COB convoca a criação de um novo partido na Bolívia

Eleito há oito anos despertando grandes esperanças entre os trabalhadores e indígenas bolivianos, Evo Morales tem tomado nos últimos anos uma série de medidas que mostram que ele está optando por um caminho contrário ao interesse dos que o elegeram. Esquecendo seus antigos discursos em defesa da “Mãe Terra” e de uma nova concepção de civilização, Evo agora aposta todas as suas fichas em um modelo de capitalismo amazônico extrativista, predador do meio ambiente e defensor das grandes multinacionais.

Em dezembro de 2010, Evo decreta um “gasolinazo” (aumento geral no preço dos combustíveis, com forte impacto sobre o preço da cesta básica), medida logo revogada devido ao forte rechaço da população. Em 2011, recusa-se a atender as demandas por aumentos salariais dos professores e médicos urbanos. Nesse mesmo ano, há uma violenta repressão a uma marcha de indígenas do Território Indígena e Parque Nacional Isidoro Secure (TIPNIS), que protestavam contra a construção de uma rodovia dentro do seu território. Evo, nesse episódio, tomou claramente o lado do agronegócio boliviano e da empresa brasileira OAS, dona da licitação da estrada. Desrespeitou os próprios mecanismos de consulta às populações originárias estipulados na nova constituição e decretou que a estrada sairia “sim ou sim”.

Essa postura truculenta fez com que duas das cinco federações camponesas do país (CIDOB e CONAMAQ), retirassem o apoio que até então davam ao seu governo. Também fez com que a Central Operária Boliviana (COB), pela primeira vez em muitos anos, chamasse um dia de paralisação geral em apoio aos indígenas do TIPNIS. Para uma parcela crescente do movimento dos trabalhadores, estava ficando claro que esse governo não era o seu, e que precisavam construir uma alternativa tanto a ele quanto à velha direita neoliberal, derrotada mas ainda não morta.

Ainda em 2011, o congresso da federação nacional dos mineiros aprova que a COB passe a construir um novo partido dos trabalhadores, a partir dos sindicatos. A burocracia que atualmente dirige a COB nesses dois anos não fez nada para iniciar esse processo, mas, pressionada cada vez mais pela sua base, em janeiro desse ano foram dados os passos iniciais para a construção de um novo Instrumento Político dos Trabalhadores (IPT).

Isso acontece em uma conjuntura de vazio político. O MAS de Morales se mostra cada vez mais surdo aos protestos dos trabalhadores e movimentos sociais, preferindo garantir o interesse de grandes transnacionais mineradoras e do agronegócio. Por outro lado, nenhum dos velhos partidos possui qualquer credibilidade frente aos trabalhadores. Por isso, a criação de um novo partido que represente as lutas dos trabalhadores, indígenas e camponeses da Bolívia pode rapidamente se transformar em uma referência para as massas.

Lutar por um partido realmente democrático e socialista

Isso, no entanto, não está garantido. Os dirigentes sindicais que estão à frente desse processo têm contra si os anos de colaboração com o governo do MAS. Alguns desses dirigentes podem estar em busca apenas de uma ferramenta eleitoral ou de pressão sobre o governo. Se adotar um perfil sindicalista, ele não terá atração nenhuma para os movimentos indígenas e camponeses organizados que, neste momento, estão pondo em dúvida a capacidade do MAS de transformar sua realidade.

Os próximos meses serão decisivos para a definição desse novo partido. Por isso, a esquerda e os ativistas de base precisam lutar para transformá-lo em um partido realmente democrático e socialista, enraizado nos bairros, locais de trabalho e comunidades pobres, que participe da luta de todos os setores oprimidos e seja capaz de formular uma alternativa de poder tanto ao MAS quanto à velha direita.

  

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