No segundo turno, o melhor voto é o voto que fortalece a luta!
Nem PT, nem PSDB – organizar o terceiro turno das lutas contra os governos desses partidos e seus aliados
Em São Paulo, Campinas, Fortaleza, Salvador e outros municípios onde a direita tradicional (PSDB, DEM, etc) disputa com o PT o segundo turno das eleições municipais, muitos trabalhadores tendem dar um voto no mal menor ou um voto supostamente contra a direita.
A corrente Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR) se coloca claramente pelo voto nulo no segundo turno das eleições municipais onde não existam candidaturas dos partidos da Frente de Esquerda (PSOL, PSTU, PCB). Mas, não nos surpreende que esse raciocínio que leva a o voto no mal menor exista.
Dentro desse sistema eleitoral marcado pelo abuso do poder econômico e favorecimento dos partidos da classe dominante através da mídia, cria-se todo um ambiente que conduz parte do eleitorado a uma escolha limitada às opções ditas “viáveis”, o mal chamado “voto útil”.
O eleitor é desestimulado a votar afirmativamente num projeto político que acredite. É empurrado a escolher entre o ruim e o menos pior. O debate político real sobre os diferentes projetos de classe fica abafado e suprimido. Somos obrigados a pensar apenas no que não queremos e não no que realmente desejamos.
Foi assim em São Paulo, ainda no primeiro turno, onde parte importante dos trabalhadores acabou decidindo na última hora votar no candidato do PT, Fernando Haddad, baseados exclusivamente nos dados do IBOPE ou Data Folha no dia da eleição que apontavam o risco de um segundo turno entre Serra e Russomanno.
Mesmo com essa enorme pressão, os resultados eleitorais da oposição de esquerda foram muito positivos. Dentro de seus limites, o PSOL tornou-se o partido que mais cresceu nessas eleições com 49 vereadores, a ida ao segundo turno em duas capitais (Belém e Macapá) e a eleição de seu primeiro prefeito (Itaocara-RJ). Mesmo onde perdeu, o PSOL mostrou sua força, como no caso do Rio de Janeiro com os incríveis 28% dos votos obtidos contra as máquinas de Dilma e Sérgio Cabral a serviço de uma coligação de 20 partidos encabeçada por Eduardo Paes (PMDB). Excelentes resultados também foram obtidos em Fortaleza, Florianópolis, Natal, Niterói, Sorocaba, etc. O PSTU também elegeu seus dois primeiros vereadores (Natal e Belém).
A reconstrução de uma esquerda socialista de massas no Brasil, em oposição tanto às forças políticas tradicionais da classe dominante (PSDB, DEM, etc) quanto à sua representação hegemônica hoje (o lulo-petismo), passa por romper o beco sem saída da escolha do menos pior.
No segundo turno, a lógica do mal menor funciona com muito mais força. Afinal o segundo turno existe exatamente para forçar composições políticas que diluam projetos políticos mais firmes e claros. Quase obriga o eleitor a escolher de nariz tapado um dos concorrentes porque o fedor do adversário é ainda maior.
O principal caminho para impor as transformações sociais, políticas e econômicas que desejamos nesse país é a luta organizada dos trabalhadores a partir de seu local de trabalho, moradia, estudo, etc. É a luta direta dos trabalhadores, estudantes e do povo pobre que, ultrapassando uma perspectiva imediatista e economicista, poderá arrancar conquistas e mudar a sociedade.
O exemplo das greves de massas envolvendo os servidores federais, os operários das obras do PAC e da construção civil em geral, de bancários e trabalhadores dos correios, entre muitas outras categorias, mostra o caminho. Essas lutas precisam ser unificadas e armadas com um programa alternativo à política de Dilma e dos patrões.
Passado o segundo turno em 28 de outubro, aos trabalhadores não restará alternativa que não a luta contra os ataques que tanto governos municipais do PT como do PSDB promoverão sobre nós.
