A tarefa mais importante de Trotsky

Até ao fim da sua existência Trotsky pensava que a última década tinha sido a mais importante da sua vida militante . Não se pode entender plenamente, o que queria dizer León Trotsky quando afirmava que os últimos dez anos eram os mais importantes de sua vida, sem mencionar a Quarta Internacional. Frente à bancarrota da Internacional Comunista, Trotsky impulsionou a formação de uma nova Internacional.

Sob a condução corrompida do stalinismo, a III Internacional apenas serviu para acumular derrota após de derrota para a classe trabalhadora (derrota da primeira revolução na China, chegada ao poder do nazismo na Alemanha, consolidação de um estado totalitário na própria URSS) e tinha semeado a confusão generalizada ao retomar uma política de colaboração de classes própria da social-democracia e do menchevismo (formação das Frentes Populares e, logo depois, o Pacto com Hitler). O ascenso do nazismo ao poder, sem resistência por parte do PC Alemão com milhões de militantes e simpatizantes, e sem que os seus dirigentes tivessem reconhecido os erros da sua linha política do chamado “Terceiro Período”, foi a demonstração de que a III Internacional, da mesma forma que a II Internacional desde a Primeira Guerra Mundial, já não podia se corrigir.

Desde então, a luta de Trotsky girou em torno da definição das bases para construir a IV Internacional e dotá-la de bases programáticas sólidas. O método de transição que para ele sintetizava a contribuição do bolchevismo: a superação da dicotomia entre o programa mínimo e o programa máximo da social-democracia na sua melhor época. Nas palavras do próprio dirigente revolucionário, no “Programa de Transição”: “É necessário ajudar as massas, no processo da luta cotidiana, a encontrar a ponte entre as suas reivindicações atuais e o programa socialista da revolução. Esta ponte deve conter um sistema de reivindicações transitórias, que partam das condições atuais e da atual consciência das amplas camadas da classe operária e conduzam invariavelmente a um só resultado final: a conquista do poder pelo proletariado”.

Quando milhares de quadros do bolchevismo, tinham sido assassinados fisicamente na URSS e no resto do mundo pelos stalinistas e os fascistas, León Trotsky considerou que era vital assegurar o fio de continuidade entre a geração de Outubro e os novos militantes revolucionários, ao ponto de pensar que essa era a tarefa mais importante que tinha tido na sua vida.

A Quarta Internacional nasceu em 1938, em condições muito difíceis, durante uma maré contra-revolucionária, quando a Segunda Guerra Mundial já se anunciava no horizonte e agrupando apenas punhados de militantes que tinham resistido ao stalinismo. Alguns consideram que a proclamação da IV Internacional foi um erro. Mas, como afirma Peter Taaffe: “Isto pode ser considrado um ‘erro’ somente se não se tiver em consideração o que isto representava para Trotsky, incluindo o seu momento histórico. Trotsky esperava que da II Guerra Mundial surgiria uma onda revolucionária – o que efetivamente ocorreu na Europa durante o período de 1943 a 1947 – que levaria a divisões nas velhas internacionais criando, desse modo, as bases para a criação de partidos e uma Quarta Internacional de massas. Isto não ocorreu exatamente assim, porque a social-democracia e o stalinismo salvaram o capitalismo, entrando em governos de coligação na Europa Ocidental, particularmente na França e na Itália, assim como através do governo trabalhista na Grã Bretanha em 1945-51. Estas foram as pré-condições políticas para o ‘ boom’ econômico do pós-guerra que introduziu uma certa estabilidade no mundo capitalista”. Trotsky não tinha previsto que ambos, o Stalinismo e a Social-Democracia, sairiam fortalecidos da Segunda Guerra Mundial. Especialmente o stalinismo pelo seu papel na derrota do Fascismo e na vitória na II Guerra Mundial.

Certamente, os ritmos não se realizaram como o revolucionário russo esperava, mas as suas análises e prognósticos mais importantes se viram confirmados pela realidade. Sob o poder burocrático no interior da URSS, as contradições sem solução, econômicas e políticas, eventualmente provocaram a sua implosão em 1991. A burocracia, confrontada com esta implosão, escolheu abandonar a economia planificada e foi instrumental no restabelecimento do capitalismo, uma possibilidade que Trotsky colocou no seu trabalho monumental “A Revolução Traída “.

O capitalismo global só assegura calamidades ao mundo e a única saída é o socialismo, a economia planificada coletivamente sob a gestão democrática dos trabalhadores. E para levar a cabo a gigantesca transformação necessita-se de uma ferramenta apropriada; o partido mundial da revolução socialista, a Internacional dos Trabalhadores.
O Comitê por uma Internacional Operária, com organizações nos cinco continentes, representa uma continuidade desta luta pela Internacional Revolucionária que, na sua época, empreenderam León Trotsky e um punhado de quadros que se agruparam sob as bandeiras do marxismo revolucionário. 

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