A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994
Rumo às Expulsões
O mais notável sucesso Trabalhista nas eleições municipais de 1982 foi em Liverpool. Ali o partido, fortemente influenciado pelo Militant, conduziu uma combativa campanha socialista contra titulares Liberais. A mídia Conservadora e seus acólitos liberais expunham ao ridículo a ‘Tendência Militant’. Um exemplo típico das táticas de pânico vermelho era um panfleto dos Liberais que diziam que o Militant queria “banir a religião em favor do ateísmo Militante”. O panfleto foi distribuido como um deslize achado para ser enviado a Michael Foot pedindo a ele para se desassociar das “políticas delineadas acima” e chamava por uma “decisão urgente” de inquirição sobre a ‘Tendência Militant’. Isso mostrava que a campanha da ala direita trabalhista fazia o jogo dos partidos capitalistas.
Mas após as eleições, Liverpool ecoou uma verdade: “Os eleitores da cidade rejeitaram a campanha antimarxista”(1). Em muitos distritos eleitorais havia enormes outdoors laranjas nas cumeeiras das casas com o principal slogan Liberal “Marxistas Fora – Liberais dentro”. Não foram apenas os liberais, mas seus aliados, o SDP, que foram batidos, merecendo o cruel apelido de ‘Sudden Death Party (Partido da Morte Súbita). O resultado da eleição foi que o Trabalhismo continuava como o maior partido, com 42 assentos, mas os Liberais e Conservadores ainda tinham entre eles 57 assentos. Alguns direitistas argumentaram para o Trabalhismo tomar o controle da minoria. Contudo, a esquerda vitoriosamente derrotou esta proposta. Os Liberais foram deixados no poder, o “cálice envenenado”. Grandes cortes se aproximavam, assim como aumentos de aluguéis e a provável perda de 4 mil empregos. A atuação dos Conservadores e Liberais nos próximos 12 meses seria preparar o terreno para uma enorme vitória trabalhista em 1983.
CPSA
Enquanto isso, na frente industrial a mais notável característica do trabalho do Militant foi o triunfo da esquerda no CPSA. A conferência de 1982 foi talvez a mais importante em 79 anos da existência deste sindicato. Políticas radicais foram adotadas e eleita uma liderança combativa para implementá-las. Kevin Roddy, um bem-conhecido apoiador do Militant, foi eleito presidente. A Esquerda Ampla varreu a velha diretoria nas eleições para o Comitê Executivo Nacional com uma maioria de 24 a 4, entre os quais estavam 7 apoiadores do Militant. As condições que levaram a esta vitória da esquerda estavam sendo preparadas pela completa falência da direita. Eles eram fracos, hesitantes e vacilantes. Kevin Roddy foi o primeiro presidente de esquerda em mais de 30 anos e quando sua eleição foi anunciada, uma onde de entusiasmo espontâneo se espalhou pelo hall da conferência. A afiliação do Partido Trabalhista foi implementada pela primeira vez. Militant batalhou muito para isso, apesar da caça-às-bruxas que estava tomando conta do partido.
Contudo, trabalhadores ativos no movimento trabalhista estavam preocupados ao longo de 1982 com esta crescente campanha contra o Militant e a esquerda em geral. A mídia aumentou a histeria na preparação para a reunião do Comitê Executivo Nacional em 23 de junho. Mais e mais exigências eram feitas para a expulsão dos apoiadores do Militant. Os argumento da mídia eram repetidos, um atrás da outro, pelos MPs e líderes sindicais direitistas.
