França 68: o poder estava ao alcance dos trabalhadores

Há 40 anos atrás, o mundo assistiu a diversas lutas e manifestações que fizeram tremer a burguesia mundial.

1968 foi um ano em que a juventude se revoltou, não somente na França, mas em países como Inglaterra, México, Polônia, Alemanha, entre outros. Lutas travadas contra o capitalismo e as elites. O mundo assistiu ainda à guerra do Vietnã, que impulsionou manifestações anti imperialistas nos Estados Unidos. Ainda nesse ano, foi assassinado, nos EUA, Martin Luther King Jr., lutador pelos direitos dos negros.

No Brasil o clima era muito tenso e de muita luta, da juventude e da esquerda, contra a ditadura militar que completava quatro anos. A luta contra o stalinismo também marcou o ano de 1968, a exemplo da “Primavera de Praga” na Tchecoslováquia.

Porém, foi na França, em maio de 1968, que ocorreu uma das maiores lutas e greve da História, com a magnífica greve geral de 10 milhões de trabalhadores. O mundo assistiu, onde deveria ser o palco da “Conferência da Paz” (que objetivava o acordo de paz entre Estados Unidos e Vietnã), a uma das mais importantes lutas contra o capitalismo e o então governo da França, do general De Gaulle.

A primeira ocupação

A primeira mobilização ocorreu em 22 de março, quando foi ocupada a secretaria da Facul­dade de Nanterre, onde seis dias depois o reitor determinou a suspensão dos cursos e a intervenção policial na faculdade. Os estudantes reivindicavam liberdade para discutir assuntos políticos dentro da faculdade. No entanto, o estopim da “revolução de maio” ainda estava por vir e foi um pouco mais de um mês após a primeira ocupação de Nanterre.

No 29/04 a policia foi chamada a intervir novamente na faculdade, em que estudantes partiram para o enfrentamento direto. Ameaçados de serem excluídos dos exames (avaliações) da faculdade, os estudantes marcharam para a secretaria da Fa­culdade armados com pedaços de pau e barras de ferro. Em 03 de maio, Nanterre é fechada e seus trabalhos suspensos por tempo indeterminado. Tão rápido as mobilizações atingem a Sorbon­ne (universidade em Paris) e a polícia, pela primeira vez, é autorizada a reprimir os estudantes dentro da instituição.

Começa a questionar o sistema

Rapidamente a revolta dos estudantes atingiu proporções inesperadas, e em 08 de maio a UNEF (União Nacional dos Estudantes da França) convoca uma passeata em Paris que reúne cerca de 60.000 enragés (raivosos – como seriam chamados os estudantes a partir daquele dia).

A reivindicação da primeira ocupação de Nanterre, que exigia liberdade nas discussões políticas, avançara para o questionamento do sistema capitalista e apontava a necessidade da construção de uma outra sociedade: a socialista. Torna-se comum entoarem a “Interna­cional” nas manifestações. A resposta que o capitalismo e o Estado dá é a repressão e a prisão de inúmeros manifestantes. Está iniciado o “maio vermelho”.

A ofensiva contra os estudantes, ao invés de dispersá-los, contribui para aumentar as mobilizações ao longo da França. A UNEF decreta greve geral por tempo indeterminado em resposta ao fechamento das Universidades de Nanterre e Sorbonne. As mobilizações crescem a cada dia e aumenta o número de professores que se somam à luta dos estudantes, que obtém também o apoio da população de Paris. Com isso a repressão e a tentativa de sufocar o movimento também crescem e os conflitos entre manifestantes e a polícia tornam-se diário e duradouro.

Resiste à repressão

Para resistir aos ataques do forte aparato de repressão montado, os estudantes utilizavam das armas que possuíam: pedras, paus, barricadas, etc.

A adesão à revolução cresce ainda mais, e dessa vez os estudantes do ensino básico ocupam as fileiras do confronto.

No dia 10 de maio uma grande passeata convocada pela UNEF, SNE-Sup (Sindicato Nacional dos Professores do Ensino Superior) e CAL (Comitê de Ação dos estudantes do ensino básico) reúne mais de 20.000 jovens. A mídia burguesa não conseguia mais ignorar a grande luta estabelecida na França. Porém, em vários países do mundo a notícia que chegava era de que ocorria, em Paris, um levante estudantil sem muita relevância.

