A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994
Militant aumenta
No começo dos anos 80 a crescente polarização de classe e a conseqüente tendência dos patrões de sustentar seu aparato repressivo levantaram a questão do estado capitalista e como o movimento trabalhista deveria abordar esta questão. Militant lidou com ela em uma série de artigos. Tem sido a marca das pretensas organizações ‘trotsquistas’, – normalmente consistindo de um punhado de ‘comentaristas’ – acusar o Militant de abandono da posição marxista nesta questão.
Na tentativa de clarear a confusão sobre as verdadeiras idéias do Militant os editores partiram para explicar a abordagem marxista básica sobre o estado e como aplica-la na situação contemporânea da Grã-Bretanha e do mundo. Nas palavras de Engels, o estado consiste de um corpo armado de homens e seus materiais adicionais, prisões, etc. Alguns na esquerda argumentam que esta concepção não mais se aplica ao estado moderno, ainda que todas as posições chaves no serviço civil, polícia e, em particular, no exército estejam nas mãos de pessoas que tenham sido especialmente selecionadas pela educação, pontos de vista e condições de vida para servir lealmente os capitalistas. Militant deu cifras detalhadas mostrando que a casta de oficiais era em sua maioria retirados das escolas públicas e pertenciam ao grupo sócio-econômico ‘AB’, os ‘12% mais ricos’ na sociedade. Havia um entrelaçar entre a cúpula do estado, o serviço civil, exército, polícia e governo. Certamente
os monopólios se fundiram mais e mais com a máquina estatal no período do pós-guerra. Isso talvez é mostrado mais vivamente nas mudanças entre a cúpula do serviço civil e as salas de diretoria dos monopólios. (1)
Muitos exemplos foram dados, entre outros por Barbara Castle, que detalhou como ela de fato se tornou um títere da cúpula do serviço civil que “controla cada simples dez minutos do dia e noite de um Ministro… Ministros não podem nem mesmo escolher quem rascunha suas respostas a cartas.” Tony Benn também deu um exemplo de como, quando ele era Ministro de Energia durante a greve na instalação nuclear de Windscale, servidores civis informaram a ele que a menos que tropas fossem usadas para transportar nitrogênio pelas linhas de piquete, “uma explosão nuclear crítica aconteceria”.Ele mais tarde descobriu que estes alertas eram totalmente infundados.
Usando o exemplo do Chile, Militant alertou que os capitalistas britânicos poderiam criar um Pinochet se enfrentassem uma situação similar. O fortalecimento da polícia, o uso dos Grupos de Patrulha Especial, especialmente nas disputas industriais, o uso do SAS na Irlanda, o uso generalizado de bisbilhoteiros e grampo telefônico pelo serviço secreto; tudo indicava o papel pró-capitalista do estado. Ele não é ‘neutro’ entre os capitalistas e o movimento trabalhista.
Ao mesmo tempo, era necessário registrar as grandes chances que tinham lugar no estado e em seu relacionamento com a sociedade. Na Holanda, por exemplo, direitos sindicais são garantidos aos soldados. Os mesmos direitos podem ser exigidos para os esquadrões britânicos. Além disso, o exército, como os eventos no Irã demonstraram, sempre reflete o balanço social da sociedade como um todo, na análise final. A França de 1968 mostrou que o movimento da classe trabalhadora pode atrair os soldados comuns. Qualquer tentativa de usar as tropas na Grã-Bretanha contra os trabalhadores no começo dos anos 80 levaria a uma divisão do topo à base.
Meramente repetir as idéias básicas e fundamentais do marxismo sobre o estado não é suficiente para convencer a classe trabalhadora. Pelo menos um mínimo de habilidade em apresentar estas idéias e relacioná-las com o entendimento presente dos trabalhadores é necessária. Ter desfrutado de direitos democráticos há mais tempo que qualquer outra classe trabalhadora é suficiente para fortalecer ilusões democráticas, por exemplo, no Parlamento. Militant deve seu sucesso parcialmente à sua habilidade de explicar as idéias marxistas de tal modo que, primeiramente, os trabalhadores irão escutá-lo, e então em base aos argumentos e a experiência, aceitar estas idéias.
