Política de alianças do PSOL: Por uma Frente de esquerda e dos trabalhadores pelo socialismo
A direção nacional do PSOL deliberou pela construção de uma Frente política para intervir nas eleições gerais de 2006 que incluísse o PSTU e o PCB, além de buscar estabelecer relações com movimentos sociais e políticos de esquerda que se coloquem no campo da oposição ao governo Lula e às demais alternativas da direita.
Uma frente como essa aponta para uma política, que nós do SR já vínhamos defendendo desde a fundação do PSOL, de unidade da esquerda socialista, excluindo os governistas e os partidos vinculados, de uma forma ou de outra, com setores da burguesia.
Embora apoiada por alguns setores do partido, a idéia da construção de uma coligação nacional envolvendo partidos burgueses ditos de “centro-esquerda” , como o PDT e PPS, sequer foi apresentada de forma clara e acabou rejeitada pela direção nacional do PSOL.
Apesar do acerto da posição tomada até o momento pelo PSOL, o debate sobre como e até que ponto o partido deve trabalhar para dar um caráter mais amplo às suas candidaturas permeou todas as discussões na direção nacional do partido e é assunto recorrente entre os militantes. Mesmo o debate sobre o PDT não está fechado e, de forma direta ou com mediações, sempre acaba retornando.
A herança do nacionalismo e trabalhismo
A idéia apresentada por alguns setores do PSOL é de que há um amplo setor das camadas médias da sociedade, supostamente a base social das idéias nacionalistas e desenvolvimentistas e do legado do velho trabalhismo, que estão órfãos de representação política e devem ser disputados pelo PSOL.
Segundo essa visão, ganhar esses setores médios poderia passar ou não por alianças com partidos como o PDT, supostamente herdeiro do velho trabalhismo em especial em estados como o Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
O PDT de conjunto, principalmente depois da morte de seu dirigente histórico Leonel Brizola, é visto como um partido comprometido com as nefastas práticas políticas tradicionais e que cada vez se afasta mais do legado trabalhista. Teria perdido assim o direito à herança nacionalista e trabalhista que deveria ser reivindicada, dentro dessa ótica, pelo PSOL.
Esse ponto de vista dentro do PSOL, porém, identifica segmentos ainda relativamente saudáveis no PDT. Isso poderia justificar até mesmo a realização de coligações estaduais com esse partido e possivelmente outros, como o PPS ou o PV, se não existissem os limites impostos pela obrigatoriedade da verticalização nas alianças partidárias.
Essa posição foi abertamente defendida por companheiros como o deputado João Alfredo (CE) ou a deputada Maninha (DF). Até mesmo a última resolução da direção nacional do partido aponta para a necessidade de atrair segmentos organizados (e não apenas sua base social) de partidos que se colocam como oposição ao governo Lula.
César Benjamin
Muitos, mas não todos, justificaram a proposta do nome de César Benjamin, que está formalmente filiado ao PSOL, para a vice-presidência na chapa de Heloísa Helena utilizando argumentos que antes foram usados para justificar uma possível aliança com o PDT.
César Benjamin foi dirigente nacional do PT e rompeu com esse partido em 1995. Desde então jogou papel importante na tentativa de rearticulação das forças de esquerda através do movimento político conhecido como Consulta Popular, fortemente vinculado ao MST e aos setores de esquerda da Igreja católica.
Mas, se essa possibilidade de diálogo com um setor social organizado tão importante para a esquerda como o MST e a base progressista da Igreja católica poderia ser um critério importante na definição do nome de César Benjamin para a chapa presidencial do PSOL e da Frente de Esquerda, muitas vezes não é esse o argumento principal utilizado por setores do PSOL e isso se reflete nos termos da resolução adotada pela direção nacional.
Esses setores do PSOL acabam enfatizando positivamente o fato de César Benjamin identificar-se com uma visão política mais próxima do nacional-desenvolvimentismo – a idéia da possibilidade do desenvolvimento nacional independente do imperialismo, mas ainda dentro dos marcos do capitalismo – do que com um programa classista, anti-capitalista e socialista.
A política de indicar César Benjamin como vice de Heloísa funcionaria, para esse setor do partido, como uma espécie de ‘Plano B’ diante da impossibilidade de ter um vice do PDT ou alianças regionais com segmentos desse partido.
