Construir um polo de esquerda unitário no PSOL
No III Congresso Nacional do PSOL presenciamos o surgimento de uma nova ala direita do partido representada pelos principais defensores da aliança com Marina Silva e Gabeira. São correntes, como o MTL/PP e outros agrupamentos que hoje são majoritários em estados importantes como o Rio de Janeiro e Pernambuco.
A dinâmica desses setores aponta para sérios riscos ao PSOL. Além das coligações, a tentativa de filiação ao partido de figuras como Rose Bassuma (vinda do campo político da direita e liderança no movimento antiaborto na Bahia) e Jorge Periquito (oriundo do PRONA e PRTB e aliado do governador mineiro Anastasia, do PSDB) são sinais do tipo de partido que esses setores querem construir. Ambas as filiações foram barradas pela maioria da direção nacional.
Tema das alianças eleitorais
Mas, no tema das alianças eleitorais, o campo majoritário do partido organizado em torno da corrente APS, embora mais comedido, não oferece garantias efetivas. A APS é quem está por trás das tentativas de coligações com PT e PCdoB no estado de São Paulo, Pará e, num arco muito mais amplo de alianças, Amapá. No caso do Amapá, embora reconheça que a posição do senador Randolfe não reflete o que pensa o conjunto da APS, não está claro se essa corrente irá ou não fazer vistas grossas diante das posições defendidas pelo senador no estado.
Mesmo que vete os “excessos” do Amapá, a APS ainda assim continuará defendendo uma política ampla de alianças com setores governistas e burgueses em vários municípios.
Além disso, a APS recusa-se a tirar as lições da crise do PSOL no II Congresso (2009) e na Conferência Eleitoral de 2010 e continua se opondo à obrigatoriedade dos Núcleos de Base e o estabelecimento de critérios claros para que os filiados tenham direito a voto no interior do partido.
Critérios de militância
A concepção hegemônica no PSOL, compartilhada pela direção da APS, é de um partido de filiados passivos durante a maior parte do tempo, apenas convocados para apoiar candidatos nas eleições ou votar nas chapas de quem os filiou (correntes ou mandatos) nos Congressos.
Nesse cenário, mais do que nunca, é fundamental a construção de um polo de esquerda coerente e unitário no interior do PSOL. Um polo organizado em torno da defesa da independência de classe, contra as coligações com a direita, contra a aliança com Marina, por uma concepção de partido militante, de base e democrática e por um programa socialista consequente para o PSOL.
A novidade no último período é a inflexão da corrente MES numa direção mais crítica aos setores majoritários do partido. Estimulada pela perda de sua ala direita (Pernambuco), pela disputa aberta com a APS em São Paulo em torno de quem será o candidato do partido em 2012 e pelos novos climas de mobilização da juventude, essa inflexão do MES levou a que a proposta de unidade desses setores com a esquerda do partido fosse colocada sobre a mesa.
Até hoje, porém, não vimos nenhum balanço sério ou autocrítica do fato do MES ter encabeçado a ala direita do partido no último Congresso, ter defendido a coligação com Marina, as coligações com o PV, o financiamento de campanha por parte de empresas como Gerdau e Taurus em Porto Alegre, ter também apoiado a pré-candidatura de Martiniano contra Plínio e quase ter promovido a divisão do PSOL em meio à crise da Conferência Eleitoral de 2010.
Coerência na prática cotidiana
Se passarem a votar conosco uma política de organização partidária que priorize os Núcleos de Base, achamos excelente. Mas, queremos ver essa mesma política implementada no Rio Grande do Sul e outros estados em que dirigem o partido.
Se votarem contra os descalabros no Amapá ou os movimentos em direção a Marina Silva, terão avançado. Mas, como explicar a postura de Giannazi (aliado do MES em São Paulo) simpática a Marina ou o voto do MES no Rio de Janeiro a favor da coligação com o PV de Gabeira?
Entendemos que o papel de correntes como o Campo Debate Socialista, a CST e o Enlace (setor que votou em Conferência contra as coligações para além da Frente de Esquerda e não o setor que se alinha com a APS), junto conosco da LSR e companheiros do Reage Socialista e Grupo de Ação Socialista (GAS), é o de constituir um polo unitário de esquerda no partido, coerente e claro, para além dos Congressos, mas no cotidiano da luta política dentro e fora do PSOL. Entendemos também que seria um erro priorizar a composição com o MES ao invés de construir as bases para esse polo de esquerda no partido.