Contudo, Militant tem tido cuidado para não promover, como outros fizeram, ilusões no estado capitalista. Ele não pode ser pacificamente ‘reformado’:
Pode ser fatal pretender, como fazem os líderes do Partido Comunista e a esquerda reformista no Partido Trabalhista, que ‘a democratização do estado’ será suficiente para proteger a classe trabalhadora britânica e o governo trabalhista contra o destino que tiveram seus irmãos e irmãs chilenas. Isso pode ser acima de tudo o caso quando tentativas são feitas para ‘democratizar’ seu estado. Os capitalistas podem tomar isso como um sinal – especialmente se o exército for tocado – para preparar o esmagamento do movimento trabalhista. Isso quer dizer então que o estado precisa se manter intocado pelo movimento, como a ala direita do Partido Trabalhista mantém? Ao contrário, medidas para fazer o estado mais responsável ao movimento precisam ser tomadas. Mas os limites de tais medidas precisam ser compreendidos por este. Os capitalistas jamais permitirão que seu estado seja ‘gradualmente’ tomado deles. (2)
A experiência mostrou que apenas uma decisiva mudança na sociedade pode eliminar o perigo da reação e permitir a ‘democratização da máquina estatal’ a ser implementada até sua conclusão com o estabelecimento de um novo estado controlado e gerenciado pelo povo trabalhador.
Estas linhas de modo algum contradizem a asserção do Militant, por exemplo, na França em 1968 ou no Chile em um certo estágio, que teoricamente uma transformação ‘pacífica ou relativamente pacífica’ da sociedade pudesse acontecer. Mas a pré-condição para isso deve ser a organização de todo o poder no movimento trabalhista, conscientemente organizado e preparado, o que apenas pode ser possivel na base de uma liderança marxista forte e de um partido de massas. Meias medidas não irão satisfazer a classe trabalhadora, mas irritar a burguesia e lhe dar tempo para preparar a retomada de todos os ganhos que a classe trabalhadora tiver obtido.
Benn para vice
Grã-Bretanha não estava isolada do fermento político que afetava outros países nesta época. Ele tomou a forma na luta contínua entre direita e esquerda dentro do movimento trabalhista. Dramaticamente, ela tomou um patamar maior em abril de 1981 quando Tony Benn anunciou que decidiu concorrer para a vice liderança do Partido. A imprensa e Televisão capitalista perderam as estribeiras. Não apenas a direita, mas mesmo figuras de esquerda como a MP Judith Hart e Alex Kitson do Sindicato dos Transportes pediram a Benn para desistir no interesse do ‘partido unido’. Benn replicou dizendo que bom era lutar pelos direitos democráticos, incluindo o colégio eleitoral para eleição à liderança e a liderança parlamentar do partido, se estes direitos não estivessem sendo exercidos. Ele declarou que:
Seria no interesse do ‘partido unido’ que daríamos apoio à política de pagamentos de 5%, aos cortes do FMI, ao voto ‘Sim’ para manter a Grã-Bretanha no Mercado Comum, e outras orientações do manifesto de 1974 do Partido Trabalhista. (3)
O resto de 1981 foi dominado por esta questão. A massa dos trabalhadores comuns nos diretórios e sindicatos cerrou fileiras com Tony Benn. Num editorial dissemos:
Apesar de nossas críticas à insuficiência de seu programa, uma vitória para Tony Benn na eleição para liderança parlamentar pode representar um grande passo à frente. Daria um impulso maior à campanha para a total democratização do movimento trabalhista e pela adoção de um programa socialista. (4)
A idéia que políticas de esquerda estavam de alguma forma alienando os trabalhadores foi descartada pelo resultado das eleições locais de maio de 1981. O Trabalhismo ganhou 14 Câmaras Municipais e os Conservadores perderam todo o controle de outros oito. Todas as Câmaras metropolitanas, junto com a Grande Câmara de Londres, estavam agora sob controle Trabalhista. Milhões de votos foram perdidos pelos Conservadores. O Militant pressionou os líderes trabalhistas a forçarem uma eleição geral. Contudo, a direita estava mais preocupada em concentrar seu fogo contra a esquerda. Havia claramente uma maré de descontentamento e uma exigência de ação pelo movimento trabalhista organizado. A ‘Marcha do Povo por Empregos’ culminou numa enorme demonstração em Londres. Alguns dos organizadores da marcha, especialmente o Partido Comunista, tentaram fazê-la ‘não-politica’,anti-Thatcher mas não claramente anti-Conservador, que dirá anti-capitalista! Ainda que no comício na Trafalgar Square as falas de Tony Benn, Arthur Scargill e Dennis Skinner exigindo ações socialistas fossem recebidas entusiasticamente. O Militant, apesar da perseguição de elementos sob a influência do Partido Comunista, fez uma intervenção vitoriosa nesta demonstração.