Em São Paulo, por exemplo, teremos que continuar a luta contra a privatização da saúde que tanto Haddad quanto Serra defendem. Teremos que derrotar a política de cortes nos gastos para pagar a dívida aos banqueiros que ambos tentarão implementar. Teremos que arrancar na luta as verbas para os serviços públicos e o reajuste salarial para o funcionalismo municipal.
O que melhor ajuda a organizar essa luta? Dar um voto no PT no segundo turno e fortalecê-lo politicamente ajudará a combatê-lo quando estiver no governo? Achamos que não.
A maior força do PT hoje contra os trabalhadores é exatamente a ilusão de muitos de que o PT se preocupa com os pobres. O PT nasceu da luta dos trabalhadores. Mas, esse PT já não existe mais. O PT é hoje o partido que os banqueiros, especuladores, grandes empresários e o agronegócio apoiam. Basta ver quem financia suas campanhas eleitorais.
A classe dominante prefere o PT hoje por sua capacidade de conter a insatisfação popular através da cooptação direta dos movimentos sociais. É claro que, quando a cooptação não funciona, a resposta dos governos do PT é a repressão. Foi assim desde o primeiro ano de gestão Lula em relação aos servidores federais em greve contra a reforma neoliberal da previdência promovida por seu governo. É assim até hoje nas prefeituras do PT com demonstram inúmeros exemplos.
A cooptação só é possível em razão dessa imagem de que, apesar de tudo, o PT mantém algum laço com as posições mais progressistas. É evidente que o PT tem uma origem e trajetória diferenciada em relação aos partidos da direita tradicional. Isso se reflete no seu discurso e na sua imagem para milhões de trabalhadores.
Uma das tarefas centrais da esquerda socialista consequente é desconstruir essa imagem falsa que não reflete a essência do projeto que o PT está implementando à cabeça do regime político burguês.
Votar em Haddad e defende-lo diante de Serra não ajuda a cumprir essa tarefa e não ajuda a organizar as lutas necessárias contra os governos do PT. O mesmo vale para as disputas em Salvador, Fortaleza, etc.
Quanto ao PSDB nem precisamos gastar tinta ou saliva. Representam o que há de mais caduco e atrasado das classes dominantes brasileiras e lutam desesperadamente para recuperar alguma força política. Contra ambos, PT e PSDB temos que afirmar um projeto de classe, anticapitalista e socialista e baseado nas lutas da classe trabalhadora.
O papel do PSOL
Para nós da LSR, o sentido da formação do PSOL foi o de recriar um instrumento político de esquerda, democrático, classista e socialista, diante da perda do PT para os interesses históricos da classe trabalhadora. O PSOL nasceu para mostrar que a esquerda socialista não morreu com a passagem definitiva do PT para o lado das classes dominantes.
Alianças com o PT ou partidos da base do governo Dilma contrariam o sentido original da construção do PSOL. Da mesma forma, admitir o voto no PT mesmo no segundo turno não ajuda no processo de reconstrução da esquerda socialista.
Onde o PSOL disputa o segundo turno, também não deve estimular qualquer confusão sobre as enormes diferenças que existem entre nosso projeto e o projeto do PT hoje no governo federal e em vários estados e municípios. Estando ou não disputando o segundo turno, o PSOL tem que se apresentar como oposição de esquerda ao governo Dilma e ao lulismo e aos governos da direita tradicional.
Por isso, rejeitamos categoricamente que setores do PSOL abram espaço em nossas campanhas para que Lula e o PT defendam seu governo, como aconteceu em Belém. Essa atitude é um frontal ataque contra o PSOL e a justificativa de sua existência.
Mas, nada se compara ao que setores do partido estão fazendo em Macapá, onde até mesmo uma aliança política com a direita tradicional é anunciada por figuras públicas do partido. Achamos que é incompatível com a permanência do PSOL esse tipo de atitude.
A tarefa do PSOL é manter sua coerência no segundo turno e ajudar a construir o terceiro turno das lutas contra quem quer que vença as eleições, seja o PT ou o PSDB. Para começar, deve denunciar a ambos e dizer que nenhum deles representa avanço real para os trabalhadores.