Vitória do PSOL e das lutas coletivas no Rio de Janeiro – a luta continua!

A eleição municipal do Rio de Janeiro foi marcada por uma forte disputa pelo segundo turno. Apesar de Eduardo Paes ter sido reeleito com 64,6% dos votos no primeiro turno, desempenho esperado pela sua estrutura de campanha, Marcelo Freixo, o PSOL e os militantes que fizeram sua campanha voluntariamente, foram os verdadeiros vitorioso nessas eleições.

Eduardo Paes contava com um governo bem avaliado pela população, com ampla estrutura de campanha e apoio massivo dos partidos burgueses, do Lula e da Dilma. Sua coligação contava com 20 partidos, o que lhe dava 16 minutos de tempo de TV, e utilizou milhões de reais em sua campanha, uma das mais caras do país. Os demais candidatos à prefeitura do Rio, Aspásia Camargo (PV), Otávio Leite (DEM) e Rodrigo Maia (DEM) apresentaram um Rio sem grandes problemas e não fizeram críticas duras ao Paes.

Esse investimento na candidatura de Paes, feito pela burguesia nacional, representa a continuação do projeto econômico baseado nos megaempreendimentos e megaeventos, e do projeto político dos governistas e sua base aliada. Paes será um grande puxador de votos para o candidato do PT a presidente em 2014, além de fortalecer politicamente o PMDB, para manter a cadeira de vice.

Fenômeno Freixo

O que os governistas não contavam era com o fenômeno Freixo, que mobilizou milhares de jovens e militantes em uma campanha coletiva, sem estrutura financeira, sem tempo de TV, mas que teve como base os comitês locais e temáticos (LGBTT´s, mulheres, juventude com Freixo, entre outros). A campanha utilizou as redes sociais, como instrumento de comunicação e divulgação das ideias, mas foi o velho contato corpo a corpo, a militância política consciente e lutadora, na rua dialogando com a população, que garantiu os vitoriosos 28% dos votos válidos do Freixo. Este aglutinou os descontentes com o governo Paes e mostrou que existe sim um projeto diferente, contrariando a ideia fatalista de um único projeto, defendido pela ampla composição burguesa.

Freixo conquistou um espaço antes ocupado pelo PT, por apontar uma alternativa oposta a do governo Paes. No entanto, o avanço gerado com a disputa pela base petista gera contradições, pois desencadeia uma pressão ainda maior institucionalista e eleitoreira.

Esta conquista coletiva do Freixo, no primeiro turno das eleições cariocas, se deu apesar do ataque da grande mídia, que tentou desqualificá-lo. Em várias entrevistas foram feitas perguntas tendenciosas com o objetivo de atacá-lo. No entanto, por diversas vezes Freixo deixou dúbia sua posição, titubeando na defesa do programa do PSOL, para tentar agradar gregos e troianos. Um exemplo disso, quando indagado sobre qual seria a sua posição como prefeito em uma situação de greve do funcionalismo municipal, deixou vaga a possibilidade de cortar o ponto dos grevistas; assim como não ficou claro se aceitaria o apoio do PSDB no segundo turno.

Avaliamos que as figuras públicas do PSOL não podem passar a falsa ilusão de que basta uma boa administração/gestão do Estado burguês para garantir uma boa qualidade de vida para todos/as. Isso pois, os avanços para os trabalhadores por dentro do capitalismo, só são possíveis enquanto não afetam os lucros e privilégios da classe dominante, ou com muita luta, e mesmo assim nunca será algo garantido até que conseguimos derrubar esse sistema.

Mostrou potencial sem alianças espúrias

Apesar disso, a vitória do PSOL no Rio ocorreu sem nenhuma aliança espúria, fora dos marcos da frente de esquerda, o que reflete que não precisamos rebaixar o nosso programa político e nem nos aliar aos nossos inimigos de classe para obter ganhos nas eleições burguesas. O PSOL foi o partido que mais cresceu nacionalmente 96% (passou de 25 para 49 vereadores), e no Rio de Janeiro dobrou de tamanho, elegeu mais 2 vereadores e possui agora uma bancada de 4 vereadores, a mesma quantidade de vereadores do PT e só perde para o PMDB, que possui a maior bancada de 13 vereadores.