Mulheres Militant
Conforme o Militant se desenvolvia, também crescia nossa influência sobre as mulheres, especialmente as trabalhadoras. Mais e mais mulheres se uniam em nossas fileiras, o que por sua vez ajudava a transformar a abordagem do papel e seus apoiadores. O Militant sempre reportou questões da mulher mais à medida que desenvolveu raízes entre as mulheres e começou a trabalhar seriamente neste campo, nossa abordagem e programa se tornaram mais precisos. Muitas mulheres apoiadoras do Militant contribuíram para isso. Margaret Creear, que se tornou Organizadora das Mulheres do Militant, sem dúvida fez uma importante contribuição em assegurar que o Militant não apenas colocasse estas questões, mas tomasse uma posição pioneira em vários pontos que afetavam a vida das mulheres. Por exemplo, em Brights in Rochdale, uma campanha foi vitoriosa em manter 120 creches abertas. Foi dado um apoio anterior às trabalhadoras visivelmente mais pobres na ‘revolta das fábricas difíceis’ que explodiu nas consequências da disputa de Grunwick. O Militant estava envolvido na questão da imigração, especialmente na campanha vitoriosa em apoio a Anwar Ditta, que teve permissão para trazer suas crianças à Rochdale negada. Todos estes aspectos trouxeram novas seções de Mulheres do Partido Trabalhista e Conselhos para a atividade, com as mulheres Militant na liderança.
Isso foi refletido no crescente perfil na Conferência de Mulheres onde nós éramos um importante fator que a movia para a esquerda. Quarenta delegadas atenderam à reunião do Militant com mais de £100 levantadas para o fundo de luta. Um panfleto especial do Militant, Mulheres e a Luta pelo Socialismo foi entusiasticamente recebido, com 166 cópias sendo vendidas.
Enquanto isso, em meio a crescente polarização de classe da sociedade, convulsões no movimento trabalhista, e um governo Conservador sitiado, a classe dominante procurou desviar atenção com o Casamento Real em julho. Di e Charles eram o ‘cimento social’ que poderiam unir a nação. Militant não apenas se concentrou em contrastar a exibição obscena de riqueza da Nobreza com a pobreza desesperadora de milhões de outros jovens casais nas áreas operárias. Também apontou para o possivel futuro papel da monarquia em condições de uma aguda polarização de classe.
A monarquia tem o poder de dissolver o parlamento, de apontar ou mesmo demitir o primeiro-ministro. Na eventualidade de um governo trabalhista de esquerda chegar ao poder, a monarquia pode ser empregada, como foi na Austrália, onde através do governador geral, demitiu o governo trabalhista de Gough Whitlam. Contudo, muita coisa aconteceu desde a ‘felicidade real’ de 1981. A monarquia é agora, no melhor dos casos, uma arma defeituosa. As peripécias dos nobres e sua riqueza obscena em face da profunda pobreza de milhões minou a popularidade da monarquia, mesmo no Sul e nas Midlands onde sempre foi forte. É uma questão aberta se Charles pode ser usado como símbolo da ‘nação’ com autoridade suficiente para demitir um governo que os capitalistas considerem perigoso. Militant tem sistematicamente chamado pela abolição completa da monarquia e da Câmara dos Lordes.
