Pela Amazônia contra Bolsonaro, o capitalismo e o imperialismo
Como de costume, o “capitão motosserra” Jair Bolsonaro reagiu às denúncias sobre o papel do seu governo na devastação e queimadas criminosas na Amazônia com ataques e acusações a seus críticos. Para desviar a atenção do desastre ambiental promovido por seu governo, tirou do bolso do colete a carta do nacionalismo. Nada mais cínico.
Bolsonaro encabeça um governo que, além de promover a destruição do meio ambiente e dos direitos sociais do povo brasileiro, se submete vergonhosamente aos grandes interesses econômicos estrangeiros. Lambe-botas de Trump, o “capitão” não passa de mais um joguete nas mãos do imperialismo.
Ao mesmo tempo em que fazia alarde sobre planos de internacionalização da Amazônia, Bolsonaro conseguia a aprovação do regime de urgência na Câmara dos Deputados para a votação do acordo de entrega da base de Alcântara, no Maranhão, aos EUA.
O acordo entre Bolsonaro e Trump sobre Alcântara fere a soberania brasileira, além de atacar diretamente as comunidades quilombolas da região. Ele representa a entrega aos EUA de um dos locais mais estratégicos em todo o mundo para lançamento de satélites em condições que só aprofundam a subserviência política, militar e tecnológica do Brasil.
Da mesma forma, esse governo promove um verdadeiro desmonte do setor público e sua entrega aos interesses privados, principalmente internacionais. A política de privatizações de empresas estratégicas (Eletrobras, Petrobras, Correios etc.) e a contrarreforma universitária de caráter privatista representada pelo projeto “Future-se” são também ataques diretos aos trabalhadores e à soberania do povo brasileiro.
Bolsonaro não tem, portanto, a menor autoridade para falar em soberania nacional. Por outro lado, é preciso que se diga com todas as letras que o presidente francês Emmanuel Macron e a burguesia europeia têm menos autoridade ainda para falar sobre preservação do meio ambiente e defesa da Amazônia.
Os ataques ao meio ambiente no Brasil e na América Latina também são resultado da ganância das empresas transnacionais que atuam na região. Elas o fazem não apenas a partir do modelo tradicional extrativista que estimula a devastação da floresta. Também o fazem com base nos novos paradigmas biotecnológicos que precisam manter pelo menos uma parte da floresta em pé para melhor explorá-la na indústria bioquímica (farmacêutica, cosméticos etc.).
Por trás do bate-boca entre Bolsonaro e Macron estão também interesses capitalistas potencialmente conflitantes. Em mais uma demonstração de entreguismo, o governo de Bolsonaro aceitou firmar um acordo entre o Mercosul e a União Europeia que não serve aos povos sul-americanos.
O acordo reproduz e fortalece o modelo agroextrativista exportador que bloqueia a industrialização, o desenvolvimento tecnológico e estimula a devastação ambiental e social e a dependência dos países latino-americanos. A aceleração da destruição da Amazônia e outros biomas brasileiros e latino-americanos está diretamente relacionada a esse modelo econômico capitalista periférico e dependente.
O já desgastado Macron se utiliza de uma retórica “ambientalista” para tentar recuperar algum prestígio e ao mesmo tempo reflete interesses econômicos de setores da burguesia francesa no conjunto da União Europeia. Critérios ambientais poderiam ser utilizados para pressionar os termos do acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
Bolsonaro, por sua vez, também reflete as pressões que vem do Norte. Trump e o imperialismo estadunidense estão desconfortáveis com esse acordo que foi assinado em meio às negociações de outro acordo comercial entre Brasil e EUA.
A guerra comercial entre os EUA e a China, pelo menos no curto prazo, abriu espaço para o crescimento das exportações brasileiras de soja transgênica para o gigante asiático. Isso pressiona no sentido da expansão das fronteiras agrícolas para regiões amazônicas, apesar da moratória existente desde 2008. Junto com a criação de gado e o extrativismo mineral, a soja é um estímulo às queimadas e ataques a territórios indígenas e quilombolas.
