O meu PSOL é sem Marina, Gabeira e PCdoBolso
Um fantasma ronda o III Congresso Nacional do PSOL, o fantasma das coligações e alianças sem princípios e sem coerência política. É hora de exorcizar de vez o pragmatismo eleitoral e construir um projeto socialista e classista para a intervenção do PSOL nas eleições.
Depois de repudiada pela base do partido para as eleições do ano passado, a proposta de aliança política do PSOL com Marina Silva ressurge agora de forma semiaberta, um pouco envergonhada, mas nem por isso menos ameaçadora.
Dirigentes do PSOL têm participado de atividades públicas de lançamento do movimento político criado por Marina Silva que visa formar um novo partido político. Heloísa Helena foi representada por Martiniano Cavalcanti (MTL/PP) em reunião com Marina que também contou com a presença do senador Randolfe Rodrigues (APS do Amapá) e outros dirigentes do PSOL. Em São Paulo, o deputado estadual Carlos Giannazi (aliado do MES) também esteve representado no lançamento do movimento de Marina e espera poder contar com seu apoio para seu projeto de candidatura a prefeito da capital paulista.
No Rio de Janeiro, o Congresso Estadual do partido decidiu, por pequena maioria, que o PSOL buscará o Partido Verde de Fernando Gabeira (aliado do PSDB no estado) para uma coligação em torno da candidatura de Marcelo Freixo a prefeito da capital fluminense.
O Congresso Estadual do PSOL do Amapá, com ampla maioria da APS, decidiu escancarar o arco de alianças do partido para as eleições municipais de 2012. A página do senador Randolfe Rodrigues na internet defendia coligações com partidos que vão do PT, PCdoB e PV até agremiações abertamente direitistas do quilate do PTB, PSDC!
Para as eleições em Belém do Pará, também está em debate aberto no PSOL a possibilidade de coligações com partidos como o PCdoB. O mesmo se dá em vários municípios do estado de São Paulo, onde coligações com o PCdoB, PT e outros partidos da base do governo federal, estão sendo cogitadas e construídas.
O III Congresso Nacional do partido tem a responsabilidade de impedir esse suicídio político. Caso contrário, o próprio projeto que serviu de base para a formação do PSOL estará profundamente ameaçado.
O ecocapitalismo de Marina Silva
A então senadora Marina Silva rompeu com o PT depois de anos como ministra de Lula. Calou-se diante dos escândalos do mensalão e da política neoliberal adotada pelo governo. Foi protagonista ou conivente com as políticas privatistas na Amazônia, a entrega das florestas ao agronegócio e o enfraquecimento e divisão do IBAMA.
Ao sair do PT, não fez autocrítica nem buscou construir uma oposição de esquerda. Pelo contrário, aprofundou o curso direitista e aproximou-se da oposição de direita encabeçada pelo PSDB e seus satélites. Ingressou no Partido Verde, o partido da boquinha, que participa de todos os governos possíveis tirando a sua lasquinha.
Nas eleições de 2010, Marina usou sua história de vida e de militância ligada à luta ambiental para arrebanhar votos críticos às políticas do governo Lula. Mas, também capitalizou o que há de mais reacionário no voto fundamentalista religioso antiaborto e preconceituoso contra a comunidade LGBT. Também atuou como auxiliar da oposição de direita.
Ao perceber que a convivência com a gangue burocrática que controla o PV inviabilizaria seu projeto político, decidiu sair desse partido e construir um movimento político que deve resultar na formação de um novo partido. O projeto de Marina responde a uma necessidade das classes dominantes no Brasil. Com a profunda crise da direita tradicional e os riscos para Dilma e o “lulismo” relacionados à crise mundial e seus efeitos no Brasil, é importante que as elites tenham na manga uma cartada alternativa. Marina tenta ocupar esse espaço.