A perspectiva para um governo chegar ao poder prometia fazer isso, contudo, foi enfraquecida pelo resultado da conferência do Partido Trabalhista de 1981. Tony Benn perdeu para Denis Healey, o porta-voz da direita, por 0.8% na eleição para a liderança parlamentar. Healey assegurou sua vitória com o voto de MPs que deliberadamente ficaram no partido para derrotar Benn, antes de desertar para os Social Democratas. Contudo a raiva maior da militância foi dirigida a antigos esquerdistas, como Kinnock e antigos membros do grupo parlamentar Tribune, que se abstiveram ou votaram em outros candidatos, assegurando a vitória de Healey. Ainda que esta decisão não dissuadiu a direita, estimulada pelo apoio dos capitalistas, de se separar do Partido Trabalhista. Eles queriam infligir o máximo de danos possíveis antes de desertar. Após a conferência cresceram as demandas da direita para uma ação a ser tomada contra o Militant. Ainda que a direita não fosse forte o suficiente até para impedir que os diretórios de Brighton, Bradford, Coventry e Liverpool escolhessem candidatos parlamentares que concordavam com muitas das idéias do Militant. Além disso, o comitê executivo nacional do partido foi obrigado a ratificar estas decisões, tal era o entusiasmo e a crescente atividade que estas escolhas geraram.
Em Brighton, por exemplo, Rod Fitch disse num comício lotado de 350 pessoas:
Hoje estamos vendo o renascimento do Partido Trabalhista, não apenas distante da maquina eleitoral do passado, para um partido socialista combativo, que irá lutar pelo povo trabalhador. (5)
‘Programa de oportunidades para os jovens’
Os apoiadores do Militant se destacaram ao procurar organizar contra as tentativas do governo Conservador de expô-la através do equivocado ‘Programa de oportunidades para os Jovens’ (YOPs), uma cobertura para criar condições de trabalho escravas para a juventude. Os apoiadores do Militant nos LPYS foram fundamentais no lançamento da campanha ‘Campanha pelos direitos sindicais dos estagiários do YOP’. Uma conferência de fundação foi chamada em novembro de 1981 com mais de 300 trabalhadores do YOP, sindicalistas e Young Socialists comparecendo.Foi o marxismo (5), especialmente nos Labour Party Young Socialists, que foram instrumentais nos anos 80 em organizar a resistência contra os YOPs e contra o Projeto de Treinamento de Jovens. Milhares, talvez dezenas de milhares de jovens foram tocados pelas idéias do marxismo no curso desta campanha. Muitos se uniram aos sindicatos, alguns se uniram ao Partido Trabalhista, e mesmo alguns se uniram ao Militant.
Mas, independente da contribuição do Militant no total fortalecimento do movimento trabalhista, a direita estava totalmente em empenhada, após a derrota de Tony Benn na conferência de outubro, a executar uma caça-às-bruxas. O fato de que o governo estava fortalecendo suas polícia e pessoal na tentativa de lidar com a classe trabalhadora era uma coisa totalmente secundária para eles. Em setembro Thatcher sacou seu suposto gabinete de Ministros ‘moderados’. Tebbit foi substituído primeiro como Ministro do Emprego, anunciando um ataque intensificado ao movimento sindical. Tebbit casualmente comentou no programa Today que ele achava que os ataques aos sindicatos eram “atrativos” (6). Isso marcou o inicio de um sério assalto aos direitos sindicais. Onze medidas anti-sindicais separadas se seguiriam na próxima década.
Mas elas poderiam ser impedidas e o governo paralisado, se o movimento trabalhista fosse totalmente mobilizado num programa de esquerda.
