A “troica” impõe um desastre social na Grécia
O sindicato dos policiais na Grécia lançaram uma declaração recentemente dizendo que os representantes da Troica (União Europeia, Banco Central Europeu e FMI) presentes no país para negociar os termos do novo pacote de resgate, deveriam ser presos por extorsão. Isso não sem razão. Os enormes cortes exigidos em troca da “ajuda” tem tido um efeito devastador na economia e atingindo principalmente os trabalhadores e os mais pobres.
O principal objetivo dos representantes do capital internacional é minimizar as perdas dos bancos, a quem a Grécia está endividada, e evitar um calote desordenado, que pode contagiar outros países em crise.
Mas o remédio está matando o paciente. O PIB está no quinto ano de queda. Em 2011 o PIB pode ter caído em até 7%. O banco estadunidense Citigroup prevê uma queda de 8% para 2012.
O “resgate” vai direto para os bancos
Esse ano a política para “salvar” a Grécia teve duas pernas: o segundo pacote de resgate de 130 bilhões de euros (só “resgata” os bancos, já que eles são usados para pagar dívidas) e um calote parcial negociado, no qual os credores privados aceitariam trocar as dívidas gregas por papéis que valem 53,5% menos, e com juros mais baixos (totalizando um prejuízo de 70-75%). O objetivo é diminuir a dívida com os credores privados de 206 bilhões de euros para 99 bilhões. Esse seria o maior calote de dívida pública da história, superando o da Argentina em 2002.
Mas mesmo no cenário mais otimista, ainda que a Grécia conseguisse implementar todas as medidas exigidas, a dívida pública em 2020 permaneceria no nível insustentável de 120% do PIB, voltando ao ponto de partida antes da crise!
Os efeitos sociais dessa “ajuda” é catastrófica. Até agora, um terço da população caiu na pobreza, com aumento dramático de suicídios, pais abandonando seus filhos, criminalidade, vício em drogas, etc. Em Atenas há agora 30 mil pessoas morando na rua. O desemprego oficial é de 20,9%, mas entre os jovens chega a 50%.
O último pacote de cortes negociado com a troica, condição para que fosse liberado o segundo pacote de resgate, agrava os ataques. 15 mil funcionários públicos vão ser demitidos esse ano, com a meta de demitir até 150 mil. Os salários dos funcionários públicos já foram cortados em até 50%, agora o foco é de reduzir os salários do setor privado. Por isso, o salário mínimo vai ser reduzido em 22% (para R$1.080) em geral. Para menores de 25 anos, o corte é de 32% e para aprendizes (quase todos jovens agora tem esse tipo de contrato) o salário será de somente R$780.
Mas a cada parcela do “resgate” a ser pago, surgem novas exigências de cortes.
Chance histórica para a esquerda
Os dois principais partidos da burguesia (Nova Democracia, partido tradicional da direita, e o PASOK, “socialdemocrata”) que se alternam no poder (mas agora estão juntos numa coalizão imposta pela troica) estão desacreditados. O PASOK, que ganhou as eleições com 44% 2009, agora só tem o apoio de cerca de 10% dos eleitores, um colapso histórico. O fato é que se os dois principais partidos da esquerda, o Partido Comunista (KKE) e a Aliança da Esquerda Radical (Syriza), que juntos tem 30% nas pesquisas, se unissem, essa coligação poderia ganhar as eleições que devem ser chamadas para abril ou maio.
Mas não adiantaria ganhar as eleições se não com um programa de ruptura com esse sistema capitalista falido e baseado na mobilização e organização da classe trabalhadora para implementar esse ruptura. Infelizmente essas duas organizações hoje não estão à altura do desafio. Enquanto a classe trabalhadora tem mostrado inúmeras vezes a vontade de lutar, a esquerda não tem conseguido adotar programa, táticas e estratégia para ganhar os trabalhadores para uma ruptura e alternativa socialista, e superar a burocracia que dominam os sindicatos.
De um lado a Syriza tem tido um programa muito rebaixado, sem apontar pela necessidade de luta decisiva contra o governo e o sistema. Ao outro lado o KKE, que tem apresentado um programa mais radical, faz isso sem o mínimo de mediação que possa dialogar com o nível de consciência dos trabalhadores. Além disso, o KKE tem uma postura muito sectária, fazendo suas próprias mobilizações separadas, recusando inclusive em fazer reuniões que teriam representantes do Syriza.
Os partidos de esquerda tem uma responsabilidade enorme. Juntos, poderiam desafiar a burocracia sindical, chamar assembleias em todos os locais de trabalho, para organizar ocupações e mobilizar para uma greve geral por tempo indeterminado, até a queda do governo.