Terry Duffy, o líder direitista do Sindicato dos engenheiros (AUEW) procurou chantagear o NEC pela insinuação de que se recusaria a pagar os prometidos £2.5 milhões para o fundo de eleição. A razão ostensiva para isso foi a escolha de Pat Wall como o candidato trabalhista para Bradford North. Duffy ameaçava apoiar Ben Ford, o candidato trabalhista ‘independente’. Ações eram exigidas não apenas contra o Militant mas contra outros na esquerda. Roy Hattersley queria tomar uma ação contra o Comitê de Coordenação Trabalhista (LCC). Sid Weighell sugeriu que Tony Benn deveria deixar o Partido Trabalhista e criar seu próprio partido. Nós comentamos:
A direita trabalhista claramente vê a caça-às-bruxas contra o Militant como o inicio de um expurgo contra qualquer dissidente. É uma campanha para destruir todos os ganhos em políticas e democracia por três anos. (2)
Mas havia uma feroz resistência entre as fileiras socialistas do partido. Duzentos diretórios protestaram ao NEC contra a caça-às-bruxas. As conferências regionais da Escócia, West Midlands, Londres, Sul e Sudoeste do Partido se opuseram a qualquer caça-às-bruxas. No Noroeste uma moção apoiando as expulsões foi desprezivelmente acordada; um delegado moveu os “próximos assuntos”. Numerosos protestos tiveram lugar em reuniões do movimento trabalhista por todo o país. Gales era uma arena de feroz conflito entre o Militant, a verdadeira esquerda no coração de Gales do Sul, e os parlamentares direitistas e vereadores carreiristas. Desta área vieram alguns dos melhores e mais resolutos partidários do Militant e do marxismo; Muriel Browning, indomável lutador socialista, delegado sindical sem nenhuma hesitação em seu apoio à classe trabalhadora em luta; Andrew Price, um dos melhores oradores socialistas nas fileiras do Militant e resoluto apoiador do marxismo, junto com grandes apoiadores como Alec Thraves, Roy Davies, Dave Reid e muitos outros. Este foi por mais de 30 anos um dos bastiões do apoio ao Militant. Em 1982 o South Wales Evening Post reportou:
Quase 300 sindicalistas e membros do Partido Trabalhista participaram do comício do ‘Militant’. Eles escutaram o sr. Peter Taaffe, o editor, delinear o programa do Militant e responder as alegações de infiltração da ala direita trabalhista. (3)
Do outro lado da Grã-Bretanha, mesmo em uma área associada ao “socialismo champagne”, de acordo com o jornal local, “Moções contra a Tendência Militant tem sido condenados pelo Partido Trabalhista de Hampstead.” (4) O East End News publicou comentários favoráveis de lan Mikardo, MP de esquerda por Bethnal Green:
Recordando a reunião do Comitê Executivo Nacional Trabalhista ele disse ‘de 1951 em diante nunca houve uma reunião sem algum violento ataque à esquerda… O adjetivo de Michael (Foot) para ele era “horroroso”.
O artigo continuava:
Suas políticas [do Militant] de uma semana de 35 horas, salário mínimo de £90 e a nacionalização dos 200 maiores monopólios… podem ser estreitas… mas eles dificilmente podem ser descritos como extrapolando os limites da própria cláusula IV parte 4 do Trabalhismo, “posse comum dos meios de produção, distribuição e troca”. (5)
As conferências anuais do UCATT, GMWU, USDAW, o secretário geral do Sindicato dos Transportes, assim como o comitê distrital de Glasgow do AUEW se opôs à caça-às-bruxas.
O alerta do Militant de que a caça-às-bruxas estava ligada à tentativa de levar a política do Partido Trabalhista para a direita foi confirmado pelo preâmbulo da publicação do Programa Trabalhista para 1982. Lia-se: “Um governo Trabalhista dificilmente não poderia implementar todas as políticas contidas aqui em seu primeiro tempo de mandato”. O Financial Times reportou que isso foi inserido a pedido do “gabinete de sombra que se preocupava que a esquerda pudesse usar o programa para comprometer o governo trabalhista a introduzir políticas impraticáveis.” (6)
O NEC, como era muito esperado, levou adiante em junho medidas que eventualmente poderia levar à expulsão dos apoiadores do Militant. Isso estava tendo lugar contra o pano de fundo da corrida para a eleição geral. Mas a direita estava determinada a “aproveitar o tempo”. Denis Healey no Comitê Executivo Nacional declarou que “isso não é uma caça-às-bruxas – é uma caça ao Militant”. (7)
O relatório Hayward-Hughes, nomeado com o nome dos diretores do NEC que “investigaram” o Militant, foi passado por 16 votos a 10, e encontrou antigos esquerdistas, Neil Kinnock e Joan Lester, no campo da direita. Outro antigo esquerdista, Alex Kitson, do Sindicato dos Transports, junto com o líder partidário Michael Foot, também apoiou os primeiros passos rumo a uma caça-às-bruxas.
