Para derrotar Bolsonaro: unidade na luta e aprender dos erros da esquerda
Em nome dos abutres capitalistas, Bolsonaro e Paulo Guedes planejam jogar uma bomba de nêutrons sobre os direitos dos trabalhadores, começando com seu projeto de contrarreforma da previdência.
Através de Sérgio Moro, o governo quer dar carta branca para a polícia matar. Enquanto isso, as chacinas sanguinárias e o extermínio da juventude negra avançam nas periferias.
A liberação do uso de armas anuncia uma barbárie ainda maior de violência e feminicídio, enquanto aumentam os lucros da indústria armamentista.
Os povos indígenas, por sua vez, estão literalmente na mira, entregues aos interesses do agronegócio e mineradoras.
A tragédia e crime da Vale em Brumadinho são mais uma expressão do caráter nefasto do modelo agroextrativista em um país como o Brasil. Acaba com vidas e com o meio ambiente. Com Bolsonaro, só vai piorar.
O alinhamento servil ao imperialismo dos EUA de Trump coloca o Brasil contra os interesses dos povos latino-americanos e ameaça criar um foco de conflito grave em relação à Venezuela.
Os patrões e capitalistas em geral se aproveitam da situação para garantir seus lucros pouco se importando com o destino e a vida dos trabalhadores.
As montadoras chantageiam os trabalhadores exigindo retirada de direitos e ameaçando fechar as empresas, como no caso da GM. Em outros casos simplesmente ignoram seus trabalhadores, fecham as portas e eliminam milhares de postos de trabalho, como no caso da Ford no ABC paulista.
Para calar qualquer voz de protesto, as ameaças e ataques às liberdades democráticas crescem e tornam-se mais e mais graves.
Esses ataques se dão através da criminalização das lutas sociais, como se vê na ofensiva do judiciário e do governo contra personalidades e movimentos, como Guilherme Boulos, o MTST e outros, que encabeçaram as lutas no período anterior.
Crescem também os ataques por fora das instituições, através dos atentados contra lideranças camponesas, indígenas, dos direitos humanos e da causa ambiental.
A impunidade em relação aos mandantes e assassinos de Marielle Franco e Anderson estimulam novas ações desse tipo.
Virar o jogo
Com Bolsonaro, o grande capital se fortaleceu e colocou a classe trabalhadora organizada e consciente contra a parede. Mas, é possível reverter essa situação e virar o jogo.
Para isso, é preciso em primeiro lugar construir a unidade na luta de todos os que sofrem com os ataques do governo e do grande capital.
Mas, junto com isso, é preciso também buscar entender como chegamos a essa situação e buscar aprender dos erros e limites da esquerda e dos movimentos dos trabalhadores no último período.
As duas tarefas devem ser assumidas. De nada adianta a unidade se vamos repetir os mesmos erros das ilusões na conciliação de classes e disputas prioritariamente institucionais cometidos pelo campo lulopetista no último período.
Da mesma forma, a recusa à unidade na luta contra o inimigo comum, Bolsonaro e o grande capital, diminui as chances de uma resistência vitoriosa. Ao mesmo tempo impede que uma nova alternativa de esquerda seja reconhecida e colocada à prova junto aos setores que ainda tem ilusões no papel do lulopetismo.
Frente única dos trabalhadores
A esquerda socialista deve estar disposta a promover e participar de qualquer ação unitária, mesmo as mais amplas, em defesa dos direitos democráticos e contra os ataques do governo.
Mas, é fundamental entender que somente as organizações com base na classe trabalhadora poderão levar até o fim essa luta.
A Folha ou a Globo podem estar insatisfeitas com os riscos à democracia e liberdade de imprensa sob Bolsonaro, mas estão junto com o governo na defesa de ataques como a reforma da previdência e privatizações.
Por isso, os espaços de frente única dos trabalhadores devem ser construídos com empenho.
A Frente Povo Sem Medo, reunindo um leque amplo de movimentos sociais, sindicais e da juventude, encabeçada pelo MTST com uma linha de ação combativa, já cumpriu e cumprirá um papel importante nesse processo.
Ela deve buscar unidade de ação com outros espaços como os hegemonizados pelo campo lulopetista, como a Frente Brasil Popular. Mas, o mesmo vale também com relação a outros setores da esquerda do movimento sindical e popular que não estão organizados na Povo Sem Medo.
Para isso cumpre um papel importante o Fórum sindical, popular e da juventude por direitos e liberdades democráticas que foi lançado nacionalmente no dia 19/02. O Fórum reúne uma gama ampla de entidades incluindo o ANDES, CSP-Conlutas, Intersindical-Central, Intersindical-Instrumento, Unidade Classista e até mesmo a UNE.
No Congresso Nacional, toda unidade para derrotar as medidas de Bolsonaro são legítimas. Mas, é preciso entender que só poderemos ser vitoriosos se a pressão popular, as mobilizações e greves, vindas de fora do parlamento, de fato acontecerem com força.
Reorganização da esquerda
Para além da unidade é preciso acelerar o processo de reorganização da esquerda socialista. Para isso é importante a consolidação e o aprofundamento da Aliança política que apresentou o nome de Guilherme Boulos como candidato a presidente, uma aliança entre o PSOL, o MTST, APIB, PCB, etc.
Essa Aliança de esquerda deve também se expressar politicamente e também nos movimentos de luta da classe trabalhadora, mulheres, juventude, negros e negras, etc.
Para ser efetiva, a Aliança deve ser o instrumento político que leve até as últimas consequências o balanço dos erros, limites e traições do PT, PCdoB e todo campo lulista nas últimas décadas.
Deve basear-se na independência e luta da classe trabalhadora, repudiar as ilusões na colaboração de classes, organizar-se pela base com democracia e assumir um programa e estratégia anticapitalistas e socialistas.