Governo Dilma: corrupção, ataques e uma crise em gestação
Esgotamento do ‘lulismo sem Lula’ abre espaço para a resistência dos trabalhadores
O modelo político e econômico do “lulismo” atingiu seu apogeu no segundo mandato do dirigente petista. Aproveitando-se de um cenário externo favorável para a exportação de produtos primários e para a captação de investimentos externos (boa parte deles puramente especulativos), os anos Lula permitiram certo aquecimento na economia e o aumento do consumo baseado no crédito.
Esse cenário junto com os programas assistencialistas e a utilização de uma imagem “progressista” vinda do passado de esquerda, permitiu que Lula conseguisse eleger sua sucessora com certa facilidade.
O projeto de Dilma, de continuar o “lulismo” sem Lula, porém, esbarra num cenário muito mais complicado.
Segunda onda da crise
A segunda onda da crise internacional do capitalismo tende a ser muito mais grave que a primeira de 2008/09. Boa parte dos mecanismos de recuperação usados então, como o resgate dos bancos e empresas com dinheiro público, esgotou-se e hoje são parte dos fatores agravantes da crise. Também o mercado das exportações brasileiras tende a reduzir-se com a crise, principalmente com o desaquecimento chinês.
A economia brasileira deve crescer menos da metade do crescimento obtido em 2010.
Os patrões que até agora lucraram pelos cotovelos e se protegeram das turbulências com apoio do governo, começam a falar da crise para tentar justificar o endurecimento na negociação de reajustes salariais.
O mesmo vale para os governos. Antecipando-se à crise, Dilma cortou gastos públicos, limitou o reajuste do salário-mínimo desse ano e ameaça o reajuste de 2012. O governo também quer congelar o salário do funcionalismo e não abandonou o projeto de fazer uma nova contrarreforma da previdência.
Nas greves recentes dos bancários e trabalhadores dos correios, vimos a intransigência do governo em aliança com os banqueiros que continuam a acumular lucros recordes. Eles fecham a mão na hora de usar os recursos públicos para a grande maioria, mas escancaram na hora de beneficiar uma minoria de gananciosos.
Isso vale também para a corrupção. Em dez meses de governo Dilma, seis ministros já caíram, sendo que cinco deles como consequência de graves denúncias de corrupção.
Dilma tenta transformar o limão em limonada fazendo pose de quem está promovendo uma faxina na casa. Na verdade, ela vacilou em todos os casos de denúncias de corrupção e só teve que engolir a queda dos ministros quando a situação já estava insustentável.
O “lulismo” ainda tem reservas importantes para gastar, principalmente diante da profunda crise da oposição de direita e os limites da oposição de esquerda que, apesar dos méritos do PSOL no combate às políticas neoliberais do governo, ainda é muito incipiente.
Apesar disso, é visível que o modelo “lulista” começa a sofrer desgastes e a confiança no futuro já não é a mesma para as elites. O fator central nesse processo será o impacto da crise internacional no Brasil e a capacidade de luta dos trabalhadores.
O ano de 2011 foi marcado por uma intensificação nas lutas de massas, apesar de continuarem, de forma geral, ainda muito fragmentadas e submetidas a direções vacilantes.
Unir as lutas
A combinação da continuidade e aprofundamento da luta direta dos trabalhadores, estudantes, dos setores populares no campo e na cidade, no ano de 2012, com uma alternativa política de esquerda coerente levantada nas eleições municipais, pode construir um cenário muito favorável à recomposição da esquerda e do movimento de massas no país.
Mas, para isso é importante garantir a unidade das lutas e da intervenção política da esquerda que não se rendeu e não se vendeu. A meta estratégica de todos os lutadores deve ser a reconstrução das condições para a formação de uma Central sindical e popular unitária dos setores combativos e de uma Frente política da esquerda socialista com um claro programa anticapitalista e socialista baseado na independência de classe dos trabalhadores.