A intervenção bolsonarista na UFPB, a chance da sua derrocada pela luta, o papel das direções petistas e a eleição do ANDES: lições sobre as estratégias da classe trabalhadora

Após muita luta, temos a chance de destituir uma gestão interventora bolsonarista na Universidade Federal da Paraíba. Qual tem sido o papel da direção do PT na seção sindical dos docentes e quais estratégias temos para derrotar o bolsonarismo?

A derrota do bolsonarismo deve ser realizada pela classe trabalhadora organizada, mesmo sabendo da imprescindível derrota eleitoral na eleição para presidente e os necessários avanços nos campos jurídico e criminais feito pelas instituições, apesar de insuficientes. São duas estratégias, uma baseada na luta pela base e outra baseada na institucionalidade. A luta pela destituição da gestão interventora bolsonarista na Universidade Federal da Paraíba é um exemplo local, mas exato, das estratégias e caminhos que diferentes setores apontam para a luta contra a extrema-direita e para o futuro do país.

Valdiney Gouveia foi nomeado reitor da UFPB por Bolsonaro em novembro de 2020, mesmo tendo menos de 5% do votos na eleição da comunidade universitária e não ter conseguido nenhum voto na eleição dos Conselhos Superiores. Naquele momento, ficou claro que o professor politicamente insignificante, de perfil privatista meio fora de padrão, de postura rude e assediadora em sala de aula e de produção científica bastante condenável pela comunidade dos pesquisadores em Psicologia, se tornaria um os maiores quadros da extrema-direita na Paraíba. Logo na posse, fez questão de mostrar a amizade com Cabo Gilberto, deputado com relação direta com os golpistas de 8 de janeiro, e o apoio da Ordem dos Conservadores da Paraíba.

A resistência da comunidade foi fortíssima, com atos de rua com milhares em plena pandemia, lives com a comunidade nacional da Psicologia e o ANDES-SN (sindicato nacional de docentes do ensino superior), ações judiciais e uma ocupação de reitoria des estudantes que durou mais de 40 dias. Um Comitê pela Autonomia e contra a Intervenção na UFPB conseguiu unir docentes, técnicos e estudantes e garantiu a continuidade da luta. Em agosto de 2021, o Comitê protocolou um dossiê listando as irregularidades, ilegalidades e arbitrariedades da gestão, concluindo pela necessidade de sua destituição, prerrogativa dos Conselhos Superiores, prevista no estatuto da universidade.

A gestão de Valdiney foi um exemplo para o bolsonarismo, com repressão a estudantes e movimentos, ações antissindicais, negacionismo em relação à pandemia, obrigando técnicos a irem trabalhar presencialmente, contínua usurpação dos conselhos e da democracia, ataques à permanência estudantil, etc. Chegou a escrever uma nota de apoio a Bolsonaro quando dos cortes de verba, dizendo que não afetava a universidade e que foi divulgada orgulhosamente por Eduardo Bolsonaro na Câmara!

Duas estratégias para a luta contra a intervenção na UFPB

Após muita luta, temos a chance de destituir a gestão interventora na reunião dos Conselhos Superiores neste dia 29 de maio. Valdiney conta com a rejeição da grande maioria da comunidade e dos conselheiros. Entretanto, como uma representação local das correlações de forças na nossa classe, parece que o grande empecilho para a vitória sobre o bolsonarismo está nas nossas próprias fileiras, principalmente pelo papel das direções burocráticas das nossas entidades. A ADUFPB, seção sindical do ANDES dirigida pelo PT, não esteve na luta pela destituição da gestão. No início da intervenção, estava junto do Comitê, mas o abandonou tão logo conseguiu, em assembleia em 2020, retirar o movimento docente dos atos de rua. Não apoiou a ocupação des estudantes e ignorou a construção e pressão para os Conselhos discutir o dossiê. Não chamou nenhuma assembleia com esta pauta desde então. Na única assembleia, o tema foi discutido por proposta da oposição que constrói o Comitê, quando aprovamos que a categoria estaria na luta pela destituição da gestão. Mesmo com essa decisão, nenhum material escrito ou o site da ADUFPB coloca a palavra de ordem de destituição, sempre tratando como uma luta contra a intervenção de forma genérica. Quando a ADUFPB participou de uma reunião no MEC contra as intervenções, chamou a atenção sobre uma possível lei para que as universidades elejam os seus reitores sem a influência do presidente (fim da lista tríplice), mas não citou a pauta da revogação imediata das intervenções de Bolsonaro, aprovada no congresso do ANDES e defendida pela sua direção nacional. 

Juntando todos esses elementos, mostra-se que essa direção tem outra estratégia para esta luta e que é contrária a organização de base da luta e a derrubada do interventor. Parece que aguardar a consulta eleitoral para a reitoria em 2024, com uma candidatura construída com mais calma, é uma estratégia mais estável e controlada por esta direção. O papel da Deputada Cida Ramos (PT) e de outros quadros professores mostra a construção de uma candidatura para a reitoria que não quer passar por distúrbios como a queda de Valdiney e Liana pela força da luta.