O agronegócio monocultor, latifundiário, voltado à exportação, predador da natureza e dos povos originários, representa uma base social e política fundamental de Bolsonaro. Sua política de liberação de armas aos latifundiários e ataques às reservas indígenas e quilombolas e aos trabalhadores rurais que lutam pela terra refletem a face mais dura e violenta do capitalismo periférico brasileiro.
No passado, os governos do PT também buscaram manter o agronegócio como aliado político e social e fizeram inúmeras concessões a esse setor em detrimento dos povos e do meio ambiente. Tentaram combinar isso com alguma modalidade de “capitalismo verde” também dependente e subserviente aos interesses internacionais. Mas, com Bolsonaro esse cenário piora qualitativamente ameaçando os povos no Brasil e no planeta. Ele precisa ser barrado!
A comoção popular no Brasil e no mundo contra as queimadas na Amazônia colocaram essa questão vital no centro das atenções. Mobilizações pela Amazônia e contra Bolsonaro aconteceram no Brasil e em muitos países do mundo.
Essas mobilizações e ligam à luta mundial contra as mudanças climáticas que em muitos países adquirem um caráter de massas e radicalizado. No Brasil não pode ser diferente. É extremamente positivo que as centrais sindicais brasileiras tenham aprovado a greve mundial do clima no dia 20 de setembro como parte do seu plano de lutas.
Mas, esse movimento decisivo precisa estar armado com um programa capaz de oferecer uma saída efetiva diante do desastre climático e ambiental e essa alternativa não poderá se dar sobre as bases políticas e econômicas do capitalismo.
As medidas emergenciais em defesa da Amazônia, do meio ambiente e contra as mudanças climáticas exigem um grau de radicalidade e planificação que só podem se dar com base no controle dos trabalhadores, da maioria do povo, sobre as forças produtivas e o conjunto da economia.
Nenhum “capitalismo verde” ou estímulo a mudanças de hábitos individuais (que também jogam um papel) podem dar conta da gravidade do problema. Por isso, entendemos que a luta ambiental é também uma luta contra o capitalismo e por uma alternativa de democracia dos trabalhadores e dos oprimidos, uma alternativa ecossocialista.
Diante da devastação da Amazônia e das ameaças ao meio ambiente, nossa luta tem que incorporar essas bandeiras:
- Queda imediata do ministro do meio ambiente Ricardo Salles e acumular forças para derrubar o conjunto do governo!
- Fim dos cortes de gastos e repasse imediato de recursos para combater os incêndios florestais. Fim da transferência de recursos para o agronegócio predatório e promotor da violência.
- Reconstrução e reorganização dos órgãos de controle e fiscalização ambiental sucateados por Bolsonaro e governos anteriores com participação protagonista de organizações e movimentos sociais de trabalhadores, camponeses, indígenas, quilombolas e ambientais.
- Boicote aos produtos oriundos de áreas desmatadas, com queimadas ilegais, crimes ambientais ou onde exista violação dos direitos indígenas e quilombolas.
- Demarcação de todas as terras indígenas e quilombolas. Punição dos assassinos de lideranças indígenas, quilombolas, camponesas e ambientais. Fim das milícias privadas armadas dos latifundiários e das mineradoras. Direito de autodefesa garantido a todos os povos atacados pela violência do agronegócio.
- Expropriação da terra cujos proprietários promovem as queimadas e devastação ambiental. Por uma reforma agrária radical e sob controle dos trabalhadores que acabe com o latifúndio e promova atividades agrícolas voltadas para abastecer de forma saudável a população e que sejam ambientalmente sustentáveis.
- Pelo fim do modelo econômico agroextrativista exportador. Garantir o desenvolvimento econômico ambientalmente sustentável com uma economia planificada sob controle democrático dos trabalhadores e do povo.
- Soberania efetiva do povo brasileiro e sul-americano sobre a Amazônia. Integração dos povos latino-americanos e caribenhos em uma economia planificada ambientalmente sustentável nos marcos de uma Federação Socialista de toda a região.