A resistência às remoções é legítima e coletiva

Na noite da última terça-feira, 02, a comunidade Aldaci Bardosa, localizada próximo ao Terminal Rodoviário Engenheiro João Tomé, recebeu com indignação a presença do governador Cid Gomes (PSB), que esteve, junto a outros integrantes do primeiro escalão do Governo do Estado e a diversos policiais e seguranças, muitos à paisana, indo de casa em casa tentando convencer os moradores a deixarem suas residências para que a área dê lugar ao Veículo Leve sobre Trilhos, o VLT, uma das principais obras previstas no projeto Copa, em Fortaleza. A ação foi considerada pela Procuradora da República, Nilce Cunha, uma “atitude infeliz”, que causou “constrangimento absurdo”.

O governador mostrou a que interesses tem servido: não dos moradores que há anos lutam por melhores condições de moradia, mas dos empresários que querem definir os rumos da cidade e que lucrarão muito com as obras da Copa. Cid desrespeitou a recomendação do Ministério Público, que em julho entrou com uma ação civil pública para que o Governo do Ceará suspendesse as desapropriações. Mais que isso, violou os direitos da população, que foi constrangida, ameaçada e, inclusive, agredida pela truculenta segurança do governador. Enquanto isso, pairava o silêncio nos prédios existentes ao lado da comunidade, que não estão ameaçados nem receberam a assustadora comitiva no calar da noite, uma demonstração clara de que as obras servem como pretexto para expulsar os mais pobres para as regiões limítrofes da cidade. Vê-se, pois, que, diferente do que foi publicado pelo colunista Fábio Campos, nesta quinta-feira, os benefícios e malefícios do projeto em discussão não são igualitários, ao contrário.

Nas ruas, durante a “visita” de Cid, o que se viu foi um ato de bravura. Moradores, diversos militantes e organizações populares estiveram na Aldaci Barbosa protestando contra as remoções, apoiando a resistência das comunidades e entoando palavras de ordem, que fizeram com que o governador tivesse que se retirar debaixo de vaias. Muitos dos manifestantes, inclusive, vinham de outras comunidades ameaçadas pelas obras, como Trilha do Senhor, Montese, Parque Água Fria, Dom Oscar Romero, etc., uma prova de que a solidariedade entre os/as atingidos/as fortalece a luta que vem sendo travada em cada local.

Nós, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), nos somamos à resistência, que temos ajudado a construir, pois não aceitaremos que a população seja massacrada e que a cidade seja destinada ao capital. Nossa militância e nosso parlamentar, o vereador João Alfredo, entendemos que partidos anticapitalistas, como o PSOL, devem estar engajados com os/as lutadores/as e movimentos sociais. Nas ruas ou no parlamento, nosso lugar é ao lado do povo que resiste, junto ao qual expressamos nossa solidariedade e nossa indignação. Mas devemos ressaltar que a resistência vem sendo deflagrada por muitos sujeitos, como pelas comunidades diretamente atingidas pela Copa e pelo conjunto de organizações e movimentos engajados no Comitê Popular da Copa.

Estamos certos de que presenciamos uma mostra do que Fortaleza poderá passar nos próximos anos. Sabemos que lutamos contra grandes empresários e contra os governos federal, estadual e municipal, pois todos estão aliados ao grande capital e são os principais agentes das remoções. No entanto, não há dúvidas de que a resistência que vimos, e que já se expressa em diversas comunidades e movimentos populares, será multiplicada. O que vivenciamos não será esquecido, ao contrário, alimentará a nossa caminhada em defesa da soberania popular.

Você pode gostar...