Oposição sem real alternativa na Europa

Vitória de Joe Higgins mostra potencial para alternativa socialista

As eleições européias realizadas no mês de junho demonstraram o enorme desgaste dos partidos que estão no governo da maioria dos países do continente. A baixíssima participação, que ficou em torno de 43%, denota a desconfiança nos partidos e no sistema político.

Num quadro em que houve uma imensa abstenção no processo eleitoral somado à ausência de alternativas pela esquerda, saíram fortalecidos os partidos nacionalistas e de extrema direita que aumentaram sua participação no Parlamento Europeu.

O resultado eleitoral aponta, de forma distorcida e confusa, o rechaço, desconfiança e a hostilidade aos grandes partidos da burguesia que procuram descarregar nas costas dos trabalhadores o preço da crise do capitalismo.

Já houve protestos em grande escala, incluindo manifestações e greves gerais, numa série de países europeus. Em particular na França, as manifestações tiveram o caráter de uma crescente onda de oposição aos ataques contra os trabalhadores. Mas, outros países, como Bélgica, Grécia, Portugal e Espanha, também viram protestos importantes.

A crise capitalista levanta a necessidade de oposição ao próprio sistema capitalista e a defesa de uma alternativa socialista. Mas, atualmente na Europa, além do CIT, há poucas forças no movimento dos trabalhadores que vinculem ativamente a luta contra os efeitos da crise com o apoio a uma clara alternativa socialista. Isto abriu o caminho para os avanços da direita nas eleições.

Em vários países, os partidos de centro-direita avançaram ou pelo menos sofreram menos perdas. Com freqüência isso se deu porque, como no caso de Sarkozy na França, a direita mudou de estratégia e passou a criticar os excessos do capitalismo. No caso de Angela Merkel da Alemanha, foi a ampliação do financiamento público para criar empregos de meio período e limitar as perdas de postos de trabalho, que provocou algum impacto eleitoral.


Direita racista cresceu

Em toda a União Européia, os partidos mais à direita ganharam, se não em números absolutos, pelo menos percentualmente. A imigração converteu-se numa questão fundamental, com a exploração pelos partidos de direita do temor dos trabalhadores.

O racismo, a hostilidade aos muçulmanos, ciganos e, na Áustria, um semi-velado anti-semitismo foram fatores utilizados. Em muitas situações foram somente os partidos da extrema direita que expressaram a ira popular contra a União Européia, tanto por sua essência antidemocrática como por seu domínio pelas grandes potências européias.

O resultado geral desta eleição parece mostrar uma mudança à direita na Europa e, em alguns países, avanços importantes para partidos de extrema direita. Um dos exemplos mais notáveis disso foram os 769 mil votos, 17%, que a extrema direita do PVV conseguiu na Holanda na sua primeira eleição européia e que torna esse partido o segundo maior do país. Na Áustria, a votação total de extrema direita, aumentou de 157,7 mil em 2004 para 490,9 mil (17,4%) apesar da divisão em 2005 do Partido da Liberdade (FPÖ).

No entanto, na Alemanha, o Partido de Esquerda (Die Linke), apesar de suas limitações, segue sendo visto como o principal oponente aos ataques aos níveis de vida. O total nacional da votação de extrema direita na Alemanha, por sua vez, não cresceu apesar de alguns ganhos nas eleições locais que aconteceram simultaneamente à eleições européias nesse país.

Em alguns países onde a “centro-esquerda” está na oposição, conseguiram ganhar algo, já que são vistos como um “mal menor”. Assim, na Suécia, a social -democracia chegou em primeiro lugar com 24,6% e também na Grécia, o PASOK obteve 36,6%. No entanto, o Partido Socialista (PS) na França, mesmo fora do governo, ainda sofreu perdas pela memória do que tinha feito quando esteve lá. Obteve 16,48% e ficou só 0,2% à frente do novo Partido Verde.

Em três países os principais partidos de direita no governo ficaram à frente na votação, Na França, Sarkozy teve 28% dos votos, sendo que 72% dos votantes não compareceram às urnas. Na Alemanha, a Chanceler Merkel da CDU, que ficou na frente, teve 1,343 milhão de votos a menos que em 2004. O governo polonês teve a mais alta porcentagem de votos, 44%. Porém, somente 24% dos eleitores votaram, ou seja, teve o apoio efetivo de menos de 12% do eleitorado.