CND
Um sintoma da situação de radicalização neste período foi a enorme mobilização de um quarto de milhão de pessoas na demonstração da CND em outubro de 1981. Consistindo principalmente de jovens, os manifestantes aplaudiram ruidosamente Tony Benn. Foi Benn que caracterizou a vilificação da direita como sendo ‘fora de hora’. Sem dúvida dezenas de milhares de trabalhadores e jovens foram alienados do movimento trabalhista pelos ataques da direita à esquerda, incitados pelos capitalistas e pela direita.
Havia palavras de suavização da liderança trabalhista para os traidores do SDP e ameaças de expulsão contra o Militant. Em dezembro de 1981 o sub-comitê organizacional do comitê executivo nacional usou sua maioria, com o voto de Michael Foot, para instigar outra investigação sobre o Militant. Ao mesmo tempo foi decidido não endossar Peter Tatchell como candidato parlamentar por Bermondsey, mas isso foi subsequentemente anulado.
Tony Benn corretamente explicou que a direita estava propondo uma limpeza no partido – para fazê-lo adequado ao retorno dos desertores do SDP. Essa era uma época em que os trabalhadores gritavam pela unidade contra o inimigo comum como mostrado pelas enormes manifestações contra o desemprego que o Partido Trabalhista continuava a organizar em diferentes partes do país. Na demonstração de 20 mil pessoas em Birmingham Tony Benn recebeu uma longa ovação, com todos os setores da multidão cantando seu nome. Igualmente o orador dos YS, Laurence Coates, que foi seguido por Denis Healey, foi aplaudido quando chamou por uma ação contra os Conservadores, começando com uma greve geral de 24 horas. O humor, contudo, mudou quando Healey começou a falar. Healey fez declarações provocativas, atacando as decisões de extensão da democracia partidária dos dois anos anteriores. Isso apesar de que havia um ‘acordo não-escrito’ entre a liderança para não mencionar a situação interna do partido. Isso provocou ultrajes aos trabalhadores comuns que vaiaram Healey. Naturalmente foram os apoiadores do Militant os culpados pelo Sunday Mirror: “o tumulto estourou quando cerca de 50 apoiadores do Militant e de Tony Benn tentaram transformar a plataforma em uma atmosfera de ataque a Healey.” (7)
Isso era totalmente falso, como o Militant deixou claro: “Militant e os Labour Party Young Socialists deixam claro que não é o método do marxismo interromper o orador até o ponto que não querem mais ouvir.” (8)
Originalmente Michael Foot subestimou totalmente o potencial eleitoral do SDP, apoiado como era pelos recursos e a maquina de publicidade dos grandes negócios. Foot disse que o SDP não poderia “ganhar um simples assento” no Parlamento. Militant, ao contrário, enquanto se opunha às políticas do SDP, alertou que a menos que eles fossem
efetivamente contidos pelo Trabalhismo, o SDP, com o apoio dos grandes negócios e a mídia, pode ganhar 30 ou 40 ou mais assentos na próxima eleição geral, portanto bloqueando o retorno de um governo trabalhista majoritário. (9)
O SDP não ganhou tudo isso mas atraiu votos suficientes para dividir o campo anti-conservador e permitir a reeleição de Thatcher em 1983. Contudo, de um apavorado lance antes do sucesso do SDP, Foot mudou para o extremo oposto, aceitando a idéis de que o SDP poderia ganhar 100 vagas a menos que o Trabalhismo voltasse atrás em suas políticas. Callaghan apareceu n um artigo no Daily Mirror exigindo que o Militant fosse expulso do partido. Ele também chamou por uma ‘desfiliação’ dos Labour Party Young Socialist e um novo sistema de re-eleição de MPs. (10)
Candidatos parlamentares Militant
Enquanto a caça as bruxas estava se desenvolvendo, o humor nas fileiras do Trabalhismo era tal que a direita não pode impedir a seleção de candidatos parlamentares que concordavam com muitas das idéias do Militant. Em fevereiro Terry Fields foi selecionado como pré-candidato por Liverpool Kirkdale. Depois de uma reorganização dos corpos eleitorais ele foi selecionado para o novo assento em Broadgreen. Uma gritaria então começou da parte dos oponentes do trabalhismo, para bloquear o endosso dos candidatos marxistas. O pré-candidato Liberals por Kirkdale exigiu que Michael Foot se recusasse a endossar Terry Fields, alegando que “ele poderia espantar os homens de negócio de vir para Merseyside”. (11)