A decisiva questão ambiental que, nos marcos do capitalismo em crise estrutural, ameaça a vida sobre o planeta, não pode servir de fachada progressista para um projeto político profundamente conservador como o de Marina. O papel do PSOL não é reforçar a falsa imagem progressista de Marina e sim desmascará-la como fez Plínio na campanha presidencial de 2010.
A alternativa “ecocapitalista” de Marina Silva não é capaz de dar respostas consequentes para a crise ambiental que afeta o Brasil e o mundo. Um projeto anticapitalista e socialista, em confronto direto com os grandes interesses do agronegócio, mineradoras, grandes corporações e capital financeiro (todos eles interligados), é o único capaz de oferecer saídas estruturais em defesa da vida e do planeta. Somente a planificação da economia com controle democrático da maioria da sociedade, dos trabalhadores, camponeses, indígenas e população pobre, poderá combinar desenvolvimento e igualdade social com defesa do meio ambiente.
PV é aliado da direita
A enorme autoridade e respeito construídos pelo deputado estadual Marcelo Freixo no Rio de Janeiro não podem ser colocados em risco nas eleições de 2012 por uma coligação com forças de direita em nome do pragmatismo eleitoral.
Uma coligação do PSOL com o PV do Rio significa uma aliança com um braço da direita tradicional no estado. Gabeira foi em 2010 o candidato de José Serra (PSDB), assim como o de Marina Silva, ao governo do estado do Rio. Fortalecer a única oposição efetiva a Eduardo Paes, o candidato de Dilma e Sérgio Cabral, não se fará com alianças com quem hoje posa de oposição (de direita), mas sempre foi parte do esquema político dominante.
Como oposição de esquerda, o PSOL deve buscar construir sua base de apoio a partir de um critério de classe, nos movimentos sociais e nas organizações dos trabalhadores.
Quanto custa mais tempo na TV?
Em vários municípios e algumas capitais, a defesa de coligações com o PCdoB e, em alguns casos, com o PT, tenta fundamentar-se na argumentação de que há deslocamentos à esquerda nesses partidos e que o PSOL poderia incidir sobre esse processo. Porém, nenhum elemento concreto atestando supostas crises nesses partidos é explicitado.
O único argumento concreto defendido por setores do partido, como no caso de uma possível coligação com o PCdoB em Belém, é a necessidade de mais tempo na TV. Mas, qual o preço desses segundos ou minutos a mais? O que significaria para o PSOL da região amazônica fazer uma coligação com o partido da motosserra, o partido que encabeçou o projeto de reforma do Código Florestal a serviço do agronegócio?
Para o PSOL, o real significado de uma coligação desse tipo, seria o de vender a alma ao diabo em troca de migalhas.
Tanto os mais escrachados como os mais tímidos defensores das coligações com partidos governistas ou as legendas de aluguel da burguesia utilizam o argumento da necessidade de que o PSOL não fique restrito a um gueto sectário da esquerda. A palavra de ordem desses setores é a “ampliação”.
A questão, porém, é ampliar para onde, com quem? Coligações eleitorais oportunistas só servirão para levar o PSOL para a vala comum de outras tantas legendas que também tem a palavra “socialismo” no nome. O papel do PSOL é buscar o apoio ativo daqueles e daquelas que estão desiludidos com os partidos políticos existentes, que querem algo novo e radicalmente diferente.
A tarefa do PSOL é crescer e ampliar-se na direção dos movimentos de luta da classe trabalhadora e da juventude e buscar credenciar-se como alternativa essencialmente distinta dos partidos da ordem e do sistema vigente. Devemos dialogar com milhões, mas reafirmando nosso projeto radical e socialista ligado a cada uma das demandas concretas de amplos setores de massas.
Frente de Esquerda e dos trabalhadores
Do ponto de vista eleitoral, a melhor tática para o PSOL ainda é a construção de uma Frente de Esquerda envolvendo partidos como o PSTU e o PCB, onde isso for possível, mas, além disso, buscando uma relação direta com os movimentos sociais, incorporando suas demandas e reivindicações como parte do nosso programa e vinculando-as à nossa alternativa anticapitalista e socialista.