Brasil vira cassino para especuladores europeus
A presidente Dilma Rousseff, nas vésperas do seu encontro com a chanceler alemã Angela Merkel, criticou publicamente o que chamou de “tsunami monetário” que atinge o Brasil como consequência das políticas adotadas na União Europeia. Sobre o problema, a manchete do jornal O Globo (02/03/12) não poderia ser mais direta: “Brasil vira cassino para Europa”.
Somente no último dia 29/02, o Banco Central Europeu (BCE) injetou mais de meio trilhão de euros nos bancos da região. Em pouco mais de dois meses o total dos empréstimos aos bancos alcançou a marca de um trilhão de euros. É dessa forma que as autoridades monetárias europeias pretendem enfrentar as ameaças de insolvência, amenizar o aperto no crédito e a recessão que atinge a região. As possibilidades de que tenham êxito são pequenas, mas as consequências negativas já se tornam visíveis.
Buscando lucros gigantes e fáceis com as maiores taxas de juros do mundo, os banqueiros e especuladores europeus inundam o mercado financeiro brasileiro com os novos recursos obtidos. O resultado é a valorização da moeda brasileira, que encarece os produtos nacionais e provoca perda de competitividade da indústria nacional. Com isso, cresce a ameaça da desindustrialização generalizada no país, com fechamento de fábricas e redução dos empregos mais qualificados.
Dilma continua refém do capital financeiro
A aparente preocupação de Dilma não esconde o fato de que seu governo, assim como o de Lula, deu continuidade ao modelo econômico que se baseia na exportação de produtos primários e na remuneração do grande capital financeiro especulativo.
A dependência brasileira em relação aos mercados externos, em particular com a China, só se aprofundou nos últimos anos. As consequências disso já podem ser observadas no contexto da atual crise internacional. A brusca freada das exportações brasileiras para a China nesse início de 2012, resultado da desaceleração econômica naquele país, já aponta uma perspectiva de forte redução do superávit comercial desse ano.
O excesso de liquidez internacional, ou seja, o dinheiro sobrando nos cofres dos bancos internacionais, tem provocado outras consequências. Num processo que guarda certas semelhanças com os anos 70 – a época dos petrodólares abundantes que depois levou à crise das dívidas latino-americanas – empresas e bancos privados brasileiros estão tomando empréstimos fora do país a taxas muito baixas com o objetivo de ganhar dinheiro com os altos juros brasileiros. Isso tem provocado um forte crescimento da dívida externa brasileira. Somente no início de 2012 foram 18,5 bilhões de dólares obtidos no exterior.
Saídas?
As medidas tomadas pelo governo Dilma para fazer frente ao “tsunami monetário” e à “guerra cambial” – tais como a extensão da alíquota de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para empréstimos com prazo inferior a três anos (e não mais dois como antes) por parte de empresas no exterior – sequer arranham o problema e não representam qualquer mudança de curso por parte do governo.
Medidas pontuais contra as oscilações do câmbio são preconizadas pelo próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) e não representam nenhuma ação ousada contra os especuladores. A subserviência do governo Dilma em relação ao grande capital continua total. As taxas de juros do Brasil continuam sendo as maiores do mundo e garantem robusta remuneração ao capital especulativo internacional.
O governo Dilma é um governo comprometido com o grande capital, em especial o financeiro, como deixa clara sua política frente à dívida pública, a verdadeira “bolsa-família dos ricos”, que, só nesse ano, deve comprometer quase metade do orçamento federal com os lucros especulativos de um punhado de especuladores.
Ações como as das Centrais sindicais governistas e as abertamente pelegas (CUT, CTB, Força Sindical, UGT, etc), que organizam mobilizações de araque junto com empresários da FIESP, Confederação Nacional da Indústria, etc., contra a desindustrialização, não podem levar a lugar nenhum.
A luta contra a desindustrialização, a dependência externa e o modelo de capitalismo primário-exportador, é uma luta do conjunto da classe trabalhadora não apenas contra o capital financeiro, mas também contra empresários e governos que estão integrados organicamente aos interesses dessas sanguessugas capitalistas.
Ruptura com o sistema
Os capitalistas sempre buscarão jogar nas costas dos trabalhadores o peso da crise. A única forma de evitar que os bancos europeus continuem especulando ao invés de investir em seus países é fazendo com que sejam estatizados e controlados pelos trabalhadores organizados. Da mesma forma, no Brasil, somente um plano econômico construído pelos trabalhadores e baseado na suspensão do pagamento da dívida pública e controle público dos bancos e grande empresas poderá fomentar um desenvolvimento econômico e social que seja independente do imperialismo e ambientalmente sustentável.