Nota para o Diretório Nacional do PSOL sobre Belém

Companheiras e companheiros do DNPSOL,

Como se sabe, nós dirigentes nacionais do partido que assinamos esta nota política exclusivamente dirigida a este Diretório Nacional, nos dirigimos à Executiva Nacional do partido, em 16 de outubro, colocando a óbvia necessidade de esta instância partidária (ENPSOL) se reunir para avaliar a situação posta após o primeiro turno e se posicionar sobre o segundo turno, de modo a orientar a posição de nossos militantes e dirigentes regionais e municipais. Naquele momento, a questão que mais chamava a atenção, por sua total ruptura com história de alianças do partido, inclusive suas mais recentes resoluções, era a aliança formada, em Macapá, com os setores mais reacionários da política nacional, representados pelos partidos DEM, PSDB e PTB.

Infelizmente, como se sabe, a ENPSOL não foi convocada para avaliar e deliberar sobre o assunto, ficando o partido sem nenhuma orientação nacional sobre o segundo turno, que pudesse servir de balizamento aos posicionamentos locais, seja onde fomos ao segundo turno, seja onde não formos. Isto acabou contribuindo para o agravamento da situação em Macapá e para que também tivéssemos políticas e pronunciamentos contraditórios com nossas políticas em outras cidades.

Entretanto, depois de nossa primeira nota e da omissão da ENPSOL enquanto instância partidária, foi a situação das eleições em Belém que também passou a causar enorme preocupação na militância do partido. O PSOL tem condições de eleger Edmílson Rodrigues neste segundo turno contra o candidato do PSDB-DEM-PTB, mas ficou evidente a opção da coordenação de campanha pelo pragmatismo eleitoral, em detrimento do perfil de esquerda e do programa de nosso partido. A presença do PT na campanha de Edmílson reflete relação bem mais profunda do que a justificável aceitação de apoio desse partido, que obteve apenas 3% dos votos no primeiro turno e teria natural interesse em evitar a vitória do PSDB na capital.

Porém, desde o anúncio do apoio do PT, a campanha dá margem a que o partido de Lula e Dilma apareça como referência programática e grande responsável pela possível vitória de Edmílson no segundo turno e até pelo êxito de sua futura gestão, segundo a lógica de que a união da prefeitura e governo do estado prometida pelo candidato tucano só poderia ser combatida com uma “prova” antecipada da união do governo de Belém com o governo federal do PT.

A fala de Lula no programa de televisão da campanha no domingo foi uma prova eloquente do despudor com o ideário socialista e o programa do PSOL que a coordenação da campanha adota como sendo a garantia da vitória de Edmílson. Na gravação, em troca do pedido de votos para o candidato do PSOL, Lula sugere que o PSOL e seu candidato a prefeito reconhecem os supostos grandes feitos de seu governo e do governo de Dilma, em especial o mito da redução das desigualdades sociais no país. A fala de Dilma no programa desta terça-feira reforça a ideia de que, na prática, é o próprio espaço de propaganda de Edmílson. que anuncia seu compromisso de mútua colaboração com o governo de Dilma, para além de uma relação administrativa. Isto enfraquece a razão da existência e da construção do PSOL, e nossa linha política de oposição de esquerda ao governo federal, para indignação e constrangimento de nossa verdadeira militância e dos apoiadores ligados às lutas sociais contra as políticas do PT no governo federal assim também como foi contra o governo estadual do PT, encabeçado por Ana Júlia, entre 2007 e 2010. E são muitas as evidências de que o apoio do PT e aliados do projeto petista foi transformado numa aliança que atenta contra os objetivos e compromissos programáticos do PSOL, a revelia das suas legítimas instâncias.

Tamanho pragmatismo eleitoral é facilitado pela própria composição do núcleo decisório de campanha, que é composto exclusivamente por militantes de um setor minoritário na direção do partido e em sua executiva municipal. Setor que, ainda nos primeiros dias do período eleitoral, deliberou entregar o comando de todos os principais instrumentos e instâncias da campanha a notórios e quase sempre mal conceituados militantes do PT. E preferiu terceirizar a campanha a dividir com as demais correntes do PSOL a responsabilidade de conduzir a campanha eleitoral de nosso partido. Setor que deliberou levar Lula e Dilma ao programa de TV do PSOL e pode a qualquer momento levar outras personalidades emblemáticas do PT e outros partidos governistas, contra a vontade da maioria da direção e da militância de nosso partido. Portanto, além do profundo erro político, a democracia partidária está sendo acintosamente violada, com risco de impor-lhe descaracterização.

Nos dirigimos a vocês, portanto, antes de tudo, para registrar que a omissão da ENPSOL está trazendo graves prejuízos ao partido e para reafirmar que estas práticas e políticas de fato consumado, alheias às políticas do PSOL, não estão se fazendo em nosso nome: nem dos que aqui assinam, nem de nossas instâncias partidárias. E reivindicar uma urgente reunião de nosso Diretório Nacional logo após o segundo turno.

25 de outubro de 2012
André Ferrari
Antônio Neto
Brice Bragato
Camila Valadão
Carlos Gianazzi
Daniela Conte
Douglas Diniz
Eduardo d’ Albergaria
Enrique Morales
Fernanda Melchiona
Fernando Silva (Tostão)
Gelsimar Gonzaga (Prefeito eleito de Itaocara-RJ)
Israel Dutra
João Batista Babá
João Machado
João Alfredo
Jorge Almeida
José Campos
Juliana Fiuza
Leandro Recife
Luciana Genro
Mariana Riscali
Mario Agra
Michel Oliveira
Nancy Oliveira
Nonato Masson
Paulo Neves
Pedro Fuentes
Pedro Maia
Raul Marcelo
Roberto Robaina
Sandro Pimentel
Sílvia Santos
Tárzia Medeiros
Veraci Alimandro
Zilmar Alverita 

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