Foot sublinhou em sua biografia de Nye Bevan que as mesmas acusações de organizar um “partido dentro do partido”, foi o mote da direita contra Bevan nos anos 50. Kinnock, procurando justificar seu apoio à direita, afirmou que o Militant era “mobilizado desonestamente e uma ameaça organizada”. (8) Nós respondemos:
É honesto se candidatar para o NEC como esquerdista e então votar com a ala direita em todas as grandes questões? É honesto manter, como Neil Kinnock faz, que as idéias não são a questão e então votar pela supressão do panfleto dos LPYS, Ideais de Outubro [sobre a Revolução Russa de 1917 e sua degeneração stalinista] porque seu conteúdo era ‘trotsquista’? (9)
O rumo à direita de antigos esquerdistas era também indicado pelo voto dos MPs do grupo Tribune, por 23 a 20, para aceitar o Relatório Hayward-Hughes. O próprio jornal Tribune, naquela época muito mais crítico à liderança do Partido, descreveu o grupo parlamentar Tribune como “morto”.
A posição contraditória dentro do Partido Trabalhista era sublinhada pelo fato de que enquanto o Militant estava sendo investigado o Comitê Executivo Nacional era forçado a sancionar uma transmissão política sobre os problemas da juventude, que fez entrevistas com membros dos LPYS e trouxe uma inundação de requerimentos dos seus membros. Mas de 600 chamadas foram respondidas apenas na noite da transmissão. Dois terços destes estavam na idade dos YS, provando que, “dados os recursos para levar nossa mensagem adiante, o potencial para a construção do movimento de juventude trabalhista é ilimitado”. (10)
A transmissão também sublinhou o apoio massivo para as políticas socialistas nas fileiras do partido. O crescimento do apoio ao Militant entre os jovens negros e asiáticos se refletiu na Conferência dos LPYS Negros que teve lugar em julho e atraiu 130 pessoas para o evento em County Hall em Londres. Nenhuma outra organização na Grã-Bretanha foi capaz de fazer tais ganhos entre os jovens negros e asiáticos.
No setor de mulheres as idéias do Militant também encontraram grande apoio. A Conferência Trabalhista de Mulheres em Newcastle foi a maior da história e mais de 80 atenderam nossa reunião dos Leitores do Militant.