Essa projeção do PSOL se refletiu em outros municípios do estado do Rio de Janeiro, como em Niterói, aonde tivemos os dois vereadores mais bem votados da cidade, Paulo Eduardo Gomes e Renatinho, sendo que este primeiro foi o mais bem votado da história do município. Em Niterói triplicamos nossa presença na câmara de vereadores, aonde passamos de um vereador para três. Também em Itaocara-RJ, o PSOL elegeu o primeiro prefeito do partido no país.

Essas vitórias são consequência das lutas que foram travadas no estado contra o “lulismo”, como a greve dos professores estaduais que durou 67 dias, a greve dos bombeiros, as explosões de manifestações contra o aumento e a péssima qualidade do transporte público, a greve dos professores e funcionários das universidades públicas (todas as universidades públicas do estado entraram em greve), entre outras. O PSOL e seus militantes são reconhecidos como aqueles que estão construindo as lutas o ano inteiro, que “estão na rua por ideal e não recebem um real”.

O avanço nas lutas no último período e o crescimento significativo do PSOL (28% dos votos válidos no Freixo, claramente um opositor ao governo do Paes apoiado pelo PT), são resultado de um incipiente descontentamento com o governo do PMDB e com o “lulismo”, projeto que se sustenta nas ilusões de prosperidade para todos, mas que governam de fato para os ricos. O que o povo tem assistido de fato foram as remoções de comunidades pobres devido aos megaeventos, o aumento das passagens, obras superficiais feitas as pressas em véspera de eleição para o Paes “mostrar serviço”, etc.

Coronéis derrotados

Este descontentamento inicial da população também pode ser percebido no alto índice de abstenção de 20,45%no Rio de Janeiro e nas derrotas eleitorais de tradicionais políticos “coronéis”, que mantinham verdadeiras “dinastias” na baixada fluminense. Como a derrota do José Camilo Zito (PP), conhecido como o Rei da Baixada, na prefeitura de Duque de Caxias, depois de três mandatos. Também em Nilópolis, aonde Sérgio Sessim (PP), sobrinho do bicheiro pertencente a “família Beija-Flor”, Aniz Abrahão David, o Anísio, fracassou. Esta família dirigia o município há décadas, teve cinco prefeitos. Casos semelhantes ocorreram em Magé e outros municípios.

Mal acabou a eleição municipal e Eduardo Paes já iniciou novos ataques aos trabalhadores. Voltou atrás em promessas que tinha feito, como não aumentar o IPTU e as passagens de ônibus e junto com o governador Sérgio Cabral (PMDB) intensificou a política de higienização da cidade, com o recolhimento compulsório de dependentes químicos e moradores de rua.

É por isso que o PSOL é um partido necessário, para defender os direitos dos trabalhadores dos constantes ataques do PT e seus aliados e garantir melhorias reais de vida para a população desde já. Mas, principalmente, para apresentar um outro projeto de sistema sócio econômico que nada tem haver com o capitalismo, baseado na planificação da economia e no radical processo de tomada de decisões coletivas pela totalidade da sociedade, o socialismo. Não queremos um capitalismo melhorado, por isso não basta bons administradores/gestores do capitalismo, bons prefeitos e vereadores, mas sim o aumento das lutas sociais para tomarmos o poder.

Uma real alternativa para os trabalhadores

Para tal não podemos nos igualar e nos unir aos partidos burgueses, mas sim temos que nos diferenciar deste e nos apresentar como uma real alternativa aos trabalhadores e as lutas sociais. A dita “viabilidade eleitoral”, a eleição a qualquer custo de parlamentares, não é mais importante que a manutenção inicial do projeto do PSOL de ser um partido de oposição clara a velha direita liberal e a nova direita governista, que ataca os direitos dos trabalhadores e favorece os banqueiros e as grandes corporações. A eleição de prefeitos e vereadores com alianças espúrias não vai renascer as esperanças da população, mas sim igualar o PSOL aos demais partidos burgueses. O que vai renascer as esperanças do povo é a juventude e os trabalhadores unidos na rua em prol de um único objetivo, como vimos na campanha do Freixo que reuniu 15 mil pessoas em um comício na Lapa, fenômeno que não vemos há anos.

O papel do PSOL é dar continuidade e intensificar a organização coletiva que foi construída na campanha do Marcelo Freixo, a retomada da viabilidade dos projetos e lutas coletivas que ressurgiram com a ideia de que “nada é impossível de mudar”. Vamos transformar os comitês de campanha em núcleos do partido que tenham autonomia e independência para organizar as lutas coletivas e decidir conjuntamente as decisões do partido. Nada deve parecer natural e o PSOL está aí para dizer isso. 

Você pode gostar...