A estratégia utilizada pela ADUFPB nesse caso é a institucionalidade, remeter ao MEC, ou seja, ao governo Lula, a decisão política sobre o fim das intervenções nas universidades. Com isso, não só colocam a mobilização de base como algo secundário, como boicotam deliberadamente as iniciativas feitas pelos setores mais combativos da classe trabalhadora. Essa não é uma denúncia vazia sobre intenções subterrâneas das direções petistas dos sindicatos, mas uma avaliação baseada no cotidiano das lutas. Os setores lulistas, seja do PT, PCdoB ou outros grupos, dirigem a maioria dos sindicatos e a principal central, a CUT, assim como os principais movimentos populares. Aqui, no caso da UFPB, a direção da seção sindical tem um papel central em desmobilizar a luta pela destituição da gestão interventora e remeter a decisão para o governo federal e à Justiça, uma estratégia institucional. 

A história se repete: a desmobilização da classe como estratégia do PT

Exatamente o mesmo foi feito em 2017, durante a luta pelo Fora Temer, quando a luta da classe trabalhadora estava em ascenso. Após uma enorme Greve Geral em abril, uma ocupação de centenas de milhares em Brasília em maio e uma rejeição altíssima da população ao governo em geral, as direções lulistas deliberadamente seguraram a segunda Greve Geral em junho – trocaram por um movimento dirigido por governadores em palanques pela eleição direta. O que estava dada era a derrubada do governo golpista de Temer que poderia ter mudado a correlação de forças à favor da nossa classe, com força para revogar medidas anti-populares (p.ex., a reforma trabalhista) e evitar o crescimento da extrema-direita. A estratégia do PT foi retirar o povo na rua e supostamente manter um processo estável, calmo, já que, pelo cálculo deles, Lula ganharia a eleição em 2018. A estratégia mostrou-se completamente errada, pois tirou a capacidade de mobilização social e ainda perdeu a disputa institucional, pois Lula manteve-se preso e impedido de ser candidato e Bolsonaro foi eleito, ou seja, um grande desastre. Processo parecido ocorreu na luta pelo Fora Bolsonaro em 2020 a 2022.

O que está dado para o futuro do país é a definição de uma dessas duas estratégias para as organizações da classe trabalhadora: por um lado, a luta coletiva e pela base pelas nossas reivindicações, independente dos governos e dos acordos palacianos, que podem mudar a correlação de forças atualmente favorável à direita e, por outro, a estratégia que confia que o governo Lula e as instituições podem responder aos anseios populares e, para isso, é necessário esperar sentado ou, se for para mobilizar, para apoiar o governo.

Na eleição do ANDES, a mesma disputa. O lado combativo e independente venceu!

No caso da luta dos docentes nas universidades, como a nossa luta contra a intervenção na UFPB, a disputa entre essas duas estratégias opostas ocorreu durante a eleição do sindicato nacional da categoria, o ANDES-SN. Nos dias 10 e 11 de maio, a Chapa 1 – Andes pela Base, Ousadia pra sonhar, coragem pra lutar venceu a eleição do sindicato com a proposta de manter o sindicato com independência em relação aos governos e com as suas decisões tomadas pela base (a LSR participa e apoiou a chapa 1). A Chapa 3 – Renova Andes, dirigida por setores do PT, propunha uma suposta renovação do sindicato, já que são oposição, mas defendem um sindicato espelhado nas experiências da direção da maioria dos sindicatos e das seções do ANDES que eles dirigem (as seções do ANDES-SN tem diretoria própria, além da direção nacional do sindicato), como a ADUFPB. A vitória da Chapa 1 foi de extrema importância para o futuro da classe trabalhadora brasileira pela importância deste sindicato, pelo seu tamanho mas, principalmente, pela resistência que significa a independência de classe e o foco na mobilização social dirigida pela esquerda combativa, princípios históricos defendidos pelo ANDES. Para que o Renova Andes quer dirigir o ANDES? Para submeter o sindicato ao governo federal e a estratégia institucional do PT? Para paralisar a categoria docente e como fazem, deliberadamente, segurar a força transformadora da/os trabalhadora/es?

Diversas eleições sindicais desse ano estão ocorrendo em que a mesa disputa está dada. Infelizmente, setores do PSOL que sempre construíram uma estratégia de rompimento com a institucionalidade baseada nas lutas, tem feito parte de chapas com as direções burocráticas petistas. O argumento é a necessidade de uma “unidade” para derrotar o bolsonarismo, como na APEOESP (sindicato dos professores da educação básica de São Paulo), para enfrentar o governo de Tarcísio. Vamos derrotar o bolsonarismo através das mesmas burocracias que sempre desmobilizaram a classe? A unidade com todos os setores se dá nas lutas, quando todos estamos juntos, e não prescinde das oposições sindicais, que devem enfrentar as burocracias e garantir a independência de classes e a organização pela base.

Essa é a principal discussão que está colocada dentro da esquerda e das organizações da classe trabalhadora. A definição das nossas estratégias vêm basicamente da escolha entre essa bifurcação no caminho das lutas. O futuro da classe trabalhadora, da derrota da extrema-direita e consequentemente o futuro da nossa sociedade está em um período decisivo. Que possamos construir pela base e com mobilização um futuro baseado nas reivindicações e anseios da classe trabalhadora que, como conclusão, aponta a necessidade da revolução socialista!

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