Ao mesmo tempo, uma feroz batalha se desenvolvia na industria, especialmente entre os trabalhadores da saúde e ferroviários.Uma greve entre os trabalhadores do ASLEF começou em junho. A questão da flexibilidade da escala de serviços – de fato uma tentativa de estender o dia de trabalho – era o coração do ataque aos ferroviários. Militant exigiu que:
“O TUC coloque junto todos os músculos da classe trabalhadora para apoiar os trabalhadores da saúde e das ferrovias com uma greve geral de 24 horas; podemos começar a batalha verdadeira e transformar a ameaça de execução da companhia em uma morte para o governo conservador.” (11)
Servidores da Saúde entraram em uma série de greves desesperadas pela necessidade do aumento de 12% no pagamento. Em 23 de junho uma greve de um dia foi declarada em North Last que recebeu grande adesão. Em 19-21 de julho três dias de ação foram organizados por eles em todo o país para mostrar suas exigências. Eles receberam grande apoio e demonstrações de massa também ocorreram. Ainda quando o movimento estava no auge o TUC decretou um “Domingo Negro” (20 de julho) para forçar o ASLEF a terminar a greve. Nós comentamos:
Foi também noticiado que o Comitê de Finanças e Propósitos Gerais [do TUC], desgraçadamente, levantou até mesmo a ameaça de expulsão [do TUC] do ASLEF, [a menos que a greve termine]. (12)
Nós tiramos um paralelo com o que estava acontecendo no Partido Trabalhista:
Aqueles líderes do TUC que tem sido os mais consistentes advogados do expurgo do Militant do Partido Trabalhista são as mesmas pessoas que renegaram os interesses dos membros do ASLEF nesta greve. Os apoiadores do Militant são ‘culpados’ de lutar por exatamente o que os trabalhadores e membros do ASLEF precisam – por uma corajosa e determinada liderança no Partido Trabalhista e sindicatos. (13)
Rumo à Wembley
Não obstante estes importantes desdobramentos o Militant ainda era obrigado e devotar um espaço considerável e esforços de seus apoiadores para se mobilizar contra as expulsões. O jornal decidiu chamar uma conferência do movimento trabalhista a ser organizada em setembro de 1982, para demonstrar a força do sentimento contra a caça-às-bruxas, antes da importante conferência do Partido Trabalhista. Esta conferência teve lugar em 11 de setembro no Centro de Conferências de Wembley. Foi sem nenhuma dúvida um dos mais decisivos eventos na história do Militant tanto antes como desde então. Foi uma poderosa demonstração das raízes que o Militant construiu em todos os setores da classe trabalhadora e no movimento trabalhista. Cerca de 3 mil delegados e visitantes foram ao centro para expressar sua oposição determinada à ameaça de expulsões. Tony Saunois, o presidente do evento, reportou que 1.622 delegados dos diretórios do Partido Trabalhista, 412 delegados sindicais e quase mil visitantes compareceram. A conferência teve um efeito maravilhoso:
O aumento da multidão no Centro de Conferência lotado surpreendeu os críticos do Militant, mesmo os da esquerda, que diziam que não havia nenhum apoio suficiente para o grupo… para encher o lugar. (Mail on Sunday, 12 September 1982.) (14)
Outro jornaleco da direita, o News of the World, comentou:
Por qualquer critério o comício de ontem dos apoiadores da Tendência Militant foi ameaçadoramente impressionante… Quase tão grande quanto o próprio Partido Trabalhista poderia reunir. (15)
Mesmo o Labour Weekly, então o jornal oficial do partido, admitiu rancorosamente:
O tamanho da conferencia de sábado,” Combata os Conservadores não os Socialistas”, organizada pelos apoiadores do Militant, é preocupante para os que esperam por fáceis expulsões de alguns Militants proeminentes do Partido. (16)
Essa conferência recebeu uma cobertura maciça da TV e imprensa. A minha declaração, falando na sessão de manhã, “para cada um que eles expulsam dez tomarão seu lugar”, foi transmitida pela TV e Rádio.
