Não ao método da calúnia no interior da esquerda

Em defesa de Joaquim Boca! Em defesa de uma moral de classe revolucionária na esquerda socialista!

É com pesar, mas cumprindo um dever político militante, que somos obrigados a escrever esse esclarecimento que não deixa de ser também uma demonstração de indignação.

O setor majoritário da diretoria do Sindicato dos trabalhadores nas indústrias de alimentação de São José dos Campos, Jacareí e região, ligado à “Unidos pra Lutar/CST”, publicou no Boletim de junho/2012 do Sindicato um conjunto de calúnias de baixíssimo nível contra o ex-presidente da entidade e Cipeiro perseguido e demitido pela multinacional cervejeira AmBev, Joaquim Aristeu, o Boca. O companheiro Joaquim Boca também é dirigente da CSP-Conlutas e da corrente Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR, corrente do PSOL) no estado de São Paulo.

Em meio a uma forte onda de ataques sobre os trabalhadores por parte dos patrões no Vale do Paraíba, com ameaças de demissões e repressão aos ativistas, esses dirigentes da Unidos/CST preferiram investir na divisão dos trabalhadores, fomentar intrigas, caluniar dirigentes operários socialistas, provocar confusão e enfraquecer a luta contra os patrões. É lamentável. Com isso, perdemos todos, ganham os patrões.

Vamos aos fatos. No dia 12 de março, o companheiro Joaquim Boca foi demitido por justa causa da AmBev depois de 24 anos na empresa. O motivo alegado foi o fato de Joaquim, honrando seu mandato como vice-presidente da CIPA, ter denunciado publicamente a responsabilidade da empresa na morte de um trabalhador terceirizado em um acidente de trabalho. Joaquim, segundo a AmBev, estaria “maculando” publicamente a imagem da empresa. Entre outras evidências disso, foi utilizado um artigo de Joaquim sobre o tema na página da CSP-Conlutas na internet.

A resposta imediata do companheiro Joaquim, de sua corrente política, a LSR, e da CSP-Conlutas foi a de resistir contra mais esse ataque. Depois de um Ato e Assembleia em frente à empresa, conduzido por diretores do Sindicato da Alimentação vinculados e simpatizantes da CSP-Conlutas, uma campanha nacional e internacional de pressão sobre a AmBev pela reintegração de Joaquim foi organizada com o apoio do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT).

Mensagens de dezenas de entidades e dirigentes sindicais e de esquerda do Brasil e do mundo foram enviadas à diretoria da AmBev, incluindo os parlamentares do PSOL e o próprio Plínio de Arruda Sampaio, ex-candidato a presidente pelo partido. Trabalhadores e entidades da Grécia, Inglaterra, Bélgica, Rússia, Estados Unidos, Nigéria e inúmeros outros países exigiam a reversão da demissão e o respeito ao direito de organização e manifestação de dirigentes e ativistas sindicais.

Como símbolo da campanha internacional, utilizamos a imagem de um copo de cerveja misturada ao sangue do trabalhador sacrificado pela ânsia do lucro. Essa imagem percorreu o mundo através das redes sociais na internet e de adesivos e panfletos de denúncia.

Como resultado da campanha, a empresa decidiu abrir uma negociação. Com a participação da advogada do Sindicato (mas, sem respaldo claro da diretoria), de representantes da CSP-Conlutas e outras entidades, iniciou-se uma negociação onde a AmBev se comprometeu a restituir todos os direitos retirados pela demissão por justa causa, mas se recusava a reintegrar o Joaquim.

Embora considerando que seria uma vitória parcial o fato da empresa na prática retirar a justa causa e pagar todos os seus direitos, ainda mais diante do fato de que Joaquim já tinha tempo para se aposentar, mesmo assim, a posição do Joaquim e da LSR foi a de rejeitar essa proposta e insistir na luta pela reintegração ao trabalho.

Partimos então para a busca de condições materiais para que o Joaquim pudesse sobreviver durante o, provavelmente longo, período em que estivesse afastado da empresa e sem direito ao seu FGTS, verbas indenizatórias, etc. A única forma de garantir isso seria com o apoio do Sindicato da categoria e outras entidades sindicais como a CSP-Conlutas.

