Como derrotar Bolsonaro?

Bolsonaro antes mesmo de se tornar presidente se destacava por suas posturas extremamente conservadoras, defender a ditadura e fazer diversas declarações machistas, LGBTfóbicas e racistas. Mas, para além disso, o governo Bolsonaro representa os interesses da classe dominante, dos empresários e banqueiros, adotando uma política ultraneoliberal no Brasil. 

A lista de ataques desse governo é interminável. Derrotar esse Governo é uma questão de sobrevivência, de defender nossas vidas, direitos e o meio ambiente! Diante desses elementos, abre-se então o debate  de como derrotar Bolsonaro.

Quando Bolsonaro foi eleito, muitos tiveram a impressão de que seria terra arrasada para os próximos quatro anos. O acúmulo de derrotas que se agrava desde 2016 é um elemento relevante de desânimo para o conjunto da classe trabalhadora. No entanto, não tardou muito para demonstrações de que há espaço para resistência e de que não se tratou de derrotas definitivas. 

Os cortes da educação foi a primeira grande luta explosiva nesse ano, com o 15M e o 30M. Porém, o nível de luta não se manteve, apesar de dias de lutas importantes, que incluíram o 14 de junho (contra Reforma da Previdência) e o 13 de agosto (dia de lutas contra os cortes na educação), que foram insuficientes para barrar a reforma da previdência ou os cortes na educação.

Mas se enganou quem achava que isso significava que teríamos pela frente um período sem grandes lutas. Quinze dias depois milhares de pessoas tomaram as ruas em defesa da Amazônia e do meio ambiente, novamente tornando pulsante a disposição para resistência. Há outros temas que mobilizam e que podem mobilizar ainda mais. A luta das mulheres, que se expressou no 8 de março, mas também na Marcha das Mulheres Indígenas, que ocorreu pela primeira vez esse ano, em pleno governo Bolsonaro. 

Trata-se de uma conjuntura dinâmica com lutas que crescem e refluem de forma repentina. Isso reflete a correlação de forças negativa, com uma alternativa de esquerda fragilizada, mas  que ainda há disponibilidade de responder aos ataques em camadas amplas. É nesse contexto que colocamos como palavra de ordem “derrotar Bolsonaro nas ruas”, e não simplesmente “Fora Bolsonaro”. O primeiro passo é derrotar as principais políticas desse governo, e com isso acumular forças e enfraquecer esse governo, podendo inclusive cair.

A tarefa imediata colocada, portanto, é de acumular forças através da unificação das lutas. Para nós, hoje o embrião da resistência manifesta-se nas bandeiras concretas pela educação, pelo meio ambiente, contra as reformas e por direitos. 

Existe um receio entre certos setores de que uma eventual derrota de Bolsonaro permitiria uma reorganização da burguesia em torno de uma alternativa mais estável. Parte da esquerda, sobretudo setores petistas e lulistas, utilizam esse argumento para justificar uma aposta em esperar até a próxima eleição. Esse setor acaba subordinando, e portanto, fragilizando, a luta concreta a essa estratégia, utilizando esses grandes atos e dias de luta apenas como forma de desgastar o governo, ou obter concessões parciais. 

Vimos o resultado dessa linha na luta contra os ataques de Temer. Em 2017 tivemos o 28 de abril como um dia histórico de greve geral contra as reformas da previdência e trabalhista. A continuidade, no entanto, revelou uma postura muito aquém do necessário por parte da CUT, CTB e as centrais sindicais de direita. Demoraram para chamar um novo passo da luta e acabaram recuando da segunda greve geral. Derrotar as contrarreformas de Temer exigiria um novo patamar na organização dos trabalhadores de imediato e comprometer o plano dentro da lógica institucional, de apostar em Lula eleito em 2018. 

Para nós, conseguir derrubar os ataques concretos que sofremos a partir de um amplo movimento de massas permite uma nova correlação de forças, que dificulta a reorganização do governo e a aplicação do projeto neoliberal. Também criaria melhores condições para quando vier as eleições. Nenhuma saída que não tenha protagonismo ativo dos trabalhadores e trabalhadoras permitirá vitórias efetivas.

A ação das Centrais Sindicais, da Frente Povo Sem Medo, PSOL, e outros movimentos sociais e partidos de esquerda, de convocar manifestações quando surge um novo ataque, e aproveitar as lutas explosivas é correta. É necessário unificar as lutas para derrotar, de forma global, o projeto atual da burguesia. Porém, para ir além de atos convocados por cima, às vezes para cumprir tabela, é necessário um processo de mobilização pela base, com assembleias nos locais de trabalho e bairros, junto com uma mobilização ampla nas ruas com panfletagens e banquinhas informativas, no estilo do “vira voto”. 

É necessário também intervir nas lutas de caráter espontâneo que estouram, levando um programa de unificação das lutas. Assim, podemos ir acumulando forças para recolocar na pauta a necessidade de greve geral, que possa desafiar o governo como um todo.

Para derrotar Bolsonaro, não apenas na sua figura, mas o conjunto do que ele representa – o avanço do neoliberalismo, do desemprego e do trabalho precário, da perda de direitos sociais, do conservadorismo e violência, da desigualdade, do ataque às populações quilombolas e povos originários, da destruição do meio ambiente – será necessário a construção de uma saída política alternativa.  É preciso que uma nova esquerda socialista com base de massas seja construída a partir da aliança do PSOL com movimentos sociais combativos e que assuma um programa anticapitalista e socialista como saída para a grave crise brasileira.

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