Porque o senhor atirou em nós?

     No ano passado, as periferias de São Paulo contabilizaram mais mortes do que países atualmente em Guerra Civil. A criminalização da pobreza nunca matou tanto no Brasil. 

Os homicídios tem cor, as favelas também

     O extermínio da população pobre, negra e periférica atingiu números tão alarmantes que nem mesmo a prefeitura de Haddad pôde maquiar. É cada vez mais discrepante a diferença de brancos e negros que morrem vítimas de violência. Recentemente, foram divulgadas estatísticas da própria prefeitura de São Paulo explicitando a cor dos homicídios em São Paulo. Convocaram audiências públicas e estão implementando o programa “Juventude Viva”, com ações socioeducativas e culturais voltadas principalmente para jovens negros das áreas mais preocupantes.

A violência é um pilar do sistema

     O que eles não dizem é: quem é o autor desses crimes contra os pobres? Não é preciso muito para chegar à resposta: a mesma PM que mata primeiro e pergunta depois, é a que serve ao governo na repressão dos movimentos sociais. É a desigualdade de um sistema excludente, mantido por um governo das elites, que beneficia uma minoria cheia de privilégios e com as mãos sujas de sangue.

     Tais ações não serão capazes de acabar com a violência contra e entre os pobres. A violência é um pilar do sistema de classes em que vivemos, em que a pobreza não acaba por que dá lucro, e é defendido a qualquer custo. Ela se manifesta pela ação arbitrária e truculenta da PM de maneira física e simbólica e pelos abismos sociais de oportunidades. Os inimigos internos do sistema expõem as contradições de um modelo de sociedade que precisa de sua força de trabalho para existir, ao mesmo tempo em que repele e desumaniza sua existência. A tentativa de humanização através da cultura e da educação é relevante, mas inócua dentro da realidade perversa vivida nas periferias, em que a ROTA na rua é cotidiana e os conflitos têm contornos ainda mais agressivos. Nem o governo de Haddad e nem nenhum outro governo da burguesia poderá superar suas próprias contradições com programas sociais.

     Assim como Douglas perguntou “Porque o senhor atirou em mim?”, perguntamos diariamente “Porque o senhor atirou em nós?”. O caso de Douglas não é isolado. Ele se insere em um âmbito muito maior e tem suas proximidades com inúmeros casos pelo Brasil afora, o que nos impulsiona a reagir também coletivamente.

Criminalização da luta e da pobreza

     Acontece que, assim como ser pobre no Brasil é crime, também quem se organiza para lutar contra seus algozes é taxado como criminoso. O lucro e a ordem de tudo como está devem ser mantidos a qualquer custo, também debaixo de gás lacrimogêneo, bala de borracha, prisões e processos criminais. Vale lembrar que, durante as jornadas de junho, nas favelas do Rio de Janeiro a repressão foi operada à base de armas de fogo.

     Movimentos de rua, de ocupação rural e urbana, entre outros, são tratados como caso de polícia, tendo seus líderes perseguidos e até presos, sob acusações infundadas ou forjadas. No mesmo mês em São Paulo, dois jovens foram encaminhados a penitenciárias após uma manifestação de rua, enquadrados na lei de Segurança Nacional. Querem nos desmobilizar, nos desmoralizar e calar a nossa voz, como calam a de tantos Douglas. Não conseguirão! Seguiremos denunciando e combatendo esse sistema que se sustenta pela miséria e violência. Defendemos os nossos mortos e nosso direito à livre manifestação, contra a criminalização da pobreza a discriminação racista e a perseguição aos que se mobilizam!

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