Foi aí que constatamos a armadilha preparada pela maioria da diretoria do Sindicato. Recusaram-se a bancar financeiramente parte do salário de Joaquim, mesmo com o compromisso de devolução integral uma vez conquistada a reintegração. Isso já tinha sido feito antes pelo sindicato e várias outras entidades sindicais. Mesmo assim, recusaram-se a fazer no caso do Joaquim por puro sectarismo. Ao mesmo tempo recusaram-se a fazer qualquer coisa para pressionar a empresa ou mesmo negociar conquistas parciais, chegando ao cúmulo de proibir Joaquim de falar em Assembleias na porta da fábrica. Lavaram as mãos esperando o pior.

O que a maioria da diretoria do Sindicato queria era não deixar outra saída para o Joaquim que não fosse fazer um acordo com ganhos parciais e depois, distorcendo e confundindo os fatos, denunciá-lo para destruí-lo politicamente.

Joaquim sempre foi o Cipeiro mais votado dentro da AmBev e um dirigente sindical e da esquerda socialista reconhecido não apenas na empresa em que trabalhava, mas em todo o Vale do Paraíba onde milita há mais de 30 anos. Desmoralizar o Joaquim era uma tarefa assumida pela maioria da diretoria do Sindicato em nome da guerra que a Unidos-CST decidiu deflagrar contra a CSP-Conlutas e também para abafar qualquer possibilidade de oposição interna na categoria da Alimentação.

Mesmo com a recusa da direção do Sindicato, buscamos outras formas de garantir a sustentação financeira do Joaquim, mas constatamos a enorme debilidade do movimento sindical no que se refere à defesa dos ativistas perseguidos. Nem a CSP-Conlutas, nem as demais entidades possuem fundos especiais para a sustentação de dirigentes perseguidos. Sem falar no clima de sectarismo que atinge boa parte da esquerda sindical depois da divisão no CONCLAT de Santos em 2010. No momento em que mais se precisa da unidade dos setores independentes de governo e patrões no movimento sindical, menos essa unidade é priorizada e mais sectarismo encontramos.

Diante da situação, a CSP-Conlutas se colocou à disposição para pressionar a AmBev, se solidarizou com a situação do Joaquim, mas também argumentou que não teria condições de sustentá-lo financeiramente durante todo o longo período em que o processo provavelmente estaria na Justiça. Dirigentes nacionais da CSP-Conlutas também argumentaram que no caso de se obter conquistas parciais nas negociações com a AmBev, a entidade estaria do lado do Joaquim para fazer um acordo e manter o Joaquim na luta dos trabalhadores contra a AmBev e todos os patrões mesmo permanecendo fora da fábrica.

 No momento em que a AmBev ameaçava retirar a proposta anteriormente apresentada, voltamos a insistir com a diretoria do Sindicato. Mas, a resposta foi a mesma de antes. Não fizeram a luta, não foram negociar com a AmBev, não garantiram a sustentação do Joaquim. Não fizeram nada, deixando a bomba explodir no colo de um ex-presidente do próprio Sindicato, dirigente reconhecido da maior fábrica da categoria e até mesmo companheiro de partido, o PSOL, de muitos dos diretores.

Nesse cenário, optamos por fazer uma consulta direta aos trabalhadores da AmBev, explicando que um acordo que restituísse os direitos e verbas indenizatórias do Joaquim, mesmo sem sua reintegração, apesar de não ser a vitória que queríamos, e até poderíamos conquistar no longo prazo, seria algo que garantiria a manutenção do Joaquim na luta, mesmo fora da empresa.

Assembleias na porta da AmBev foram realizadas em todos os turnos com a presença de outras entidades da região, como o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, a CSP-Conlutas regional, estadual e nacional, além de dirigentes sindicais de categorias como o Sintrajud-SP e dirigentes da LSR e do PSOL. As Assembleias também contaram com a presença de diretores do Sindicato da Alimentação que não concordaram com a armadilha preparada pela maioria da diretoria. Nessas Assembleias os trabalhadores se posicionaram pelo acordo com a AmBev e exigiram do Sindicato que participasse do processo, deixando de se abster da luta.

Mas, os diretores que se fingiram de mortos na hora de lutar, passaram, então, a acusar Joaquim de ter traído os trabalhadores! Disseram com o maior cinismo possível que Joaquim vendeu seu mandato na CIPA e que em troca do dinheiro se comprometeu a não lutar mais contra a AmBev. Não existe outro nome para esse tipo de ação que não seja calúnia!

