Equador: Correa vence, mas se distancia dos movimentos

Rafael Correa conseguiu garantir um terceiro mandato, ganhando as eleições presidenciais do dia 17 de fevereiro já o primeiro turno, 56,7% dos votos. Sua “Alianza PAIS” (Patria Altiva y Soberana) conseguiu também 66% dos cargos no parlamento.

Após 14 presidentes serem depostos em 20 anos, a vitória Correa em 2006 abriu um período de estabilidade inédita nos últimos tempos. Com o aumento dos preços do petróleo o governo triplicou a arrecadação nos últimos seis anos, destinando-a a programas sociais e projetos de infraestrutura. A participação dos gastos do governo no PIB dobrou e o Equador deu um salto nos gastos sociais. Os gastos com educação quadriplicou e saltou de 2,5% para 6% do PIB.

Também foi implementada uma nova constituição que ampliava os diretos sociais. O aumento do salário mínimo, microcrédito para trabalhadores informais e um programa parecido com o Bolsa Família ajudou a reduzir a pobreza.

Além disso, Correa suspendeu o pagamento da dívida pública de 3,2 bilhões de dólares e implementou uma auditoria da dívida externa, que levou 95% dos credores a aceitar receber somente 25-30% de pagamento das dívidas. Correa também fechou a base militar dos EUA no país.

Maioria dos movimentos abandonaram Correa

Porém, o governo Correa tem entrado cada vez mais em conflito com os movimentos que o levaram ao poder. Hoje somente dois dos 30 grupos que o apoiaram em 2006 ainda o faz.

Um dos principais foco de conflitos com os movimentos tem sido a ampliação da exploração do petróleo e minerais na Amazônia e aéreas indígenas, desrespeitando a nova constituição que garante que projetos que afetam o meio ambiente terá de ser objeto de consulta a comunidade local. Em março do ano passado foi realizado uma grande “Marcha pela Água, Vida e Dignidade” que percorreu o país até a capital Quito, protestando contra essa política, e uniu 30 mil num grande protesto na capital.

A estratégia do governo é atrair investimentos internacionais para aumentar a produção de matérias primas. A China tem sido um importante parceiro, garantindo empréstimos de 7 bilhões de dólares (o dobro da antiga dívida) a serem pagos com petróleo.

Os movimentos também apontam para a falta de uma reforma agrária e o fato que Correa defende retirar direitos garantidos na nova constituição. Além de tudo, a economia continua dolarizada (o dólar estadunidense é usada ao invés de uma moeda nacional) e por isso a política monetária é subordinada às determinações do banco central dos EUA.

Os movimentos que romperam com Correa lançaram a “Unidade Plurinacional das Esquerdas”, que organizou a Marcha pela Água. Nas eleições tinham como candidato a presidente o ex-ministro de minas e energia, Alberto Acosta, que teve 3,3% dos votos. Essa frente de esquerda conseguiu também seis mandatos no parlamento.

Economia segue dolarizada

De maneira semelhante a Lula e Dilma no Brasil, Correa conseguiu mudar sua base social, dos movimentos radicais organizados, para camadas mais amplas da população, com medidas sociais aproveitando-se do período de crescimento. Além disso, a elite conseguiu um período inédito de relativa tranquilidade, ao mesmo tempo em que a economia dolarizada e a busca de investimentos internacionais colocam limites à política do governo.

Mas esse equilíbrio tem prazo de validade, já que os interesses econômicos das grandes empresas multinacionais são antagônicos aos da maioria da população e em algum momento o período de crescimento vai ter um fim. O lançamento de uma alternativa nessas eleições foi importante para começar a construção de uma alternativa socialista.

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