A conferência foi chamada muito rapidamente por sete diretórios do Partido Trabalhista, com acordos sendo feitos em julho e agosto. Em vista do seu tamanho e atmosfera, a conferência foi um triunfo para os organizadores. Era, além disso, uma conferência muito ampla do movimento trabalhista. Les Huckfield ganhou um tremendo aplauso quando disse: “Nós somos o Partido Trabalhista.” Muitos apoiadores não-Militant que tomaram uma posição principista contra a caça-às-bruxas falaram. Bob Wright, secretário geral assistente do AUEW, culpou a ala direita pela “Guerra Fria” que se desenrolava no partido. Ken Livingstone, então líder do Grande Conselho de Londres, declarou na conferência:
O povo que tenta se livrar do Militant estava antes lutando ao lado daqueles que desertaram para o SDP em Londres. Eles espalharam suas teias tão longe quanto o grupo Tribune e o GLC para fazer o partido seguro para os traidores. Os apoiadores do Militant lutaram por preços baratos, ele disse, não aqueles que atacavam o Militant. (17)
Terry O’Neill, presidente do Sindicato dos Padeiros, declarou:
Quando Pat Wall for o candidato por Bradford North eu irei a Bradford e ficarei nas soleiras das casas para dizer às pessoas que Pat é um lutador da classe trabalhadora. (18)
Apesar de tudo, a direita estava empenhada em introduzir o registro de “grupos não-filiados” como o primeiro passo para os expurgos. Em setembro a linha de batalha foi delineada entre a esquerda e a direita para a próxima conferência de outubro. Os principais porta-vozes da direita abandonaram qualquer pretensão de que o Militant estava sendo atacado por sua estrutura organizativa e fervor. Era por suas políticas e idéias que eles se opunham.
Que o registro era um dispositivo a ser usado contra o Militant foi mostrado pelo fato de que nos foi dado até 21 de setembro para nos registrar, enquanto a qualquer outro foi dado até 31 de dezembro. Não se registrar, o líder partidário Foot deixou claro, poderia resultar em expulsão imediata. Ao mesmo tempo o secretário geral, Jim Mortimer, escreveu aos diretórios dizendo que i registro não poderia se aplicar a “organizações que incluem membros do Partido Trabalhista e pessoas que não são membros do Partido Trabalhista.” Como o Militant comentou:
Isso deixa o Partido Trabalhista na ridícula posição de banir grupos que consistem em membros trabalhadores antigos e leais, e ainda tolerando a pressão sobre o partido que incluem Mps Conservadores, homens de negócio, magnatas internacionais ou representantes do Pentágono. (19)
Conferência do Partido Trabalhista
A conferência de 1982 foi um negócio tumultuoso. Nela desafios agudos externos tiveram lugar entre a esquerda e a direita, ambas sobre a questão do expurgo proposto e as políticas do partido. Durante a conferência mesma uma edição especial ao vivo do programa de TV This Week, com 14 milhões de espectadores, viu eu mesmo e Tony Mulhearn debater com o MP direitista Austin Mitchell e o pré-candidato parlamentar, John Spellar, ante uma audiência ao vivo de delegados e visitantes.
À margem da reunião do Tribune Neil Kinnock foi questionado por sua decisão de se alinhar com a direita. Constantemente apartado durante a reunião para explicar sua posição sobre o registro, Kinnock prometia, “Vou chegar lá”, mas nunca mencionou o registro. Ao invés, fazendo malabarismos com várias definições de socialistas “sérios”, ele deleitou a audiência com várias e longas citações do livro do professor Hobsbawn, A marcha à frente do Trabalhismo hesitante. Este ‘meticuloso’, mas pessimista acadêmico do Partido Comunista dizia que havia uma grande virada rumo à direita no país e, portanto, a esquerda deveria bater em retirada e fazer um compromisso com a direita. Joan Maynard, uma implacável esquerdista, da mesa declarou francamente: “Há apenas uma divisão em questão dentro do Partido Socialista, entre os socialistas e não-socialistas.” Ela respondeu à acusação de Kinnock de “listas negras”, de que foi Kinnock mesmo que começou as listas negras atacando Tony Benn pela sua candidatura à liderança da bancada. Sua abstenção na realidade foi um voto para Denis Healey. O volume de aplausos não deixou nenhuma dúvida do apoio da audiência a essa devastadora resposta à Kinnock. (20)
Na conferência mesmo Jim Mortimer leu uma lista das alegadas políticas do Militant, que não tinham nenhuma relação com a verdade. Foi dito que o Militant se opunha ao desarmamento nuclear unilateral, contra os direitos da mulher, “mole” na questão dos gays e lésbicas, etc. A melhor resposta para essa diatribe veio no debate sobre o desarmamento unilateral que foi aberto por uma apoiadora do Militant, Sue Beckingham, delegada por Bristol Sudeste, movendo uma resolução que dizia claramente que o próximo governo trabalhista deveria “implementar o desarmamento unilateral das armas nucleares”. Sue foi aplaudida quando ela atacou Callaghan, Healey e outros antigos ministros que secretamente concordaram com a atualização do Polaris. (21)
Sue Beckingham foi uma das mais comprometidas e incansáveis apoiadoras do Militant quase desde sua fundação. Mesmo quando ela falava nesta conferência, estava sofrendo com o câncer que tomaria tragicamente e prematuramente sua vida.
