Nasceu a LSR – Liberdade, Socialismo e Revolução

Uma nova corrente socialista para uma nova etapa da luta de classes

Congresso realizado entre os dias 22 e 24 de maio em São Paulo votou Carta de Princípios, Programa e Estatuto da nova corrente que unifica os antigos agrupamentos SR e CLS e constitui a nova seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT).

A formação da corrente Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR) acontece em um momento crucial para a luta dos trabalhadores no Brasil e no mundo.

O capitalismo se vê diante de sua mais grave crise desde a grande depressão dos anos 30 do século passado. A ‘era neoliberal’ e a ofensiva capitalista dos últimos 20 anos, pelo menos chegou a um impasse.

Porém, o movimento dos trabalhadores vem de um período de crise, divisão e frustração. Boa parte da esquerda degenerou-se nesse processo. O desafio da construção de uma alternativa de esquerda à altura do momento histórico deve ser o centro de toda ação militante nesse momento.

Sem alternativa socialista clara, conseqüente e com base social de massas, a crise estrutural do capitalismo se converterá inevitavelmente em mais desespero para bilhões de seres humanos.

A luta para reconstruir uma esquerda socialista conseqüente em meio à crise capitalista é o pano de fundo que deu sentido à formação da corrente LSR.
 

Unidade entre os revolucionários

A LSR é resultado de uma relação de mais de três anos entre duas organizações socialistas com origens diferenciadas, mas com o mesmo compromisso com a luta dos trabalhadores e o socialismo.

O Socialismo Revolucionário (SR) e os militantes que vieram a formar o Coletivo Liberdade Socialista (CLS) estiveram presentes na fundação do PSOL em 2004 e se aproximaram politicamente na luta contra os retrocessos políticos que o partido sofreu desde então.

Ambas as organizações apresentaram uma Tese conjunta no I Congresso do PSOL em 2007 e, a partir de então, jogaram papel importante na construção de um bloco político com outros setores da esquerda do PSOL.

O que veio a ser o Bloco de Resistência Socialista constituiu-se reunindo agrupamentos como a Alternativa Socialista (AS), com forte base sindical no Rio Grande do Sul, a Alternativa Revolucionária Socialista (ARS), com base importante no Pará e o agrupamento Reage Socialista do Rio de Janeiro.

O Bloco consolidou-se como alternativa política a partir de sua participação no I Congresso da Conlutas em 2008, constituindo-se como terceira força organizada dessa organização sindical e popular.

A unificação que deu origem à LSR e a atuação conjunta dos agrupamentos do Bloco de Resistência Socialista são exemplos de busca coerente pela unidade entre os revolucionários com base no debate político franco e relações de confiança construídas a partir da experiência de luta conjunta.


Inserção nas lutas sociais e no debate da esquerda

Com presença, até o momento, em oito estados da federação, a LSR nasceu diretamente envolvida nas principais lutas em curso no país.

Os militantes de Goiás vieram ao Congresso imediatamente depois de uma vitoriosa luta envolvendo a ocupação da sede do INCRA em Goiânia por cinco dias por parte dos sem-terra organizados no movimento ‘Terra Livre’.

Logo após o Congresso, os militantes da LSR jogaram papel importante na greve da Sabesp em São Paulo através da Oposição sindical “Alternativa de Luta”.

Poucos dias depois do Congresso, a foto de um militante da LSR sendo atacado pela PM durante a dura repressão no campus Butantã da USP, estampou as primeiras páginas de jornais do país inteiro. Os estudantes da LSR na USP continuam na luta pela derrubada da reitora e a retirada da PM do campus.

No Vale do Paraíba (SP), foco importante das demissões na indústria (GM, Embraer, etc) e resistência dos trabalhadores, militantes da LSR saíram do Congresso para panfletar contra o Banco de Horas na AmBev (indústria de bebidas) e em defesa da reestatização da Embraer com controle dos trabalhadores.

Na onda de greves do funcionalismo municipal que atinge inúmeras cidades do país, militantes da LSR lutaram contra prefeitos e pelegos em Hortolândia (SP) e Campinas (SP).

Os estudantes da LSR participaram ativamente do Congresso Nacional dos Estudantes no Rio de Janeiro defendendo uma linha combativa, classista, democrática e não sectária para a reconstrução do movimento estudantil de luta no país diante do nefasto papel da UNE hoje.

Como parte do Bloco de Resistência Socialista e atuando na Conlutas, a LSR também participa da Comissão pela Reorganização Sindical e luta pela construção de uma nova Central sindical e popular unificando os setores combativos dos movimentos sociais.

