A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994

Expulsos… para o Movimento

Depois de muita discussão o corpo editorial do Militant relutantemente concluiu que era necessário tomar ações legais contra a ala direita para assegurar nossos direitos democráticos. Foi naturalmente uma decisão controversa que mereceu a ira da ala direita e de grupos ultra-esquerdistas. Mesmo dentro das fileiras do Militant não houve uma aceitação universal a essa posição. Contudo, através do debate e discussão, a esmagadora maioria dos nossos apoiadores apoiou a proposta de ação legal sugerida pelo corpo editorial.

A ala direita e os líderes sindicais não estavam em posição de queixar-se sobre a ação legal. Eles nunca hesitaram em ir às cortes capitalistas contra o Militant e seus apoiadores. A esquerda na Grã-Bretanha em alguns momentos não teve outra escolha senão tomar ações legais contra infrações da direita das regras dos sindicatos. Militant deu o exemplo da Sociedade dos Trabalhadores da Indústria Pesada, onde tais ações foram tomadas duas vezes. O Ramo Central de Londres do Sindicato dos Eletricistas comumente desafiou sua liderança nas cortes. Militant não acreditava que esse era o meio principal de combater a caça-às-bruxas. No melhor dos casos era um auxiliar que poderíamos ter na mão temporariamente, que nos permitiria ganhar tempo para construir um apoio entre a militância para impedir o expurgo, ou ao menos limitar seu alcance. Michael Foot, líder do partido, denunciou o Militant por tomar esta ação. Mas em sua biografia de Aneurin Bevan ele mostrou que quando Bevan enfrentou uma situação similar, a expulsão do partido trabalhista, ele ameaçou ir “à mais alta corte na terra”. Isso porque ele considerava estar sendo tratado de uma maneira inconstitucional.

No dia que o Corpo Editorial do Militant Editorial foi puxado antes do Comitê Executivo Nacional do Partido Trabalhista em dezembro, o caso para uma injunção temporária para impedir o NEC foi lido e rejeitado pelo sr. Justice Nourse. O juiz não rejeitou os nossos argumentos mas disse que o Corpo Editorial deveria ter ido à corte quando o relatório Hayward-Hughes foi publicado pela primeira vez em agosto de 1982. Ele também disse que o Militant deveria ter ido aos tribunais para exigir uma audiência justa antes do congresso do partido em setembro. A afirmação do jornal que o Corpo Editorial não tinha dado evidência, ou suficientes detalhes de evidência, foi aceito pelo juiz.

Expulsos

A reunião com o Comitê Executivo Nacional, em dezembro de 1982, foi uma farsa e uma paródia de justiça natural. O secretário geral, Jim Mortimer, inacreditavelmente recusou a petição de mostrar as alegadas evidências de que o Militant era uma organização separada. Os membros do corpo editorial e a esquerda no NEC que nenhuma declaração seria disponibilizada. Os membros do NEC, numa reunião antes dos editores entrarem, acertaram para impedir qualquer pergunta. Isso foi confirmado pelo presidente, Sam McCluskie, na presença do Corpo Editorial. Este protestou contra tal procedimento e foi então decidido que o NEC rediscutiria a questão e portanto nos retiramos para outra sala.

Quando retornamos nos foi dito então que Mortimer faria uma declaração. Isso meramente significou para ele ler extratos de sua fala no congresso do Partido Trabalhista e parte de uma carta que foi enviada aos solicitantes do Militant cinco dias antes. Não havia nada absolutamente novo neste material. Num certo momento Dennis Skinner esbravejou que aquilo era uma “corte avestruz”, uma afirmação que foi justificada pelo que se seguiu. Skinner se retirou da reunião depois que Lynn Walsh perguntou a McCluskie e Mortimer quais mudanças deveriam ser feitas na alegada estrutura do jornal. Ele pontuou que estas discussões foram feitas com o secretário geral anterior, Ron Hayward, e nós concordamos em considerar mudanças de como o Militant era organizado. Foram feitas objeções de que a reunião dos vendedores do Militant, organizada nacionalmente todo ano, era restrita aos apoiadores do Militant. Nós subsequentemente demos uma promessa de abrir estas reuniões para as fileiras do Partido Trabalhista e a mídia. Mas o pedido para mais esclarecimentos encontrou um silêncio de pedra.

Sob protestos os cinco membros do Corpo Editorial procederam então para delinear sua oposição à reivindicação feita na moção do NEC a eles para serem excluídos do partido.

Depois disso nos retiramos, e os cinco de nós foram então convocados para enfrentar a expulsão no NEC a ser realizado em fevereiro. Isso foi outra farsa e como esperado, a ala direita usou sua maioria para realizar a expulsão do corpo editorial do Militant, sob a total publicidade da mídia.