Mas a seleção de Terry gerou enorme entusiasmo, levando a um aumento dos membros do partido e dos Young Socialists. Logo Derek Hatton foi selecionado como o candidato parlamentar por Wavertree. Nesta época quatro apoiadores do Militant foram selecionados como candidatos parlamentares em Merseyside; Terry Fields em Kirkdale, Tony Mulhearn em Toxteth, Terry Harrison em Edgehill, assim como Derek Hatton. Ao lado destes havia na cidade outros candidatos de esquerda; Eddie Loyden em Garston e Bob Wareing, que nesta época estava à esquerda, em West Derby. Junto com Eric Heffer e Bob Parry, ambos proeminentes líderes de esquerda do grupo Tribune, o Trabalhismo em Merseyside teve quase 100% de credenciais de esquerda para a próxima eleição geral
Em fevereiro, Pat Wall e Terry Fields foram endossados como candidatos pelo sub-comitê organizacional do Comitê Executivo Nacional. Isso não parou as tentativas frenéticas da direita de expulsar o Militant para fora do Partido Trabalhista.
O humor da direita estava refletido no informe de uma reunião secreta do ‘Solidarity’ em Londres. Solidarity era a organização da direita do Trabalhismo. Ela declarou: “a tendência Militant não pode mais permanecer muito tempo como parasita do partido… o Partido Trabalhista era uma igreja ampla, mas não há lugar nele para ateus”. Roy Hattersley deixou claro que não era apenas o Militant mas outros grupos de esquerda que estavam sendo apontados pela direita. Ele exigiu que o NEC “institua um inquérito sobre os vários grupos antidemocráticos e desestabilizadores que estão prejudicando o partido.” Refletindo o quão alheios eles estavam dos sentimentos dos membros comuns do partido, um jornal de informações do Solidarity descreveu a política de “nada de cortes, nada de aumento de aluguéis ou preços” como “a política da Terra do Nunca-Nunca”. Eles declaram “os distritos trabalhistas não são capazes de proteger todos os serviços e empregos.” Enquanto estavam se preparando para expulsar o Militant, os porta-vozes do Solidarity como David Norman do POEU declarou que, se os traidores do SDP se aproximassem do Partido Trabalhista, “nós poderíamos dar boas-vindas de volta a eles”. (12)
Claramente estava se organizando um ‘partido dentro do partido’ da ala direita. Ainda que a direita do NEC Trabalhista nem mesmo pensou em propor um inquérito como o que estava sendo feito com o Militant. O nível de sarjeta da direita foi mostrado pela declaração de um proeminente direitista, Gerald Kaufman:
É muito aborrecido ser do Partido Trabalhista hoje em dia, atendendo Comitês de Controle Geral onde resoluções de rotina são apresentadas. Eu gostaria de não ficar tão aborrecido e preferia ir ao teatro, ópera, futebol, shows de strip (alguns gemidos), mas você tem que renunciar a este tempo para ganhar o preço da tolerância; você tem que ficar nestas terríveis reuniões até o fim. (13)
Enquanto isso, o Militant estava totalmente envolvido na questão urgente de tentar salvar a juventude do desemprego em massa e o programa de emprego escravo do governo. Em 25 de fevereiro de 1982 milhares de jovens foram mobilizados no vitorioso lobby dos YOPs no Parlamento. Tão grande foi o sucesso dela que Tebbit disse que Tony Benn, que o apoiava, estava “encorajando expectativas selvagens… entre o povo jovem”. A resposta de Benn foi “o que são expectativas selvagens, um emprego – é isso uma expectativa selvagem?” (14)
Um magnífico comício 3 mil e uma reunião no Festival Hall foi realizado depois do lobby. A reunião foi dirigida por Tony Benn, eu mesmo, Dennis Skinner e Shareen Blackhall, que estava na recente “Marcha por Empregos” do TUC.
