Um grito ecoa em Rio das Ostras, o Grito dos Excluídos
“Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 5°: IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”
Por toda a cidade correm boatos de um grito que ainda ecoa: O Grito dos Excluídos! Uma manifestação pacífica que ocorreu com cerca de 700 pessoas sendo em sua maioria ligados à área da educação como professores, auxiliares de desenvolvimento infantil, equipe técnica em geral e alunos desde ensino fundamental e médio até superior (UFF).
O ato foi pacífico pela parte dos manifestantes, já a prefeitura impôs um cordão de isolamento feito pelos guardas municipais numa atitude antidemocrática e inconstitucional. O prefeito encerrou o desfile antes que todas as instituições desfilassem para ir embora por trás do palanque.
No dia 7 de Setembro de 2011, dia em que se “comemora” o Grito de Independência do Brasil, bradado em 1822, pelo então Príncipe-Regente D. Pedro de Alcântara Bragança é mesmo um momento a se questionar sobre esta independência. O próprio D. Pedro, que teria enunciado às margens do Rio Ipiranga a versada frase de “Independência ou Morte” era ao mesmo tempo Príncipe Real do Reino Unido de Portugal do qual se pretendia independer.
Ocorre que talvez, e só talvez, esta tenha se tornado uma prática constante no “novo país independente”, a prática de que a nossa independência seja definida justamente por aqueles que nos oprimem.
É justamente num contexto em que a independência do Brasil, da forma como ela foi feita passa a ser questionada que se começa a fazer o Grito dos Excluídos. Há 17 anos esta manifestação ocorre em diversas capitais e cidades do interior do país. Sempre com temas referentes ao direito à vida, à terra, à dignidade, à justiça, dentre outros.
O Grito dos Excluídos abre a discussão sobre quem deve protagonizar a luta pelos direitos e a reposta não é de difícil resolução. Levantando este debate, o sistema capitalista, como um sistema de acúmulos por parte de uns e de falta para outros, um sistema baseado na desigualdade, no desemprego, no desrespeito ao que é ser humano é colocado em xeque.
Em Rio das Ostras, ouviram na Avenida Amazonas “de um povo heróico um brado retumbante”. Um povo insatisfeito com a forma como esta cidade vem sendo conduzida. Onde as demandas da população são ignoradas dando-lhes algumas migalhas e favores em troca de outros favores políticos.
Mas a cidade dos favores agora gritou por direitos. Sob o tema “Queremos direitos, não Favores”, o Grito dos Excluídos de 2011 conseguiu demonstrar aos governantes que existem nesta cidade pessoas e coletivos críticos que não aceitam mais as ladainhas do governo municipal e exigem seus direitos.
Foi uma bonita Manifestação com uma extensa pauta de reivindicações:
- Contra o Assédio Moral aos profissionais do Município como ao Professor Gilberlan que por posicionar-se a favor do Grito sofreu represália da prefeitura e perdeu sua cessão de Macaé;
- Por melhores condições de Trabalho e estudo em todas as áreas em que faltam materiais de trabalho;
- Pela participação das categorias na elaboração de seus PCCVs, já que o Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos dos Profissionais da Educação foi aprovado à toque de caixa sem ampla discussão com este segmentos que já havia discutido e elaborado um plano alternativo (que foi totalmente ignorado pelos poderes públicos);
- Reelaboração do PCCV dos Profissionais da Educação desta vez com a categoria;
- Pelo Passe-Livre para todo estudante, desde a Educação Infantil, passando pelo Ensino Fundamental e Médio até o Ensino Superior;
- Pelo direito de ir e vir já que o trânsito nesta cidade é caótico e os meios de transporte coletivo não dão vazão ao fluxo de pessoas;
- Pelo direito à vida com Segurança, já que os números oficiais não se relacionam ao que ocorre concretamente na cidade: assaltos, estupros, e mortes no trânsito quase que diariamente, lembrando sempre a aluna da UFF Maria Clenilda que morreu atropelada pela conivência da prefeitura que não atendeu os apelos de ligar o semáforo;
- Pelo direito à uma imprensa “Independente” visto que a imprensa local é totalmente vendida aos mandatários do poder e inventa uma cidade perfeita que nós, que vivemos nela, sabemos não existir;
- Pelo direito à livre expressão: Já que os nossos direitos básicos como o de livre expressão foi cerceado pela ordem que fez com que a Guarda Municipal fizesse uma corrente para tentar isolar-nos do desfile;
- O cordão de isolamento que os guardas municipais (trabalhadores como os que se manifestavam) fizeram não segurou a euforia da população em redor que soltava um verdadeiro grito de independência: “Deixa passar!, deixa passar!, deixa passar!”. O prefeito, sem ter como conter a manifestação popular de apoio desceu do palanque e, repetindo a cômica fuga da família real para o Brasil, FUGIU dando o desfile por encerrado (mesmo com grupos ainda para desfilar).
Ficou claro que esta atitude do prefeito demonstrou mais uma vez a falta de democracia vigente na sociedade. Ele poderia simplesmente ter deixado que a manifestação passasse, ter ouvido o que tínhamos a dizer e prosseguir com o desfile. Mas a simples suposição de que o seu castelo de cartas fosse desmontado e que sua propaganda fosse desmascarada fez com que o arbitrário ignorasse a manifestação e os próximos a desfilar.
Por toda a cidade os boatos do grito ecoavam e ainda ecoam. Os jornais, que tem total vínculo monetário com o governo já se posicionaram contrários a nossa manifestação, sem sequer procurar entendê-la Mas isso não novidade afinal “A dor da gente não sai no jornal”. Mas o povo, e é este que importa, em todos os lugares vem nos apoiar e aplaudir. Muitos estão dispostos a engrossar nossas fileiras e construir esta luta com a gente e são todos muito bem vindos! Afinal este foi só o primeiro de muitos gritos!
Este foi só o primeiro passo. Agora a organização é fundamental. Já temos uma reunião marcada para decidirmos quais serão os próximos passos desta nossa empreitada. Todos aqueles que querem se movimentar estão convidados. Juntos somos fortes!