Joaquim recebeu da empresa nada mais, nada menos que seus direitos trabalhistas conquistados com muita luta. A empresa teve que recuar da justa causa e isso se deu pela pressão que sofreu dentro e fora da fábrica. A luta poderia ter conquistado mais se não fosse a postura da maioria da direção do sindicato. A vitória parcial foi referendada pelas Assembleias na empresa e o sentimento é de vitória entre os trabalhadores apesar do Sindicato fomentar a desmoralização e a divisão.

A luta contra os patrões da AmBev continua e Joaquim se mantém de forma integral no apoio à luta dos trabalhadores dessa empresa, das outras fábricas do setor de Alimentação e do conjunto das lutas no Vale do Paraíba. Contra a perseguição a outros ativistas e dirigentes dentro da AmBev, como acontece hoje no caso do companheiro Valter Gildo, o companheiro Joaquim, a LSR e a CSP-Conlutas continuam na linha de frente dessa luta.

Reiteramos que a LSR participou do começo ao fim do processo de luta e negociação diante da demissão do nosso militante e dirigente Joaquim Boca. Qualquer acusação ao Joaquim é também uma acusação contra nossa Organização e não podemos nos calar diante disso.

É verdade que não poderíamos esperar muita coisa dessa direção sindical. Esses dirigentes do Sindicato da Alimentação já chegaram ao cúmulo de tentar expulsar o Joaquim da lista de sócios do sindicato no passado. Recusavam-se terminantemente a permitir que Joaquim falasse nas Assembleias em seu próprio local de trabalho. Ele só conseguia falar quando os trabalhadores exigiam isso da diretoria. Tudo isso pelo medo de perder o aparato que controlam.

O que acontece hoje na categoria da Alimentação do Vale do Paraíba reflete um processo extremamente perigoso que atinge até mesmo o movimento sindical de esquerda: a burocratização, o aparelhamento de entidades e o vale-tudo, incluindo a calúnia, para manter o controle dos aparatos.

Mesmo conhecendo a postura sectária da maioria da diretoria do Sindicato, não poderíamos esperar que uma corrente política como a CST, com quem muitas vezes atuamos conjuntamente, desse aval e sustentasse politicamente essa postura. Se isso de fato se confirmar – e esperamos que não – representa mais um retrocesso para a reconstrução de uma esquerda socialista e revolucionária consequente no Brasil e no mundo.

Da nossa parte, continuaremos lutando com base no que explicita nossa Carta de Princípios aprovada no momento de fundação da corrente Liberdade, Socialismo e Revolução:

“Rejeitamos enfaticamente a violência, a intimidação, a desqualificação dos oponentes, as manobras, as mentiras e calúnias como método de luta política válido entre os trabalhadores e as correntes revolucionárias. Uma nova democracia socialista deve se assentar antes de tudo na solidariedade de classe, na luta política leal nos organismos dos trabalhadores, na reconstrução da moral revolucionária destruída pelo stalinismo, no respeito às diferenças e à diversidade política do movimento socialista, dos trabalhadores e dos povos, enfim, no direito de todas as correntes do campo dos trabalhadores a se expressar livremente. Não descartamos a violência revolucionária como forma de se defender e derrotar as antigas classes exploradoras que agem com violência contra os trabalhadores. Mas as medidas de exceção devem ser aplicadas unicamente contra a minoria reacionária que ataca a revolução.

É essa concepção de democracia revolucionária, de respeito e tolerância para com as diferenças políticas e as minorias, que a LSR buscará praticar no movimento social e em seu interior. O socialismo não é apenas uma nova construção econômica e social, é também a passagem a uma nova dimensão moral, a uma nova cultura política de elevada solidariedade que precisamos praticar desde hoje. Agir com lealdade, honestidade, grandeza e magnanimidade na luta política não é apenas um capricho, é uma necessidade urgente e uma pré-condição para reconstruir a unidade e acelerar a reorganização das fileiras socialistas, depois de tantas décadas de brutalidade, sectarismo, falsificações, desmoralização e divisão introduzidas pelo stalinismo e pelas burocracias”.

Comitê Executivo da corrente LSR
Liberdade Socialismo e Revolução