Pré-eleição de Bermondsey

A direita realizou esta ação, sabendo que poderia levar à divisão do partido, às vésperas da pré-eleição de Bermondsey. Esta era vista como um teste para a eleição geral. O Partido Trabalhista de Bermondsey, junto com 50 ou 60 outras organizações trabalhistas, pediram à Cambridge Heath Press, que imprimia o Militant, a imprimir seus materiais eleitorais. Isso se tornou a desculpa para mais clamor público contra o Militant e a esquerda. Ao mesmo tempo, a direita persistia na política de se distanciar do candidato trabalhista Peter Tatchell. Isso, junto com a suja publicidade antigay contra Tatchell, uma campanha de sussurros inspirada pelos Liberais, resultou em uma derrota para o Trabalhismo no que seria uma cadeira sólida. Durante a pré-eleição a imprensa deu sua benção para John O’Grady, o chamado ‘verdadeiro candidato trabalhista’. Quando se tornou claro que ele não poderia bater Peter Tatchell, houve uma decisiva e orquestrada virada de O’Grady e seus apoiadores à Simon Hughes, o candidato Liberal.

Não era segredo nos corredores do Westminster que a maioria dos MPs trabalhistas queria uma derrota trabalhista. A responsabilidade por esta derrota claramente repousava nos ombros da direita. Bermondsey se tornou um ‘munícipio corrupto’ sob o governo da direita trabalhista, tipificada pelo antigo MP local, Bob Mellish. Ele presidia a London Docklands Development Corporation. Este corpo realizou desastres para os habitantes da área. Essa foi uma razão para a virada dos apoiadores do trabalhismo rumo aos Liberais. Um trabalhador comentou:

Algumas pessoas dizem que foi a imprensa que fez o trabalhismo perder a cadeira, mas há mais do que isso. Aqui nós não somos estúpidos, nós sabemos o que se passa. Você tinha que ver o que aconteceu no passado. Tenho sido Trabalhista toda a minha vida. Estou quase envergonhado de admitir a você que eu votei nos Liberais. Sei que eles não são socialistas, mas algo tinha que ser feito. O Trabalhismo nos tem dado como certos por muitos anos. Eles estão aqui há sessenta anos e veja para isso. Eles deixaram a área arruinada. (1)

Reconduza os Cinco!

Após a expulsão dos membros do Corpo Editorial uma massiva contra-campanha foi lançada em fevereiro e março pelos apoiadores do Militant. Em duas semanas mais de 3 mil trabalhadores foram a reuniões organizados pelos membros editores e mais de £3,500 foi levantado em coletas.

O tom de nosso jornal era de enfatizar a oposição ao capitalismo e aos conservadores. Diferentes de alguns jornais nós não caíamos em denúncias de nossos oponentes mas tentávamos explicar questões e ganhar camadas frescas dos trabalhadores, algumas vezes criticando, de um modo positivo, as deficiências de alguns líderes da esquerda. Militant não fechava os olhos para as deficiências destes, como Tony Benn, Dennis Skinner ou mesmo Arthur Scargill. Isso sem dúvida irritou estes líderes, mais acostumados a aclamações acríticas de grupos de esquerda, do que críticas construtivas.

Aproveitamos cada oportunidade para ganhar apoio para nossas idéias. Um exemplo de nossa abordagem foi uma reunião realizada em março de 1983 na área mineira de Newbridge, Gwent, Gales do Sul. Tony Benn se dirigiu a uma reunião de massa de 700 pessoas, que os apoiadores do Militant junto com outros prepararam ao longo das vilas e minas para construir apoio. A luta dentro do Partido Trabalhista não chegou a um fim, mas estava para preparar uma força de massas para apoiar os trabalhadores em luta.

Em completa contradição com o que disseram apenas um mês antes, a ala direita não hesitou em apelar às “cortes capitalistas” numa tentativa de aleijar o Militant. James White, MP Trabalhista por Glasgow Pollok, extraiu um mandato judicial contra o Militant por reportar um disputa envolvendo trabalhadores em uma firma pertencente a ele e sua esposa. Por boas maneiras ele também tomou ações similares contra o Glasgow Herald.

Seus aliados nos sindicatos, o secretário geral direitista do APEX, Roy Grantham e o seu parceiro MP Denis Howells, usaram este incidente para exigir que o Militant fosse colocado em uma “lista proscrita”. Foi um “lapso em sua mente” que seu infame dispositivo direitista para excluir a esquerda do Partido Trabalhista tenha sido abandonado em 1973!

1 Militant 640 4.3.83