A conferência de 1982 nos termos da votação do registro marcou uma virada à direita. Esta agora tinha uma maioria de 19 a 10 no Comitê Executivo Nacional. Alguns “esquerdistas moderados” que estavam alinhados com a direita, como Joan Lester, foram chutados para fora do NEC. Isso refletiu a raiva das fileiras com sua deserção para o campo da direita. Pat Wall, segundo colocado como candidato parlamentar por Bradford North, recebeu 103 mil votos, um aumento substancial sobre os números que recebeu no ano anterior. O registro, previsivelmente, passou por 5.1 milhões de votos a 1.5 milhão. Isso não necessariamente refletia o sentimento das fileiras nem dos sindicatos nem do Partido Trabalhista. Líderes direitistas dos sindicatos vergonhosamente e descaradamente usaram o voto em bloco para apoiar o expurgo direitista. Mas isso foi às custas de divisões em muitas delegações sindicais, com alguns dos maiores sindicatos apenas votaram a favor do registro por uma pequena margem. Os mineiros votaram por 29 a 20 pelo registro e a delegação do Sindicato dos Transportes, contrariamente à posição de sua própria executiva, votou por 21 a 13 a favor. Significativamente, vários sindicatos votaram contra o registro e a caça-às-bruxas: NUPE, UCATT, ASLEF, SOGAT 82, o FBU, os Padeiros, os trabalhadores de destilarias, AUEW-TASS, e os Trabalhadores Agricultores. Não obstante a aceitação do registro, o sentimento das fileiras era sem dúvida a favor da esquerda como os debates sobre política e programa demonstraram. Houve um grande apoio a Joan Maynard quando ela declarou durante um debate: “Os conservadores não falam sobre guerra de classes porque estão muito ocupados praticando-a.” (22)
Nós tentamos nos registrar
Após a conferência e apesar das sérias objeções ao registro, Militant decidiu responder às questões enviadas ao Corpo Editorial como um passo para se registrar. Para a questão “Quais são os objetivos do grupo” nós declaramos:
Apoiamos o objetivo socialista básico do Partido Trabalhista posto na cláusula IV, Parte 4 de seu estatuto… Estamos comprometidos a lutar pelo retorno de um governo trabalhista nas bases de um programa socialista. Apoiamos totalmente a implementação do programa trabalhista e as políticas radicais adotadas pela conferência… Militant também acredita que a luta pelo socialismo é internacional. Apoiamos a luta nos países capitalistas pela transformação socialista da sociedade. Apoiamos a luta dos trabalhadores, camponeses e todo o povo explorado nos países ex-coloniais e semicoloniais contra o imperialismo e seus títeres, mas acreditamos que a libertação social e nacional pode ser implementada apenas nas bases de uma perspectiva socialista internacional. Nos estados stalinistas da Rússia, Leste Europeu e China que tem economias nacionalizadas e planificadas, mas são governadas por ditaduras totalitárias e unipartidárias, apoiamos a luta por uma democracia operária. (23)
A resposta também declarou:
Refutamos inteiramente a idéia que descumprimos a cláusula 11(3) do estatuto. Nós não temos nosso ‘próprio programa, principios e política para uma política distinta e separada’. O Militant sempre exigiu apoio para os candidatos parlamentares e vereadores trabalhistas devidamente selecionados apesar de suas posições dentro do partido. Pedimos a nossos apoiadores em Birmingham, por exemplo, a trabalhar por John Spellar, candidato em Northfield na pré-eleição de 28 de outubro, apesar de seu apoio no Congresso às medidas contra o Militant… Nossa posição está em flagrante contraste com os grupos de direita, como Solidarity, Manifesto e outros que se opõem à implementação da Clausula IV, parte 4, e muitos elementos chave do atual programa trabalhista. (24)
Demos respostas à todas as perguntas de como o Militant se organizava. Em resposta à “acusação” de que o Militant era culpado de crime por se organizar internacionalmente o Corpo Editorial respondeu:
Como internacionalistas temos contatos com correligionários em muitos países. Nós contribuímos com artigos para jornais marxistas no estrangeiro, e regularmente publicamos artigos de socialistas de outros países. A ala direita do Partido Trabalhista também tem ligações internacionais. Mas há uma “pequena” diferença entre nós e a direita. Nossos contatos são dentro do movimento trabalhista mundial, a direita tem ligações com jornais e organizações internacionais que são apoiados e financiados pelos inimigos do movimento trabalhista, como o Comitê Trabalhista para o Entendimento Transatlântico, o Movimento Europeu, o Grupo Bilderberg, o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, e outros apoiados diretamente ou indiretamente pela CIA ou o governo estadunidense. Acreditamos que é hora do partido conduzir uma investigação sobre as sinistras conexões da direita. (25)
Sobre de onde o Militant recebia seus fundos:
Militant é inteiramente financiado por seus apoiadores dentro do Partido Trabalhista e sindicatos… Os nossos apoiadores estão entre os mais ativos e energéticos no trabalho de construir os Labour Party Young Socialists, de aumentar os membros do Partido Trabalhista, e desenvolver campanhas ativas. Por esta atividade ajudamos a trazer enormes fundos adicionais para o partido. Nossos apoiadores também dão sua parte nas coletas, organizando bazares e outros trabalhos de coleta de fundos. (26)
A resposta contrastava esta atividade com a da ala direita:
Enquanto a entrada total e despesas dos MPs Trabalhistas em Westminster e no Parlamento Europeu deveriam ser em torno de £5-£6 milhões (fora as consultorias, diretorias, aparições na TV, etc.) sua contribuição é estimada em meras £15,000 ao Partido anualmente. Um modesto tributo dos 238 MPs e 17 MEPs trabalhistas poderia liquidar o atual déficit financeiro de um golpe! O Militant advoga que os MPs Trabalhistas devem ser preparados para representar o movimento trabalhista e a classe trabalhadora com o salário médio de um trabalhador qualificado, mais despesas legítimas. Todo o resto de seus salários e despesas devem ser doados de volta ao movimento trabalhista. (27)
A resposta também deu a oportunidade de refutar o ataque de Jim Mortimer às alegadas políticas do Militant ao congresso de 1982.