Os reitores das universidades querem negociar o retorno à “normalidade”, porém os estudantes exigem mais do que reformas na universidade, exigem mudança na estrutura da sociedade. Novas palavras de ordem ecoam nas manifestações: De Gaulle, assassino! De Gaulle, demissão!

Pressionado pela força das mobilizações que tomara conta da França, De Gaulle se vê obrigado a aceitar as reivindicações iniciais dos estudantes: reformas universitárias, reabertura das universidades e libertação dos estudantes presos. Porém era tarde para tais concessões. Somados à juventude, estavam agora os trabalhadores da Frnça, fato que forçou a CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), controlada pelo partido comunista (PCF) – de orientação stalinista – a convocar greve geral para 13 de maio juntamente com uma passeata.

Um milhão toma as ruas

A grande passeata reuniu cerca de 1 milhão de lutadores, uma das maiores manifestações já vista em Paris.

O exemplo das ocupações das universidades foi seguido pelos operários em toda a França e em 14 de maio na Sud-Aviation (empresa que fabrica aviões), na cidade de Nantes, os trabalhadores prendem o diretor no gabinete e ocupam a fábrica. No dia seguinte, aproximadamente 25.000 operários ocupavam a Usinas Renault e, seguindo o exemplo da fábrica de Nantes, trancam a diretoria no gabinete. Dentre as principais reivindicações estavam: aumento de salário, redução na jornada de trabalho e aposentadoria aos 60 anos. Diante da imensa mobilização dos operários, a CGT continua silenciando, e somente quando as ocupações se expandem incontrolavelmente é que a burocracia sindical é obrigada, pela pressão, a dar respostas aos trabalhadores.

Em 30 de maio, De Gaulle propõe eleições, onde o povo francês decidiria se ele continuaria à frente da França. De fato foi uma tática utilizada para dividir e enfraquecer o movimento. Essa tática só funcionou por causa da política da direção do Partido Comunista e da CGT que haviam vendido o movimento e negociado o retorno ao trabalho com o patronato, à revelia dos trabalhadores. Mesmo assim, foram milhões de trabalhadores que continuaram em greve por várias semanas.

Maio francês de 1968 não avançou para uma revolução socialista, mas deixa, sem dúvidas, muitas lições aos socialistas e revolucionários. Foi um exemplo da unidade dos trabalhadores e da juventude.

O stalinismo (representados pelo Partido Comunista e a CGT) jogou um papel fundamental na desmobilização dos trabalhadores e impediram a tomada de poder. Os trabalhadores haviam confiado nas suas lideranças, mas foram duramente traídos. A ausência de uma direção e um partido que organizasse os trabalhadores para a derrubada do capitalismo foi sentida na derrota de 68.

O Partido Comunista Francês era a organização em que os trabalhadores depositavam sua confiança, porém o partido não acreditavam que a classe trabalhadora fosse capaz de transformar a sociedade, e com isso não cumpriram o papel de uma direção política conseqüente de indicar o tempo correto para a ofensiva, armar os trabalhadores para a revolução, criar governos de trabalhadores, etc. O PCF era uma dos partidos stalinistas mais leais à linha do Moscou, que não tinha interesse em uma revolução dos trabalhadores.

68 ainda relevante

Hoje, 40 anos após o grande evento de maio de 68 as contradições do sistema capitalista ainda são fortemente sentidas pelos trabalhadores mundialmente, inclusive na França. Os acontecimentos de 68 repousam na memória dos lutadores e dos socialistas, que devem aprender com a História.

Embora a ofensiva neoliberal seja intensa, os trabalhadores e juventude estão organizando a resistência. Um exemplo claro, e francês, foi a luta da juventude em 2006 contra a legislação que atacava o direito ao emprego.

A crise coloca em evidência a deficiência do sistema capitalista e a necessidade da construção de uma sociedade socialista. A luta vai eclodir, é preciso tomar a direção correta. A construção de novos partidos comprometidos com os trabalhadores e com a confiança da classe se faz necessária e o CIO/CWI está participando desse processo em diversos países, como o Brasil.

Você pode gostar...