Superar o trabalhismo e o petismo
Em nossa opinião essa visão reflete não apenas uma tática eleitoral equivocada, mas também aponta para uma estratégia global que não ajuda na superação política não só do PT, mas também do velho trabalhismo e da limitada visão nacional-desenvolvimentista, uma condição fundamental para construir o PSOL como ferramenta eficaz para a recomposição da esquerda socialista brasileira.
Lutar pelo desenvolvimento nacional autônomo que garanta real distribuição de renda e direitos sociais só é possível através da mobilização independente dos trabalhadores e seus aliados entre os setores oprimidos da sociedade, sem ilusões em qualquer fração da burguesia, no sentido da ruptura não só com o neoliberalismo, mas também com a lógica capitalista e de submissão ao imperialismo.
O espaço para reformas dentro do capitalismo nunca foi tão exíguo e a luta pelas reivindicações dos trabalhadores e todos os setores explorados e oprimidos necessita da destruição da lógica econômica e política do capitalismo para realizar-se.
O PT quando nasceu rejeitou de forma contundente a mistificação do velho trabalhismo e suas ilusões nas alianças entre os trabalhadores e setores ditos progressistas da burguesia. O mesmo questionamento fez em relação aos Partidos Comunistas que defendiam uma aliança dos trabalhadores com a ala supostamente nacional e democrática da burguesia.
O PT afirmava a necessidade de independência de classe dos trabalhadores em relação a qualquer setor da burguesia. O grande problema é que o PT nunca desenvolveu um claro projeto e programa socialistas e, com o tempo, diante das pressões burocráticas e de adaptação ao regime político burguês no parlamento, prefeituras, governos estaduais e finalmente no governo federal, tudo isso num contexto de ofensiva do capital depois do colapso dos regimes do Leste Europeu e da antiga URSS, acabou rendendo-se completamente à lógica do capitalismo.
A traição do PT foi tão dramática que o sentimento de vazio na esquerda acaba levando determinados setores a achar que, diante do que o PT se transformou, até mesmo o ressurgimento das idéias do velho trabalhismo nacionalista burguês seria algo de positivo.
O PT das origens havia avançado na direção da superação do velho trabalhismo, mas não foi até o fim. O papel do PSOL é aprender dos erros do PT e superar não só o velho trabalhismo, mas também o próprio petismo.
A tarefa central do PSOL é buscar construir-se como força política que organize e represente os milhões de brasileiros que vivem ou buscam viver do seu trabalho, na cidade e no campo, e constituem a base social decisiva da luta anti-capitalista. Deve fazer isso buscando influenciar sua consciência e ação na direção da necessidade do socialismo como alternativa.
Essa tarefa ainda está por realizar-se e o processo eleitoral de 2006 pode ser utilizado como uma oportunidade de avanço nesta direção desde que nosso programa e táticas sejam coerentes com essa meta.
Como parte da luta dos trabalhadores e vinculado a ela no programa e na ação é fundamental que o PSOL construa uma base sólida entre todos os setores mais oprimidos de nossa sociedade: estudantes, indígenas, negros, mulheres, homossexuais, etc.
Um projeto classista e socialista com base de massas
Precisaremos também construir a unidade na luta com os demais setores que sofrem com a lógica destrutiva e reacionária do capitalismo atrasado e dependente de nosso país: pequenos e médios proprietários do campo e da cidade, profissionais liberais, autônomos, etc.
O apoio desses setores não será alcançado rebaixando nosso programa classista e socialista ou aliando-se a setores organizados que tentam representar essas camadas sociais. Somente a demonstração de força e unidade do movimento dos trabalhadores baseada num programa que vincule de forma clara as demandas de caráter nacional e democráticas às tarefas anti-capitalistas e socialistas de nossa luta poderá conquistar o apoio de uma parte importante das classes médias à luta dos trabalhadores.
Para as eleições de 2006 e para as lutas concretas dos trabalhadores, o PSOL deve lutar pela unidade da esquerda socialista. Para garantir isso devemos buscar superar qualquer ilusão em alianças com segmentos de partidos burgueses de centro-esquerda e até mesmo certas inclinações auto-proclamatórias e sectárias de setores do PSTU.
O PSOL deve efetivamente priorizar a construção de uma frente de esquerda e dos trabalhadores com o PCB, o PSTU e os movimentos sociais e políticos que se colocam na oposição ao governo Lula e aos demais partidos da ordem.