A maior chacina em Fortaleza revela o esgotamento da sociedade capitalista
Enquanto o lado rico da cidade de Fortaleza amanheceu no dia 27 de janeiro de 2018 banhado pela chuva, o lado pobre amanheceu banhado de sangue pela Chacina no bairro Cajazeiras, na Grande Messejana. Reconhecida pelo secretário da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) André Costa, como a maior chacina da história do Ceará deixou pelo menos 14 mortos. Foram oito vítimas do sexo feminino e seis vítimas do sexo masculino. O número pode ser maior, pois há divergências de números entre o oficial e de testemunhas da comunidade que afirmam 18 pessoas mortas.
Essa tragédia aconteceu dois anos depois da Chacina do Curió, também na região da Grande Messejana, foi uma série de homicídios ocorridos na madrugada do dia 11 a 12 de novembro de 2015. No total, onze pessoas foram assassinadas e sete ficaram feridas. Todas as vítimas assassinadas eram do sexo masculino, além de que nove dos onze indivíduos mortos tinham entre 16 e 19 anos.
A maior chacina de Fortaleza aconteceu dias depois da divulgação do relatório da Oxfam ter revelado que 82% da riqueza mundial gerada em 2017 ficou com 1% da população e 5 bilionários brasileiros têm mais dinheiro que a metade mais pobre do país, ou seja, esses 5 tinham juntos a mesma quantia do que cerca de 100 milhões de pessoas. Nas redes sociais há uma polarização de quem lamenta a chacina e de outro lado que comemora alegando ser disputa de facções. É preciso de debates e ações consequentes para a saída dessa violência urbana. Mas para isso é impossível não partir de uma compreensão da conjuntura política internacional, pois estamos vivendo a consequência da crise econômica iniciada em 2008 nos E.U.A.
No Brasil, os ataques da burguesia à classe trabalhadora via governo ilegítimo Temer que aprofundou políticas iniciadas pelos governos do PT, e agrava a situação da maioria da população, atingindo principalmente as mulheres, as pessoas negras, jovens e LGBT.
A violência tem lado da cidade
Segundo o relatório Trajetórias Interrompidas do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, uma parceria entre governo, Assembleia Legislativa, Unicef e entidades da sociedade civil, sendo o relator o deputado estadual Renato Roseno/PSOL, a primeira descoberta foi geográfica: em Fortaleza, em metade dos casos investigados, os adolescentes foram assassinados a 500 metros de casa; 73%, no próprio bairro. De todas as mortes, 44% aconteceram em apenas 18 dos 119 bairros da capital, 3% da área da cidade.
Repudiamos a declaração do secretário de segurança do Estado do governo Camilo Santana/PT de que a chacina é um caso isolado e não tem motivo de preocupação para a população. Como é um caso isolado e a população não deve se preocupar, se as vítimas têm cor, classe e faixa etária? Não há registro de chacinas, assassinatos e tamanha violência nos bairros nobres da cidade apesar da cultura do terror rondar a cidade. Aliás, têm setores da burguesia gerando lucros e barganhando votos para as eleições se aproveitando do pânico, e impacta na saúde mental da população em geral. Apresentadores de programas policiais disputam audiências para vender mercadorias que prometem segurança e forjam candidatos que vestem camisas de salvadores da pátria. Repudiamos também a politica do governador Camilo Santana que com o “Programa Ceará Pacífico” nada mais é que mais policiais ostensivos nas ruas.
De imediato, reivindicamos as doze recomendações do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência:
- Proteção às famílias vítimas de violência;
- Ampliação da rede de programas e projetos sociais a adolescentes vulneráveis ao homicídio;
- Qualificação urbana dos territórios vulneráveis aos homicídios;
- Busca ativa para a inclusão de adolescentes no sistema escolar;
- Prevenção à experimentação precoce de drogas e apoio às famílias;
- Mediação de conflitos e proteção a ameaçados;
- Atendimento integral no sistema de medidas socioeducativas;
- Oportunidades de trabalho com renda;
- Formação de agentes da segurança pública e controle da atividade policial na abordagem ao adolescente;
- Controle de armas de fogo e munições;
- Mídia sem violações de direitos;
- Responsabilização pelos homicídios.
Todas essas medidas devem estar articuladas com a organização popular nos bairros, na periferia, no local de trabalho numa clara perspectiva de transformação desse sistema. A LSR entende que não é possível uma alternativa para a classe trabalhadora nos marcos do sistema capitalista, pois na lógica do capital o lucro está sempre em primeiro lugar. É urgente organizar a classe trabalhadora em movimentos estudantis, sociais, culturais a fim de conquistar políticas públicas como meio para construir uma sociedade anticapitalista, socialista revolucionária que toda vida importa!