Pat Wall e a guerra civil
Foi porque o Militant tentou criar raízes na classe trabalhadora e não apenas ficar sentado nas salas de comitê Trabalhistas que a ferocidade contra nós pela imprensa capitalista foi tão grande. Nenhuma oportunidade foi perdida para vilipendiar e distorcer nossas idéias. Um dos exemplos mais descarados foi a campanha suscitada por uma fala de Pat Wall em março. O Sunday Times, retratou-o como inclinado à “guerra civil” e à “matança”. (15)
Ironicamente, em um debate contra o SWP, Pat Wall repetiu várias vezes sua crença que era teoricamente possivel “uma transição pacífica para a Grã-Bretanha socialista” ocorrer se todo o poder do movimento sindical e trabalhista fosse usado. Ele também alertou contra a possibilidade de violência e ‘guerra civil’ serem organizados pelos capitalistas uma vez que sua riqueza e poder fossem ameaçados. Numa declaração editorial sobre os métodos sujos da imprensa, nós declaramos:
na reunião Pat explicou que o Militant era a favor de uma transformação pacífica da sociedade. Nenhum apoiador do Militant chegou a defender ou encorajar uma ‘matança’ ou ‘guerra civil’, como a imprensa tenta sugerir. Ao contrário, Pat explicava que se havia alguma ameaça à transformação pacífica da sociedade, ela vinha da própria classe capitalista… O líder do Partido Conservador em 1912 apoiou um motim de oficiais da Irlanda que se opunha às políticas da maioria do Parlamento… Mussolini, Hitler e Franco foram em seu tempo louvados e apoiados pelas figuras líderes do Partido Conservador. Mais recentemente, Ian Gilmour, supostamente um ‘liberal’ no partido, escreveu que “Conservadores não veneram a democracia… Para eles o governo da maioria é um aparelho… para nós, portanto, democracia é um meio para um fim, não um fim em si mesmo.” (16)
A perseguição a Pat Wall e sua família que se seguiu a essa fala indicava até onde a imprensa estava preparada para ir na tentativa de destruir o Militant e seus apoiadores.
A esposa de Pat, Pauline, foi forçada em sua própria casa a defender o ‘Código de Conduta Profissional’ da União Nacional de Jornalistas, numa tentativa inútil de tocar as consciências dos sabujos da Fleet Street que perseguiam ela, Pat e sua família. Um exemplo dos métodos usados é mostrado pelas seguintes perguntas feitas a ela pelos jornalistas:
Como você se sente sendo casada com um homem violento?…Ele bate nas crianças? … Você está com nojo dele?… Porque seu marido advoga a violência?… Porque ele está pedindo por sangue nas ruas? (17)
A imprensa chegou a ir até os patrões de Pat Wall perguntando o que eles pensavam de suas opiniões políticas. Cartas anônimas foram enviadas sugerindo que Pat deveria ser demitido. Mas isso não funcionou. Pat Wall permaneceu como candidato parlamentar por Bradford North. Ele foi derrotado na eleição geral de 1983, porque votos foram desviados por Ben Ford, anterior MP e desertou para o SDP. A direita Trabalhista se distanciou de Pat Wall e sua campanha. Em 1987 Pat teve sua desforra dessa derrota com sua eleição triunfal ao Parlamento.
A liderança Trabalhista, que baixava a cabeça para a campanha da mídia contra o Militant, foi incapaz de mobilizar o movimento trabalhista para enfrentar a ameaça posta pela defecção dos traidores do SDP, como na pré-eleição de Hillhead que teve lugar em março de 1982. O Trabalhismo perdeu sua cadeira para o líder SDP Jenkins. Mais importante era a defecção massiva dos antigos votos dos Conservadores, que caíram 14.5%. Essa era uma cadeira que o Trabalhismo tinha desde 1919. Numa série de pré-eleições – Crosby, Warrington e Hillhead – o apoio ao SDP cresceu. Após 24 horas da votação, a direita liderada por Healey e Hattersley, previsivelmente tentou jogar a responsabilidade pela derrota Trabalhista nas costas da esquerda, em particular os apoiadores do Militant.