Os militantes da LSR também têm participado dos debates preparatórios ao II Congresso Nacional do PSOL que acontecerá no final de agosto, defendendo a Tese do Bloco de Resistência Socialista, “Colocar o socialismo na ordem do dia! Colocar o PSOL á altura do momento histórico”.


Princípios, programa e concepção de organização

Os documentos aprovados pelo Congresso de unificação que formou a LSR estabelecem as bases para a construção de uma nova esquerda revolucionária.

A Carta de Princípios votada, ao mesmo tempo em que reivindica a independência de classe dos trabalhadores e a necessidade da revolução socialista, reafirma o caráter democrático do socialismo que defendemos. Um socialismo baseado no autêntico poder dos trabalhadores e não as caricaturas terríveis que as diferentes variantes de stalinismo representaram.

A necessidade de uma nova cultura política na esquerda, baseada na democracia interna, na tolerância e respeito às minorias, também foi enfatizada na Carta de Princípios. Isso se coloca não como mera concessão pontual, mas como necessidade efetiva para podermos recompor a esquerda socialista depois de tantos anos de sectarismo, brutalidade, divisão e desmoralização, resultantes de métodos burocráticos tão arraigados.

O Documento Programático votado no Congresso representa um esforço inicial de construção de uma plataforma política adequada ao novo período da luta de classes que se abre.

Partindo do método do programa de transição desenvolvido pelo marxismo revolucionário, o Documento parte de premissas socialistas claras e, a partir daí, desenvolve um sistema de palavras de ordem visando conduzir as demandas das necessidades mais vitais e concretas dos trabalhadores e setores oprimidos da sociedade para uma clara perspectiva de ruptura com o capitalismo e construção do socialismo.

Entre as premissas do programa socialistas estão:
  • A atualidade do socialismo e da revolução;
  • O protagonismo e independência de classe dos trabalhadores;
  • A vinculação da luta democrática e anti-imperialista com a luta anti-capitalista;
  • O caráter internacional da luta socialista;
  • A importância central da luta contra a opressão de mulheres, negros, LGBTT, etc, para a luta socialista;
  • A necessidade da construção do partido revolucionário dos trabalhadores numa relação de complementaridade com os movimentos sociais;
  • A necessidade da luta contra as terríveis heranças stalinistas.

O programa de ação expresso no Documento aponta um sistema de reivindicações transitórias que parte da defesa dos direitos básicos dos trabalhadores, do emprego e do salário, dos serviços públicos, infra-estrutura, reforma urbana e aposentadoria.

Levanta ainda a luta pela reforma agrária, uma verdadeira democracia no país, o fim das opressões contra mulheres, negros, a defesa do meio ambiente e dos direitos da juventude. Tudo isso de forma a mostrar a impossibilidade dessas conquistas sem uma ruptura com a lógica do capitalismo.

O programa então levanta a necessidade de uma economia planejada a serviços dos trabalhadores e da maioria do povo, rompendo com a lógica do lucro e do mercado capitalista.

Para que tudo isso seja possível, defende a necessidade de um governo dos trabalhadores no Brasil. Levanta ainda a necessidade da integração latino-americana superando a lógica do capitalismo.

Para levar adiante essa luta, o programa é uma arma a serviço da unidade dos movimentos sociais combativos e da reconstrução de uma esquerda socialista de massas.


Organização de luta e democrática

A concepção de organização da LSR ficou expressa em seu Estatuto. Somos uma organização socialista de combate, de atuação no movimento de massas em defesa do programa e estratégia do socialismo. Por isso somos uma organização de militantes ativos, que se reúnem e deliberam coletivamente as políticas da organização, além de garantirem o seu sustento material de forma independente.

Ao mesmo tempo, somos uma organização democrática internamente, com liberdade de discussão e controle dos militantes sobre os rumos da organização.

A corrente LSR nasceu para contribuir com a construção de uma esquerda socialista e revolucionária de massas no Brasil e internacionalmente.

Trata-se de uma nova alternativa para trabalhadores, jovens, mulheres, negros e todos aqueles que não tem futuro dentro desse sistema apodrecido.

Venha conhecer mais nossas posições e nossa prática e junte-se a nós nessa luta!

Construindo uma Internacional socialista

O Congresso de unificação também votou uma resolução internacional que filiou a nova organização ao Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT).

O CIT é uma organização socialista e revolucionária presente em mais de 40 países em todos os continentes.

A unidade política e organizativa em torno ao CIT de companheiros de diferentes trajetórias da esquerda brasileira e internacional se dá como um processo de síntese e não simples adesão. A nova organização unificada no Brasil busca carregar consigo algumas das melhores tradições de outras vertentes da esquerda revolucionária.

A experiência da unificação que deu origem à nova seção brasileira do CIT deverá servir de exemplo para outros processos de debate e aproximação em curso em outros países.