Você [Mortimer] atacou nossa visão ‘errada’ sobre o desarmamento nuclear… Ainda que nosso recente panfleto Qual a nossa Posição mostre nossa consistente posição sobre isso: “Cortes massivos no gasto em armas… apoio ao desarmamento nuclear unilateral, mas reconhecendo que apenas uma mudança socialista na sociedade na Grã-Bretanha e internacionalmente pode eliminar o perigo de um holocausto nuclear”… estamos particularmente surpresos, além disso, que durante sua fala você tenha afirmado que os apoiadores do Militant eram “os aliados ideológicos da ala direita do Partido Conservador”. Isso nos marcos de que nós supostamente nos opomos à ‘Detente’, a discussão entre as superpotências sobre a redução de armas. Achamos isso inacreditável. Quem em sã consciência pode se opor a negociações para reduzir os arsenais nucleares? Apoiamos qualquer tentativa de reduzir o perigo de guerra e cortar o grotesco desperdício em armas. Contudo, não acreditamos que as potências irão realmente eliminar o perigo de guerra, como todos os fracassos das conversas e acordos dos últimos 30 anos mostram…
Na sua fala você também insinuou que nos opomos à luta das mulheres e negros. De novo, uma completa distorção de nossa posição. Em Qual é a Nossa Posição, nós chamamos por “Oposição à discriminação em base ao sexo… por igual pagamento de salários; por um programa intensivo de construção de creches, escolas, etc.” As apoiadoras do Militant, além disso, tiveram um importante papel na construção de Setoriais de Mulheres do Partido Trabalhista e em trazer as mulheres trabalhadoras para a atividade no partido e nos sindicatos. Em Qual é a Nossa Posição também chamamos por ‘Oposição ao racismo e fascismo e à todas as leis de imigração racistas… também reconhecemos que apenas unificando os trabalhadores brancos e negros na luta por uma mudança socialista o racismo e o fascismo podem ser efetivamente abolidos.”A alegação de que não apoiamos a luta dos negros é particularmente irônica em vista da atuação dos apoiadores do Militant nos Labour Party Young Socialists, o setor do movimento trabalhista que tem uma atuação sem paralelo ao lutar contra organizações racistas e fascista e em construir campanhas para as demandas dos trabalhadores e jovens negros e asiáticos”.
Houve também alegações de que o Militant tem atacado os líderes sindicais e ministros trabalhistas como “renegados” e “traidores” da classe trabalhadora. Nós desafiamos você a comprovar esta alegação. Onde em nossos materiais publicados nós usamos linguagem deste tipo em relação à liderança sindical ou governos trabalhistas passados? Nós temos lutado sempre pelo retorno do governo trabalhista. O Militant tem consistentemente repudiado a idéia ultra-esquerdista de que “não faz nenhuma diferença” entre um governo trabalhista e um conservador. Apoiamos todos os governos trabalhistas anteriores, e saudamos as reformas que eles introduziram. Mas sempre alertamos repetidamente que, nas bases do capitalismo, especialmente o enfermo capitalismo britânico, é impossível assegurar melhorias permanentes para a classe trabalhadora. (28)
O Comitê Executivo Nacional em novembro decidiu, não obstante a resposta do Militant, a começar a proceder pela expulsão dos cinco membros do Corpo Editorial do Militant: Ted Grant, Peter Taaffe, Clare Doyle, Lynn Walsh, e Keith Dickinson. Somando todos eles havia uma militância coletiva no Partido Trabalhista de 121 anos.
O NEC também decidiu que os pré-candidatos parlamentares que “apóiam as idéias do Militant serão investigados”. Esta proposta passou por apenas 12 votos a 11 e a ela se oporam Michael Foot, Neil Kinnock, Tony Benn, John Evans, Frank Allaun, Laurence Coates, Judith Hart, Jo Richardson, Tom Sawyer, Dennis Skinner e Audrey Wise. Nós comentamos: “O expurgo não irá parar no Militant. Irá continuar com outros grupos de esquerda dentro do partido”. (29)
1 Liverpool Echo, 7.5.82 2 Militant 606 18.6.82 3 South Wales Evening Post 26.1.82 4 Ham And High 6.8.82 5 East End News October 1982 6 Financial Times 18.6.82 7 Militant 608 2.7.82 8 Daily Mail 24.6.82 9.Militant 608 2.7.82 10 Militant 612 30.7.82 11 Militant 609 9.7.82 12 Militant 611 23.7.82 13 ibid 14 Mail On Sunday 12.9.82 15 News Of The World 12.9.82 |
16 Labour Weekly 17.9.82 17 Militant 618 17.9.82 18 ibid 19 Militant 619 24.9.82 20 Militant 621 8.10.82 21 ibid 22 ibid 23 Militant 623 22.10.82 24 ibid 25 ibid 26 ibid 27 ibid 28 ibid 29 Militant 628 26.11.82 |