Os métodos criminosos da especulação imobiliária!
Nesse ano em São Paulo tivemos uma quantidade de incêndios em favelas nunca visto antes. De janeiro a setembro foram cerca de 34 comunidades e aproximadamente mil famílias desabrigadas, segundo o Corpo de Bombeiros e a Secretaria Municipal de Assistência Social. Muitos desses ocorrem onde existem projetos de interesse do mercado imobiliário.
Em 2009, o Pantanal na Zona Leste ficou quase dois meses debaixo d´água, depois de uma enchente criminosa. O governo fechou as comportas da barragem da Penha, para impedir o alagamento na Marginal Tiete e forçar a retirada de famílias da área onde estão construindo o Parque Linear Várzeas do Tietê. Alagamento, incêndio, duas faces da mesma moeda!
Tudo é tratado como mercadoria
Esses casos nos mostram o quanto o espaço urbano é uma mercadoria como qualquer outra. A construção de uma área para determinada finalidade é um negócio. Tanto sua construção que mobiliza a indústria da construção civil e pesada, como o valor que esta região passa a ter, graças à infraestrutura que recebe. Assim, vemos a necessidade constante de abertura de novas áreas de interesse do capital, ao mesmo tempo em que o poder público não se preocupa em desenvolver políticas publicas para resolver o problema de habitação e das famílias que estão sendo removidas.
A periferia distante, e em muitos casos desprovida de infraestrutura urbana aparece sempre como possibilidade de valorização. Mas as áreas urbanas já consolidadas também pode ser um ótimo nicho de investimento a partir de mudanças de seu uso, que na verdade trata-se de um discurso para a venda e consequentemente, capitalização de investidores. O Estado neste contexto se alinha aos investidores favorecendo e ampliando os lucros do setor imobiliário em detrimento do aspecto social e do interesse da população.
Em uma sociedade capitalista baseada no lucro, como é nosso caso, este processo de construção e reconstrução de lugares acontece sem levar em conta as populações que residem anteriormente naquele local. Em áreas de ocupação irregular, as remoções ocorrem muitas vezes de forma violenta. Enchentes provocadas, incêndios criminosos e violência policial são métodos utilizados para forçar a remoção de comunidades que resistem em abandonar suas casas e seu bairro.
A construção do Parque Várzeas do Tietê e da Arena Itaquera na Zona Leste se insere neste padrão de construção ou reconstrução de espaços, mudando assim o padrão de ocupação da região. Para a construção, tanto do parque como do estádio, parte da população que vive na região passa pelo processo de remoção. E interessante notar que os discursos utilizados pelos governos, tanto municipal quanto estadual é que o reassentamento deve acontecer porque essas populações vivem em áreas de risco, no entanto, a questão principal é a preocupação com o projeto de requalificação urbana e não um projeto social.
Vemos que em nossa sociedade a conduta do poder público, aliado aos interesses do capital financeiro e grandes corporações, é sempre no sentido de explorar e expropriar a população pobre. Isso acontece na prática e no discurso, pois as remoções, por exemplo, acontece com o discurso de que essas pessoas receberão moradias dignas, e de que a requalificação de áreas possibilita a melhoria de vida dos moradores da região. O discurso acaba conquistando inclusive a população prejudicada.
O bolsa aluguel e o primeiro instrumento utilizado na remoção das famílias. Porém o valor pago pela prefeitura de longe é suficiente para cobrir o valor de aluguel nas áreas próximas. Além disso, as famílias que conseguem alguma moradia provisória com a ajuda do bolsa-aluguel, permanecem numa situação de insegurança e incerteza sem conseguirem de fato recomeçarem suas vidas. Muitas famílias, que vivem nessas áreas, tiram seu sustento do comércio informal que serve a população que ali residem. Além de perderem seus lares perdem também seu sustento.
O novo Plano Diretor
Em 2013 as prefeituras das cidades vão elaborar o Plano Diretor, que definirá pelos próximos anos o desenvolvimento da cidade e o seu projeto de urbanização. Por lei, o plano diretor tem que ser desenvolvido com ampla participação de toda a população. Temos que nos mobilizar para garantir que nós, trabalhadores e trabalhadoras não sejamos engolidos por megaempreendimentos que só irá gerar lucro para grandes empresas ao invés de melhorar o espaço urbano. A mobilização e a luta são as únicas formas de garantirmos um novo modelo de cidade em que os interesses sociais seja o norte de seu desenvolvimento.