação de solidariedade foi retirada da agenda. O Militant continuou semana após semana a argumentar para que o NUM tomasse corajosamente a iniciativa de escolher uma data para uma greve geral de um dia. (44)

No começo de 1985 o NUM de Gales do Sul fez o chamado da greve geral de um dia. O Militant produziu 50 mil panfletos para o NUM publicar o caso, mas a maré tinha de fato começado a mudar. Uma questão chave da greve era o campo de carvão de Nottingham e o papel do NACODS, sindicato dos representantes das minas:

As fileiras não podem ser culpadas. Com uma liderança diferente eles teriam se unido à batalha. Oitenta e um por cento dos membros do NACODS votaram pela greve. (45)

Os líderes do NACODS, como os Conservadores com medo de uma paralisação total das minas, negociaram seu próprio acordo em separado. Os membros do NACODS, junto com os do NUM pagaram por estas ações covardes de seus líderes pela subseqüente perda de muitos de seus empregos no período após a greve.

Comentando a implicação política da greve e o papel dos líderes trabalhistas, dissemos:

Os mineiros jamais esquecerão o quanto sua profunda lealdade [ao trabalhismo] foi paga por Neil Kinnock e outros líderes trabalhistas. Apenas uma vez Neil Kinnock encontrou tempo para visitar as linhas de piquete… Depois das negociações terem sido rompidas pelo Coal Board, Neil Kinnock estava muito ocupado para atender. Quando todo o peso da lei foi empregado contra mineiros individuais, ele aconselhou uma mansa submissão às decisões dos tribunais conservadores… Kinnock e outros líderes se alinharam com os Conservadores, ao dar crédito à idéia de que os mineiros eram criminosos violentos que mereciam ser despedidos e enfrentar o resto da vida no desemprego. (46)

Contudo, a greve, como previmos, teve um efeito duradouro na sociedade britânica e acima de tudo na classe trabalhadora:

Esta greve via a radicalização de comunidades inteiras. Dentro do NUM, os jovens leões – como eram chamados – irromperam na greve com incrível coragem e energia. Eles e a juventude ao seu redor nas vilas mineiras foram a vanguarda da explosão social que aterrorizou os Conservadores. Eles refizeram as melhores tradições de luta e solidariedade. Em junho, The Times comentou que ironicamente, “a disputa que alguns políticos esperavam que quebrassem o poder do NUM na verdade tem criado novos quadros para o futuro”. (47)

A greve mineira de 1984-85 foi, e permanece, a mais importante disputa sindical das últimas duas décadas, possivelmente desde 1945. Contido neste drama, com elementos de guerra civil entre as classes, estavam todos os ingredientes para uma futura maior batalha a nível nacional. Cínicos e corações-fracos irão dizer que a derrota da greve e a subseqüente destruição da indústria carbonífera, com a perda de milhares de empregos, foi a prova da ‘futilidade’ desta greve.

Pior que uma derrota depois de uma batalha honrosa é a retirada vergonhosa sem disparar um tiro. Nada é mais calculado para desmoralizar a classe trabalhadora do que a visão de uma liderança que volta as costas e corre de uma luta quando está claro que não há outro caminho. Scargill e os líderes do NUM estavam muito conscientes da enorme acumulação de carvão na expectativa da greve. Eles também entenderam que o ameaçador fechamento de Cortonwood, o gatilho para a greve, foi uma provocação. Mas aceitar o fechamento de uma mina, enquanto ainda havia abundantes reservas de carvão, seria o primeiro passo para a capitulação. O curso escolhido pela liderança do NUM e pelos mineiros continuou uma tradição de luta que será apropriada pelas futuras gerações de trabalhadores.

1 Militant 692 23.3.84
2 ibid
3 ibid
4 ibid
5 ibid
6 Militant 690 9.3.84
7 Militant 691 16.3.84
8 ibid
9 Militant 696 20.4.84
10 ibid
11 The Guardian, Quoted In Militant 696
12 Militant 697 27.4.84
13 Militant 705 22.6.84
14 ibid
15 Militant 702 1.6.84
16 ibid
17 ibid
18 ibid
19 Militant 705 22.6.84
20 Militant 702 1.6.84
21 ibid
22 Militant 708 13.7.84
23 ibid
24 Militant 709 20.7.84
25 ibid
26 Militant 710 27.7.84
27 Militant 712 10.8.84
28 Militant 717 21.9.84
29 ibid
30 Militant 719 5.10.84
31 ibid
32 Militant 720 12.10.84
33 Militant 728 7.12.84
34 ibid
35 Militant 730 4.1.85
36 Militant 731 11.1.85
37 Militant 736 15.2.85
38 Militant 739 8.3.85
39 ibid
40 ibid
41 ibid
42 ibid
43 ibid
44 ibid
45 ibid
46 ibid
47 ibid