Na realidade, o apoio ao SDP foi um voto contra a política do governo trabalhista de 1974-79, pela direita. A ironia da situação era que os líderes do SDP eram os mesmos autores daquelas políticas que agora estavam se apresentando como um ‘novo’ partido. Além disso, a ala direita que permanecia no Partido Trabalhista era impedida de efetivamente atacar suas políticas de companheiros de cama porque tinha a mesma visão e abordagem. Enquanto preparavam o expurgo da esquerda eles ofereciam a mão da amizade a Owen e Jenkins, oferecendo uma coalizão não oficial, se o SDP afetasse a balança do poder depois da próxima eleição.
Leis anti-sindicais
Enquanto o Trabalhismo era ‘uma casa dividida contra ela mesma’ os Conservadores tiveram a chance de introduzir um ataque brutal contra os sindicatos. Quando Tebbit introduziu seu infame Ato Anti-Sindical de 1981-82, o Militant declarou:
Se a proposta de Tebbit se tornar lei os sindicatos serão arrastados para um pântano legal. Eles enfrentarão a possibilidade de uma bancarrota e sindicalista individuais enfrentarão a possibilidade de prisão. (18)
Tebbit falou da necessidade de ‘neutralizar’ os sindicatos através desta legislação. Ele propunha que as cortes Conservadoras poderiam decidir qual ação industrial ou não era ‘legal’. Ao mesmo tempo, os fundos dos sindicatos poderiam ser tomados pelas companhias por perdas ocorridas com ações industriais ‘ilegais’. Além disso, a ação industrial seria declarada ilegal a menos que a preocupação ‘total ou principal’ com a disputa sindical britânica e o termo ‘disputa sindical’ fosse definida estreitamente para significar apenas disputas entre trabalhadores e empregadores imediatos. Havia também propostas de ataques aos closed shop (estabelecimentos industriais que só admitem empregados sindicalizados) e o terreno estava preparado para a vitimização dos grevistas. Militant apontou que “os sindicatos tem o poder de esmagar [as propostas de Tebbit]”. Nós estávamos junto com Arthur Scargill, o novo recém-eleito presidente do Sindicato Nacional dos Mineiros, que declarou:
A legislação é introduzida pelo Parlamento, mas devemos lembrar que a lei ou avanços em nossas liberdades se devem à homens e mulheres que, quando sua consciência os obriga, estão preparados a desafiar a lei… Se for introduzida uma legislação que acabe com nossa democracia e liberdades básicas, ou ameace nosso direito à associação, devemos nos opor com a mesma determinação e vigor de nossos ancestrais. Acredito que será necessário usar todas as medidas, incluindo a ação industrial, para derrotar a lei de Tebbit e defender nosso movimento. (19)
A incapacidade da liderança direitista do conselho geral do TUC em prestar atenção a esse aviso significou um preço terrível que os trabalhadores britânicos tiveram que pagar nos próximos dez anos. Uma ação decisiva neste estágio quando a legislação foi introduzida poderia derrubar o governo, como em 1972, dez anos antes. Fraqueza convida à agressão. Prevaricação, hesitação e covardia completa, a marca da direita nos sindicatos, ajudaram os Conservadores.
1 Militant 518 5.9.80
2 ibid
3 Militant 547 10.4.81
4 Militant 551 8.5.81
5 Militant 581 11.12.81
6 Today Programme, BBC Radio 4, 15.9.81
7 Sunday Mirror 20.9.81
8 Militant 570 25.9.81
9 Militant 582 18.12.81
10 Daily Mirror 10.12.81
11 Militant 587 5.2.82
12 Militant 590 26.2.82
13 ibid
14 Militant 591 5.3.82
15 Sunday Times 7.3.82
16 Militant 592 12.3.82
17 ibid
18 Militant 595 2.4.82
19 ibid