Poucos governos mantiveram os níveis de apoio. A coalizão do governo italiano foi um dos que conseguiram mantê-lo, obtendo 45% dos votos. A Itália é um dos países que ilustra o tema central desta eleição, a debilidade de uma verdadeira alternativa socialista, apesar da crise econômica que assola o capitalismo italiano onde se prevê que o PIB cairá mais de 4% neste ano.

A força de Berlusconi é fundamentalmente resultado da decepção com os governos de centro-esquerda, como o encabeçado pela a aliança das ‘Oliveiras’, e o fracasso do Partido da Refundação Comunista (PRC). Fundado em 1991, o PRC já tinha obtido um apoio importante, não só eleitoralmente, mas também na base organizada da classe trabalhadora. Mas, isto foi desperdiçado quando seus dirigentes se uniram aos governos capitalistas ao invés de lutar para ganhar o apoio para as políticas socialistas. O resultado é que o PRC está próximo da extinção. Em comparação com 2004, diminuiu de 8,47% a 3,37% do apoio, enquanto a “esquerda moderada/verde” caiu de 4,51% a 3,12%.


Joe Higgins com 12,4%

O candidato do Partido Socialista (CIT na Irlanda), Joe Higgins, obteve 50,51 mil (12,4%) votos de primeira preferência em Dublin, mais do que o dobro da votação obtida em 2004. Ficou claro que esta votação se deu conscientemente no Partido Socialista, sobre a base de seu programa e também sua longa história de luta, porque estava concorrendo com o Partido Trabalhista Irlandês, na oposição, que também cresceu.

O resultado de Joe Higgins só é comparável ao do Bloco de Esquerda de Portugal (BE) que mais do que duplicou seus votos, para 381 mil (10,7%), superando por pouco a aliança liderada pelo Partido Comunista, com 379,5 mil votos. Além disso, o “Movimento Popular contra a UE” na Dinamarca aumentou sua votação de 97,986 mil para 168,035 mil votos (7,18%).

Na Grã Bretanha, a aliança patrocinada pelo sindicato dos trabalhadores dos transportes “Não à União Européia, Sim à Democracia”, onde participaram o Partido Socialista (CIT) e o Partido Comunista da Grã Bretanha entre outros obtive 1%.

Muitos dos novos partidos de esquerda que surgiram na Europa não obtiveram resultados expressivos. Isto ocorreu em parte porque muitos se moveram à direita, moderaram sua política, negaram-se a fazer campanhas se apresentando abertamente como socialistas e não apresentaram seus programas e exigências de forma clara e resoluta.

Na Alemanha, o Partido de Esquerda (Die Linke) obteve 390 mil votos e um pequeno aumento percentual para 7,5%, em comparação com os resultados do antigo PDS (originado do antigo partido stalinista da Alemanha Oriental e um dos setores que veio a formar o Die Linke) em 2004. Do mesmo modo, na Grécia, a aliança de esquerda Syriza conseguiu 4,7%, pouco acima dos 4,16% de 2004.


Decepção na França

Lamentavelmente, desenvolveu-se uma situação similar com o Novo Partido Anti-capitalista (NPA) na França, que recebeu 4,8% dos votos, em comparação com os 9% que apontavam as pesquisas.

Um elemento chave na formação do Novo Partido Anticapitalista foi a antiga LCR. A votação de 857,8 mil foi quase o dobro dos 440,1 mil votos (2,56%) que a LCR teve em 2004 em aliança com a LO. Desta vez a LO se apresentou sozinha e recebeu 200,9 mil votos (1,2%). No entanto, estes 4,8% são decepcionantes diante do esperado e está abaixo do que poderia ter sido possível.

Em 2002, nas eleições presidenciais, Olivier Besancenot, obteve 4,25% para a LCR. Neste sentido o resultado de 4,8% do NPA é pequeno, em vista da onda de protestos em massa deste ano e dois dias de greve nacional na França.

Em alguns países a debilidade destes novos partidos de esquerda abriu espaço para os partidos verdes, especialmente na França, onde a nova Europa Ecológica obteve 16,2%. Também na Grã-Bretanha, Holanda e na região da Valônia da Bélgica.

Em geral, estas eleições dão uma indicação da instabilidade na situação política da Europa. A vitória do Partido Socialista em Dublin, Irlanda, e a duplicação dos votos do Bloco de Esquerda em Portugal, indicam as possibilidades. O resultado do PS em Dublin demonstra que é possível ganhar apoio com base num programa socialista. 

Você pode gostar...